terça-feira, 29 de agosto de 2017

Terra dos apagões


Terra dos apagões


Professor Nazareno*


Rondônia tem três grandes hidrelétricas, mas na sua capital Porto Velho a falta de energia tem sido uma constante ultimamente. Em menos de 15 dias verificaram-se dois terríveis apagões trazendo, óbvio, alguns transtornos para moradores e para o comércio. Mas a caboclada já está se acostumando tranquilamente ao caos. Para uma capital de Estado que detém o nada invejável título de “antessala do inferno” ficar no escuro quente por alguns poucos minutos parece ser coisa normal. E como para muitos porto-velhenses “não falta energia durante o dia”, alguns só perceberam o primeiro apagão por que foi à noite. Energia é um bem de consumo supérfluo e quase dispensável nestas terras selvagens e inóspitas. Uma cidade que tem apenas dois ou três edifícios não precisa mesmo de energia para movimentar elevadores ou outras coisas mais úteis.
Ninguém sabe até agora a razão destes blackouts neste fim de mundo esquecido e abandonado. E talvez nunca saberá. O Operador Nacional do Sistema pode até saber o porquê, mas dificilmente dará explicações convincentes aos seus consumidores. Rondônia produz energia boa e barata e manda quase tudo para o sul do país. O nosso meio ambiente foi estuprado pelas duas grandes hidrelétricas no rio Madeira apenas para satisfazer a necessidade energética de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e outras metrópoles mais civilizadas e desenvolvidas. Devem pensar que índios não precisam de geladeira para conservar seus poucos alimentos. Beber água gelada e dormir com ar condicionado ligado é um mimo inexplicável para quem nunca viu essas modernidades. Além do mais, em Rondônia não existem indústrias que justifiquem luz o dia todo.
A única ponte da cidade é também escura feito breu e com a recente vitória de Amazonino Mendes para governar o Amazonas pela décima vez, a estrada que ligaria Manaus a Porto Velho nunca mais sairá do papel. Portanto, a melhor coisa que se faria seria implodir aquela velharia imprestável e desnecessária. Eu não colocaria uma lâmpada sequer naquilo e como a cidade sempre fica às escuras, tudo combinaria. Aliás, existe cidade no mundo mais escura do que Porto Velho? Como gostar dessa “terra de apagões” se até os políticos daqui não são flagrados contando dinheiro sujo como os de Cuiabá? O Mato Grosso, sim, é uma terra abençoada. Lá eles precisam de claridade, já que não se conta dinheiro no escuro. Amar Porto Velho, terra onde político tira férias com apenas seis meses de trabalho, é uma das tarefas mais ingratas que se conhece.
Qual o empresário maluco que teria coragem de investir alguma coisa em Rondônia ou em sua distante e atrasada capital? Matéria prima quase não existe por aqui, mão de obra qualificada não há, mercado consumidor também não e agora nem energia elétrica confiável. Investir aqui só se for para montar uma fábrica de porongas, lamparinas ou velas. Pior: a apagada classe política local não dá um pio sobre o acontecido. Com a reputação mais escura do que os apagões, nenhum deles vai à mídia falar sobre o problema. Dormir no escuro batendo carapanã virará em breve um hobby nesta capital calorenta, abafada e infernal. Além de suja, mal administrada, fedorenta, podre e imunda, a capital mais chinfrim agora é escura. Brevemente estaremos andando de cipó como já previram, atividade essa que não depende da cara energia. Mais de 15 horas depois das trevas, a Eletrobras não sabia explicar o que tinha acontecido. Nem eu.





