sexta-feira, 24 de junho de 2011

Existem mesmo festas juninas em Porto Velho?




Festas Juninas e Quadrilhas


Professor Nazareno*

                
         Mês de junho e no Brasil inteiro as festas típicas do momento se espalham. Em Campina Grande no interior da Paraíba tem-se “o maior São João do mundo” que rivaliza com as festas de Caruaru, interior de Pernambuco. A maioria das cidades brasileiras das regiões Norte e Nordeste, principalmente, festeja com muita alegria esse mês dedicado às “festas matutas”. Coincidindo com a colheita do milho verde em muitos lugares, é muito comum esta iguaria (gororoba) estar presente no meio dos brincantes na forma de muitas comidas típicas. Em Porto Velho, por exemplo, temos inúmeros arraiais. Muitas repartições públicas, escolas, associações de bairros dentre outras instituições costumam fazer o seu “arraiá” para arrecadar algum dinheiro ou simplesmente fazer uma confraternização entre os seus funcionários, clientes, fornecedores ou mesmo alunos, professores e comunidade no caso das escolas.
           Geralmente o que mais chama a atenção nestas brincadeiras é a indumentária usada pela maioria dos participantes. Procura-se imitar o jeito matuto de falar, a roupa usada pelas pessoas mais simples da roça, o dente estragado e outras características dos moradores da zona rural. Uma tolice, um pleonasmo até fazer isso numa cidade como Porto Velho. Aqui nunca nos vestimos bem e a nossa roupa sempre se pareceu com roupa de matuto mesmo. Nunca tivemos o dom de Milão, a capital da moda mundial. Dentes estragados, podres e careados é o que não falta na nossa feia e pobre população. Uma voltinha em qualquer das ruas mais movimentadas e percebe-se com bastante nitidez por que os festejos juninos não diferem muito de outros festejos quando o assunto é moda e elegância da nossa gente. Vestir-se bem num calor infernal de mais de 40 graus é desperdício de estilo, bom gosto e dinheiro.
           No entanto, o ponto forte destes festejos são as quadrilhas. Em Porto Velho existem muitas quadrilhas. Não há uma única repartição pública que não tenha vontade de ter a sua. E muitas já a têm. Teríamos a quadrilha da Prefeitura Municipal de Porto Velho, a quadrilha da Assembléia Legislativa do Estado, a quadrilha do DETRAN, quadrilha nas escolas e até quadrilha nos hospitais e clínicas médicas da cidade. Dizem que até o Sintero, o Sindicato dos Professores, já formou também a sua quadrilha. Para um porto-velhense seria uma alegria muito grande brincar o São João numa dessas quadrilhas. Muitas crianças e até pessoas mais velhas sonham um dia estar dançando e pulando no meio de uma. A quadrilha da Prefeitura de Porto Velho seria a mais importante. Ela seria muito sofisticada. Todos os anos ensaiando novos passos seria difícil até de ser imitada. Hoje, ninguém conseguiria concorrer com ela. Seus brincantes são experientes, espertos, escolhidos a dedo e por isso muito profissionais.       
A Assembléia Legislativa do Estado já teve uma quadrilha muito boa no passado e que foi reconhecida no Brasil inteiro, mas hoje “não chegaria nem perto” do que a quadrilha da Prefeitura pode fazer. Muita gente experiente no assunto diz que o sucesso do Prefeito e de seus brincantes pode estar muito perto do fim e creditam este enorme desempenho aos novos passos que parecem ser milimetricamente ensaiados dia a dia. O “passo da Marquise”, por exemplo, é muito forte e característico de quem conhece os fatos. Incrível, mas os brincantes da Prefeitura nunca vão se enrolar. O profissionalismo nestas ações encanta a todos. Porém, o que mais chamaria a atenção nas investidas da quadrilha da Prefeitura seria o “passo dos viadutos”. Dizem até que muitas autoridades de Brasília ajudariam nos ensaios. É delírio total. É o passo em que a cidade inteira dança. Principalmente os contribuintes que têm carros e precisam ir ao trabalho diariamente. Em Rondônia não é tão difícil assim formar quadrilhas...
           Além da quadrilha, tem também a Dança do Boi. Aqui o São João é assim mesmo: uma “mistureba” geral de Campina Grande com Parintins. Dança de um ritmo só e coreografias ridículas, “os aprendizes de Parintins” ficam adorando um boi de pano, cheio de espelhos e miçangas, sem pernas e todo mal feito. Dizem que dentro dele o calor é de assar qualquer cristão. A coisa é tão chique que muitas autoridades têm boi em Porto Velho. Ainda assim, o nosso folclore é muito reconhecido mundo afora. Os integrantes de uma quadrilha daqui chamada Rádio Farol “receberam milhões de euros” para se apresentarem na Europa no início deste ano. “Os europeus não gostam muito das quadrilhas, mas adoram os nossos bois”. Enquanto isso, um deputado estadual do PT disse que o Prefeito Roberto Sobrinho era um chefe de quadrilha. Mentira. Sobrinho não sabe nem dançar. Ele é muito bom apenas para colocar o povo do município para dançar. Como se vê, Ribamar Araújo não entende nada de folclore. O arraial Flor do Maracujá (sem ter um único pé de maracujá na cidade) e o Flor do Cacto (Quem já viu um pé de cacto em Porto Velho?) animam as festas juninas da capital de Rondônia. Mas como a Expovel, a Dança do Boi e as festas juninas também não são cultura. São apenas (maus) costumes de um povo. Povo este que não seria feliz sem essas esquisitices, sem essas tolices. E viva o São João! E viva as quadrilhas de Porto Velho! “Anarriê! Alevantu!”.




