sábado, 27 de fevereiro de 2010

Alguém votaria em mim para alguma coisa?


Eu, para Governador ou mesmo Prefeito!


Professor Nazareno*


Nunca fui filiado a nenhum partido, nunca concorri a nenhum cargo político em nenhuma eleição. Entretanto, no distante ano de 1986, concorri ao cargo de Vice-Diretor da Escola Orlando Freire na periferia de Porto Velho. Sem prestígio nem carisma, fiquei em terceiro lugar. Perdi feio na primeira eleição de que participei. Já fui simpatizante do PT, o Partido dos Trabalhadores. Mas isto foi há muito tempo e naquela época não existia Mensalão, Zé Dirceu, Dilma Roussef, dinheiro na meia ou na cueca. Roberto Sobrinho, por exemplo, dava aulas e era apenas um sujeito cheio de idéias revolucionárias. Os petistas eram bons, pois aspiravam aos cargos bancados pelo Erário.

Jamais concordei com a máxima de que todo ser humano deve se envergonhar do governo que tem. Era jovem e ainda tinha esperanças. Acreditava que a política e os políticos podiam resolver tudo. Engano. A maioria dos políticos de hoje são crápulas, patifes, ladrões e enganadores da pouca fé que ainda resta em nós, incautos e humildes eleitores. Resolver os complexos problemas deste país por meio das urnas é um sonho tão distante e inatingível que apenas os mais tolos podem aceitar. Por isso, entendo que nunca me candidataria a nada. Nem a Inspetor de Quarteirão. Minha falecida mãe sempre me dizia: “Quem mente, rouba”, e já que quase todo político mente...

Por isso jamais seria candidato a Prefeito ou Governador. Nem mesmo a Vereador, Deputado Estadual, Federal ou a qualquer cargo eletivo. Não administraria bem, embora não saber administrar tenha sido uma virtude no “brasil”, já que a maioria do nosso eleitorado é estúpido, iletrado, babaca, alienado e ignorante. E deve ser fácil mesmo administrar os otários. É por conta disso que Ivo Cassol e Roberto Sobrinho fazem a festa nestas terras karipunas. Antes mesmo de 1914, as ruas de Porto Velho já exalavam o cheiro característico da carniça e os tapurus abundavam, mas Sobrinho prometeu ser a panacéia milagreira que faria jorrar mel e leite do chão. E acreditaram.

Não só acreditaram como deram ao sujeito dois mandatos consecutivos. Premiaram também o Cassol e o Lula com esta mesma benesse. E eles juram, para desespero do país inteiro, que vão fazer os seus sucessores. Parece até com aquela fábula da multiplicação da idiotice coletiva, do espírito de galinha: sofre e sangra, mas bota todo dia um enorme ovo e depois sai cantando. Se eu fosse Prefeito ou Governador alertaria o povo sobre isso o chamando de bobo. Seria impopular. Se fosse emancipar qualquer vilarejo sob minha jurisdição, dizia o porquê. Seria chamado de imbecil e incompetente. Em vez de assistencialismo idiota, tentaria criar mais empregos.

Como Deputado Estadual eu jamais devolveria o dinheiro do povo. Faria projetos que beneficiassem a todos e assim não seria chamado de mentiroso e incompetente, já que “quando a esmola é grande todo santo desconfia”. Por tudo isso, eu não seria um bom político e nem sequer teria coragem de pedir votos para mim neste oceano de mediocridade. Talvez eu quisesse administrar a cheirosa e sonora Viena, capital da Áustria, a progressista Seul na Coréia do Sul ou mesmo Paris, a organizada cidade luz. Mas aí a história seria outra. Se eu fosse candidato a qualquer cargo eletivo neste país, neste estado ou nesta cidade, eu imploraria aos meus eleitores: por favor, não votem em mim!