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 27 de agosto de 2017

O Amazonas é o Brasil/2018


O Amazonas é o Brasil/2018


Professor Nazareno*

            
          Na política, o Brasil vive há tempos momentos angustiantes e vergonhosos. É roubalheira sem fim em quase todos os partidos políticos, autoridades presas por corrupção, malas de dinheiro sendo escondidas, propinas, ataques ao erário, desvios de verbas, acordos espúrios, delações premiadas, acusações de extorsão, escândalos gravados, golpe de Estado, obras superfaturadas e inacabadas, cuecas recheadas de grana, gravações ilícitas, roubo escancarado de dinheiro público, nomeações fantasmas, operações policiais, compra de votos, contratos fraudulentos envolvendo políticos e outras autoridades, “vergonha em cima de vergonha”. O povo, roubado e vilipendiado até a alma, promete dar o troco e se vingar dos políticos nas próximas eleições. Anular o voto ou simplesmente se abster de ir às urnas é o que mais se ouve entre os eleitores.
Só que não haverá vingança nenhuma. Infelizmente nas eleições do próximo ano as coisas não mudarão e todos ou quase todos os políticos envolvidos em maracutaias e roubalheiras serão tranquilamente reconduzidos aos seus cargos. Todas as 27 unidades da federação reelegerão os próximos deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e até o presidente da República, porém as mudanças, as renovações, se houver, serão mínimas, inexpressivas. E quem afirma isso ou pelo menos quem confirmou este absurdo foi o resultado das recentes eleições que aconteceram no Estado do Amazonas. Em votação para um mandato tampão de governador do Estado, já que o mandatário amazonense fora cassado por compra de votos, o eleitor foi às urnas e reelegeu de novo Amazonino Mendes, um velho cacique conhecido da política local.
Se o eleitor amazonense não fez no seu Estado a mudança que o país espera, como ter esperanças de que nas próximas eleições haverá qualquer novidade na política nacional? Nada mudou no Amazonas e nada mudará também no resto do Brasil. O eleitor do Amazonas tem o mesmo perfil do eleitor de qualquer outra parte deste país, infelizmente. Amazonino Mendes já foi governador daquele Estado e prefeito de Manaus pelo menos umas três ou quatro vezes. Da mesma forma que Eduardo Braga, seu oponente no segundo turno. Se depender da maioria desses cidadãos despolitizados, todas as figurinhas carimbadas da nossa política vão continuar dando as cartas por um bom tempo. O eleitor não tem competência nem quer mudar no voto a caótica situação do país. E Rondônia continuará com Raupp, Cassol, Expedito, Capixaba, Mosquini...
O brasileiro comum não entende de política e dela quase não participa. Aqui, o candidato quanto mais ladrão e cafajeste, mas voto tem e mais cargo ocupa sempre com o apoio do eleitor idiota. Se Michel Temer fosse candidato a presidente, por exemplo, teria chances de ganhar o pleito. Tudo ia depender somente do apoio que recebesse, dos marqueteiros e dos financiadores da campanha. Convencer o otário eleitor de que Temer ou qualquer outro candidato é bom, é uma coisa fácil e simples. Não é à toa que Lula e Bolsonaro aparecem nas pesquisas à frente de muitos candidatos. Basta fazer uma lista, Estado por Estado, dos políticos citados em contravenções e coisas erradas para ver se a maioria não será reeleita nas próximas eleições. “Não existe sociedade honesta com governo corrupto ou vice-versa”, sentenciou o professor e historiador Leandro Karnal. Sinais sombrios: o Amazonas disse ontem ao Brasil que tão cedo não haverá mudanças.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Porto Velho sem porto