*É Professor em Porto Velho (http://blogdotionaza.blogspot.com/)

sábado, 18 de junho de 2011

Deus é brasileiro e ama o Brasil. Será?




Tipos de Culturas e Cidadãos Brasileiros


Professor Nazareno*
           

            Dizem que o brasileiro é o tipo de gente mais difícil de ser reconhecido quando viaja a um determinado lugar. Isto porque somos uma festejada mistura de raças. Um indivíduo negro pode ser brasileiro de Salvador ou mesmo de qualquer outra cidade do país. Branco é o que não falta em nossa gente. Índios, nós temos aos montes principalmente nas cidades do Norte. Um curitibano típico ou um gaúcho, por exemplo, poderiam ser facilmente confundidos com um escandinavo. O bairro da Liberdade em São Paulo é um reduto de japoneses e de quase todo tipo de oriental. Além do mais, essas raças ou tipos de gente se misturaram a esmo e geraram muitas outras “etnias”.
        O Brasil é esta deliciosa mistura de povos, costumes, culturas, sotaques e principalmente comidas. O vatapá pode ser da Bahia, mas o país inteiro adora. O que dizer do churrasco gaúcho? Existe iguaria tão apreciada? A feijoada é toda nossa, o tambaqui assado, o tacacá, a maniçoba, a farinha, a rapadura. No entanto, alguns tipos são facilmente reconhecidos por quem tiver um olhar mais detalhista. Despercebidos à primeira vista por um antropólogo e deixadas as generalizações de lado, fica fácil reconhecer alguns tipos de brasileiros quando se fazem observações mais apuradas. A seguir algumas “pistas” para o leitor adivinhar de onde seriam estes personagens.
Cabeça bem chata chegou o "bichim", de terno de brim, de pé na "pragata" (chinelas de dedo, alpargatas), chapéu e gravata, bruaca de pano, andar de tucano, peixeira de lado. De onde será o cidadão que se chama "", "Biu", "Cisso" ou "Mané"? Sempre vota no Governo. Vive de "bolsa-miséria" e adora ser reconhecido como vítima da seca e flagelado. Não fosse Brasília para lhe mandar as esmolas oficiais, já teria sucumbido à fome e à miséria total embora tenha fama de trabalhador. As belas praias do lugar onde vive quase sempre servem de incentivo ao turismo sexual e à exploração do trabalho infantil. Embora tenha cidades grandes e ricas, reclama sem parar da vida.
      Nasceu na beira de um rio (é beiradeiro), veio ainda pequeno, de barco, para a cidade, mora numa estância ou numa invasão, só anda de mototáxi, adora comer peixe com farinha, gosta de presentear os outros com os melhores empregos, dança "boi", torce sentado na mesa de um bar, por times de futebol alheios ao lugar, constrói hidrelétricas para abastecer outros Estados com energia boa e barata sem se importar com o respeito ao seu meio ambiente e copia tudo o que deu errado nas outras cidades e Estados. Faz viadutos para passar ao lado deles e não por cima, pontes enormes que ligam o nada a coisa alguma e Shopping Center só para poder andar de escada rolante.
        O paulista, o gaúcho, o acreano, o baiano, o maranhense e tantos outros tipos de brasileiros são o que de mais rico temos em nossa exuberante amostra cultural e antropológica. Embora sempre achemos que brasileiro é o outro, há algo que nos une além do carnaval e do futebol. A sujeira das nossas ruas, dos nossos ambientes, a falta de compromisso com a hora marcada (brasileiro sempre chega atrasado aos encontros), a mania de falar mal dos políticos, a violência social, a impunidade, os mensaleiros, os sanguessugas, a corrupção, a monstruosa desigualdade social, o “jeitinho”, a vontade de levar vantagem em tudo são alguns dos nossos traços típicos. Mas de um modo geral, os brasileiros com este jeitão meio jeca, meio caipira, ainda somos um povo trabalhador: de sétima economia do planeta, podemos ultrapassar em breve povos milenares que não têm nem metade de nossas “qualidades”. Por que não acreditar que Deus é brasileiro?