*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

" O Plebiscito de Extrema e os eleitores-zumbis"


Ponta do Abunã: a unanimidade da incompetência


Professor Nazareno*


Existe uma crença generalizada e não comprovada de que no Brasil mais de 80% do eleitorado vota, mas não sabe votar. Os 20% restantes são, dessa forma, reféns da maioria burra, estúpida, semi-alfabetizada, ignorante e alienada. Particularmente sempre achei que esses números estão errados: na nossa realidade devem existir muito mais eleitores que não sabem o real valor do voto dentro de uma sociedade democrática. Acreditando-se nestes números fictícios, seriam mais de 104 milhões de “cabeças-ocas” a decidirem os destinos da nação. Como vivemos numa democracia, os 26 milhões de eleitores restantes aceitam as regras do jogo democrático a que estamos submetidos.

Porto Velho tem um pouco mais do que 253 mil eleitores. E todos sem exceção devem no próximo domingo, dia 28 de fevereiro, comparecer às urnas para votar. Como se já não bastasse o tédio e o incômodo de uma eleição a cada dois anos, todos os eleitores porto-velhenses somos obrigados a participar de duas eleições num ano só. E o pior é que a sensação que se tem é a da realização de apenas uma eleição e meia. Em outubro, uma eleição de verdade quando vamos eleger o Presidente da República, alguns Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e Governadores dos estados. Domingo, uma eleição que parece de mentirinha para “alforriar” uma vila que Porto Velho e seu prefeito Roberto Sobrinho não souberam administrar e por isso querem se livrar daquela gente.

A eleição para a emancipação da Vila de Extrema e de toda a Ponta do Abunã, se não é um engodo, uma farsa é uma piada de mau gosto, uma brincadeira com o eleitor daqui. De fato, não houve campanha até agora para a realização do tal Plebiscito. Uma eleição sem nenhuma informação para o eleitor. O TRE de Rondônia se limitou a dizer apenas o óbvio, o que todo mundo já sabia: todo eleitor inscrito em Porto Velho é obrigado a votar. Sobre o Plebiscito, nenhum pio. Qual a novidade nestas informações? O principal parece que ninguém quer dizer: por que se deve votar no SIM? Por que se deve votar no NÃO? Quem ganha o quê com a vitória de uma dessas propostas? Por que não houve debate na mídia? Por que não fomos informados de nada? Por que nos escondem tantas informações? Por quê?

Pelo que se vê e comenta, a campanha pelo ‘SIM’ é a que tomou mais corpo. Hoje conta com apoio de praticamente todos os partidos e de lideranças políticas, como o governador Ivo Cassol, o prefeito Roberto Sobrinho, o senador Valdir Raupp, o deputado estadual Valter Araújo (PTB), e até mesmo dos pré-candidatos ao Governo, Confúcio Moura (PMDB) e Expedito Junior (PSDB), que já declararam apoio à criação do novo município, além de deputados federais, estaduais e vereadores. Ou seja, “se toda unanimidade é burra” como afirmou Nelson Rodrigues, têm-se razões de sobra para desconfiar deste apoio unânime e das intenções dessa gente. Governador e Prefeito defendendo os mesmos interesses? Estranho. Será que há algo por trás disso tudo e nós eleitores nada sabemos?

O povo da Ponta do Abunã merece todo o respeito e consideração das autoridades de Porto Velho e de Rondônia. Merece ser atendido nas suas justas reivindicações, mas essa secessão é um absurdo, uma estupidez, uma excrescência. Quem diz que ama Rondônia deveria votar pelo NÃO. Alguém acha justo perder futuramente para o Acre toda aquela rica região só porque não tivemos competência para administrá-la? Sem nenhuma informação, sem saber o porquê de votar em qualquer uma das propostas, sem debater nada, os mais de 253 mil eleitores de Porto Velho podemos nos transformar em “eleitores-otários” e concordar “às escuras” com a classe política local, a mesma que “devolve o dinheiro do povo”. Vamos agora, para alegria dos políticos, depois dessa, pertencer aos 80% do eleitorado, aqueles mais burros.


*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval é cultura ou apenas sacanagem?


Carnaval Karipuna ou da Dengue!


