sábado, 31 de março de 2018

Porto Velho: escolas integrais



Porto Velho: escolas integrais


Professor Nazareno*


O prefeito de Porto Velho, Dr. Hildon Chaves, assinou recentemente um decreto municipal determinando que a partir do próximo ano letivo de 2019 todas as escolas municipais da cidade deverão ter aulas integrais a partir da primeira série do Ensino Fundamental. Todos os alunos matriculados na rede municipal assistirão às aulas pela manhã e à tarde. Eles terão café, almoço e janta bem como transporte gratuito para as escolas. Os melhores professores, isto é, aqueles que são detentores de cursos de especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado serão remanejados para atender a estas turmas. Os docentes receberão gratificações e terão aumento de salários anualmente de acordo com o desempenho de cada escola. O ranking será medido todos os anos por uma equipe da própria Secretaria Municipal de Educação, a Semed.
Já no ano letivo de 2020, as turmas contempladas com o horário integral nas escolas da municipalidade de Porto Velho serão as dos segundos anos, as mesmas que cursaram no ano anterior o turno integral. Juntamente com os “novatos” dos primeiros anos, essas turmas pioneiras estudarão pelo segundo ano consecutivo em turmas integrais e assim sucessivamente até o ano de 2030 quando todos os alunos de Porto Velho sairão das escolas de Ensino Fundamental e de Ensino Médio com educação integral. Assim, não haverá problemas com a estrutura física dos estabelecimentos de ensino para a acolhida dos novos alunos a cada ano. “Os alunos ao entrarem na primeira série em turmas de ensino integral vão aos poucos se adaptando às novas regras sem problemas”, disse um funcionário da Semed. Assim “não haverá impacto”.
O prefeito de Porto Velho, Dr. Hildon Chaves, parabenizou os vereadores da Câmara Municipal que aprovaram este grandioso projeto para o município. “Todos eles e também o Poder Executivo municipal estão empenhadíssimos em pensar no futuro da capital de Rondônia, por isso investimos em educação de qualidade para as nossas crianças e jovens”, disse o administrador do município, que hoje conta com quase 100% de aprovação popular. Esse decreto é como se fosse uma lei com cláusula pétrea, pois todos os novos prefeitos deverão manter a qualidade da educação e promover o ensino integral em todas as escolas ligadas à municipalidade. Técnicos da Seduc, a Secretaria de Estado da Educação do Estado, já entraram em contato com o município para copiar “esta grandiosa ideia”. Delegações de outros Estados também já mostraram interesse.
Os três senadores de Rondônia, deputados federais, deputados estaduais e várias outras autoridades do Estado e do país assim como todos os candidatos às próximas eleições estão empenhadíssimos em melhorar de uma vez por todas o ensino no Brasil e por isso não pouparão esforços para concretizar essa ideia “não só em Porto Velho ou em Rondônia, mas no Brasil inteiro”, como disse um senador do Estado. Alex Palitot, vereador de Porto Velho e um dos autores do projeto assim como Luciana Oliveira, provável candidata a deputada estadual pelo PSB de Rondônia disseram que também não medirão esforços para buscar um futuro melhor para o Estado. Todos os candidatos a governador já declararam que “a partir do próximo ano, Rondônia terá ensino integral em todas as escolas”. Não há mesmo o que se discutir: Aqui todos os políticos só trabalham em benefício do povão que os elegeu. Acordei: era primeiro de abril.





*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Renuncie, Dr. Hildon!



Renuncie, Dr. Hildon!