*É Professor em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com).

sábado, 11 de junho de 2011

Livro que ensina errado? Onde? Qual?




"Nois fala assim porquê nois quer, mais nois sabe"


Professor Nazareno*

            
                   Uma nova e desnecessária polêmica se criou recentemente no Brasil: a adoção de um livro de Português para o Ensino Fundamental das escolas públicas e que admite algo perfeitamente normal foi execrado publicamente com se fosse o mensageiro das coisas mais absurdas possíveis. O livro “Por uma vida melhor” da coleção Viver, Aprender foi o estopim de toda a celeuma. Muitas pessoas sem o menor conhecimento do assunto passaram a dar opiniões sem nenhum fundamento. Médicos, jornalistas, profissionais das mais variadas áreas, políticos e até professores de outras disciplinas se esmeraram em alfinetar o MEC, Ministério da Educação e Cultura, e o Governo do PT de um modo geral. Claro que todo Governo tem seus erros e suas falhas, mas neste caso se quiserem escolher um “bode expiatório” certamente ele estará bem longe do Palácio do Planalto ou mesmo do Ministério da Educação, não que o PT ou qualquer outro Governo não cometa erros, mas desta vez o assunto é para entendedores.
            Pra começo de conversa não é o MEC que adota livros para as escolas. A escolha é feita pelos professores após consulta numa relação de mais de 20 obras de variados autores de cada disciplina. Numa sugestão das editoras e do próprio MEC, os professores escolhem o material que será adotado para os próximos três ou quatro anos letivos. Algumas escolas de Rondônia, por exemplo, optaram por esse livro. O senso comum, no entanto, já se encarregou de dizer que “o livro ensina errado e deve ser recolhido ou queimado” ou “Isto é coisa do PT e do Governo da Dilma”. Pura balela de quem fala sobre o que não conhece. O livro não ensina errado. Aliás, livro nenhum faz isso. Se houver qualquer erro contido nele, aí sim, deve ser revisto ou substituído, jamais queimado. A obra apenas admite de forma clara e óbvia que a Língua Portuguesa falada tem muitas variantes e que não é politicamente correto se dizer que o falante está certo ou errado ao usá-las. A pessoa usa, dependendo da situação, a forma adequada ou a inadequada da fala. A sociolingüística tem muito a nos ensinar sobre este assunto.
            Muitos políticos, principalmente os da oposição, se insurgiram contra o livro, mas se esqueceram de que tripudiaram do povo ao indicar o deputado-palhaço Tiririca, que é semi-analfabeto, para integrar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Se o palhaço não aceitasse o cargo seria substituído pelo boxeador Acelino Popó ou pelo futebolista Romário. O Brasil é o país dos analfabetos políticos, funcionais e analfabetos de leitura mesmo. A Educação vai mal principalmente por que há muitos professores de Português que não dominam a variante escrita da nossa Língua e não conseguem escrever um simples texto. Conheço professores de Matemática que tropeçam na simples tabuada e sei que muitos professores de História ainda têm religião. Num cenário patético como este é mais do que normal que as autoridades do assunto não sejam consultadas e que as opiniões mais absurdas possíveis ganhem terreno para explicar o inexplicável. Por isso se prefere um Viriato Moura a um Sírio Possenti. A Câmara indica um Tiririca e não um bom lingüista, um entendedor.