Professor Nazareno*


O carnaval é um espetáculo patético, horrendo, deprimente e sem sentido. Nas principais cidades do país é encarado como a síntese cultural de um povo, o brasileiro. Em Porto Velho, o carnaval é a excrescência do nada. Mulheres nuas, drogas, brigas, empurrões e álcool, muito álcool caracterizam esta festa imoral, que corrompe mais ainda os já falidos valores morais da família, é um lugar onde homem se veste de mulher, mulher se veste de homem e a maioria, para o bem comum, se droga escancaradamente no meio da rua e bem na frente de todos, e diga-se também, com a conivência das mais altas autoridades. É a cultura do vale-tudo, do absurdo coletivo, da perversão e do homossexualismo enrustido e latente. Só pobre gosta de carnaval. Pobre de dinheiro ou de espírito. Dá para entender por que no Brasil esta festa é tão popular.

Pode até parecer exagero, mas quem observa as fotos do desfile da “Banda do Manelão” ou de qualquer outro bloco, troça, escola de samba ou sabe-se lá o quê por este país afora não se sentirá surpreso ao ver um amigo, conhecido ou mesmo um familiar, embriagado ou drogado, feliz da vida, pulando e cantando como se a vida, o mundo, se resumissem apenas àquele momento. Os dias de carnaval, pelo menos no Brasil, têm servido para anestesiar a dura realidade com a qual somos obrigados a conviver diariamente. A partir da quarta-feira de cinzas, os noticiários serão inundados com cenas de violência e aberração e muitos ainda vão ter coragem de reclamar.

O carnaval de Porto Velho apesar de ser copiado, brega e estúpido consegue misturar num só ambiente as mazelas de uma cidade que agoniza por falta de bons administradores. E por isso, tudo parece normal. De fato, como não deixar de observar passistas desengonçadas e feias tentando sambar ao mesmo tempo em que mostram suas pernas sapecadas de manchas de feridas das picadas dos insetos? E as ridículas alegorias, fantasias, carros enfeitados e mal feitos que se dissolvem aos primeiros pingos da chuva? Unidos do TNT (tecido feito de papelão) seria um bloco naturalmente aplaudido pela escassa e corajosa platéia que ainda tem coragem de ir aos desfiles na devastada Avenida Imigrantes. Sem identidade cultural, a cidade se espreme entre o boi e a folia. Depois vem o martírio da Expovel e dos desgastados arraiais juninos. E haja festa!

Apesar de aumentar consideravelmente a violência, o consumo de drogas, além de interditar as principais ruas e avenidas da cidade, ninguém tem tempo para se lembrar do trânsito infernal, dos buracos nas ruas e do mau cheiro característico desta cidade. E nem poderia mesmo, pois os políticos estão também festejando os dias de Momo juntinho ali da platéia. Nada mais democrático: exploradores e explorados brincando e ainda tendo as benesses de ter a polícia por perto para dar segurança a todos. Este ano dizem que o dinheiro público foi poupado e não sambou na avenida. Sábia decisão, os governantes já estão sabendo administrar o que é de todos. Rondônia está se desenvolvendo.

Carnaval é uma festa tão democrática e absurda que a grande maioria dos problemas diários da população miserável é esquecida naqueles momentos de euforia. E entrosados ali, pulando no meio da gentalha estão os governantes, como se esta ação grotesca fosse parte do seu 'honroso trabalho'. Político não devia participar de carnaval, pois na nossa política é carnaval todo ano, o ano inteiro. Arquibancadas de tábuas velhas, ornamentadas por xixi humano e caindo aos pedaços fazem um espetáculo à parte. Mas vergonhoso mesmo é ficar alegre com uma epidemia de dengue que assola a população. Em homenagem a este descaso, o mosquito Aedes Aegypti devia ser a mascote principal deste carnaval dos horrores.


* O Professor Nazareno leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Quem quer entrar na Universidade?