Professor Nazareno*

            
           Eleito em 2016 com mais de 148 mil votos, o atual prefeito de Porto Velho está “mais perdido do que cego em tiroteio” na administração da cidade. Ex-servidor da Justiça e hoje empresário de sucesso no ramo da educação, o Dr. Hildon pegou um dos piores abacaxis de sua vida. Um presente de grego, como eu havia preconizado durante a sua vitória nas urnas. Fui rechaçado veementemente pelos mais fanáticos eleitores do tucano. A mídia do sul do país chegou a compará-lo ao também inexpressivo e messiânico João Dória, eleito prefeito de São Paulo. Na época eu avisei que administrar esta cidade não era tarefa para seres humanos normais. Desde o ano de 1914 que ninguém conseguiu tal façanha. O Dr. Hildon Chaves é um homem trabalhador, empreendedor, de visão focada no futuro, mas infelizmente nada disso adiantou.
         Os longos quinze meses do prefeito à frente da administração não trouxeram absolutamente nada de novo para os sofridos porto-velhenses. O tucano iniciou seus trabalhos dizendo que ia acabar com o quinquênio dos barnabés municipais e pode até ter conseguido, com a ajuda da Câmara de Vereadores, impor alguns prejuízos aos servidores do município, mas concomitante a isso nomeou uma penca de funcionários comissionados para lhe assessorar. O prefeito daqui chegou a ter mais servidores comissionados em seu gabinete do que o prefeito João Dória. Durante a campanha messiânica, o nosso alcaide “tapeou” quase todos os seus eleitores com palavras bonitas e carregadas de emoção chinfrim. “Porto Velho, deixa eu te amar, te acariciar”, disse na época das eleições. E quase metade dos eleitores da cidade acreditou piamente.
            O Dr. Hildon Chaves disse também que reconheceria um bandido com apenas dois minutos de conversa. Mentiu de novo, uma vez que o seu vice, Edgar do Boi, embora não seja bandido, se envolveu em roubalheiras e corrupção nos escândalos da JBS em nosso Estado. A atual administração de Porto Velho é pífia e fracassada, pois todos os problemas verificados na cidade ainda não tiveram nenhuma solução. A lama e as alagações do inverno continuam com toda força. No verão, a poeira nos incomoda como sempre. O transporte coletivo da capital continua sendo um dos piores do país. Caro, obsoleto, com ônibus caindo literalmente aos pedaços e agora com assaltos, como aconteceu na linha que vai para a Unir. A cidade, que nunca foi limpa, continua suja e imunda como sempre. Esgoto a céu aberto ainda é uma cena muito comum por aqui.
            Com apenas seis meses de administração, o prefeito viajou de férias para o Primeiro Mundo com a autorização dos vereadores. Por isso, a melhor coisa que o Dr. Hildon Chaves faria hoje para o bem de Porto Velho e de sua gente era renunciar junto com o seu vice e o presidente da Câmara de Vereadores para que novas eleições fossem convocadas. Dr. Hildon, “o senhor é um homem bom, exemplar, competente e honesto. Não fique administrando um lugar que nem salário lhe paga. Saia de fininho. Renuncie imediatamente e volte aos seus negócios”, o senhor ganhará muito mais e ganhamos todos nós também, os moradores desta antessala do inferno. O seu choque de gestão já virou choque DIGESTÃO, pois a cidade continua fedida como sempre, mesmo sem enchentes do Madeira ou chuva de merda. E ainda faltam mais de 30 meses para findar o seu comando. O senhor hoje já é o Mauro Nazif de antes. Poupe-nos e nos dê alegria!




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Os políticos e os puxa-sacos



Os políticos e os puxa-sacos


Professor Nazareno*

            
              A classe política tem hoje no Brasil talvez a maior repulsa da população. Ódio mesmo. Quase ninguém quer ter seu nome associado a um político. Dificilmente pode-se encontrar um indivíduo que tenha alguma admiração por esta classe de gente. Ladrões em sua grande maioria, geralmente muitos procuram se eleger para se livrar da Justiça. Vários deles tentam nas urnas ganhar as imunidades e os privilégios que praticamente só existem no Brasil mesmo. Mas os canalhas são imprescindíveis em qualquer sociedade, infelizmente. Sem os mesmos para intermediar os recursos públicos e as obras, tudo ficaria mais difícil. O maior problema, no entanto, é que eles em vez de intermediar estes recursos às vezes metem a mão sem dó nem piedade no que seria usado para o bem de todos. Daí o ódio que muita gente honesta nutre por políticos.
            Mas há quem goste deles. São os aduladores de plantão que não veem a hora de seu candidato ser eleito para depois também usufruir das benesses do que é público. Os chaleiras são muito piores do que os titulares. Alguns têm mais contatos com o povão, disseminam mentiras e são mestres em enganar os mais incautos. Hildon Chaves, por exemplo, nomeou um monte deles quando foi eleito prefeito de Porto Velho. Demitem-se os baba-ovos do político que sai e colocam-se os seus. É a regra no serviço público do Brasil. Sem concurso público para nomear os comissionados, a classe política faz a festa na cara da Justiça e da legislação vigente. Nunca ouvi dizer que um desses manteigueiros tenha tido algum problema para assumir, de forma imoral e indecente, qualquer cargo que ganhou só por que foi um bajulador durante a campanha eleitoral.
           A primeira coisa que os lambe-botas dizem na campanha é que o seu candidato foi injustamente acusado de ter feito coisas erradas. “Imputaram-lhe mentiras e injustiças, mas ele vai provar que é inocente”, afirmam convictamente os corta-jacas. Como este ano tem-se campanha eleitoral, muitos deles já estão nas ruas. E junto aos seus “assessores de porra nenhuma”, os famosos aspones. Vão às escolas, dão entrevistas, falam isto e aquilo, fazem protestos contra os que estão no poder, distribuem certificados, menção de aplauso, títulos de cidadãos e outras porcarias aos tolos. E os xeleléus dizem que “se trata de um gestor nato, bem preparado, respondeu aos processos a ele imputados e nenhum deles determinou que ele, o canalha do político, fosse preso, tem pulso firme e será novamente eleito. Voto nele, com certeza”.
            Veja-se o que está acontecendo agora com o Lula, o “anticristo endeusado”. Processado, acusado de receber propinas de empreiteiras, condenado já em segunda instância, ainda tem quem o defenda abertamente. Só não foi preso por que parte da elite e a própria Justiça não têm coragem para isso. Pior: todas as pesquisas indicam que o mesmo será eleito, com sobras, o próximo presidente do país. Os seus defensores e alcoviteiros o têm como um Deus e já o adotaram como político de estimação. Esses candongueiros de plantão deviam responder na Justiça pelos erros de seus chefes. Por isso deve-se ter muito cuidado quando se quer apoiar um político em qualquer eleição. Nunca se deve pedir votos para ninguém sem ter a absoluta certeza da honestidade do seu político de estimação. O fracasso do eleito coloca também em maus lençóis seus capachos. Lula, Renan Calheiros, Romero Jucá, Aécio, Temer, Bolsonaro... É mole?