As críticas mais ferozes ao livro vieram da rede Globo e da revista Veja. Interessante é que ambas estão ligadas a editoras que têm interesses econômicos claros no recolhimento do material escolhido democraticamente. Os incautos e ignorantes no assunto “engoliram mosca” como sempre fazem e não perceberam a “jogada”. Eu, quando publico meus textos bobos, morro de rir da ignorância e da estupidez dos meus poucos leitores. Muitos deles são uns cegos, tapados mesmo. Quase nunca entendem a ironia ou a mensagem implícita no que digo e quando postam comentários, o desastre é pior ainda. São raros os comentaristas dos sites eletrônicos de Porto Velho, por exemplo, que se expressam em língua escrita culta, a única variante aceita para se escrever o Português. O professor e lingüista Carlos Faraco diz que o tom geral é de escândalo. “A polêmica, no entanto, não tem qualquer fundamento. Quem a iniciou e quem a está sustentando pelo lado do escândalo, leu o que não está escrito, está atirando a esmo, atingindo alvos errados e revelando sua espantosa ignorância sobre a história e a realidade social e lingüística do Brasil”, ensina o ex-reitor da UFPR.
Por isso deve-se ter muito cuidado ao se trabalhar com a “última flor do Lácio”. A Língua Portuguesa na sua variante escrita não devia ser objeto de uso de qualquer amador. No Brasil, devido ao alto índice de burrice da nossa população e levando-se em consideração as diferenças fonéticas e regionais existentes, não conseguimos impor uma unidade à fala. O livro em questão apenas informa que existem estas diferenças e que os falantes não podem sofrer preconceito lingüístico ao se expressarem. “Leite quente dói o dente da gente” é uma expressão que admite várias maneiras de se falar, de se pronunciar e todas estão corretas. A grande maioria dos meus alunos, por exemplo, tem dificuldades para escrever um texto pequeno, mas todos conseguem se comunicar normalmente. Ao desprezarem a boa leitura, a boa música, os bons livros, muitos brasileiros “letrados” mergulham na inércia da ignorância e dão opiniões absurdas quando defendem o índex publicamente. Errada está, por exemplo, a medicina praticada em Porto Velho quando produz um João Paulo Segundo. Erradas estão a maioria das nossas escolas públicas, os viadutos inacabados, a sujeira nas ruas, a roubalheira na política, o Palocci, a inércia e a incompetência do Estado, a violência social, a Expovel, o flor do Maracujá. Parafraseando a escritora Lia Luft: “Deixem em paz a nossa Língua”.




*É Professor em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)

sábado, 4 de junho de 2011

Expovel: cachaça, poeira, calor e circo!




Expovel é Cultura?