O SISU ‘haddadiano’


Valdemar Neto*


O novo Sistema de Seleção Unificada (SISU) prometia ser uma dádiva para os estudantes. Mas ao longo do tempo, e das etapas ou chamadas, essa dádiva se transformou em um presente grego. Isso porque as falhas nesse sistema se tornaram constantes.

Muito discutida, ás vezes elogiada e ás vezes criticada, a mutabilidade da escolha do curso tendo como base a pontuação obtida no ENEM 2009 se revelou ineficaz. Pois os alunos acabam se inscrevendo em cursos onde a sua respectiva nota se "encaixa"; quase uma escolha forçada. O resultado disso foi que das mais de 47 mil vagas oferecidas sobram ainda, na segunda chamada, mais da metade desse valor. Um recorde de desistência.

Outro fator que explica tanta desistência é o fato de que muito dos selecionados moram longe das universidades “desejadas” e, na maioria dos casos, não têm como se encaminhar até essas instituições de ensino. Mas por que, então, tais alunos se inscreveram nessas instituições sabendo que não podiam chegar até lá para efetuar a matrícula? A resposta é simples: para aumentar a coleção de aprovações.

Num mundo cada vez mais mesquinho dizer que foi aprovado em dezenas de universidades aumenta o ego e faz crescer o tom de “superioridade” desses alunos - algo bem narcisista, não? De maneira geral, a existência desse fato evidencia as falhas do SISU e além do mais coloca em xeque o caráter (des) humano para com o próximo.

Outro problema do SISU é que aqueles que se inscreveram na primeira etapa e desistiram das vagas para a qual foram selecionados poderão se inscrever novamente. É fácil prever que o que aconteceu na primeira etapa se repetirá de novo na segunda. Com isso, inúmeras vagas ficarão ociosas á espera da etapa suplementar; faraônico e repleto de falhas, essa é a realidade do SISU ‘haddadiano’.


*Ex-aluno do Colégio João Bento da Costa em Porto Velho.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Ponta do Abunã é de Rondônia! Alguém acredita?


A Secessão no Fim do Mundo


Professor Nazareno*


O Plebiscito marcado para o final deste mês de fevereiro e que tem como objetivo principal emancipar a Vila de Extrema, fronteira com a Bolívia e divisa com o Acre, é grosso modo uma aberração nos meios políticos não só de Rondônia, mas também do Brasil e abre caminho para outras localidades seguirem os mesmos passos. As particularidades desta votação, a que todo eleitor de Porto Velho está obrigado a comparecer, expõem ao resto do país e talvez até ao exterior a nossa maneira absurda e bizarra de fazer política e de tratar a coisa pública.

Único lugar do mundo onde os políticos devolvem dinheiro, com mais esta esquisitice o nosso Estado passa de vez a fazer parte do anedotário político nacional. Enquanto na maioria dos estados brasileiros “as meias e cuecas” são recheadas de reais e dólares, Rondônia e os rondonienses ensinam outros meios bem menos dolorosos de se iniciar nesta arte. É sabido por todos que os moradores das localidades situadas na Ponta do Abunã há muito tempo foram abandonados pelo poder público, mas desmembrar e diminuir o território para se livrar do “abacaxi” só se vê por aqui mesmo.

Minas Gerais, por exemplo, não abre mão do Triângulo Mineiro assim como país nenhum do mundo quer ceder um milímetro sequer do seu território. Muitas e incontáveis guerras já houve mundo afora por causa de disputas territoriais. Aqui, a bisonha classe política até já se manifestou favorável à debandada da vilazinha perdida naqueles cafundós. Se Roberto Sobrinho fosse presidente de um país sério e agisse dessa forma entreguista, seria sumariamente fuzilado por crime de lesa-pátria, mas o “psicólogo do bigodinho” jamais vai ser Presidente de coisa alguma. Ainda bem.

