Hoje é o segundo domingo de maio, dia das mães. O comércio está em festa. Mesmo sendo um domingo ensolarado, o comércio de Porto Velho, e de todo o país, funciona normalmente como se fosse um dia qualquer da semana. Esta data só perde em faturamento para o Natal quando se comemora outra fictícia e interesseira data: o nascimento inventado de Jesus Cristo. Eu não tenho mãe há 20 anos, por isso já consigo observar sem remorsos a imbecilidade alheia que acompanha os hipócritas há tanto tempo.
Hoje, as floriculturas e outras casas do gênero, fazem a festa mesmo que amanhã, uma segunda-feira modorrenta, as lixeiras estejam repletas de rosas, cravos e guirlandas que serviram de suntuosos presentes no dia anterior. Hoje é dia das mães. O dia consagrado àquelas que com seu inestimável amor... etc. e tal e outras besteiras e baboseiras do gênero que fazem os incautos de plantão visitarem cemitérios, mandarem celebrar missas, comprarem presentes, caríssimos ou não, para presentearem a outrora “rainha do lar”.
Rainha do lar, que reino pequeno e tosco. Mãe é mãe com ou sem dedicação. Com ou sem dia dedicado a elas pelo comércio. Não existe um dia apenas no ano como dia da mãe. Dia da mãe é todo dia. Se existe um único dia para as mães, os outros 364 dias do ano podem ser entendidos como dias que não são da mãe. Mas, em contrapartida, existe também o dia do pai, o dia dos namorados, do avô, da avó, do professor, da mulher, do índio e até da sogra (levando em conta que também é um ser humano) que é o 28 de abril. A criatividade dos comerciantes não tem limites. Já pensou quando inventarem o dia do político? Feriado nacional e com direito a muitas festas...
Mas por incrível que pareça já temos uma conduta politicamente mais correta hoje em dia: os comerciantes já não incentivam nas propagandas da mídia, como há alguns anos, a compra de panelas de pressão, geladeiras, jogos de sofá e fogões de oito bocas para “presentear a idiota da Amélia”, aquela senhora patética, só que abrem, num dia de domingo, os seus comércios que vendem, dentre outras coisas, estes eletrodomésticos à espera de incautos que ainda acreditam na existência do amor à base de bugigangas e outras tantas quinquilharias.
*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com
Religião não se discute. Política e futebol também não, diz o anedotário popular. Mas diante de tanta confusão provocada por vários integrantes da Igreja Católica tanto no Brasil quanto em vários países do mundo, a exemplo dos Estados Unidos, onde vários padres recentemente se envolveram em escândalos de pedofilia, não há como deixar de se promover uma boa discussão sobre este assunto. Recentemente o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica em seu país, assumiu a paternidade de um filho, concebido quando ele, Lugo, ainda era religioso e a mãe do garoto tinha apenas 16 anos. Duas outras mulheres também afirmam que tiveram filhos com o presidente e exigem que ele assuma a paternidade. Há relatos que seriam quase duas dezenas os ‘herdeiros’ do viril religioso, agora sério candidato a “pai de todos os paraguaios”. Por que integrantes de algumas religiões não podem constituir uma família de forma absolutamente normal? Por que um dos votos da Igreja Católica é justamente o voto de castidade? Os mandatários católicos afirmam ser muito difícil para um homem normal conciliar o sacerdócio com a vida em família. Pura lorota. Os padres e freiras não podem casar para que não apareçam filhos e óbvio, herdarem os bens da Igreja Católica que, aliás, não são poucos. Não é à toa que outro voto seja exatamente a pobreza. Castidade, pobreza e obediência não necessariamente nesta ordem, são os votos que todos os candidatos a padre, ou freira, estão sujeitos a aceitar. Uma verdadeira ditadura teocrática imposta a esses cristãos. Além do mais, no caminho inverso ao que prega a Santa Sé, muitos cristãos católicos têm filhos em vários casamentos e como garanhões, às vezes, se orgulham das muitas mulheres que já tiveram. Cadê a indissolubilidade familiar que pregam para os outros? Talvez não devêssemos polemizar ainda mais. Afinal, religião é um dos assuntos que não se discute. Mas estaria um religioso apto a opinar sobre temas que desconhece? A sexualidade é um exemplo (Lugo, claro, é exceção). Talvez este seja um dos problemas da iminente extinção dos católicos no Brasil. Em uma publicação do IBGE sobre o censo de 2.000, observava-se que os católicos brasileiros haviam diminuído de 83,8% para apenas 73,8% em apenas uma década. Enquanto isso, os evangélicos tinham crescido de 9% para 15,4%. Hoje, quase uma década depois, estes números estão bem maiores. E se a tendência continuar com este impressionante ritmo, em menos de um século, o Brasil terá que devolver o Núncio Apostólico ao Vaticano. Não seria mais lógico para o catolicismo abolir o celibato clerical para não mais ter alguns de seus integrantes envolvidos em escândalos de pedofilia ou comparecendo às barras dos tribunais e tendo que, humilhados, assumirem a paternidade de vários filhos? Já pensou se todo mundo resolvesse, como gostaria a Igreja Católica, ser padre ou freira? A população do planeta simplesmente acabaria. A humanidade pararia de crescer. E como ficaria a máxima divina “crescei e multiplicai-vos”? É provável que Deus não veja esta posição da Igreja Católica com bons olhos. Afinal não se pode entender como simples homens decidem interferir no mais sublime dos instintos humanos: a perpetuação da espécie. Como não há sentido em se multiplicar após a morte (levando-se em consideração a existência da vida eterna), os pregadores evangélicos e de outras religiões ganham espaço neste terreno prometendo o paraíso aqui mesmo na terra e praticando sexo, muito sexo mesmo. Só que de maneira legal e ética e evitando assim esse constrangimento perante o mundo que se diz civilizado.
*O professor Nazareno leciona em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)
Quem acessou o blogdotionaza.blogspot.com, e viu a proporção que tomou a contenda criada pelo Artigo “Em Rondônia é assim mesmo...”, de 22 de março de 2009(domingo), com mais de 100 respostas contendo apoios e repúdios e, tiver o mínimo de equilíbrio, após ler alguns posicionamentos de alunos e populares terminará até pela falta de ver o ciclone que a turma do repúdio enxergou dando razão ao “tio Nazareno”. Isso se for considerado que em um estado democrático de direito é livre aos indivíduos a emissão de ponto de vista crítico ou não a respeito de qualquer assunto que lhe incomodar ou que for de interesse público. O que se viu foi um ataque desorganizado, atabalhoado contra o artigo do professor, alguns até duvidando de sua idoneidade moral ou da qualidade de seu trabalho, outros através da livre e espontânea pressão o convidando a retirar-se de Rondônia, enfim um conjunto de posicionamentos insensatos e que terminaram por levar os mais esclarecidos a concordar com o “errado Professor Nazareno” puramente por falta de opção. Talvez o professor não tenha escolhido o melhor jogo de palavras para organizar o artigo de forma que apresentasse a mesma situação sem que a mesma fosse entendida como agressão aos rondonienses. Cabe aqui deixar claro que: quando não se concorda com a tese de alguém, se organiza uma antítese fundamentada em valores contrários ou diferentes apresentando argumentos que contraponham a tese, de forma que se consiga ao menos convencer através de idéias o público alvo à qual foi destinada a tese, isso se considerarmos a premissa que “brigam as idéias não os seres humanos”. Hoje qualquer pessoa que tiver a coragem ou autenticidade para apresentar problemas (falar a verdade) é considerado doido, e foi exatamente isso que aconteceu com o tio Naza. O que a meninada está precisando é ler um pouco mais, mais concentração em leitura para que possam entender o espírito do texto, e de estudar muito para mudar essa realidade cultural brasileira de aceitar as coisas sem questionamento. É lógico que o professor que redigiu o artigo sempre deixou claro não gostar da idéia das usinas de energia, bem como possui ponto de vista formado a respeito dos rumos da cultura regional, de futebol, de religião e outros que inclusive são contrários ao de muita gente, porém realmente necessitamos discutir as questões que envolvem o estado, o município com equilíbrio e elegância, sob a luz da ética, sempre buscando alternativas e nunca convidando cidadãos a “juntar a bagagem” e mudarem-se de cidade ou estado, até porque isso nos tornaria realmente habitantes de um rincão inóspito, criando um problema grave de ter que na pior das hipóteses esvaziar o estado. Tudo indica que grande parte dos leitores, ou não leram o texto todo, ou foram induzidos por alguém a tomar posicionamento imediatista, ou são hipócritas, ou são oposicionistas de plantão ( e aí sim, temos um problema que é o fato de vivermos em meio a extremistas). É preciso com certeza separar o joio do trigo, e entender que parte do que o professor enfatizou foi para despertar nos rondonienses que vivam mais as coisas de sua região, ou seja, que mais ardorosamente demonstrem mais envolvimento com as coisas do estado. Talvez o professor não tenha alcançado seu objetivo, porém uma coisa é certa seu blog foi bem visitado. Amém.