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 18 de março de 2018

JBC: parem a reforma!



JBC: parem a reforma!


Professor Nazareno*

            Num país onde os prédios públicos de um modo geral estão literalmente caindo aos pedaços soa até irônico dizer que as reformas nos mesmos não são bem-vindas. E às vezes não são: estou falando da Escola Professor João Bento da Costa de Porto Velho. Em relação aos resultados obtidos no ENEM, esta escola pública da zona Sul de Porto Velho dispensa quaisquer comentários. É líder absoluta em aprovações de alunos em várias universidades e faculdades espalhadas pelo país. Isso já há quase duas décadas. Apesar de ser bancada com recursos do Estado, a escola JBC pode ser comparada em alguns aspectos às melhores escolas particulares de Rondônia. Desde 1998 que trabalho lá e junto com outros dois professores, Arimateia de Geografia e Tadeu de História, ajudei a fundar o Projeto Terceirão, que tantos resultados tem dado aos rondonienses.
            Desde o já longínquo ano de 2002 sob a direção do competente professor Suamy Vivecananda que o JBC tem feito propaganda gratuita para os sucessivos governos de Rondônia. Entra ano e sai ano e os alunos desta escola “honram com muita garra e determinação o nome do colégio”. Mas o João Bento da Costa está hoje quase parado, sem aulas mesmo. E o motivo não é a greve da educação que está acontecendo em Rondônia. Desde o final do ano letivo de 2017, a escola foi tomada por serventes, pedreiros, mestres de obras, carpinteiros além de cimento, brita, areia e outros materiais de construção. Incrível e surreal: “a obra para reformar a escola simplesmente parou a escola” e não tem data para terminar. Aulas, por enquanto, só para o Projeto Terceirão. Como se fosse possível ter aulas em meio a barulho de marteladas, serras, areia e poeira.
Os alunos dos primeiros e segundos anos dos três turnos e também do EJA estão sem aula e têm uma vaga esperança de que pelo menos no final de março, com quase dois meses de atraso, finalmente se inicie o ano letivo de 2018. O prejuízo já está desenhado uma vez que aulas de reposição aos sábados são tão produtivas quanto o solo lunar. “Toda reforma é bem vinda, mas sem planejamento e organização, como está acontecendo agora no João Bento, é melhor que a escola nunca seja reformada”, afirmou um professor, que mesmo sem participar da greve dos educadores, está em casa esperando a boa vontade de a firma concluir os trabalhos naquele estabelecimento de ensino. Muitos professores da escola são unânimes em afirmar que concordam, mas não participam de nenhuma greve da categoria, porém “a reforma nos obrigou a parar”.
O diretor Chiquinho esteve recentemente nos EUA representando a escola. E é muito pouco provável que ele não tenha visitado uma escola de verdade naquele país por que o estabelecimento estava em reformas. Aqui infelizmente a educação não é muito levada a sério pelo poder público. Reforma numa escola em pleno andamento do ano letivo é de tamanha incompetência que talvez só se verifique em Rondônia mesmo. Já pensou se o governo resolve reformar o “açougue” João Paulo Segundo com os pacientes lá dentro? Não se duvida de nada, pois até dedetização já houve em meio aos doentes. Os professores do JBC não fazem greve e todos os anos ajudam na aprovação de centenas de alunos para as universidades e por isso não mereciam trabalhar num ambiente completamente insalubre. Pior: a comunidade da zona Sul parece ignorar o lamentável fato. Isso até o dia em que um acidente acontecer com alguém naquele caos.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 14 de março de 2018