Sobrinho, ao incentivar a secessão de Extrema admite publicamente a sua falta de competência para administrar a totalidade de um território para o qual foi escolhido para governar e ainda joga, com esta sua atitude mesquinha, nas costas do eleitorado a responsabilidade da escolha. Além do mais, aumenta as despesas absurdas esquecendo-se de que no Brasil, além do Presidente e do Vice-Presidente da República, existem 27 Governadores, 27 Vice-Governadores, 81 Senadores, 513 Deputados Federais, 1059 Deputados Estaduais, 5.561 Prefeitos, 5.561 Vice-Prefeitos e 60.320 vereadores.

Será que ele é cego para não perceber que são muitos os parasitas sendo sustentados com o suado dinheiro dos impostos? A não ser que a sua lógica seja a mesma dos seus pares: quanto mais políticos, mais dinheiro será devolvido aos cofres públicos. A necessidade da criação do município é tamanha que já contamos com a participação de 21 partidos políticos nessa campanha, sem contar que a Assembléia Legislativa e a Prefeitura de Porto Velho estão nos apoiando, além de movimentos religiosos que estão engajados”, observou Aparecido Bispo, um líder local e, claro, pró-emancipação.

A Vila de Extrema já pertenceu ao Acre, mas foi transferida para Rondônia. A população, porém, não concorda, já que a localidade fica mais próxima de Rio Branco, 180 quilômetros, do que de Porto Velho, 350 quilômetros. Por conta da distância menor, o maior contato dos moradores é com o Acre, onde os moradores usam os serviços, como o de saúde. A crescente produção agrícola e o rebanho de 400 mil cabeças de gado representam, na visão dos defensores da criação do novo município, que a região tem tudo para ser separada de Porto Velho. A vitória do SIM é a vitória da incompetência da administração municipal. Atendendo corretamente aquela gente sofrida e solucionando os seus problemas mais imediatos não perderíamos nenhum naco do nosso território. Que pena!


*Leciona na Escola João Bento da Costa.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Porto Velho e o seu destino de desaparecer do mapa.


Porto Velho vai se acabar


Professor Nazareno*


O Plebiscito que será realizado para a emancipação do distrito de Extrema, na Ponta do Abunã, não é o início do desmanche do município de Porto Velho. É apenas a continuação de um processo que caminha a passos largos desde a criação desta cidade no longínquo ano de 1914 e que depois foi escolhida para ser a capital do recém criado Território Federal do Guaporé em 1943. Com mais de 120 mil quilômetros quadrados de área no início, hoje “a cidade das hidrelétricas” tem menos de 30 mil e deve encolher mais ainda, pois já existem filas para que outras localidades também consigam a sua secessão: Jaci-Paraná, União Bandeirante e Abunã. Parece que todo mundo quer abandonar o barco. Por quê?

Porto Velho vai se acabar sim! E não é por causa da administração desastrada da “companheirada” ou das outras administrações a que a cidade foi submetida. Também não é por causa das intempéries da natureza. Roberto Sobrinho, por exemplo, iniciou a sua administração doando para o Governo Federal duas das mais importantes avenidas da cidade e não “vê a hora” da emancipação de Extrema. “É muito difícil administrar localidades que ficam muito longe da sede do município”, informou o prefeito em recente entrevista. Se a moda pega, muita coisa da cidade vai ser doada ainda. Quem vai querer ganhar de presente as sucatas da EFMM, a periferia imunda ou as Três Caixas d’água?

A cidade só é capital do Estado por causa do rio Madeira e da condição histórica do final do Primeiro Ciclo da Borracha. Sua localização no extremo oeste e junto à divisa como o Amazonas não atende satisfatoriamente a todos os outros 51 municípios devido às grandes distâncias. Um Estado com uma capital mais centralizada é o desejo de muitos rondonienses. Não fossem as cachoeiras e corredeiras do rio Machado, que inviabilizam a construção de um grande porto para escoar os produtos agropecuários do interior via Tabajara e Calama até o Atlântico, a capital de Rondônia seria a bela e encantadora Ji-Paraná, Cacoal ou mesmo Rolim de Moura, todas estrategicamente mais bem localizadas.