Porto Velho sem porto


Professor Nazareno*

            
              Recentemente o renomado vidente paulista Valter Arauto, que para mim é um ilustre desconhecido, previu que a cidade de Porto Velho, a eterna capital de Roraima, seria destruída por um desastre. O “guru” Valter já teria acertado várias previsões como a queda do avião da Chapecoense e o recente apagão que aconteceu em Rondônia, Mato Grosso e Acre. Só que desta vez o “adivinho” pode ter errado feio, pois não se pode mais destruir o que já está destruído há tempos. O fim sistemático da “capital dos roraimenses” começou a acontecer no longínquo ano de 1914, data que ironicamente coincide com a sua (a) fundação. Prosseguiu anos a fio e hoje, em pleno século XXI, é uma cidade destroçada, uma espécie de terra arrasada, um lugar ermo, distante, mal administrado e que nunca proporcionou nenhum conforto aos seus corajosos moradores.
              O Instituto Trata Brasil mostra esta capital como uma das piores cidades do mundo para se viver. Tem menos de 30 por cento de água encanada (e não tratada) e somente dois por cento de rede de esgotos. Fruto de invasões e problemas fundiários, esta capital sempre foi cortada por igarapés sujos e imundos que foram, ano após ano, transformados em esgotos que escorrem a céu aberto. Porém, pior do que suas águas pútridas e infectas são seus administradores. Nenhum deles, desde o major Guapindaia, parece ter demonstrado qualquer resquício de amor à cidade. Muitos deles vêm, administram e depois caem fora para morar em lugares mais civilizados e atrativos. O atual prefeito, por exemplo, “que diz não ser um político”, tirou férias com apenas seis meses de trabalho e em vez de conhecer melhor a cidade viajou para a Disney e Paris.
            Lugar amaldiçoado, feio, sem estrutura urbana nenhuma e abandonado pelas autoridades, Porto Velho nem porto tem mais. Até que o consórcio que construiu uma das três hidrelétricas do lugar doou ao município um porto rampeado e limpo, que seria uma espécie de pagamento dos exploradores aos explorados. Usado por pouco tempo, o trambolho não funciona mais e corre o risco de afundar de vez no rio Madeira comido pela ferrugem e condenado pelo esquecimento. Quem quiser visitar São Carlos, Nazaré ou mesmo Calama terá que enfrentar um barranco sujo, fedido, escuro, escorregadio íngreme e perigoso. Como os ricos, as autoridades e os políticos quase não viajam para a bucólica região ribeirinha, a tendência é que a situação de desespero, vergonha e caos permaneça ainda por muito tempo. Para que serve mesmo nossa Câmara de Vereadores?
            Assim, Porto Velho continua tristemente a sua lenta agonia rumo ao fundo do poço. Do seu acanhado aeroporto internacional, que não faz viagem nem para a Bolívia, do seu ainda inacabado Espaço Alternativo e das suas outras inúmeras obras eleitoreiras feitas a “cu de cavalo”, como a ponte escura e os famigerados viadutos imprestáveis, a cidade luta para não desaparecer do mapa. “Visite Natal, visite Curitiba, visite Salvador. Vá a Disney, vá à Europa”. São as placas mais comuns que se veem espalhadas de forma acintosa por aqui. Imagine-se então Salvador sem o elevador Lacerda e a baía de Todos os Santos, Paris sem o rio Sena e a torre Eiffel ou o Rio de Janeiro sem a baía da Guanabara e o Corcovado. Sem o porto que lhe deu origem e nome, sem infraestrutura urbana e sem administradores que a amem e dela cuidem com paixão, a cidade afundará no lodaçal esquecida entre o horror, o lixo e o monturo. “E nunca se fará de novo”.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 20 de agosto de 2017