A recente crise econômica global ainda não deu sinais de acabar e o mundo é sacudido mais uma vez por uma nova e perigosa ameaça: a gripe suína. Originária do México, até agora ela já se alastrou por vários países em pelo menos três continentes. Espanha, Nova Zelândia, Escócia, Canadá e Estados Unidos já têm casos oficialmente registrados. No Brasil há vários casos sob suspeita e as autoridades mundiais estão sob constante alerta. O Governo Federal criou um gabinete para acompanhar a possível evolução da doença no país. Vários aeroportos estão sendo monitorados. A OMS, Organização Mundial da Saúde, da ONU, já alertou autoridades e sanitaristas do mundo inteiro para a possibilidade de uma pandemia.No âmbito local, será que já deslocaram equipes para o Aeroporto Internacional Governador Jorge Teixeira de Oliveira?
Em Porto Velho, no entanto, o clima ainda é de tranqüilidade absoluta. Como muitos afirmam e podem até jurar que a crise econômica mundial não chegou por aqui, é bem possível que a “peste dos porcos” nem queira também aparecer entre os rondonienses. O prefeito Roberto Sobrinho nem se pronunciou sobre a estratégia da Prefeitura Municipal e da sua Secretaria de Saúde caso se admita a ‘remota possibilidade’ da epidemia ‘querer beber água do Madeira’. No cenário estadual, o governo de Ivo Cassol também não se pronunciou sobre o perigo iminente. Esta inexplicável tranqüilidade das nossas autoridades tem, certamente, alguma razão aparente: diante da anunciada catástrofe elas ainda dispõem de tempo para confrontar, na mídia, os péssimos números do atendimento (de um e de outro) na área da saúde.
O Hospital de Base Dr. Ari Pinheiro e o Pronto-Socorro João Paulo Segundo devem ser as estratégias apresentadas pelas nossas autoridades para enfrentar a possível crise. Referências nacionais em bom atendimento e também na cura e tratamento de várias patologias, estas duas unidades hospitalares contam com os serviços profissionais de médicos extremamente dedicados, competentes e preocupados com a saúde preventiva da população. Mesmo sendo o estado do país onde existe o menor percentual de médicos por habitantes, Rondônia ainda pode contar com uma excelente rede de Postos de Saúde dos municípios. Em Porto Velho, várias policlínicas: Ana Adelaide, Rafael Vaz e Silva, Alfredo Silva, etc. Na área particular, os planos de saúde (totalmente desnecessários devido à competência do Estado nesta área), poderão servir de auxílio complementar cedendo suas estruturas com tecnologia de ponta e acomodações de Primeiro Mundo.
Certamente a peste suína não vai chegar por aqui. Com água tratada e saneamento básico de fazer inveja a qualquer capital do país, uma infra-estrutura urbana digna das capitais européias, uma excelente rede de atendimento médico nas áreas pública e particular e um clima de “Alpes suíços”, a “cidade das hidrelétricas” está pronta para enfrentar qualquer adversidade. Não será ‘um resfriadozinho qualquer’ que vai nos tirar o sono. Mas nunca é demais lembrar que outra gripe, a Espanhola, há menos de um século, matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo inteiro e ceifou a vida até do presidente do Brasil na época, Rodrigues Alves. E os nossos mandatários que se cuidem: com este ‘espírito de porco’, ainda assim, eles não estão imunes a nenhum tipo de doença, principalmente a chamada gripe suína.
*Leciona em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com).
Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo em que tipo de comida poderia ter ali. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira. Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos. "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa." A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse: "Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que é um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda." O rato foi até o porco e disse a ele: "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira." "Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces." O rato dirigiu-se então à vaca. Ela disse: "O quê Senhor Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!"
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pegado. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou a cauda de uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher. O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal: a galinha
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco. A mulher não melhorou e muitas pessoas vieram visitá-la. Muita gente veio vê-la e o fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo.
MORAL DA HISTÓRIA: Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.
No último domingo, o Flamengo do Rio de Janeiro ganhou do Botafogo por 1 X 0 e se sagrou campeão da Taça Rio, edição 2009. Como os alvinegros ganharam o primeiro turno da competição, a Taça Guanabara, vão decidir em duas partidas, com o próprio rubro-negro, quem será o campeão do campeonato carioca deste ano. Se o Botafogo tivesse derrotado o Flamengo, seria campeão direto e não precisaria disputar as duas partidas finais. Mas como o que estava em jogo não era a honestidade do esporte, mas a ganância por dinheiro, não deu outra: tudo deve ter sido devidamente acertado para que houvesse as duas partidas da grande final. Não precisa entender muito de futebol para compreender a ‘mutretagem’ acontecida em campo. A vitória do time do Flamengo aconteceu graças a um gol contra. Isso mesmo: foram os próprios jogadores do Botafogo que se encarregaram de fazer o que o Flamengo não estava conseguindo. Após o gol, as coisas se acomodaram e o jogo continuou tranqüilo até o apito final. Muito bom para o Botafogo perder. Terá pela frente agora duas partidas com uma média de 80 ou 90 mil torcedores em cada uma e uma pequena fortuna de quase dois milhões de reais e isto sem falar dos direitos de transmissão e outros ‘mimos’ que não existiriam caso tivesse derrotado o adversário. Coisas estranhas andam acontecendo atualmente no esporte mundial. O Barão Pierre de Coubertin, que reinventou as Olimpíadas da era moderna e pronunciou a célebre frase “O importante não é ganhar, mas competir”, certamente está se retorcendo no túmulo muito tempo após a sua morte. Hoje, devido à conjuntura econômica que move os esportes mundo afora e, claro, não poderia deixar de ser também no Brasil, a frase do Barão poderia ser cunhada da seguinte forma: “O importante também é perder, dependendo do contexto”. Botafogo e Flamengo do Rio de Janeiro protagonizaram em abril de 2009 uma das maiores vergonhas para o esporte nacional e talvez até mundial. Mas isto já aconteceu em outro esporte também, exatamente num domingo, maio de 2002, com o piloto brasileiro de Fórmula 1, Rubens Barrichello, que ainda está na ativa. Melhor piloto nos treinos e durante aquela corrida, ele simplesmente protagonizou a pior lambança de que se tem notícia no esporte entregando a vitória certa para o seu companheiro de equipe Michael Schumaker por ordens estritas dos cartolas da Ferrari. Com um milionário contrato assinado três dias antes, Rubinho frustrou a alegria de 174 milhões de 'babacas' que acreditavam, até àquela hora, que no esporte vencia sempre o melhor. Valia a vontade de vencer e dizer aos bilhões de torcedores no mundo inteiro que o Barão de Coubertin estava certo. Atitudes como a do piloto Rubens Barrichello não só envergonharam o país, mas todos aqueles que acreditam na honestidade dos esportistas. Comemorar a vitória do Flamengo sobre o Botafogo é no mínimo uma piada de mau gosto. Brasil e Alemanha fizeram a final da Copa do Mundo de Futebol de 2002. O Brasil ganhou por 2 X 0, gols de Ronaldinho e se sagrou pentacampeão mundial de futebol. Ainda assim, teve que disputar as eliminatórias para o próximo mundial e poderia nem ter participado da competição caso não tivesse se classificado. A Alemanha que fora derrotada na final, teve a vaga garantida por ser país sede em 2006, Copa de que participou sem precisar passar pelo crivo das eliminatórias. Perdeu, mas se classificou enquanto o Brasil, o vencedor, teve que lutar pela sua vaga. Os dois times cariocas souberam conduzir com maestria o destino deles rumo aos milhões de reais enquanto ‘os torcedores otários’ ficam se iludindo achando que no esporte o melhor sempre vence. Triste ironia.