A “outra” Revolução dos Bichos


A “outra” Revolução dos Bichos


Professor Nazareno*

            
           Muito diferente da verdadeira crônica de George Orwell, havia uma pequena granja situada no interior de um grande país da América do Sul que no início dos anos oitenta do século passado queria também se separar para tocar seu destino como Estado autônomo, mas dependente. Seria “a nova estrela no azul da União”, como diziam pomposamente as propagandas oficiais da época. O engraçado é que as próprias autoridades federais não só queriam como também incentivavam aquela “secessão branca” com o sórdido objetivo de ganhar no tapetão e sem muito esforço mais três senadores da República e uma penca de deputados federais para dar mais folego ao decadente partido político dos generais. E assim foi feito: despacharam para lá um coronel de pouca expressão que se encarregaria de arrumar o sítio para o incerto futuro.
            Sem nenhum bicho local que tivesse competência suficiente para tocar os destinos da nova fazenda, o militar trouxe uma séquito de fora para ajudar na administração. Este ato criou uma espécie de ritual cultural que é seguido até hoje: não há um governador ou prefeito da capital da granja que não traga o seu staff. Talvez por serem muito incompetentes, os bichos locais são indicados apenas para cargos nos segundos e terceiros escalões ou então se contentam em ser funcionários comissionados. A nova granja não tinha muitos bichos e os nativos além de broncos não formavam uma grande população. Era preciso povoar o lugar e para isso abriram-se as fronteiras e para lá despacharam levas e mais levas de desempregados e excluídos das outras fazendas do país. A mecanização da agricultura no Sul contribuiu para aumentar a diáspora de então.
            Aos trancos e barrancos a nova roça começou a funcionar. Mas ali tudo era precário e funcionava de forma improvisada. Para acomodar tantos bichos, a natureza foi devastada sem dó nem piedade provocando dessa maneira um dos maiores desastres ambientais de toda a região. Mesmo admitindo a dificuldade para administrar o lugar, o coronel-governador conclamava aos quatro cantos para todos os cidadãos do país ir morar na chácara. Progresso nunca teve, apenas “um bicho, sua mulher, cinco ou seis filhos, um cachorro e um saco de panelas”. Esse era o investimento inicial por ali. Nenhum dos governadores, no entanto, conseguiu governar bem. Os senadores nada fizeram também. Os deputados federais se envolveram em escândalos políticos e maracutaias e os estaduais se danaram a roubar e explorar sem tréguas os outros bichos.
            A triste sina da granja continuou, infelizmente. O resto do país a tem hoje como um puteiro de quinta categoria, continua a explorá-la sem tréguas e quase nada dá em troca. Levaram-lhe a energia boa e barata e usam seu meio ambiente para produzir carne bovina e outros produtos agropecuários. Os voos para lá são os mais caros e escassos. Na fazendola não tem indústrias, não tem mão-de-obra de qualidade, não tem serviços nem medicina “razoável” e muito menos IDH. Os políticos locais fazem a festa em cima dos ignorantes bichos, pois desviam na maior cara de pau todo o dinheiro público, mentem, constroem ponte escura sem ter estrada, criam curso de Medicina sem hospital universitário, fazem intermináveis viadutos tortos e íngremes, deixam cidades escuras feito breu, enganam a todos nas campanhas políticas e sempre são reeleitos. A granja descrita por Orwell já teve o seu fim. A nossa insiste em continuar existindo. Para quê?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 10 de março de 2018