Educação sabotada


Educação sabotada


Professor Nazareno*


Sou professor de Redação e de Língua Portuguesa. Já completei 41 anos de sala de aula. Trabalho vendendo meus conhecimentos no setor público e também no privado. Desde o longínquo ano de 1976 que leciono e neste período vi que quase nada mudou na estrutura da educação no Brasil. Ainda temos hoje em pleno século XXI um dos piores sistemas de educação do mundo. Porém a nossa educação cumpre rigorosamente o seu papel: foi feita para não funcionar e realmente não funciona mesmo. Ditados pela elite conservadora e reacionária, os objetivos do nosso sistema educacional reproduzem fielmente a realidade social preconizada por Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala. A educação pública é péssima, horrível e não ensina nada a ninguém. Mas na rede particular não há muita diferença, já que são todas “farinha do mesmo saco”.
Desde sempre, a maioria dos meus alunos ao término do Ensino Médio, por exemplo, não sabe ler nem escrever. Muitos infelizmente nem sabem grafar o próprio nome. Têm dificuldades de entender um simples texto e tropeçam nas mais elementares sentenças matemáticas. Sem leitura de mundo e sem conhecimentos básicos não estão preparados para enfrentar a vida. E quase todos eles acham que são culpados por esta tragédia, por este caos. Mas não são. A deficiência do nosso sistema educacional foi plantada há tempos. A precariedade de nossas escolas é ideológica, proposital mesmo. Darcy Ribeiro teria dito que “uma nação que não constrói escolas deveria construir presídios”. E não se enganou. Vejam: desde o final do século dezenove que os Estados Unidos criaram o sistema integral de ensino em suas escolas. E o que são hoje os EUA?
Infelizmente a classe política é corresponsável por toda esta desgraça. Os nossos políticos são marionetes do sistema empresarial e elitista que sempre mandou no país e consequentemente em todas as nossas escolas. Sistema esse com uma mentalidade tacanha e retrógrada que aposta no atraso e na ignorância para continuar mandando em todos. Confúcio não é o governador de Rondônia. Hildon Chaves não é prefeito de Porto Velho. Michel Temer não é o presidente do Brasil. Todos eles são marionetes, são apenas gerentes de um sistema maior chamado “establishment”. Dar ao povo uma educação de qualidade para quê? Para tirá-lo da miséria? Para fazê-lo protagonista da sua própria História? Nossas escolas têm que ser ruins mesmo, fracas, podres. Mas há saída: escolas integrais e o compromisso de todos podiam ser a “salvação da lavoura”.
Muitos dos nossos professores infelizmente têm culpa também por este caos. Vários deles são eleitores do Bolsonaro e do Lula e defendem ardorosamente a militarização das escolas, pois sem competência para disciplinar seus alunos, creem que ordem unida, hierarquia, fardamento e repressão são pré-requisitos para uma educação de qualidade. Conheço muitos colegas semianalfabetos e despolitizados que defendem o absurdo sem compreender que a ideologização militar é parte de uma estratégia criada para impor ainda mais ideias atrasadas e retrógradas às nossas crianças. Nossos jovens não precisam prestar continência a ninguém, usar fardas, nem saber cantar hinos toscos para ter sucesso na vida. Precisam da boa leitura e de informações. Patriotismo é o pior dos sentimentos coletivos, pois leva ao Nazismo e ao Fascismo. E muitos educadores parecem hoje querer isso. Até quando teremos de nos submeter ao que nos é imposto?