Professor Nazareno*


   O dicionário Aurélio diz que cultura é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade, de uma civilização. Já para o antropólogo e professor belga Claude Lévi-Strauss, falecido recentemente, cultura é algo bem mais complexo uma vez que “se alguém quiser destruir um povo, basta destruir a sua cultura”. O Brasil é anunciado ao mundo inteiro como um país de variadas culturas. As contribuições dos elementos branco, negro e índio à nossa História corroboram com esta tese. No entanto, tem-se verificado ultimamente no país uma espécie de afunilamento e da diminuição da quantidade dos processos sociais relacionados à cultura ou às expressões culturais. O Carnaval e o Futebol, cantados em verso e prosa mundo afora, parecem ser as nossas únicas fontes de cultura.
             Há tentativas de se diversificar esta área em todo o território nacional. Das Festas Juninas do Nordeste, Dança do Boi em Parintins, Axé na Bahia, Cavalgadas e Exposições Agropecuárias no Centro Sul, o que se observa é uma preocupação crescente para se expandir o corolário de ações culturais do Brasil. Todas estas manifestações, além do Carnaval e do Futebol, são vergonhosamente copiadas em Rondônia sem nenhum acanhamento, sem nenhuma criatividade. Mas diante da precariedade, da falta de uma boa organização e do interesse puramente econômico e muitas vezes até político-partidário envolvido nestas ditas “festas populares”, o que se tem observado é que cada vez mais o povo é usado para dar alegria a esta orgia coletiva. E ele, justamente o povo, que é o que mais padece pela falta de ação dos governantes, dá a impressão de que esbanja alegria e felicidade. Um engano só.
             A Expovel, realizada em Porto Velho, por exemplo, existe coisa mais absurda e patética do que esta “manifestação cultural”? Existe algo mais alienante, deprimente e totalmente sem sentido do que cavalos sujando ainda mais as nossas já sujas e imundas ruas? Mas muitas pessoas daqui ainda acreditam que somos “a Califórnia brasileira”. É um exagero, pois situada em plena floresta Amazônica e às margens do lendário e hoje já estuprado rio Madeira, Porto Velho em absolutamente nada lembra as verdejantes cidades da Califórnia e muito menos o próspero e progressista interior mais ao Sul. Não se pode comparar uma cidade de ‘beiradeiros e barnabés’, onde o contracheque responde por grande parte da economia local, com lugares como Barretos, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Caxias do Sul, Londrina, Maringá ou Cascavel, por exemplo. Muitas delas bem mais novas do que Porto Velho. Além do mais, não devia ter dinheiro público “jogado na poeira”. Já se falou em 350 mil reais. Será possível que em Rondônia, onde falta tudo, cavalo e cachaça são melhores do que Educação ou Saúde?
             Porém, o “cardápio de atrações artísticas” da festa é o que mais impressiona pela sua incrível capacidade de alienar ainda mais o sofrido e já alienado público expectador. As músicas horrorosas, desconcertantes, desafinadas, de letras previsíveis, culturalmente pobres e totalmente descartáveis de Michel Teló, Léo Magalhães e uma dupla caipira de nome João Bosco e Vinícius darão o tom das brincadeiras e tentarão animar os brincantes. E o pior de tudo é que se paga para assistir a estas embromações. Para os poucos artistas da terra, nenhum dia, ou seja, a cultura local é desprezada, jogada no lixo. É o dinheiro de Rondônia sendo carreado mais uma vez para fora do Estado em troca de nada. Em troca apenas da estupidez e da imbecilização geral. Porém, esta cultura de massa, pífia e decadente do “sertanejo universitário”, esse lixo cultural, é defendida ”com unhas e dentes” por alguns indivíduos metidos a intelectuais que, sem nada entenderem, dizem escrever sobre cultura. Estamos perdidos. Diante de toda esta aberração, Lévi-Strauss deve se remexer no túmulo.
             Mas mesmo sem pão, a alegria da “indústria do circo” funciona a todo vapor em Rondônia. Aqui temos o carnaval fora de época, carnaval de 120 mil pessoas numa banda só, espetáculos da Semana Santa em junho, Sete de Setembro e até “arraial sem santo”: O Flor do Maracujá está próximo. “Os anestesistas do povo”, “os gigolôs da alienação geral” já programaram para que tudo funcione sem nenhum erro. Mesmo com os eternos problemas sociais, ninguém numa hora dessas se lembrará deles. A Rondônia da pouca Educação, da saúde pública precária, da incompetência do Estado, das mortes na luta pela posse da terra, da falta de saneamento básico, da corrupção na política, da sujeira nas ruas e de tantas outras mazelas é envolta numa mobilização bestial onde o que importa é apenas a sacanagem, o lucro fácil e a festa muitas vezes regada a drogas e álcool. Nestas horas, povo e político se confraternizam como se fôssemos uma espécie de Jardins do Éden, de Terra Prometida. O Estado que copia mal a cultura alheia, tem em sua capital a síntese de um Brasil que vive à míngua e eternamente à espera de soluções. Aqui, só a cultura de viadutos inacabados. Como não se acanhar de se divertir num lugar onde quase nada funciona a contento? Contrariando Lévi-Strauss, tenho certeza de que se acabássemos com todas estas tolices que se praticam em nome da cultura, este Estado em vez de se extinguir, seria um lugar bem melhor para se viver.