*O Prof. Nazareno leciona na escola JBC em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)
Claro que não tem nada a ver com as “hienas de shopping”. De tão alienadas e gordas nem se prestariam ou perderiam seu ‘precioso’ tempo e disposição para impor qualquer atitude ameaçadora a quem quer que seja. Nem com os falsos telúricos ou os metidos a xenófobos de plantão. Não tem nada a ver também com os professores de História, com ou sem religião, que falam das Cruzadas, da Reforma ou Contra-Reforma, de Calvino ou Lutero. E muito menos com aqueles que viram e ainda teimam em dizer que o rei está vestido. O maior problema está na classe política do Estado e também da cidade de Porto Velho que diante do ‘tsunami Eliane Brum’ não deram nenhum pio.
Perigo uma vez que poderia ser normal que alguém escolhido para representar o cidadão comum não estivesse ali, nas trincheiras abertas, nas batalhas que se seguiram, nos textos e nas discussões geradas, nem para atacar nem para defender e muito menos para dizer o que pensava sobre o tema. Algum partido se pronunciou ou alguma autoridade falou alguma coisa sobre o acalorado assunto? Nem um único assessor e muito menos os eleitos que dizem representar os eleitores pronunciaram qualquer tipo de opinião. Ficamos à mercê da própria sorte. Será que as excelências entenderam que “Em Rondônia é assim mesmo...?”. E o que é pior: “Deve continuar assim mesmo...?”.
Para a maioria dos políticos, que dizem nos representar, a vida vai continuar seguindo o seu ritmo normal. Vão continuar indo ao “Buchódromo” da capital, que ostenta o curioso título de área com a maior incidência de camisinhas usadas por metro quadrado talvez do país enquanto, no local, os cachorros continuarão a levar seus donos para o já habitual passeio diário e todos, felizes e saltitantes, lêem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na ordem inversa e mesmo com os artigos embaralhados como colocaram lá, sem se preocupar com os restos de sêmen humano deixados nas noites anteriores.
Parte dos políticos deve ter ficado feliz, pois um bom percentual dos eleitores apenas atacou quem disse que problemas havia na cidade e não os responsáveis pelos buracos das ruas, a fedentina, o lixo, a falta de arborização e de lugares públicos, a falta de saneamento básico, os engarrafamentos, a falta de porto, o rol de obras inacabadas da Prefeitura Municipal e também a nova ponte que a empresa CAMTER fez no rio Candeias e que está para desabar. Nem fizeram declarações de que a repórter era “persona non grata” e que a Revista Época mentiu. E talvez por isso eles, nesta história, entraram calados e saíram mudos. E certamente estão torcendo para que tudo isto caia rapidamente no esquecimento e que as coisas se acalmem e “voltem logo ao normal”.
É muito perigoso dar aos políticos tanto fôlego, tanta tranqüilidade, mas foi isso que fizemos quando elegemos e atacamos um inimigo comum: um simples Blog ou uma revista de circulação nacional. O que o prefeito achou disto tudo? Os deputados estaduais eleitos pelo município? E as autoridades em geral? Ficamos expostos à ira alheia e quase fomos às vias de fato e em vez de discutir se Porto Velho tem o terceiro mais bonito pôr do sol do Brasil, como se isto pudesse ser mensurado, devíamos aprender com o episódio e unir as nossas energias contra os que têm a obrigação de nos defender e nos proporcionar uma vida melhor. Mas se isto não acontecer, aí, sim, Porto Velho e Rondônia correm perigo. Sério perigo de continuar tudo na mesma.
*Leciona em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)
Atenção internautas, visitem este site aí abaixo e digam que eu ( um simples 'professor Nazareno') não estava com a razão quando publiquei, uns 04 dias antes da revista Época, o texto:
A propósito das reações ao texto... “Em Rondônia é assim mesmo...”, publicado em alguns sites da capital e neste Blog, percebo como perfeitamente aceitável o fato de que pessoas se indignaram bem como louvável também o fato de que algumas outras me apoiaram. O problema ainda continua sendo a reação daquelas que não conseguiram ter reação, ou por que não leram, ou por que leram e não entenderam, ou por que simplesmente não se interessam por este tipo de discussão. “O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença”, diz assim um velho ditado popular. Por isso o texto em questão é antes de tudo uma declaração de amor a Rondônia, mais especificamente a Porto Velho. É um grito indignado contra os revezes impostos pelo capital ao nosso já cambaleante meio ambiente amazônico. É um grito de dor pela História que desaparecerá. Se a Madeira - Mamoré é ensinada religiosamente como parte integrante do nosso passado, ela não mais será necessária: as cachoeiras que lhe margeiam os abandonados trilhos desaparecerão para sempre nos futuros navegáveis trechos que lhe deram origem. Como prostitutas ordinárias, dissemos sim ao cliente (Senhor Corrêa) que nos usa e abusa, e ainda me paga com dinheiro imprestável e sujo de gesso que cai em nossas cabeças. Se me estupram, por que tenho ainda que pagar pelo preservativo? Não há outro animal que ria da própria desgraça senão a hiena que se alimenta de carniça... Digo hiena para não ofender araras, papagaios, antas, pacas, capivaras... Somos mais ou menos quatrocentas mil almas e quase fomos vencidos por apenas uma: a da senhora Andrea Rocha Izac, aquela que dizem ter dado uma entrevista a Eliane Brum, repórter da revista Época logo após a publicação do meu texto. Ela merece uma estátua bem grande, de uns 50 metros de altura lá na Avenida Jorge Teixeira ou no Centro da cidade, ou em outro lugar, por ter ‘levantado a lebre’. Toda vez que um porto-velhense a visse, lembraria das mazelas desta cidade e cobraria providências dos seus desastrados administradores, que são cegos, relapsos ou incompetentes, por falta de dinheiro ou de capacidade de administrar o dinheiro que têm à disposição. Seria bom perguntar por que apesar de tão pequena, esta cidade pode ser mais violenta do que o Sul do Pará ou o Rio de Janeiro das intermináveis guerras em suas favelas. Ou por que produzimos tantos pobres, apesar das muitas chuvas, quanto o árido sertão do Nordeste. Políticos são mortos e já o foram em outros lugares do Brasil e Secretários de Segurança Pública também, mas se esses casos acontecem aqui, no nosso quintal, têm e devem ser motivos de preocupação para todos nós. Quem sabe esta estátua não faria os rondonienses lembrarem do melhor executivo do mundo, apontado pela revista Financial Times de Londres, Carlos Ghosn, o todo-poderoso presidente da Renault e da Nissan? "Ghosn tem um cérebro privilegiado. É capaz de empacotar centenas de dados ao mesmo tempo e utilizá-los de forma a enxergar o que ninguém vê", afirmou recentemente Jean-François Manzoni, professor de liderança e desenvolvimento organizacional do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Administração, na Suíça, que já esteve com Ghosn várias vezes. Poderíamos nos lembrar também de José Maurício Bustani Júnior, diplomata de carreira e que foi eleito diretor-geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), subsidiária da ONU, Organização das Nações Unidas, para o período 1997-2000, e reeleito para o período 2001-2005, mas não chegou a concluí-lo, por insistência do governo dos Estados Unidos em sua remoção, que ocorreu em 2002. Bustani conseguiu ‘peitar’ os falcões do Pentágono e