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Terra de ninguém


Terra de ninguém


Professor Nazareno*

Há 37 anos que respiro o ar poluído desta terra amaldiçoada. E há exatos 37 verões que nesta época do ano o oxigênio fica quase irrespirável. E tristemente sempre foi e será assim. Estamos na estação da fumaça, que vem logo após a estação da poeira. Aqui, diferente de muitos outros lugares do mundo desenvolvido e civilizado, as coisas parecem girar ao contrário: lama, poeira, fumaça e mormaço é o oposto do que se conhece como verão, inverno, primavera e outono. A criminosa fumaça das queimadas arde em nossos organismos e nos expõe a doenças evitáveis como rinite alérgica, asma, bronquite, tosse, dentre muitas outras. Esta parte da Amazônia, como uma Hiroxima abandonada e maldita, exala todos os anos vergonhosamente para o mundo, a fumaça de suas ainda poucas matas. E tudo sob o olhar complacente e passivo das autoridades.
Rondônia tem INCRA, tem SIPAM, tem Sivam, tem IBAMA, tem secretarias de defesa do meio ambiente em quase todos os municípios, tem Ministérios Públicos, tem tudo relacionado à defesa do meio ambiente com uma estrutura de fazer inveja a qualquer país civilizado do Primeiro Mundo, mas via de regra todo ano, a vergonhosa situação fecha aeroportos, lota hospitais com crianças e velhos, causa transtornos e providências não são tomadas para acabar ou pelo menos para aliviar a hecatombe que se abate sobre nós. Em Rondônia é como se a sociedade civil organizada não fosse organizada ou nem existisse. Nada aqui dá certo. Nada funciona. Quase tudo é na gambiarra, no jeitinho. O fogo assassino e a fumaça tomam conta de tudo. As pessoas incendeiam seus quintais. Fazendeiros incineram suas terras e ninguém contém o caos.
Nesse Estado parece que “é cada um por si e o diabo por todos”. Até apagão essa desgraça de lugar tem, apesar de possuir três grandes hidrelétricas que só servem para beneficiar os outros. A classe política, que nada faz, é de fazer inveja ao Sudão do Sul, Burkina Fasso ou Eritreia. Em vez de se preocupar com os inúmeros problemas do Estado, legislam em causa própria e na Assembleia Legislativa do Estado aprovam para si próprios um absurdo auxílio alimentação de mais de seis mil reais por mês sem levar em conta as necessidades de seus burros e otários eleitores. Mas ainda bem que recuaram diante do óbvio. Aqui nesta terra de ninguém, político só trabalha seis meses e já sai de férias. Óbvio que viaja para o mundo desenvolvido e civilizado. Disney e Paris, por exemplo. Tirar férias e ficar por aqui só para nós mesmos, os pobres e ignorantes.
Como se não bastasse o horror, até a educação do Estado estão querendo militarizar como se usar fardamento, prestar continência aos “superiores” e saber cantar o Hino Nacional fossem pré-requisitos básicos para se adquirir leitura de mundo, conhecimentos teóricos e boas informações. Engraçado é que ninguém falou em educação de tempo integral para nossas crianças e jovens. Rondônia ou Roubônia caminha para trás há muito tempo. Em breve virará uma província sem eira nem beira e finalmente desaparecerá do mapa. Isso aqui é uma espécie de “filial ruim e atrasada do Brasil”, outra porcaria sem conserto e sem rumo. Um lugar onde Lula e Jair Bolsonaro lideram pesquisas eleitorais para presidente da República não se precisa dizer mais nada. O jeito é se conformar mesmo em inalar fumaça, aplaudir os apagões e esperar chover merda. E então neste sinistro dia, a alegria reinará entre os rotos e desdentados.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 13 de agosto de 2017

Vivemos na idiotice?


Vivemos na idiotice?


Professor Nazareno*


Se for feita esta pergunta à maioria dos cidadãos comuns do Brasil, a resposta majoritária será sempre negativa: “claro que não!”. Porém, sem se dar conta de sua própria estupidez, a esmagadora maioria dos brasileiros, em pleno século XXI, vive tempos muito anteriores à Idade Média. Na política, na economia, na Educação, na Saúde, na sociedade e em quase todos os setores da vida cotidiana o que norteia os brasileiros de um modo geral é a ignorância e a idiotice. Mesmo muitos dos nossos cidadãos tendo alguns anos de escolaridade e alguma visão de futuro ainda acreditam em coisas que no mundo desenvolvido e civilizado já foram extintas há muito tempo. O cidadão ignóbil infelizmente quase não tem noção de nada. Sem leitura de mundo, tolo, analfabeto, beócio e sem conhecimentos, vive como um verdadeiro imbecil e otário.
O brasileiro comum, como um perfeito idiota e desmiolado, acredita cegamente na Justiça do seu país. Crê também na maioria dos políticos que elege e sempre achou que o seu Governo é uma espécie de presente que Deus lhe deu. Deve ser por isso que não tenha nenhuma credibilidade lá fora e que sempre é “levado a pagode” como um dos povos mais estúpidos e imbecis do mundo. Não somos levados a sério por quase nenhuma nação civilizada e séria deste planeta. Na política, o nosso prestígio é pior do que o Sudão do Sul, o Haiti ou Serra Leoa, embora sejamos uma das dez maiores potências econômicas do mundo há mais de quarenta anos. Somos um eterno “anão diplomático”, como bem resumiu recentemente um diplomata de Israel. O nosso país infelizmente é motivo de piadas e chacotas em todas as nações desenvolvidas da terra.
Já em Rondônia, que é a “chacota da chacota” dos brasileiros mais imbecis, o festival de estupidez é hilário. Aqui, por ser uma terra de gente matuta e de cidadãos parvos em sua maioria, tudo é novidade. Recentemente uma caravana de comida ruim e insossa, chamada de “Food Truck”, encantou a todos apesar dos preços exorbitantes. Ver beiradeiros comendo gororoba a preço de ouro não tem diversão maior. Na área da política, por exemplo, a maioria dos cidadãos eleitores daqui venera um “político que não é político” e que na maior cara de pau tirou férias após somente seis meses de trabalho. O eleitor comum fica feliz só de vê-lo visitar o Primeiro Mundo em vez de alavancar o turismo inexistente da região. Em Porto Velho, nesta época de fumaça e poeira é comum observar incautos tirando fotos embaixo dos poucos ipês floridos.
O Zé Ninguém de Porto Velho é tão imbecil e idiota que não percebe as imundas e fedidas valas de esgoto a céu aberto ao lado dessas raras árvores floridas. Sensação olfativa estranha: é como você defecar embaixo de um pé de jasmim florido. Rondônia é um dos poucos Estados do Brasil em que Jair Bolsonaro tem a maioria das preferências de votos para as próximas eleições e Lula vem em segundo lugar. Isso só demonstra qual o nível desta unidade da Federação. A estupidez é tanta por aqui que se perguntar ao cidadão comum quem é hoje o pai do Brasil ele certamente dirá que é Michel Temer. Isso por que ele acredita cegamente em dia dos pais, dia das mães, dia do professor, dia disso e dia daquilo. Rondônia é tão ruim e amarga que para o resto dos brasileiros é um fim de mundo esquecido sem eira nem beira e que cuja capital é Boa Vista. Por acaso alguém conhece qual dos Estados do Brasil é governado por um blog?





