Natal
sem progresso em Porto Velho
Professor
Nazareno*
Infelizmente quem aqui nasceu ou por
qualquer outra razão veio para fincar raízes e espera algum dia ver esta
capital como um lugar cheio de progresso, qualidade de vida e desenvolvimento humano
é bom ir logo “tirando o cavalinho da chuva”, pois Porto Velho não
combina com futuro promissor nem com prosperidade. Com quase um século de
existência, parece que é um lugar amaldiçoado. Por aqui nada dá certo nem
ninguém se preocupa. Além de suja e imunda, a capital dos rondonienses foi
criada para ser a vergonha do Brasil, o lodaçal. Sem água potável e com menos
de três por cento de saneamento básico, não se sabe até hoje por que foi
escolhida para ser capital de um Estado. Longe de tudo e de todos, poderia ser
substituída por Ji-paraná, Cacoal ou a limpa e asseada Vilhena bem no sul do
Estado e muito mais próxima da civilização.
A cidade de Porto Velho não tem
planejamento urbano nenhum, é um lugar feio, desajeitado, desarrumado, sem
nenhuma arborização e que lembra muito bem uma currutela de garimpo ou mesmo um
cemitério abandonado. Muito pior do que uma favela, nesta época do ano em vez
de limpeza só tem lama e água empoçada. Não tem edifícios altos, mas tem vários
viadutos, todos inacabados, enfeando ainda mais o assombroso ambiente urbano.
Tem uma ponte de quase um quilômetro de extensão também inacabada, conta com poucas
ruas asfaltadas e por incrível que pareça tem emissoras de rádio, de televisão
e até internet para os habitantes saberem que existem cidades civilizadas e
desenvolvidas no Brasil e no mundo. Maior do que muitos países e com uma
minúscula população, ainda assim não sobrevive de forma independente.
Em Porto Velho parece até que não existe Poder Público
que se preocupe com a sofrida população da cidade. E todo ano é o mesmo
lenga-lenga: não há decoração de ruas, praças e avenidas durante o Natal, não
há embelezamento em nenhuma parte, não há confraternização, enfim, não existe
nenhuma preparação para as festas de fim de ano. Incrível, mas a cidade tem
Prefeito e Vereadores, que “cuidam” do orçamento municipal. Tolice falar
sobre suas absurdas atuações. Mas quem os elegeu fomos nós, os eleitores daqui
mesmo. Para o ano de 2014, por exemplo, esse orçamento superará um bilhão de
reais. Claro que muito pouco ou nada será usado em benefício da população. E
ninguém reclama de algo a não ser um ou outro comentário nas redes sociais.
Inédito: ser roubado pelas autoridades daqui é sinônimo de felicidade coletiva.
O melhor lugar da cidade é o
aeroporto. Se a rodoviária fosse mais asseada e higiênica competiria com o
modesto campo de pouso da cidade, também chamado pelos ufanistas e bobos de “Aeroporto
Internacional”. Nas férias de final de ano quem pode “monta no porco”
e viaja. Este ano, 90 mil pessoas, em média, saíram do lixo e da imundície. Eu
mesmo estou em Caxias do Sul na paradisíaca Serra Gaúcha. Juro que não vi até o
momento um único animal morto pelas ruas ou sujeira esparramada pelo chão. Também
não vi nenhum alagamento. A decoração de Natal daqui é encantadora. Caxias tem
água encanada e saneamento básico, luxos inexistentes na nossa capital. Até os
noticiários da TV em Rondônia são exibidos com horas de atraso em relação ao
Brasil. Nem o Natal se comemora direito: 800 mil reais foram gastos com uma
decoração feia, brega, ridícula, chinfrim, cafona, matuta, velha e
ultrapassada. Presente “ching ling” para nós, tolos. O famoso Natal de “gala”.
Ninguém sai às enlameadas, violentas e escuras ruas para comemorar algo. E no Ano
Novo se lhe desejarem um feliz 1890 não se assuste. A infraestrutura da cidade,
de tão atrasada e rústica, ainda não chegou a essa data. Porto Velho é um belo
lugar, mas do século XIX. Ou de bem antes.
*É Professor em
Porto Velho.