Rondônia, capital Seul



Rondônia, capital Seul


Professor Nazareno*


Rondônia é um dos 26 estados do Brasil, isto poucos brasileiros sabem. A Coreia do Sul é um país da Ásia e junto com a Coreia do Norte formam a península coreana, próxima à China. Rondônia tem 245 mil quilômetros quadrados de área e uma população de apenas um milhão e setecentos mil habitantes. O país asiático tem uma área de quase cem mil quilômetros quadrados, portanto menos de metade do Estado de Rondônia e uma população superior a 52 milhões de indivíduos, ou seja, mais de 30 vezes o número de habitantes daqui. Os sul-coreanos pertencem ao mundo civilizado e têm um IDH muito elevado. Rondônia é a sexta ou a sétima periferia do capitalismo. Aqui tudo é atrasado, nada presta, quase todos os políticos são ladrões e o povo, acomodado ao extremo, é feito galinha poedeira:  leva no traseiro e canta alegremente.
O rio Han, de águas cristalinas, corta a imponente capital sul-coreana. O rio Madeira, de águas barrentas e cheio de lixo boiando em sua superfície, margeia a capital dos rondonienses. O Estado brasileiro se situa entre dois grandes biomas conhecidos mundialmente: a floresta Amazônica e o Cerrado e, além disso, tem excesso de recursos naturais e está localizado dentro da maior bacia hidrográfica do mundo. Os coreanos têm uma natureza madrasta e não podem se orgulhar de quase nada em termos de abundância natural. Na década de 50 o então Território Federal do Guaporé vivia a euforia da Marcha para o Oeste no Brasil. Já os sul-coreanos viviam o horror da guerra com mais de três milhões de mortos. O novo país vivia o medo da invasão do norte comunista e era uma nação semifeudal. As mulheres cozinhavam ainda com lenha.
Hoje, multinacionais como a Samsung, Ásia Motors, Kia Motors, LG, Hyundai, Dae-woo são marcas sul-coreanas conhecidas e consumidas no mundo inteiro. Os eletrodomésticos fabricados naquele país da Ásia são referências em qualquer parte do planeta. Aqui se produz apenas um refrigerante de nome impronunciável, desconhecido e cujo alcance de consumo mal consegue chegar à divisa. Ban Ki-moon, político nascido na Coreia do Sul foi o todo poderoso Secretário Geral da ONU, a Organização das Nações Unidas. Em Rondônia, como exemplos de políticos, temos apenas Ivo Cassol, Nilton Capixaba, Confúcio Moura, Lindomar Garçon, Expedito Junior, Hildon Chaves e Mauro Nazif. Os três senadores do Estado respondem a processos na Justiça e dois deles já foram condenados à prisão. Deputados federais e estaduais estão enrolados.
Kim Dae-jung foi um ex-presidente  da Coreia do Sul que no ano 2000 ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Por aqui ninguém nunca ganhou prêmio de nada. Ninguém daqui jamais foi indicado para absolutamente nada. Os maiores prêmios por estas bandas apareciam somente nas pífias exposições agropecuárias. Participante do BBB é o símbolo maior do lugar. As maiores expressões locais são pessoas geralmente oriundas de outros Estados da federação. O Marechal Rondon era mato-grossense, Jorge Teixeira era gaúcho, Aluízio Ferreira era carioca e o Major Guapindaia era natural do Estado do Maranhão, embora tenha vivido muito tempo no Amazonas. O atual governador do Estado é do Tocantins e o prefeito da capital é um pernambucano. Rondônia é a terra do nada. Nenhuma das maiores autoridades do Estado jamais nasceu nestas longes terras.
Rondônia e Coréia do Sul têm estas enormes diferenças por que esta investiu maciçamente em educação enquanto aquela insistiu em copiar tudo o que deu errado no Brasil, a “República Federativa do Bandido”. Levando-se em consideração a Guerra da Coreia, que terminou em 1953, e a península coreana fora dividida em dois países, pode-se afirmar que o nosso Estado é dez anos mais velho do que o país asiático. As Olimpíadas de Seul em 1988 e a Copa do Mundo de Futebol em 2002 já são coisas do passado para os irmãos orientais. Enquanto o nosso PIB é algo risível em torno de cinco bilhões de dólares, a produção de riquezas dos sul-coreanos já ultrapassa a cifra de um trilhão de dólares e projeta o país asiático como uma das nações mais prósperas do mundo. Seul tem 10 milhões de habitantes, é uma cidade limpa, moderna, organizada e com excelente mobilidade urbana. Precisa falar algo de Porto Velho? O quê nos falta?