enfrentou nada menos que George W. Bush no episódio das armas químicas e de destruição em massa que Saddan Hussein não tinha. Na época, a União Européia admitiu concordar com o relatório feito por ele e que denunciava os norte-americanos. “Não se faz uma guerra baseando-se numa mentira”, teria afirmado sobre o episódio, frase copiada por vários líderes mundiais. Bobagem dizer que estes dois grandes homens são rondonienses e filhos de Porto Velho se aqui temos a “Bailarina da Praça”, “Manelão” da Banda-do-vai-quem-quer e Zezinho do bloco carnavalesco Maria Fumaça, e que justiça seja feita, fazem a alegria de todos. Qual o lugar do planeta que não se orgulharia daqueles dois filhos ilustres e abençoados? Será que Porto Velho já ouviu falar deles? Meus filhos já! Bisnetos de Parintintins, da margem direita do Madeira, sempre foram ensinados a amar esta terra, já que eu, “comedor de calango”, não posso. Eles são ensinados a não votar mais em prefeitos com o maior número de obras inacabadas do Brasil. Foram ensinados a repudiar uma população que literalmente defeca em seus monumentos históricos (os bravos pioneiros devem chorar quando vão à E.F.M.M). Eu choro quando volto à Calama dos casarões do Segundo Ciclo da Borracha que estão apodrecendo. Meus filhos também são ensinados a não adotarem o senso-comum quando tiverem que repudiar uma opinião. E já sabem que não adianta citar Voltaire quando os facões estiverem zunindo rente às suas cabeças. Mas, teimosos que são, insistem em querer ouvir Mp3, esnobar o novo celular para os amiguinhos, navegar na Internet, curtir MSN e Orkut e se encantar com Shopping Center e McDonald’s da vida achando que o papai e a mamãe, às vezes altos funcionários do Estado, lhes darão qualquer cobertura. A cidade de Porto Velho é mesmo este paraíso de coelhinhos saltitantes e borboletas azuis e por isso canta-se “Céus de Rondônia”, na versão oficial, e finje-se não existirem outras interpretações. “Maquio o monstro e faço plásticas no cadáver” e ainda consigo dormir em paz comigo mesmo. Bravos rondonienses de Porto Velho, guardem seus ‘cravinotes, busquetões e trabucos’. Eu sou da paz, mas digam ao mundo que vocês, como rondonienses que são, ainda têm Vilhena (“que nem calor opressor tem”), Cacoal, Ariquemes e Rolim de Moura, para não citar outros exemplos de cidades interioranas deste estado, que deviam fazer parte do Primeiro Mundo. E que com apenas trinta aninhos ou menos, nos dão muita inveja, mesmo com alguns defeitos, pela sua pujança, organização e desenvolvimento. Admitam o péssimo atendimento médico que temos em Porto Velho tanto na área particular como, principalmente, na área pública e que foi denunciado pela revista Época e aceitem que não estamos encontrando saídas para este e para outros gravíssimos problemas. Só podemos transpor os nossos obstáculos se conseguirmos vê-los e entendê-los e não será apontando os defeitos alheios que resolveremos os nossos. Expulsem todos os que falam mal desta cidade, mas isto não aumentará os apenas três por cento de saneamento básico nem os ridículos 20 % de água tratada que temos, apesar de termos o já sentenciado de morte rio Madeira correndo bem ao nosso lado. Rogo-lhes perdão, mas isto também não resolverá os buracos das ruas e avenidas, os infernais engarrafamentos, a violência, a sujeira, a falta de ética na política local, as epidemias e nem nos devolverá a Jorge Teixeira e a Imigrantes, avenidas que o atual prefeito deu de presente ao Governo Federal. Perdoem-me, rondonienses, mas saibam que o ônibus continuará caro, a carne e o aluguel também e o porto que dá nome à cidade ainda não será porto. É apenas um barranco sujo e mal cuidado. Degolem-me, mas não se esqueçam de prestigiar o clássico do futebol local e de comprar pupunha, açaí, biribá, pequiá, bacaba, bacuri e tantas outras deliciosas iguarias regionais quando forem, em junho próximo, ao arraial “Flor do Maracujá”.
*É professor na Escola João Bento da Costa em Porto Velho
O estudo da história nos permite compreender todo o processo de formação da atual sociedade em todos os seus aspectos, seja tratando a respeito da coletividade ou do indivíduo em si, olhar para trás possibilita estabelecer uma comparação entre o passado e o presente, e especular quanto ao futuro. Quando estudado as origens históricas do estado de Rondônia é possível entender a razão pela qual sua população, em significante porcentagem, aceita calada sem reagir de forma alguma a tudo aquilo que lhe é imposto, a população nativa consentiu com a imposição cultural, que é a razão de todas as riquezas naturais, seja o meio ambiente ou a cultura local, estarem destinadas à extinção; a atual sociedade permite que governantes defraudem descaradamente os cofres públicos e escapem ilesos; acredita veemente que todos os projetos do governo federal visam exclusivamente o desenvolvimento e integração do estado com a nação. Todavia tais acontecimentos não são exclusividades dos habitantes locais, é uma característica nacional aceitar tais acontecimentos, entretanto um fato em especial chama a atenção: a revolta local quando uma pessoa resolve quebrar o voto de silêncio. José de Nazareno (professor Naza) decidiu desabafar sobre tamanha inércia por parte dos rondonienses, falando acerca dos fatos mencionados acima e outras situações freqüentes no estado, e postou em seu blog um artigo sobre seu posicionamento acerca da plena aceitação dos chamados cidadãos perante tais abusos, porém de modo diferente dos outros acontecimentos, passou a ser tratado como um antiético, sem valores morais.A definição de ética vem do grego da palavra ethos que quer dizer caráter, ética é fruto de todos os valores culturais e morais adquiridos, o modo como cada sociedade surgiu e evoluiu com o passar do tempo auxilia na definição de ética que ela aceitará. O que é de difícil compreensão é que fatores motivam tamanha indignação, pois uma sociedade inerte perante corrupção, imposições culturais, destruição de patrimônios históricos pode alimentar tanto ódio contra uma pessoa que tenta abrir os olhos de uma sociedade hipócrita e suscitar uma atitude contra tamanhos abusos. Um evento histórico ocorrido durante a Revolução Francesa se assimila a tal acontecimento nos dias atuais, um grupo de trabalhadores franceses revoltados contra a nobreza da época resolve praticar um massacre, todavia em razão do medo do poder dela, resolve pratica-lo contra quem não tem poder suficiente para reagir: gatos. Tal ato ficou conhecido como o grande massacre de gatos na Rua Saint – Séverin, seria esse o sentimento da população ao tentar encontrar um bode expiratório para amenizar a frustração ao ver toda a sua impotência? Ou uma confirmação do que diz Heródoto: “A massa inepta é obtusa e prepotente; nisso nada lhe compara. (...), mas o povo não tem sequer a possibilidade de saber o que faz. Como poderia sabê-lo, se nunca aprendeu nada de bom e de útil, se não conhece nada disso, mas arrasta indistintamente o que encontra no seu caminho?”, teria então Nazareno entrado na frente do povo, por isso deveria ele ser tido como o vilão da historia? Seria essa uma prova de que todo o argumento defendido pelos sofistas no século 4 A.C. de que nem todos são capazes de suportar a verdade, e precisam de subterfúgios e mentiras para suportar a realidade? Até que ponto a sociedade chegará para calar a voz daqueles que ainda acreditam que pode haver uma solução?