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 6 de agosto de 2017

O Beni é uma desgraça


O Beni é uma desgraça


Professor Nazareno*
           

Com pouco mais de três décadas de existência, a jovem província do Beni é uma das piores periferias do capitalismo mundial. Confundida com uma província homônima, também mais outra das terríveis periferias da nação, a bisonha e sinistra unidade da federação nasceu e foi praticamente colonizada pelo que de pior existe no resto do país. Com uma vasta extensão territorial, o Beni é maior do que muitos países civilizados e desenvolvidos do mundo como a Inglaterra e a Coreia do Sul, por exemplo. Tem uma população tão pequena que caberia numa cidade como Campinas no interior paulista, mas mesmo assim não consegue dar uma boa qualidade de vida ao seu povo. Situada estrategicamente entre dois biomas reconhecidos mundialmente como a Amazônia e o Cerrado, o pouco que se produz lá é à base da devastação ambiental.
Só na região de sua suja e imunda capital Trinidad, existem três grandes hidrelétricas que abastecem o Sul e o Sudeste do país com energia boa, abundante e barata enquanto na cidade se paga uma das tarifas mais altas. Na província, é difícil dizer o que é pior. Muitos dizem que são os políticos. De fato, dos poucos deputados federais que ainda existem, pelo menos cinco deles votaram para salvar o inexpressivo, impopular e golpista presidente do país. E devido a pouca ou nenhuma memória dos seus parvos eleitores, todos eles serão tranquilamente reeleitos a partir de 2018. Político em Trinidad trabalha só seis meses e já tira férias normalmente. Foi o que aconteceu com o atual prefeito, que viajou para Disney e Paris e deixou no seu lugar o vice, que está vergonhosamente enrolado até o pescoço em denúncias de corrupção e maracutaias.
 Mas como quase ninguém falou nada, a “carruagem” seguiu tranquilamente o seu curso. Parece até que os habitantes daquela cidade adoram ser governados por essa gente. Mas muito eleitor está espantado, pois na Câmara de Vereadores de Trinidad e na Assembleia Legislativa da província não acontece um escândalo de corrupção há mais de um ano. Será que os parlamentares estão doentes? Embora seja uma porcaria, uma desgraça, quase todos os habitantes de Trinidad dizem que amam a sua cidade. Vivendo confortavelmente em outros lugares pelo país, adoram escrever textos pífios defendendo o torrão de onde saíram há tempos. No Beni não existe turismo nenhum, óbvio, e talvez por isso as passagens aéreas são as mais caras do país. Ninguém é louco de querer ir para lá por que de lá quase não se pode sair.  O Beni é o inferno. Não é irônico isso?
No Beni não tem futebol nem estádio de respeito. Até numa vizinha província há times de futebol bem melhores e tem uma majestosa arena de jogos. A não ser que se acredite na lorota de que o “Oãziula” seja um estádio e que clubes da “série Z” sejam times de futebol. Piada pronta: sem nenhum clube de vôlei, handebol ou basquete,  Trinidad tem estranhamente um caro, suntuoso e desnecessário ginásio de esportes. Não há universidade estadual no Beni e o curso de Medicina da única instituição pública de nível superior de lá funciona há tempos sem um Hospital Universitário. Já a única unidade de pronto socorro da capital é um campo de extermínio de pobres. Hitler se orgulharia dela. As autoridades e os mais endinheirados fogem dali como o diabo foge da cruz. Estamos na estação da poeira e da fumaça com quase 40ºC à sombra e umidade abaixo dos 30%. Se o Beni não é uma desgraça, então só pode ser a morada do Satanás.