*É Professor em Porto Velho

sexta-feira, 9 de março de 2018

Rondônia me dá medo



Rondônia me dá medo


Professor Nazareno*
           
Coisas muito estranhas não andam acontecendo em Rondônia como muitos pensam. Essas “coisas estranhas” infelizmente sempre aconteceram por aqui. Atraso, preconceito, xenofobismo, roubo, ambição, descaso, corrupção, pistolagem, censura, intolerância, violência social, violência no campo, violência política. Os males e os vícios desta maldita província atrasada são quase os mesmos dos verificados na “República Federativa do Bandido”. Dessa vez um assessor do prefeito de Porto Velho simplesmente invadiu de forma furiosa a redação de um site de notícias, o newsrondonia.com, e com socos e pontapés agrediu diante das câmaras um jornalista. Raimundinho Bike Som se estivesse armado, certamente teria praticado um assassinato ao vivo. Cenas dantescas que dificilmente seriam vistas em lugares mais civilizados.
Noticiada em alguns poucos órgãos da imprensa local, a selvageria parece que não causou muita repercussão. Alguns internautas acharam normal o tenebroso fato e até aplaudiram o agressor sem levar em conta a liberdade de expressão e a violação do direito de opinar. Estado sem nenhum prestígio, Rondônia já está acostumada ao ronco do trabuco, infelizmente. Aqui, na década de 90 do século passado, um Senador da República foi metralhado no meio da rua sem que providências sérias tivessem sido tomadas até agora para se descobrir os mandantes daquele atentado. Dependendo da profissão, viver em Rondônia é estar sob o risco constante de ser morto a qualquer momento. A pistolagem é uma constante e o Vale do Jamari é uma das regiões mais violentas do país.  Pouco se espera de um lugar que pariu o Massacre de Corumbiara.
As disputas políticas no Estado de Rondônia geralmente são resolvidas no braço mesmo, como no lamentável caso do assessor da prefeitura da capital. A Assembleia Legislativa do Estado, por exemplo, é um antro de coisas erradas e há muito tempo tem se comportado como um ambiente totalmente fora da lei. Ali, alguns deputados roubam, delinquem, estorcem, desviam dinheiro público, mentem, fazem conchavos e tramam golpe. E tudo praticamente tem ficado por isso mesmo. Dos presidentes do Poder Legislativo de Rondônia, quase todos já foram condenados ou estão cumprindo penas. Na política, esta província não tem muita coisa boa a ensinar ao resto do país muito menos ao mundo civilizado. Agora, alguns parlamentares urdiram na calada da noite um golpe contra o governador com direito até a ameaça de morte ao chefe do Executivo.
            As agressões covardes a jornalistas ou a quem tem opiniões diferentes já viraram rotina. Eu mesmo quando publico um texto, sinto que posso levar um tiro a qualquer instante ou até “sofrer um acidente”. O cangaço rondoniano impõe medo e terror. Por isso, apelo outra vez: “TENHAM VERGONHA, NÃO LEIAM OS MEUS TEXTOS SE NÃO QUISEREM SE INCOMODAR. LEIAM O QUE PRESTA. LEIAM MACHADO, FOUCAULT, CLARICE, LIMA BARRETO, NIETZSCHE, DRUMMOND”. O clima de Velho Oeste pode ser sentido em qualquer cidadezinha do interior e até mesmo na capital. O contraditório por aqui é um 38 cheio de balas. Paulo Andreoli, Rubens Coutinho, Carlos Caldeira, Luciana Oliveira e tantos outros comunicadores e jornalistas são testemunhas ainda vivas da dificuldade de se exercer o trabalho de informar algo. E muitos já foram mortos por terem escolhido tal faina. Síria e Afeganistão são fichinhas.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Rondônia volta à realidade




