quarta-feira, 29 de abril de 2015

Coletivos: ‘busão’ a cinco reais


Coletivos: ‘busão’ a cinco reais

Professor Nazareno*

Com uma população estimada em 500 mil habitantes em todo o município e pouco menos de 400 mil na área urbana, Porto Velho tem uma das mais baratas passagens de ônibus urbanos do país. Apenas 2,60 é o preço que os portovelhenses ainda pagam para se deslocar diariamente horas a fio pela cidade dentro de um limpo e asseado ônibus. Preço congelado desde há muito tempo, esta quantia simbólica que se desembolsa para desfrutar de um dos melhores serviços prestados à população em todo o Brasil está completamente fora da realidade de inflação e de preços em elevação que se verificam na nossa realidade econômica. O preço real de uma passagem no transporte coletivo em Porto Velho deveria, pela cotação de hoje, ser pelo menos uns cinco reais ou mais se levarmos em conta a comodidade e a pontualidade dos serviços prestados.
Com um serviço porco, se comparado à realidade de Porto Velho, a cidade de São Paulo, por exemplo, cobra uma fortuna pela passagem urbana. Basta verificar quanto se paga pelas passagens nas demais capitais do país bem como nas cidades de grande porte. Para se ter uma ideia, em Paris, a  desorganizada capital da França, cobram-se cerca de três euros pela passagem. São dez reais pela cotação mais otimista se você quiser colocar os pés dentro de um sujo, fedorento e todo quebrado ônibus ou mesmo no metrô lá na cidade da torre Eiffel. Sem nenhuma mobilidade urbana, com ruas esburacadas, assaltos e muita sujeira, as cidades do Velho Continente têm um dos piores sistemas de transportes coletivos do mundo. Andar de “busão” em Munique na Alemanha, por exemplo, é um horror. Londres, Barcelona e Berlim nem se fala.
Em Porto Velho, não! Eu mesmo adoro o Interbairros, além de outros ônibus e linhas. Às vezes saio com toda a minha família só para dar umas voltinhas pela cidade. Deixo o meu velho Palio em casa para poder desfrutar da comodidade e da pontualidade do nosso transporte. É muito mais rápido, confortável e seguro andar de coletivo em Porto Velho a ter que enfrentar o estressante trânsito da cidade. Cansei de dar uma nota de cinco e até de dez reais e deixar o troco com o educado e polido cobrador. “- Fique como gorjeta, digo-lhe alegremente”. Não há dinheiro que pague a visão que se tem da cidade. E o prefeito Mauro Nazif tem caprichado neste aspecto. Vejo os viadutos inacabados, as árvores derrubadas pela cidade, a exemplo da centenária castanheira do Triângulo, o cemitério de locomotivas, o lixo, a podridão, além de outros atrativos.
À noite, existe emoção maior do que passar de coletivo em cima da ponte escura feito breu? Ruas tão iluminadas que quase chegam a nos cegar é uma rotina linda de se ver e de se admirar. Nunca entendi por que muitos passageiros colocam a mão no nariz quando se passa em algum ponto da capital. A “cidade-luz” da Amazônia é um encanto. O povo de Porto Velho merece todos estes mimos, pois na hora de votar e escolher seus representantes jamais foge às suas responsabilidades. Devíamos sair às ruas e exigir que o preço das passagens urbanas aumente e chegue logo a cinco ou seis reais para poder compensar a eficiência e os bons serviços com que os empresários desse setor nos têm presenteado. Aumentou o preço dos combustíveis? Aumente-se logo o preço das passagens urbanas. Devia ser assim. Fico preocupado só de pensar que algumas dessas empresas podem deixar de operar por aqui. Será que o prefeito não gosta mais de nós?