*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Quem aliena o povo?


Quem aliena o povo?

Professor Nazareno*

            Recentemente circulou pelas redes sociais uma pesquisa dando conta de que o Brasil tem o terceiro povo mais idiota do mundo. Claro que se trata de uma grande mentira. Primeiro por que é impossível se medir o grau de estupidez de uma população, segundo por que se isso fosse possível, provavelmente nós ficaríamos em primeiro lugar sem nenhum concorrente. Com mais de 206 milhões de habitantes, o Brasil se não tem o povo mais imbecil e palerma do mundo, certamente conta com uma grande parcela de cidadãos totalmente alienados, despolitizados, babacas e patetas. Não há país com povo mais estúpido. Isso sem levar em conta o fato de que grande parte desses mesmos cidadãos é desonesta e como perfeitos bocós abrem mão da participação política e sem reclamar colocam o seu destino nas mãos de políticos ladrões, corruptos e desonestos.
            O processo de imbecilização dos brasileiros já vem de muito tempo. A principal mola propulsora desse fenômeno atípico e sinistro está no péssimo sistema de educação do país, reconhecidamente como um dos piores do mundo. Aqui muitas pessoas mal sabem ler e escrever o próprio nome após o término do Ensino Médio, por exemplo. São analfabetos funcionais que fazem do jeitinho e da gambiarra uma filosofia de vida. Não sabem o que se passa de bom nos principais países do mundo e desconhecem as mais simples regras de civilidade e relacionamentos sociais. Para se comprovar esse anômalo comportamento social, basta ver os comentários que são postados nas redes sociais todos os dias. Além dos absurdos erros gramaticais, típicos dessa gente mal formada e informada, o festival de ataques aos mais elementares direitos à pessoa é uma constante.
            A mídia deve vir em segundo lugar nesse demoníaco processo de tornar apalermados os nossos cidadãos. Os programas da televisão, principalmente, são um convite à idiotização geral. Do BBB às novelas, o que se observa é uma apelação grotesca ao cidadão, desprovido de leitura de mundo e conhecimentos, para “participar” daquele festival de horrores. Os telejornais geralmente são tendenciosos e só mostram o lado idílico e mentiroso do país e de seus parvos habitantes. A verdade e a discussão não são incentivadas nem discutidas. O rádio também participa do caos. Músicas de péssima qualidade e programas que não valem a pena escutar são uma constante. Locutores e disc-jóqueis ou DJ’s mal intencionados, e também alienados, comandam programas cujo único objetivo é tornar mais idiotas ainda os coitados dos ouvintes. 
            A Igreja, o futebol, o carnaval e outras festas populares como o São João e as cavalgadas participam também muito ativamente do processo. A crença num ser imaginário e superior encanta a todos, principalmente os mais pobres, como num passe de mágica. A promessa de enriquecimento ainda em vida é uma isca infalível em que muitos creem. Já o futebol é uma paixão nacional. Pessoas até inteligentes e sociáveis deixam seus afazeres só para discutir as preferências de seu time preferido. E o que dizer de uma cidade suja, fedorenta, podre e imunda como Porto Velho que coloca em fevereiro quase 30 por cento de sua população no meio das ruas só para beber cachaça e muitos deles até a se drogar publicamente? O Congresso Nacional e os políticos de um modo geral representam muito bem este povo tantã e demente. Será que existe alguma dúvida por que um presidente maculado pelo roubo e pela corrupção ainda nos governa?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Temer jamais cairia