Não sou arrogante a ponto de dizer ser dono da verdade, venho apenas tentar defender um direito garantido pela Constituição Federal que vigora no país atualmente, sou apenas um ex-aluno do professor Nazareno, não escrevo com a intenção de defendê-lo cegamente, todavia não posso simplesmente ignorar todo o censo crítico, que ele e os demais professores que trabalham na instituição particular de ensino na qual ele ministra suas aulas, tentam criar em seus alunos. Sou mais um dos poucos que juntamente com o professor Carlos Moreira, que tem tido participação ativa na defesa do artigo publicado, ainda acreditam nessa sociedade, não que ela alcançará a perfeição, tal utopia jamais se concretizará, mas buscamos a formação de uma população ciente de seu papel para a formação de uma sociedade mais justa do que a atual. Deixo aqui meu apoio ao prof° Nazareno, não é hora de desistir ainda, a voz não deve se calar, a luta deve continuar.
Para muita gente que não sabe, DNIT significa Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes. É um órgão do Governo Federal ligado ao Ministério dos Transportes e tem atuação em todas as unidades da Federação. No Estado de Rondônia (e Acre) tem como superintendente o senhor José Ribamar da Cruz Oliveira e é um órgão responsável pela manutenção e conservação das esburacadas rodovias federais nos dois estados. Em Porto Velho, por exemplo, está ligado à duplicação da BR - 364 no trecho que vai do Candeias até a Unir, saída para Rio Branco, quase, no quilômetro 12, próximo à Vila Princesa, o lixão da nossa capital. E como o prefeito paulista Roberto Sobrinho presenteou o Governo Federal com duas das mais importantes avenidas da cidade, em tese, o DNIT também deve se intrometer nos destinos das avenidas Jorge Teixeira e Imigrantes, localizadas em pleno centro da cidade. Perigo maior ainda.Porém a atuação deste órgão em nossa cidade não tem sido das melhores. Talvez imitando o tradicional “jeito PT de governar”, o DNIT até agora só se meteu em trapalhadas homéricas quando tentou mostrar serviço aos cidadãos de Porto Velho. Os sábios deste órgão 'azucrinaram' a vida dos estudantes da FARO quando impuseram um retorno absurdo na entrada desta faculdade particular. Quase quatro quilômetros a mais os alunos têm de fazer quando se dirigem do centro da cidade até a escola. Os motoristas que trafegam na avenida rio Madeira com destino à Zona Sul da cidade tiveram a sua rotina transformada em um inferno, pois foram impedidos de cruzar a BR e 'ganharam' do órgão um acréscimo de uns três quilômetros. Se não quiserem, têm a opção de entrar na rodovia pelo congestionado Trevo do Roque: mais uns cinco quilômetros. Haja gasto de combustível e tempo.A empresa, de nome bisonho, responsável pela duplicação da rodovia no trecho acima citado, a CAMTER, quase não conclui a obra. Ano passado, depois de vários trechos inacabados e duas pontes ligando o nada a coisa alguma, e finalmente com a intermediação de alguns políticos, a obra foi retomada. Óbvio que faltaram verbas, fora a desculpa de então para tanto tempo de paralisação. Desta vez para a conclusão seria preciso fazer algumas passarelas. E era exatamente nesta obra, as passarelas, onde residia o maior perigo. Uma foi construída na cidade do Candeias e as outras duas já no perímetro urbano da capital: uma em frente à FARO e a outra entre os bairros Tucumanzal e São João Batista na saída sul da nossa capital. Não deu outra: enquanto esta passarela está toda torta, aquela desabou matando um operário. Resultado: as três obras da CAMTER foram demolidas como se o dinheiro público desse em árvores.Além do mais, os técnicos do DNIT e da CAMTER certamente isolaram o bairro São João Batista como se lá não morassem cidadãos que pagam impostos. Imagine-se um morador do citado bairro que tem um carro, e precise, numa emergência, ir ao Hospital João Paulo Segundo ou para a Unir. Terá que voltar ao Trevo do Roque, contorná-lo e seguir viagem, passando, de novo, ao lado do seu bairro e pegando o Trevo da Campos Sales. Um outro absurdo, pois serão quase cinco quilômetros a mais que será obrigado a fazer. Nenhum comentário se o mesmo cidadão precisar ir, de carro, ao vizinho bairro Tucumanzal. “São bairros de pessoas pobres e sem nenhum recurso”, devem ter pensado os autores desta façanha inacreditável: em pleno século vinte e um isolar cidadãos, humildes que sejam, ou criar dificuldades para a sua locomoção. Nada anormal, pois na cidade de Roberto Sobrinho os retornos das ruas são quase inexistentes e talvez por isso entre os dois trevos o DNIT não deu ao cidadão esta possibilidade.Em Minas Gerais, o ano passado, um representante regional do DNIT foi preso por causa de uma estrada mal conservada entre Uberlândia e Patrocínio. Se esta moda pegasse por aqui, crimes de responsabilidades certamente seriam banalidades e qualquer órgão ligado ao Estado teria mais zelo e cuidado com a coisa pública. Da Presidência da República até a mais humilde repartição deste país o lema deveria ser trabalhar para facilitar a vida do cidadão que paga a maior carga tributária do mundo e com ela sustenta a máquina pública. Esta mesma máquina que em Porto Velho cria dificuldades de locomoção para motoristas e pedestres. E que ninguém se iluda: essa maldita estrutura que construiu 'as passarelas descartáveis' poderá também construir os complexos de viadutos que a classe política já está anunciando. Quantas mortes, e privações, ainda serão necessárias para que a população reaja e compreenda que o objetivo de qualquer obra bancada com o dinheiro público deve ser para o benefício de quem paga a conta?