Além do mais, com a construção dessas hidrelétricas e a possível diminuição da vazão do Madeira entre Porto Velho e o distrito de São Carlos é bem possível que o porto seja transferido para a localidade de Aliança no baixo Madeira. Talvez por lá construam um verdadeiro porto, pois o daqui, e que dá nome à cidade, sempre foi um barranco fedorento, sujo, cheio de imundícies e abandonado pelo poder público. Com ruas esburacadas e cheias de lama, uma pandemia de dengue de fazer inveja à Etiópia ou à Somália, lixo por toda parte e inércia por parte das autoridades, Porto Velho é talvez a capital mais suja e desestruturada do país. Pior do que Porto Príncipe pós-terremoto.

Mas há salvação para a nossa linda capital. Nem tudo está perdido. Aqui é o único lugar do mundo onde políticos devolvem o dinheiro dos suados impostos para o Executivo. Isso é um bom sinal: se está sobrando grana é por que não faltam obras de infra-estrutura. A emancipação de Extrema, a possível perda de toda a Ponta do Abunã para os acreanos e o iminente risco dos royalties da Hidrelétrica do Jirau ficarem no Jaci ou em Bandeirante podem muito bem ser compensados com a reeleição desses políticos “de bom coração” para administrar a cidade de Porto Velho: os muitos milhões de reais devolvidos resolverão qualquer problema de uma cidade que se não está na iminência de sumir pelo menos está diminuindo de área territorial a cada ano que passa.


*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Brasil e Haiti: nações diferentes, realidades iguais?


Brasil e Haiti: aqui apenas nos faltam os terremotos


Professor Nazareno*


A cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi sacudida em janeiro último por um violento terremoto de magnitude absurda que causou a morte de quase 200 mil pessoas e provocou prejuízos incalculáveis àquele paupérrimo país caribenho. Disso, muita gente ficou sabendo. Sabemos também que este país é o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo. Seu PIB é baixíssimo assim como o seu IDH. Grande parte de sua gente é descendente de escravos e a nação ocupa a porção ocidental de uma ilha. Tem uma população de quase nove milhões de habitantes espremidos numa área territorial pouco maior do que o Estado de Sergipe, o menor entre os estados brasileiros.

O Brasil, desde o ano de 2004, lidera no Haiti vários militares através da Minustah, sigla em francês para Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Sem ter muito que fazer em nosso país, as nossas Forças Armadas, por meio do “Governo dos Companheiros”, mantêm cerca de mil e duzentos militares que se revezam periodicamente para ficar no Mar das Antilhas. O que muita gente pode não saber é que se for feita uma hipotética comparação entre o nosso país e aquela nação caribenha e que envolva governo, política, cultura, tradição e história, certamente nós vamos perder feio em qualquer um desses itens comparados.

A começar pela língua falada. A maioria dos haitianos se expressa em Francês, língua muito mais importante do que o Português junto à comunidade internacional, e quase todos os habitantes falam Krèyol (Crioulo), a outra língua oficial da nação. O Inglês é cada vez mais falado entre os jovens e no setor empresarial. Devido à proximidade com a República Dominicana, o uso do Espanhol também é muito incentivado. Por isso existe um número cada vez mais crescente de haitianos bilíngües ou trilíngües. No Brasil, mal falamos o Português. Línguas como Inglês, Espanhol ou Francês têm tanta importância entre os brasileiros quanto o idioma Grego na Rússia. Somos um país de analfabetos.

O Brasil aboliu a Escravidão em 1.888 enquanto no Haiti isso aconteceu quase cem anos antes. A nossa Independência veio em 1.822, dezoito anos após os haitianos se libertarem da França. E nos dois casos, tanto a Abolição como a Independência mostram a superioridade daquele povo sobre nós. Lá os movimentos nasceram no seio do povo como desejo de libertação e de preservação das identidades nacional, lingüística e cultural e da vontade de conquistar a autodeterminação do seu povo. Aqui esses movimentos nasceram da elite, em gabinetes, e em conluio com interesses espúrios num desejo absurdo de manter os pobres subjugados à vontade dos ricos. Há mais de 05 séculos é assim. Nada muda.