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A cidade do tornado eterno




A cidade do tornado eterno

Professor Nazareno*


          Recentemente um tornado de grandes proporções destruiu parte da cidade de Xanxerê no oeste do desenvolvido Estado de Santa Catarina. O governo local decretou estado de calamidade pública na cidade, que foi a mais afetada pela força dos ventos. Quase três mil casas foram destruídas, duas pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas, três em estado grave. Ponte Serrada e Passos Maia, outros municípios daquela região, também teriam sido atingidos e tiveram igualmente muitos problemas. Este atípico fenômeno da natureza, muito comum nos Estados Unidos e raríssimo por aqui, provocou muita destruição por onde passou. No Brasil desenvolvido e mais civilizado, estamos em pleno outono e como esta parte do território nacional está abaixo do Trópico de Capricórnio e numa zona de transição climática, esse fenômeno é possível.
    O que muita gente não sabe é que em Porto Velho, capital de Rondônia, há muitos outros tornados acontecendo sem que ninguém se dê conta.  Aqui, a cada quatro anos, aparece um tornado violentíssimo, bem como outras misérias e desgraças que perduram por todo esse tempo causando muita tristeza e destruições a toda a população. Não há catástrofe maior para Porto Velho, por exemplo, do que o tornado que está nos castigando neste momento e que já dura quase três anos. Antes, entre os anos 2005 e 2012, a capital das “sentinelas avançadas” foi sacudida por uma das piores tragédias de que se tem notícia: a administração petista que durou quase uma década. Foram anos de desolação, desgraças, infortúnios, pessimismo, roubos e ladroagens. Muita gente afirmava que era o Armagedon. Não foi. Só que depois veio outro tornado pior ainda.
     Como numa maldita cantilena dos infernos, a terra dos “destemidos pioneiros” tem passado por esta provação desde o ano de sua fundação há um século. A destruição em Xanxerê foi grande, mas a daqui é muito pior. Sem água tratada, sem esgotos, sem qualidade de vida, sem boa rede escolar nem de hospitais, com lixo no meio das ruas, sem estrutura urbana nenhuma, sem transportes coletivos, sem arborização, sem praças, sem lugares de lazer, pontilhada de favelas e sem nenhum atrativo turístico, Porto Velho não é uma cidade como aquela do Oeste catarinense. É um arremedo de aglomeração urbana muito anterior à Idade Média e que concentra uns 500 mil matutos num canto só. Diferente das cidades atingidas pela recente catástrofe, a capital de Rondônia fede como carniça e não há uma única rua ou avenida sem lixo. Lama e poeira é rotina por aqui.
       Mas como “quem ama o feio, bonito lhe parece”, a população alienada e feliz alardeia aos quatro cantos do mundo o seu amor por este monturo. E certamente deve ter mesmo alguma razão, pois mais de dez políticos atualmente não escondem o desejo maior de administrar a pocilga suja e fétida. Entra prefeito e sai prefeito e nada melhora nesse buraco quente. A internet daqui é lenta, a rodoviária é uma fedentina só, o porto é um barranco imundo, o aeroporto não é internacional e até a poderosa TV Globo exibe seus programas gravados como fazia há 35 anos. Antes tivéssemos os mortais “funis de vento” do Sul, pelo menos seríamos notícia nacional e não morreria tanta gente assim vítima do descaso, vermes, desnutrição, disenteria, malária, leptospirose, curuba e de outras doenças curáveis. Rezemos pelos catarinenses e torçamos para que o Brasil olhe por nós, os esquecidos “nestas paragens do poente”. Aqui, nem os fortes sobrevivem.