não temos o “costume” da liberdade ou da liberdade de expressão. ao primeiro riscar do cheiro de pólvora linchamos o monstro q ousou se “expressar”. não há crime maior. dizer o q pensa, o q sente, o q deseja, o q vê, o q imagina, principalmente quando discorda do q acreditamos ou vivemos, só pode ser um crime, e o infeliz q ousou dizer algo contra nossa maneira de ser e de estar, um criminoso. isso não passa de fascismo, mas está inclusive na lei: podemos ser processados por “apologia ao crime”: esse é um crime q ninguém nota. por uma coisa muito simples: uma lei fascista num mundo fascista não pode ser entendida como fascista. quando o regionalismo, o localismo, os nacionalismos se juntam, se articulam pra manter um fascismo legislativo, judiciário, governamental, local ou nacional, um fascismo dos costumes, entramos num momento perigoso, ou nunca saímos desse momento sempre a ponto de linchar alguém, ou de silenciar por todos os meios legais, amigos, passionais, administrativos, afetuosos, e violentos, traumáticos, tortuosos. escrever sobre sua cidade, seu bairro, seu estado, seu país, escrever qualquer coisa, deve e pode ser suportado enquanto idéia, opinião, perspectiva, sem q o criminoso seja destroçado, expulso, violentado, massacrado. basta q respondamos as suas palavras, suas opiniões, sem tocar no seu salário, na sua vida, no seu corpo, na sua paz, nas suas relações vitais. mas não conseguimos conter o ódio carniceiro diante da diferença, diante do outro q se expressa, estranhamente, como outro. e todos são democratas! imagine se todos se considerassem do partido nacional socialista: toda a diferença iria, depois dos campos de extermínio, pros campos do esquecimento. e todos muito felizes ficariam bebendo sua cerveja bem gelada, coçando o bucho e conversando sobre “futebol e mulher”, contando piadas sempre preconceituosas e uns rindo com os outros como cordeiros perversos, vendo lá longe a fumaça dos crematórios. e há sempre de tempos em tempos alguém q diz o q pensa, mesmo q seja infantil ou primitivo, seja inofensivo: quanto mais inofensivo mais ofensivo se torna: quem escreveu sendo inofensivo mostra q é fraco: chama os carniceiros de plantão, as milícias do bom pensar, os guardiões dos bons costumes, os servidores da lei. não se sabe bem porq, mas de repente alguém diz o q pensa, escreve, canta, grita, delira, poetiza, goza o q pensa. e o mundinho vem abaixo. a democracia vem abaixo. e vemos quão pouco suportamos a diferença q se mantém diferente, o diferente q diz o q pensa. vemos até onde vai nossa democracia criada e mantida nas portas dos governos, nos sensos comuns, nos capachismos, nas vergonhas de fugir das manadas, se mantém na plena e dura burrice em suportar a diferença. seja cantar uma letra de música idiota de algum estado ou da-nação conforme deseja, seja atacar o horror de uma cidade, de um estado, do país; seja atacar uma matilha de ratazanas q dilapidam uma universidade; seja criar um movimento artístico maior q o universo minúsculo de minhocas histéricas. só podemos cantar o de sempre, só podemos ser igual aos outros, só podemos viver a vida de todos. a resposta à diferença é sempre estridente, sádica, cheia de frases feitas, imagens feitas, gestos feitos, pré-feitos, onde todos podem beber sem se embriagar, onde a verdade fica a disposição da anta, do burro, do jegue, do animal de plantão (não confundir com o “animal de platão”). e o pobre diabo é escorraçado sem a piedade dos religiosos, q os religiosos gritam q possuem às toneladas, q os democratas gritam q possuem o tempo inteiro, q a “população em geral” se orgulha o tempo inteiro, enquanto alguém não se põe a ser diferente, dizer a diferença. e o medo à diferença é simples e elementar: a diferença faz aparecer a mesmidade, a falsa igualdade, a mentirosa fraternidade, a amarga mentira da amizade, do amor, do carinho, da cumplicidade, do companheirismo: a diferença além de mostrar q o “rei ta nu”, mostra q a “população em geral” e a “intelectualidade local” não passa de uma massa fascista, perigosa, burra, doente e ressentida. se não fosse o diferente, o estranho, o contra, jamais saberíamos quem é um crápula, um nazista, um covarde, um regionalista estéril, um nacionalista de carteirinha com saudade das ditaduras. pra isso temos q reconhecer a função do diferente: expõe o quanto são pulhas as massas midiáticas, os batráquios metidos a artista, os jabutis travestidos de intelectuais, as ratazanas universitárias, as antas vestidas de professores. esse diferente pode ser alguns q conhecemos muito bem, alguns de nós, ou o último, o “professor nazareno”. tanto faz a quantidade da diferença, a questão está na quantidade da igualdade. na força desproporcional entre o diferente e as matilhas, os cardumes, as manadas nazi-fascistas sobre o in-feliz da vez. mas o infeliz da vez é sempre mais alguém, sempre outro q escapa ao campo de força da rocha irremovível da mediocridade.
*o autor publicou também os livros Babel, Wyk, Górgonas e Senhor Krauze.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
O grito abafado pelo fim da monotonia ideológica
Jéssica de Souza*
gecika42@hotmail.com
Houve umpo em que revelar algo não condizente com o de costume era mortal. Existiam as perseguições (verdadeiras caças as bruxas), os contrapostos, e é claro, o castigo ao “louco sem escrúpulos”. Em pleno século XXI vivemos de maneira inacreditável. A ciência com seu desenvolvimento vem causando ‘’espantos saudáveis’’ e mesmo assim, pessoas continuam com seus pensamentos alienados e pacatos desobedecendo a simples regra de sempre- evoluir. José Nazareno, recentemente, recebeu intensas críticas ao escrever um artigo revelando a atual situação do estado de Rondônia, que encontra-se sob o governo de gente estúpida e incapaz de exercer sua verdadeira função na íntegra. E a capital, por sua vez, vê o agravo da calamidade existente, quase irreversível. Os verdadeiros leitores, ao deparar-se com o texto souberam, de fato, interpretar o exposto por Nazareno que, de maneira brilhante, descreveu a sujeira existente no estado. Porém, surgiram críticas absurdas de várias partes (fala-se de Brasil, logo, língua grande não falta.). A carapuça serviu a muitos, indignados com as ‘’árduas ‘’palavras do jornalista ao retratar a realidade, e como um verdadeiro ‘tapa na cara’ incomodou. Então, pergunta-se: A partir de que momento um artigo pode incomodar tanto? Com muita clareza, é fácil de responder. Quando a situação existe, é lógica, grave e está encoberta pelo véu da arrogância. Voltaire dizia: “Posso não concordar com o que você tenha dito, porém, lutarei até o fim pelo direito de dizê-lo”. Essa deveria ser uma espécie de resposta por parte dos críticos, que pelo contrário, insistem em lançar suas pedras sem, de fato, disponibilizarem de argumentos sensatos capazes de explicar suas opiniões. Parecem ter esquecido da repressão sofrida com o AI5(fim da liberdade de expressão), ou preferem voltar à idade média e não enfrentar a realidade de frente (bem mais cômodo!) e é claro pegar as tochas da hipocrisia e partir para o suposto ataque ao direito de expressão do autor. A educação, ou a ausência dela, é a grande culpada por essa robotização de pensamentos, já que alguns alunos (verdadeiros rebeldes sem causa alguma), capachos, insistem em atirar por todos os lados palavras de ofensa que nem ao menos sabem o que significa na prática, exercendo sua bela liberdade de “berrar”. Portanto, é necessário acabar com o medo de pensar, incrementando com complexidade e audácia, principalmente, o intelecto que resta na sociedade medrosa e pobre de cultura. Apoiar e respeitosamente aceitar criticas, que se observadas pelo ângulo exato (se é que existe um), serão construtivas, no intuito de amenizar o caos burguês que afeta a todos, antes que tudo desabe sobre nossas cabeças, sem metáforas, pois “nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui”.