Além do mais, o Haiti é um país renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia. Por lá cresce diariamente o ódio contra “a intervenção brasileira”. Então, o que o Brasil fez em seis anos de ocupação no país? Absolutamente nada, pois as casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo são problemas corriqueiros agravados agora com o terremoto e que não foram resolvidos com a presença de milhares de militares estrangeiros. Com tantos “Haitis” por aqui os nossos militares deviam se acanhar e voltar para casa. Talvez ajudassem a atenuar os nossos problemas: dengue, violência nas favelas, miséria, lixo, corrupção...

Cerca de seis milhões de haitianos vivem na miséria total. Aqui são quase 50 milhões, ou seja, oito vezes mais. No Haiti isso é normal enquanto aqui devia ser imoral, já que somos a nona economia do planeta. Déspotas, políticos ladrões, corrupção no Estado, compra de votos, intimidação de opositores, democracia relativa, epidemias, falta de saneamento básico, desmandos, incompetência das autoridades, mentalidade golpista dos militares e passividade do povo são itens em que só empatamos. Após doar 20 reais às vítimas do terremoto haitiano, fui abordado por um brasileiro em plena Rua Jatuarana me pedindo dinheiro para comprar arroz. Entendi por que muitos dizem que o Haiti é aqui mesmo.



*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E a Escola João Bento largou na frente mesmo...


“Escola João Bento da Costa, a vergonha de Rondônia”


Professor Nazareno*


A Universidade Federal de Rondônia divulgou recentemente a relação dos alunos aprovados no seu último concurso vestibular e que iniciarão os estudos em curso superior ainda neste ano letivo de 2010. A Escola Estadual de Ensino Médio Professor João Bento da Costa, situada na Zona Sul de Porto Velho, destacou-se mais uma vez no Estado com a aprovação em uma universidade pública superior a 90 alunos em primeira chamada. Segundo a Direção da escola, após as chamadas seguintes e levando em consideração o resultado do ENEM, o número total de aprovados na Unir, neste início de ano, poderá ultrapassar facilmente a casa dos 130 alunos. Outro recorde.

A excelência desta escola, fartamente demonstrada pelos recentes números, não é novidade. São mais de 600 alunos aprovados na Unir em apenas 08 anos desde que iniciou por lá o Projeto Terceirão na escola pública criado por um grupo de professores. Embora não seja grande coisa, este estabelecimento de ensino já recebeu uma Moção de aplauso da Câmara de Vereadores de Porto Velho e uma Moção de Louvor da Assembléia Legislativa do Estado: em vez de procurar saber o porquê de outras escolas públicas não funcionarem como o JBC, a classe política local se contentou em afagar a única escola pública que funciona neste Estado e talvez até no Brasil. De políticos não se podia esperar muita coisa mesmo... E sendo rondonienses...

Óbvio que todo profissional da educação se orgulharia de pertencer a uma escola como esta. E comigo não é diferente. Faço parte de uma “equipe de ouro” que vai dos profissionais de limpeza, secretaria, supervisão escolar, professores das séries iniciais do Ensino Médio até a Direção maior do JBC. Isso sem falar no compromisso e na garra dos muitos alunos que escolhem anualmente essa escola com o objetivo de ingressarem na universidade pública. O que certamente não se consegue entender é por que muitos cidadãos de Porto Velho ainda relutam em reconhecer este trabalho. A propósito disto, é bom rever alguns comentários proferidos contra a minha pessoa quando publico artigos e redações em meu blog ou mesmo na imprensa local.