Rondônia volta à realidade


Professor Nazareno*

            O longínquo Estado de Rondônia é, claro, uma das 27 unidades da federação.  Totalmente desconhecida do restante do país, a jovem e subdesenvolvida província luta há tempos para ter alguma visibilidade no grotesco cenário nacional. As raras vezes que isto acontece é quando algo de maior destaque acontece em Roraima, Estado muitas vezes confundido com as “terras de Rondon” apenas por causa da semelhança entre os nomes. Rondônia é um fim de mundo inóspito, atrasado e ridículo que praticamente só vergonhas dá para o resto do país. Não há por estas bandas muita coisa que seja atração para quem tem coragem suficiente de se arriscar a vir para cá. É a terra do improviso e das coisas mal feitas. Se fosse uma nação, perderia feio para aquele que “nunca foi um país sério” e seria tão atrasada que estaria atrás da Bolívia, Haiti ou do Sudão do Sul.
            O Estado todos os anos só faz o seu patético Carnaval depois de todo mundo. Meia dúzia de passistas mal afinados desfila para meia dúzia de pessoas no meio da chuva. Parece uma festa dos horrores. A Banda do Vai Quem Quer, que muitos se gabam de ser algo apoteótico, só consegue produzir toneladas de lixo e imundície por onde passa.  Ali não há arte, não há música de qualidade, muito menos o verdadeiro Carnaval. Futebol nem estádios de verdade existem dentro de toda a província. É um dos únicos Estados do país onde praticamente não se tem o “esporte das multidões”. Na sua capital, os únicos times conhecidos são os do Sul do país e os da Europa.  Pior: nem futebol nem nenhum outro esporte se praticam na cidade. Por isso, a recente e caríssima recuperação do ginásio Cláudio Coutinho causou estranhezas em muitas pessoas.
            A Rede Globo inutilmente até que tem dado uma mãozinha ao Estado, apesar de o Jornal Nacional e outros noticiários da emissora serem exibidos em Porto Velho com uma hora de atraso durante o horário de verão. Vive-se aqui como se a televisão ainda não tivesse sido inventada. As notícias, em pleno século XXI e com o advento da internet, ainda chegam atrasadas. Foi num desses programas da “Vênus Platinada”, por exemplo, que o Brasil conheceu uma tal Banda Versalle de Porto Velho. Sucesso mesmo somente na época dos holofotes globais. Nunca mais se ouviu falar dos rapazes talentosos do Norte do país. Será que os autores da esquecida e feia balada “vinte graus e um cobertor” estão fazendo sucesso pelo Brasil a fora e os rondonienses não estão sabendo? Sem talentos, só “exportamos” energia boa e barata. Rondônia é uma “mãe”.
Como não podia deixar de ser, o Estado participou “entusiasticamente” do dispensável e ridículo programa Big Brother Brasil da Globo, mas até no BBB fracassamos. Com dois participantes que não encantaram muita gente, saímos antes do tempo. Agora, Rondônia está aos poucos voltando à dura realidade que sempre viveu: sem talentos, sem inteligência, sem destaques, sem nada que a projetasse como um Estado sério. Mas é na política que se mostra a verdadeira face podre desta província que nem devia existir: a Assembleia Legislativa local volta às manchetes com sua trupe de políticos ruins e enrolados. Um golpe parlamentar no governador blogueiro, “igual ao que deram na Dilma Rousseff”, foi urdido entre deputados, que dentre outras coisas imprestáveis só servem para enlamear ainda mais o nome do Estado. Rondônia volta ao velho fogão a lenha. Trabalhemos agora o ano inteiro para passar as férias longe daqui!




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 4 de março de 2018

Montanha-russa do atraso



Montanha-russa do atraso


Professor Nazareno*

            Porto Velho não tem absolutamente nada para se apreciar em termos de turismo. Na verdade nunca teve algo que lhe desse a impressão de ser pelo menos um núcleo urbano habitado e que justificasse a vontade de algum turista louco em querer visitá-la. A cidade é feia, com ruas tortas, sem planejamento urbano nenhum, suja, cortada por igarapés podres que já viraram esgotos a céu aberto, sem praças, sem recantos de lazer, sem arborização e pontilhada de lixo por todos os lados. Compará-la a um cemitério seria não dar a menor importância à beleza de uns campos santos. É mesmo uma velha e abandonada currutela. E como se não bastasse sua característica feiura, eis que agora a bisonha classe política local inventou de construir um arremedo de “montanha russa do nada” lá pelas bandas da avenida que dá acesso ao precário aeroporto da cidade.
            Carro-chefe dos oito anos da apagada administração estadual, o chamado Espaço Alternativo é uma obra eleitoreira daquelas que parecem nunca ter fim para serem concluídas. E pior: como muitas outras da cidade, o “elefante branco” não tem beleza nenhuma. Para que diabos serve um trambolho ridículo feito de ferro e aço esparramado ao longo de uns 500 metros no meio de uma avenida sem nenhuma importância? Qual o significado daqueles semicírculos horrorosos que imitam uma montanha-russa muito mal feita? Será que estão dizendo que aquilo se trata de mais uma obra de arte? Arte sem ser arte já se têm muitas por aqui, basta a ponte escura do Madeira, as Três Caixas d’Água, o Mercado Cultural e mais um monte de prédios inúteis e feios que só se veem em lugares habitados por gente simplória que desconhece o verdadeiro sentido da arte.
            Antes, o lugar era repleto de árvores frutíferas e o verde abundava. O barulho de um igarapé ainda limpo encantava a todos. Fazia gosto caminhar respirando o pouco de ar puro que ainda havia na cidade. Pássaros não faltavam. Hoje aquele chamado recanto de lazer é lúgubre, feio, cheio de concreto e sem o verde que antes lhe caracterizava. É mais uma obra feita sob medida somente para angariar votos dos mais incautos em tempos de eleição. Aliás, a sua inauguração deve coincidir com alguma data importante durante o pleito. Querem apostar? Fato: aqueles arcos infernais e sinistros, com falta de manutenção característica, podem cair em cima dos transeuntes algum dia. Assim como o próprio símbolo da cidade lá no centro. Mas Deus nos livre disto! Deixei de caminhar ali: fiz o meu protesto silencioso pelas centenas de árvores que foram arrancadas.
            A falta de beleza de Porto Velho, no entanto, é apenas uma consequência do que é a maioria de seus cidadãos. A cidade é suja e desorganizada porque somos também sujos e desorganizados. O atual prefeito, que nada tem a ver com aquela “obra dos infernos”, ainda não disse a que veio. Faz uma administração pífia, insignificante, reles, insossa e ainda não beijou, acariciou ou cuidou da cidade como prometera durante a campanha quando recebeu mais de 150 mil votos dos porto-velhenses. Nem no Estado e muito menos em sua fedorenta e desorganizada capital nada melhorou nos últimos anos. E este ano tem eleições de novo, mas nada adiantará: o povo vai às urnas para reconduzir aos mesmos cargos todos os maus políticos a fim de continuar o caos. Enquanto ganhar de presente “montanhas-russas” imprestáveis e “elefantes brancos” inúteis, o povo continuará com a sua saga de ser seu próprio carrasco. Mas até quando?