Porto Velho, capital de Rondônia, recebe as famílias de trabalhadores das usinas do Rio Madeira com aluguéis exorbitantes, sistema de saúde precário e uma coleção de problemas de infra-estrutura. Os funcionários que chegam a Porto Velho para trabalhar na construção das usinas enfrentam falta de infra-estrutura e aluguéis mais caros do que os de São Paulo As famílias dos trabalhadores das polêmicas usinas do Rio Madeira começam a desembarcar em Porto Velho, capital de Rondônia. Encontram uma cidade com aluguéis mais elevados que São Paulo, sistema de saúde precário, rede escolar deficiente, calçadas esburacadas, saneamento básico quase inexistente e lixo para todo o lado. Com a perspectiva de anos de trabalho por lá, os maridos tem de se esforçar para que a mulher não faça as malas e pegue um avião de volta enquanto ele está no trabalho. São funcionários das empresas dos consórcios que constroem as usinas de Santo Antonio e Jirau e não têm escolha, é “vai ou vai”. “Meu marido não me contava a verdade quando falava comigo por telefone”, conta Andrea Rocha Izac, de 37 anos, três filhos. “O bicho é muito mais feio do que eu pensava. Acho que meu marido tinha medo que, se contasse como era, eu não viesse. E ainda nem sei se vou conseguir ficar!”
Nos primeiros anos, na fase de estudos de viabilidade, os homens vinham sozinhos. Desde o final do ano passado, começaram a chegar as famílias. Os problemas de Porto Velho, que sempre foram muitos, multiplicaram-se, acentuados por uma voracidade do setor imobiliário, especialmente, e do comércio em geral. O preço do aluguel de imóveis em Porto Velho triplicaram e hoje tornou-se um dos mais altos do Brasil. “Eles olham pra nós e não enxergam pessoas. Vêem uma notinha de dólar”, desabafa Andrea. “Como vou me sentir bem num lugar que me recebe assim?” Andrea e o marido, o engenheiro agrônomo Marco Antonio Izac, 39 anos, que trabalha para uma das empresas do consórcio há 17, deixaram uma casa própria de 140 metros quadrados, com três quartos, dois deles suítes, num condomínio fechado de uma área nobre de Cuiabá, no Mato Grosso, a 500 metros de um parque. Conseguiram alugá-la por R$ 1500. Em Porto Velho, o melhor que encontraram foi uma casa menor, distante da área central e das partes mais nobres, também num condomínio fechado, mas cercado de água empoçada há semanas, por R$ 1800. Insatisfeitos, eles procuram outro imóvel, mas apartamentos bem localizados, cujo aluguel valia R$ 1 mil há um ano, hoje custam R$ 2.500. Negociação é uma palavra riscada na cartilha dos agentes imobiliários de Porto Velho. Não precisam dela. Toda semana tem alguém desesperado batendo na porta em busca de casa para morar. As usinas hidrelétricas do rio Madeira, vitrines do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), custarão cerca de R$ 20 bilhões O choque da família Izac aumentou ainda mais depois que o caçula dos três filhos adoeceu. Antonio Jorge, de seis anos, pegou dengue, provavelmente porque a água empoçada ao redor do condomínio é um criadouro de mosquitos. Mas só conseguiu atendimento no quarto hospital – e isso com plano de saúde. A filha mais velha, de 15 anos, está com problemas de adaptação à escola e à cidade. Procuraram uma psicóloga. Depois de esperarem horas pela consulta, foram embora sem que a profissional conveniada tivesse aparecido. Para quem só pode contar com o SUS, a situação já começa a virar caso de polícia. Na edição dominical do jornal O Estadão, de Porto Velho, a manchete era: “Médicos ameaçados de morte nos postos de saúde da capital”. A causa: demora no atendimento.
A educação, para quem pode pagar, é cara. Para quem não pode, há risco de ficar sem. Com três filhos na escola, a família Izac desembolsa, em Porto Velho, 40% a mais no valor das mensalidades em uma escola privada. “É tudo muito feio, muito sujo e muito caro. Eu preciso dizer aos meus filhos que vai dar tudo certo, mas minha vontade é só dormir”, diz Andrea. “Quando meu caçula adoeceu e foi aquele descaso, quase fiz as malas e fui embora.”
As mulheres recém-chegadas encontram-se na casa de Andrea para trocar informações e desencantos. “Conto os dias para ir embora”, diz a dona da casa. “Acho que quando cansar de contar, acostumo.” Ela tem pela frente uma perspectiva de pelo menos sete anos na capital de Rondônia. Animada mesmo, só Odila Pereira. Aos 55 anos, dois filhos adolescentes, Porto Velho é a sétima cidade em que ela desembarca com o marido. Já morou com bebê pequeno em hotel, já passou por todo tipo de perrengue. “A mulher é a pessoa principal nessas mudanças, nós temos de ser o esteio psicológico para o marido, que tem um desafio novo no trabalho, e para os filhos, que estão deixando cidade e amigos”, ensina Odila às mais jovens. “Não é fácil, mas a gente tem de ser forte. Pra mim o que importa é estar com a minha família, mesmo que seja difícil. E é.”
Porto Velho é uma cidade que tem a história tatuada na geografia urbana. Quase não há árvores nas ruas esburacadas, mesmo no centro, o que torna o calor ainda mais opressor. A floresta desmatada é um eco também ali. Diferente de outras capitais amazônicas, quase não se veem índios. Praças e espaços públicos são escassos, as calçadas são desiguais e pontuadas por lixo. A atmosfera é pesada e triste. Não parece um lugar para pessoas. Ou pelo menos para exercer a cidadania. Assemelha-se a uma cidade de passagem. Como definiu um companheiro de viagem, Claudiney Ferreira, “Porto Velho é uma cidade que não é daqui”.
Políticos, empresários e até jornalistas festejam o que está sendo chamado de “crescimento chinês em Rondônia”, que estaria assim imune à crise econômica mundial. Caras e controversas, as usinas hidrelétricas do rio Madeira, vitrines do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), custarão cerca de R$ 20 bilhões, com a previsão de injeções polpudas na economia de Rondônia pelo menos até 2013. Mas se a elite empresarial e política de Rondônia aprecia comparar o crescimento com os melhores índices da China, é bom também que perceba as semelhanças com as piores mazelas. Acostumados a seguir as grandes obras de suas empresas, os trabalhadores mais especializados, que não são substituíveis por mão de obra local, estão assustados com Porto Velho. “Já fiz todos os cálculos”, diz o engenheiro civil Ângelo Leal, 41 anos, coordenador de equipe, em Furnas, uma das empresas que constrói a usina de Santo Antonio. “Se tiver de me mudar para cá com a minha esposa, o custo de vida vai aumentar 40% e a qualidade vai diminuir muito.” Uma casa equivalente ao sobrado que vive em Goiânia e cujo aluguel custa R$ 550, em Porto Velho ele só encontra por R$ 1300. O casal gasta, na capital goiana, R$ 500 mensais em gêneros de primeira necessidade. Segundo a pesquisa de Ângelo, em Porto Velho serão R$ 150 a mais, com qualidade pior. “Sem contar que apenas 20% da água de Porto Velho é tratada e há apenas 3% de esgoto sanitário”, afirma. “Estou aqui há quatro anos, indo e vindo, e me sinto trabalhando em outro país.”
A vida piorou também para quem já vivia em Porto Velho. A estimativa é de que hoje exista um déficit de 2 mil vagas escolares na rede pública. O atendimento nos hospitais chega a dois dias de espera, cirurgias estão sendo adiadas por meses. Na hora de renovar os aluguéis, moradores descobrem que o proprietário quer três vezes mais, apostando nos recém-chegados. O jeito é pagar o mesmo por um lugar três vezes pior e ainda mais periférico. Outra leva de gente vai chegando dos cantos empobrecidos em busca de um cantinho na mais recente das grandes obras amazônicas. O desfecho dessa migração a história já mostrou. Mas com alma de migrantes, que já andaram um bom trecho do país, os que chegaram há anos e os que alcançam hoje a borda de Rondônia, comungam de uma esperança que já virou ilusão em empreendimentos anteriores: a de que a vida vá melhorar com um posto de serviço nas obras de Santo Antonio e Jirau. Ou em algum dos milhares de empregos indiretos prometidos. Sem outra alternativa a não ser buscar, nessa migração eles vão carregando o Brasil nos pés.