Pedro Barbosa disse: “Parabéns professor, com esse seu pensamento micro”. Keitty, outra leitora do site Rondoniaovivo, disse... “Meu estimado professor. Você ao invés de escrever porcarias poderia se colocar no lugar de educador, o mais interessante é que ainda se contratam pessoas como essas, totalmente desnorteadas para educar nossos adolescentes”. Já um tal de Erissin Ricardo comentou: “Muito me espanta, uma pessoa que se diz "PROFESSOR" compartilhar de pensamentos mínimos, e por que não dizer tolos e por existirem profissionais assim como senhor, é que temos uma educação precária em nossa cidade”. No João Bento, não há essa precariedade anunciada. Gilson, outro leitor, foi mais lacônico: “Se eu tivesse um filho meu ou um neto como seu aluno, eu os transferiria de escola”. A propósito: alguém sabe o nome das duas escolas de Porto Velho que mais aprovam alunos no vestibular da Unir? Orgulhosamente trabalho nas duas. Uma particular e outra pública.

Pior ainda foram os comentários infelizes de um pseudo colunista da cidade que se diz porta-voz da cultura local: “E a peste conhecida como José Nazareno, essa tem que ser banida, escorraçada, defenestrada, enterrada ou deportada de Porto Velho. Os pais que tem (SIC) filhos estudando com esse doido devem imediatamente tirá-los da escola que tem essa erva daninha como professor. Senhora Secretária de Educação, chame esse seu professor para uma conversa. Ele não pode continuar morando em Porto Velho”. Fico aqui imaginando que tipo de conversa a Secretária de Educação queria ter comigo depois de analisar estes números garbosos e envaidecedores. O sucesso do Colégio João Bento da Costa devia envergonhar outras escolas públicas do Estado e do país.

Matheus Mota, outro sujeito metido a comentarista, afirmou que ficou estarrecido com tanta ignorância, incompetência, e tantos "ins" por aí. “Com certeza, esse elemento não tem caráter e nem personalidade, pois saiu de uma terra em que estava a duras penas, na podridão e subordinado à fome e miséria, vindo a esta terra que o acolheu e lhe deu o que comer” e a leitora Járede Maedrei dos Santos Moreira concluiu: “como conseguiu status de pedagogo? Agora os meus algozes vão ter que me engolir. Não existe resposta melhor do que a competência e mostrando trabalho de “gente grande”. Não sou rondoniense, mas faço e já fiz por este Estado muito mais coisas do que muitos que se dizem “filhos da terra”. Como se vê: falar é muito fácil.

Parabéns a todos os alunos do JBC que foram aprovados no último vestibular da Unir e aos outros que estão na universidade e os que ainda não conseguiram aprovação. Vocês foram e são vencedores por que têm garra e sempre acreditaram nos seus professores, mesmo alguns deles sendo chamados de “aloprados” por alguns integrantes (metidos a jornalistas) da mídia local. Foram aprovados sem precisar ler bizarrices que dizem representar uma cultura local que não existe nem nunca existiu. Não precisaram fazer “sombras com as mãos” nem viajar às custas do Erário. Nem escândalos políticos vocês conhecem. São os verdadeiros heróis e não os “zeróis” que alienam, atrapalham e ainda acreditam que todos “vivem felizes”. Herdem este Estado, meus queridos pupilos, e mudem a história dele para sempre. Não esperem acontecer, pois vocês sabem.

Parabéns aos pais que também acreditaram nesta equipe vitoriosa e participaram de mais esta vitória que é de todos nós, que é de Porto Velho, que é do Estado de Rondônia. Fizemos apenas a nossa parte, pois somos pagos para isso. Aloprados, rebotalhos, fugitivos da seca, ingratos, mentecaptos ou professorzinhos de quinta categoria, como muitos desinformados ainda acreditam existir nas escolas públicas de Rondônia, são na verdade aqueles que criam uma consciência crítica nos futuros profissionais e cidadãos deste Estado. São aqueles, enfim, que acreditam na formação de uma verdadeira consciência cidadã. E tomara Deus que na escola JBC não sobrem vagas para matricular os filhos e netos daqueles que se dizem os donos da verdade. Sem rancores, apenas façam mais por este lugar que vocês vivem dizendo ser só de vocês.



*É professor na Escola João Bento da Costa.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A importância da Leitura


LER DEVIA SER PROIBIDO

Guiomar de Grammon*

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida. Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. RJ: Argus, 1999. p.71