Temer jamais cairia

Professor Nazareno*

            Michel Temer continua tranquilamente como presidente do Brasil. E quem determinou isso foi o Congresso Nacional por meio de uma democrática votação que não permitiu que as comprovadas denúncias de corrupção contra o maior mandatário da nação tivessem prosseguimento no Supremo Tribunal Federal. Para apeá-lo do poder e dar prosseguimento às investigações precisava-se de pelo menos 342 votos para derrotar o relatório da CCJ. Teve só 227 votos. Não há no país inteiro a menor convicção de que Temer não tenha culpa. Mas os congressistas arquivaram no voto qualquer possibilidade de investigação. Com menos de cinco por cento de aprovação dos brasileiros, o presidente golpista continuará dando as cartas. E quem decidiu isto foi o mesmo pensamento reacionário e conservador que golpeou a última presidente, eleita no voto.
            Ainda que Michel Temer tivesse zero por cento de aprovação popular, ele não teria caído. A mentalidade direitista, golpista e retrógrada que o mantém é a mesma que não dá e nem nunca deu a menor satisfação para a população humilde e alienada que vota nela e de um modo geral é a maior vítima dos desmandos dessa mesma classe política. Nesse contexto, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. A bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia) do Congresso Nacional sempre olhou apenas para o seu próprio umbigo sem levar em consideração as necessidades mais urgentes do povo. Dilma, o PT e todos os esquerdistas tinham que ser escorraçados do poder “a qualquer preço e custo” e assim foi feito. Parte do povão, alienado e calado, deu também a sua contribuição: vestiu-se de amarelo, riu com o pato da FIESP e foi às ruas apoiar o golpe.
            Em Rondônia, como já era de se esperar, a situação foi a mesma do Brasil. Dos oito deputados federais do Estado, cinco deles, Lindomar Garçon, Luiz Cláudio, Marinha Raupp, Lúcio Mosquini e Nilton Capixaba sequer levaram em consideração que mais de 95% dos brasileiros queriam o “Fora Temer” e assim votaram pela continuidade vergonhosa do governo espúrio. É claro que esses políticos contam com a pouca memória, a total falta de leitura de mundo e a ausência de politização da maioria de seus eleitores. Por isso é quase certa a reeleição desses cinco representantes rondonienses em 2018. E não adianta espernear nem divulgar nada nas redes sociais. O eleitor de Rondônia gosta deles e pronto. Não está nem aí para as “coisas da política”. Principalmente os cidadãos mais pobres e necessitados que sempre foram fiéis a eles.
            Alegre, entusiasmado e feliz, Temer e sua turma continuam a nos governar como se nada tivesse acontecido. E tempos bicudos parecem surgir no horizonte: mala de dinheiro, compra de voto dos parlamentares, reforma da Previdência, arrocho nos trabalhadores, perda de direitos conquistados, desemprego em massa, demissão de servidores públicos, fim da CLT, sucateamento das universidades públicas, fim dos programas sociais, corrupção e outros desmandos foram simplesmente esquecidos. O povo brasileiro leva de novo paulada na cabeça. Bem feito! Quem sabe assim aprende a votar, aprende a escolher melhor os seus representantes? Michel Temer emerge destes fatos vergonhosos e absurdos como um verdadeiro Deus, como um herói. Sem nenhum reconhecimento internacional, sem carisma, sem voto e sem popularidade, recebeu 263 votos para continuar governando “aos trancos e barrancos” o Brasil. O pobre Brasil.




*É Professor em Porto Velho.