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 2 de março de 2018

O Cão mora em Porto Velho



O Cão mora em Porto Velho


Professor Nazareno*

            Agora não resta mais nenhuma dúvida. O Coisa Ruim não só existe como também mora na região Norte do Brasil. Mais precisamente em Porto Velho, a “bela e encantadora” capital de Roraima. Ele pode ser visto todos os dias andando tranquilamente pelas ruas enlameadas da cidade ou então dentro dos ônibus do Consórcio SIM. Trabalha num dos maiores impérios de comunicação do Estado e quando pode anda também montado num belo cavalo preto. Escreve diariamente para vários sites além de fazer bico como carnavalesco lá no Mercado Cultural. Embora, seja corno convicto, o Pé Rachado não tem chifres como muitos costumam achar. Foi visto recentemente assistindo a uma missa numa igreja católica onde se benzeu, se confessou e depois comungou. Poucos dias depois teria sido flagrado em um culto evangélico.
            Fala-se abertamente que ele também vai ao Estádio Aluízio Ferreira ver os jogos do seu time de coração: o Genus. O peste é natural de Porto Velho mesmo e já disse que não troca esta cidade por nenhuma outra do Brasil. Por causa dos muitos apelos, vai entrar na política. Não sabe como bancará sua campanha, mas será candidato a qualquer cargo eletivo “que dê muito dinheiro e possa mudar sua vida de poucos recursos”. Criará o auxílio-moradia para todos os habitantes da cidade, mesmo para os que nasceram e vivem aqui morando em suas próprias residências. Se eleito, mandará construir igrejas e templos suntuosos para difundir as suas boas experiências. Abrirá também uma escola onde ensinará às futuras gerações como ficar rico sem trabalhar, como mentir e como se especializar em roubar o povo eleitor sem dar (muito) na vista.
            Mesmo que não seja eleito, ele facilmente receberá o título de cidadão honorário de Porto Velho ou mesmo de Rondônia e depois poderá até ser patrono do “Açougue João Paulo Segundo”, aquele campo de extermínio de pobres que fica na zona sul da cidade. E já pensou uma escola recebendo o pomposo nome do Bicho Ruim? “Escola do Satanás!”. Quantas criancinhas rondonianas não ficariam felizes em estudar num estabelecimento de ensino com esta alcunha? Lá, a SEDUC e o SINTERO podiam fazer reformas à vontade sem nenhuma previsão para começar o ano letivo. Tudo ficaria por conta do Diabo e de seus assessores. “Projeto Apocalipse” é o que não ia faltar nestas escolas diabólicas. Eleito por aqui, o Capiroto seria também uma espécie de paraninfo da BR-364. Do Espaço Alternativo nem se fala. Ele gerencia aquilo há muito tempo.
            Não se sabe, no entanto, em qual das zonas da cidade ele tem residência fixa. Uns dizem que é na Leste, porém muitos já o viram lá pelas bandas da zona Sul, ali perto da Avenida Jatuarana. Porém muitos juram que ele mora mesmo é dentro do CPA, o pomposo Centro Administrativo do Estado. Por causa dos banzeiros, ele não gosta muito de andar de barco pelo rio Madeira. Talvez seja por isso, não gostar de muita água, que ele já garantiu que não teremos enchente muito grande este ano. Quando pode, participa solenemente das sessões ordinárias da Assembleia Legislativa do Estado e da Câmara de Vereadores de Porto Velho. Mas só das sessões ordinárias mesmo. Outro dia, num programa de rádio ele disse que estava indeciso sobre a próxima eleição para presidente do Brasil. Poderia votar tanto no Lula quanto no Bolsonaro. Aqui, ele já tem todos os candidatos definidos. “Anular o voto é coisa de pessoas religiosas”, disse.




*É Professor em Porto Velho.