Roland Barthes afirma que a expressão “ideologia dominante” é, na verdade, um pleonasmo, porque a ideologia nada mais é do que a idéia enquanto ela domina. E propõe, como substituto do conceito, “ideologia arrogante”, ou seja, aquela que, além de dominar, dá a si mesma o poder de dogma, e anula qualquer chance de contestação. É essa arrogância, mãe e fruto da burrice, que está sendo usada contra o artigo de José do Nazareno, “Em Rondônia é assim mesmo...”, publicado em seu blog. Não apenas contra o artigo, mas (o que é mais grave, porque cheira a fascismo) contra o próprio autor do texto.Algumas questões devem ser levantadas: 1) por que um texto “me ofende”? Porque me identifico com o que ele ataca? Porque a “carapuça serviu”, o espelho revelou a verdade e o reflexo monstruoso sou eu? 2) O que fazer ao discordar de uma opinião? Negar-lhe o direito de ser opinião ou responder a ela no seu contexto de arena? Porque não responder à crítica com uma crítica, a um texto com outro texto, e não com uma perseguição de colméia (poderia dizer alcatéia, manada, cardume, máquina tribal) que propõe apenas o silenciamento? 3) Por que não entender a função de um texto opinativo como algo que exaspera, que irrita a pele do tédio e chama pra briga? Por que negar a um intelectual sua posição de contracorrente, de contra-pêlo, nem que seja “só pra exercitar?” Não lemos nada, não ouvimos nada, desde Lima Barreto (“Eu escrevo como quem morde”) até Caetano (“caminhando contra o vento / sem lenço sem documento”)? E o número de questões poderia continuar em infinita teia.Eu teria, de minha parte, apenas uma contestação a fazer ao texto em questão: ele deve ir mais fundo, e abarcar o que alguns ainda chamam de “brasil”, senão de “mundo ocidental”.
Nazareno acertou mais longe do que imagina. A moral torta e falsa desse talibã em que vivemos impede não apenas nosso olhar, mas nossa voz. Esse fundamentalismo de terceira que parece querer engolfar a chance de um mundo livre é o mesmo que retira livros do Vestibular da Federal de Rondônia, proíbe Darwin em escolas de São Paulo e ensina como adolescentes devem censurar aqueles que deveriam lhes servir de modelo de coragem intelectual e visão crítica.Conquistamos a muito custo e há pouco tempo a liberdade de expressão nesta periferia do capitalismo. Reações fascistas e retrógradas como essa acenam com uma realidade de perseguição e obscurantismo medieval, e funcionam como prova de choque para os que ainda ousam pensar. Não é com ameaças ou mugidos que se combate uma idéia. É com outra idéia. Não é à base de processos e fogueiras que se estabelece um diálogo: é com a outra voz, o outro lado, o outro texto. Quem não se identificou com o cenário patético do artigo, parabéns. Quem viu ali seu retrato falado e escrito, que rebata com artigos, criem blogs, provem o contrário, mas garantam ao outro a sua voz, a sua liberdade de golpe, o seu espaço no ringue. Não se movam como bando, covardemente empoleirados na moral e na hipocrisia. O horror deve ser enfrentado na realidade do presente, na carnadura do real. Até quando vão fazer plásticas no cadáver, maquiagem no monstro?Sei, porque Nelson Rodrigues me ensinou, que a burrice é imortal. Mas talvez ela não seja invencível. Quem sabe possamos, com o martelo da ironia e as facas da inteligência, pelo menos arranhar sua arrogância. Sua estúpida, coletiva e tapada arrogância.
O Brasil decididamente não é bom de guerra. Nem nunca foi. Das poucas de que participamos, as lembranças não são muito boas. A partir da segunda metade do século dezenove, estivemos na Guerra do Paraguai, praticamente a última em que houve mobilização direta e efetiva de nossas tropas e da qual participamos com uma aliança com outros países vizinhos (Argentina e Uruguai) e já no século passado, participamos de outras duas quase que por acaso: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Aventuras que em nenhum dos casos trouxeram, de fato, ganhos reais ou motivos de orgulho para a nossa nação. Na Guerra do Paraguai a História parece que não foi contada de maneira correta. A figura central deste episódio foi o Duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, que hoje é o Patrono do nosso Exército. O que a História não conta é que o mesmo teria participado de um verdadeiro genocídio e fora um verdadeiro algoz participando do assassinato cruel de quase 90 por cento de toda a população masculina adulta do país vizinho. Esta guerra foi um episódio típico de como o Brasil serviu de ‘cupincha’ para os interesses do capitalismo britânico. E, para variar, lá estavam os brasileiros defendendo os interesses alheios. Na Segunda Guerra Mundial, a História também mente de forma acintosa. Embora estivesse sendo comandado por uma ditadura de direita (o Estado novo getulista), o Brasil acabou participando da guerra, junto aos Aliados (junto às nações democráticas). O motivo foi que em Fevereiro de 1942, submarinos supostamente alemães (há quem jure que eram norte-americanos) iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico. Em apenas cinco dias, seis navios foram a pique. O detalhe é que Getúlio, o ditador de plantão, via o Nazismo com bons olhos (o filme Olga, é exemplo disto). E praticamente entrou forçado neste conflito mundial. Desta vez para agradar aos Estados Unidos. O que não dá para entender é por que o Alto Comando de Hitler estaria incomodado com meia dúzia de ‘macacos e jecas’ se podia contar futuramente com o apoio deles em troca de umas poucas moedas? O detalhe é que as tropas brasileiras chegaram à Itália após o 06 de junho de 1944 quando as aliados já haviam desembarcado em solo europeu na costa da Normandia e começavam a impor revezes contra Hitler e sua camarilha. Então o que diabos os soldados brasileiros foram fazer na Europa se as coisas já estavam praticamente resolvidas? Ou seja, a participação tupiniquim na Segunda Guerra Mundial teve resultados nulos para a História. Entre Setembro de 1944 e Maio de 1945, mais de 25 mil soldados e oficiais brasileiros combateram na Itália. Tais confrontos resultaram em 456 mortos e uns três mil feridos. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) capturou muitos soldados inimigos, oitenta canhões, 1.500 viaturas e quatro mil cavalos, saindo vitoriosa em oito batalhas. Tudo em vão, pois a História não mudaria o seu curso, como ficou provado mais tarde. Mas em troca do apoio brasileiro, Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, financiou a construção de uma gigantesca siderúrgica, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), e desde então os americanos fincaram as garras em nossa economia para nunca mais sair daqui. Como se pode vê, não somos muito bons de brigas nem de guerras. As nossas Forças Armadas não conseguem nem guarnecer as nossas vulneráveis fronteiras, que mais se parecem um queijo suíço, uma vez que drogas e armas entram e saem “a bel prazer” sem que nada seja feito. Recentemente, são os traficantes de drogas e bandidos comuns que estão levando de dentro dos nossos quartéis as armas que em tese serviriam para defender a sociedade brasileira que paga a maior carga de impostos do mundo. Se no plano interno a Segurança Nacional virou caso de polícia não é difícil imaginar a galhofa que seríamos se fôssemos comparados com as potências de verdade como os EUA, a Ex-URSS, França, Itália e Inglaterra...
(Texto também publicado no site www.rondoniaovivo.com.br)
*É professor na Escola João Bento da Costa em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)