 *É Professor em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

SER PROFESSOR...


Ser professor é socializar o saber, é construir, juntamente com o discente, um conhecimento que valorize o meio em que atua. Por isso, destacar-se-ão sete motivos para incentivar cada vez mais pessoas destemidas e comprometidas, a ingressar nessa brilhante carreira.

Leia-os com atenção e anote todos os detalhes:

1. Estude muito e leia bastante, principalmente a vida de São Francisco de Assis; lembre-se de que você também terá que fazer um voto eterno de pobreza;

2. Prepare-se para manejar certos instrumentos, como o giz e o apagador. Para tal, orientamos o personal stylest de Michael Jackson; você precisará de luva e máscara durante as aulas;

3. Manter-se em forma não será problema para você; com o corre-corre de uma escola para outra, você estará evitando o sedentarismo; com o salário que receberá, não precisará fazer regime; e caso precise complementar a cesta básica do mês, você ainda pode ter o privilégio de usar o TÍCKET DE 4 REAIS;

4. O educador é o único que pode acumular cargos: além de ministrar aulas em 3 ou 4 colégios/faculdades/universidades diferentes, ainda sobra tempo para ser sacoleiro, levando para as escolas os últimos lançamentos do Paraguai ou sendo importante representante de empresas como a AVON, NATURA, a HERMES e a SHOPPING MAIS;

5. A formação continuada do professor é algo bastante importante e valorizada pelo governo. Com sorte, você será selecionado para ficar em um grande e luxuoso hotel como o IAT, desfrutar de ótimas instalações e saborear um cardápio variado; tudo isso com uma localização privilegiada e com vista para o ma...to;

6. O local de trabalho deve ser evidenciado: o educador, quase sempre, trabalha em escolas-modelo, cujo slogan é a fartura: 'farta' limpeza, 'farta' funcionário, 'farta' material didático, enfim, 'farta' tudo; e por incrível que pareça 'farta' educação.

7. Por fim, você desfrutará de um plano de saúde de ótima qualidade, cuja eficiência é demonstrada nos consultórios psiquiátricos repletos de professores que, ao completarem a idade e o tempo de serviço, já se encontram fatigados pelo trabalho, sugados pelo sistema e em pleno desmoronamento físico além do mental.

Assim, depois de ler essas sete dicas, não perca a oportunidade e não desista:
O nosso lema é:

'PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR'.
Aos que já se encontram desfrutando desse 'néctar' que é ser professor, nossos parabéns, você é persistente e capaz. Possivelmente, não terá recompensa aqui na terra, mas é certo que já tenha adquirido lugar privilegiado no céu.
Beijossssssssssss