*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

De Cabral a Dilma: 515 anos de caos



De Cabral a Dilma: 515 anos de caos

Professor Nazareno*

Hoje, dia 22 de abril, comemora-se uma das piores tragédias da história da humanidade: há exatos 515 anos, navegadores portugueses teriam descoberto o Brasil. Apesar de fazer tanto tempo, ainda não há a certeza de que as caravelas capitaneadas por Pedro Álvares Cabral chegaram aqui casualmente ou intencionalmente. É difícil, no entanto, engolir a tesa da intencionalidade, já que desde o ano de 1453 com a tomada de Constantinopla pelos turcos e o início da Idade Moderna, os ambiciosos europeus buscavam um caminho alternativo para as Índias com o objetivo de comercializar e roubar as especiarias de lá. A fim de contornar o continente africano e dobrar o cabo da Boa Esperança no sul da África, os navegadores portugueses ao enfrentar as fortes calmarias do Atlântico Norte, podem ter chegado a estas terras por obra do acaso.
Como descobriram o que não queriam e nem tinham a menor intenção, os nossos antepassados lusitanos parece também que não se preocuparam em dotar esta terra “selvagem e tacanha” com o que melhor tinham na Europa. Diferentes dos ingleses, que descobriram os Estados Unidos e logo transformaram a nova terra em colônia de povoamento, os malditos portugueses transformaram isto aqui em colônia de exploração. Além disso, o Brasil serviu como depósito de gente da pior espécie que havia na Península Ibérica. Ladrões, assassinos, pedófilos, psicopatas e estupradores foram nossos antepassados. Roubar e explorar toda a riqueza produzida por aqui era a meta. Parecia até uma maldição. Madeiras, ouro, prata, cobre e toda a sorte de metais preciosos tudo era levado escandalosamente para Portugal sem o menor acanhamento.
Desgraça esta que continuou no DNA dos futuros habitantes e, como uma praga secular, se perpetua até hoje. Aqui, nada dá certo. O “jeitinho” e o improviso são a marca maior da nação e levar vantagem em tudo parece ser o lema preferido dos atuais escroques. Temos um dos piores capitalismos do mundo e continuamos a produzir riquezas como antigamente, porém somos a pátria da desigualdade social, dos pobres, dos miseráveis e dos famintos. Como ratos, nos multipicamos e hoje somos mais de 204 milhões de pessoas, a grande maioria sem perspectiva nenhuma de futuro e desprovidos totalmente de escolaridade, de leitura de mundo, de boas maneiras e de civilidade. Pior: nossa mentalidade ainda está na Idade Média e a corrupção tem-nos acompanhado durante todo este tempo. A hipocrisia: todos dizem amar este torrão inóspito e inculto.
Sem eira nem beira e aos trancos e barrancos”, o Brasil não tem nenhuma importância no cenário internacional. Nunca participamos de nenhuma decisão que norteie os caminhos da humanidade e simplesmente somos ignorados pelas grandes potências da atualidade. Nunca ganhamos um prêmio Nobel, não temos a bomba atômica, nossa sociedade é rústica e não nos destacamos em nada. Somos ainda uma colônia atrasada, com escravos, exploração, mão de obra barata e produzindo commodities para o resto do planeta sem ganhar nada em troca disto. Temos, como na época dos colonizadores, um dos piores sistemas de educação do mundo e ainda a catástrofe de sermos governados pelo PT. Em qualidade de vida perdemos até para os portugueses. Nestes 515 anos de agruras e sofrimento, a melhor coisa que poderia nos acontecer era voltarmos a ser colônia, pelo menos de Portugal. E começar tudo de novo.




*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Um “cardume” acomodado



Um “cardume” acomodado

Professor Nazareno*

Jean-Jacques Rousseau, iluminista francês, disse que “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Essa máxima, de fato, é um dos marcos que se tem observado na maioria dos seres humanos. De um modo geral, as pessoas preferem seguir “o cardume” a agir como uma “metamorfose ambulante”. Em quase todas as ações do cotidiano, a maioria dos cidadãos segue bovinamente o pensamento ditado por outros sem questionar absolutamente nada. Com pouco ou nenhum conhecimento de mundo e alheios às mais simples e coerentes teorias do pensamento humano, aceitam-se “ordens” de estranhos com a maior tranquilidade. Na vida diária, na religião, na política, na escola, na igreja, no trabalho, enfim, somos guiados pelo senso comum para seguir caminhos desconhecidos e muitas vezes traumáticos. E sem nada falar, aceita-se tudo.
Desde pequenos, por exemplo, nos ensinam que Deus existe e que foi Ele quem criou o homem. E os que não creem nesse ser poderoso e nessas histórias mirabolantes sofrem discriminações e preconceitos. Há, no entanto, possibilidades de ter acontecido o contrário: foi o homem que criou Deus. Medroso, inseguro e sem respostas para as suas indagações e questionamentos os humanos resolveram a maioria de seus problemas e encontraram muitas respostas pregando a falsa existência de um ser invisível que tudo pode. Então é verdade que Deus não existe? Não é, mas também pode não ser verdade que Ele exista. Para muitos, até o Deus de Espinosa pode ser um delírio da nossa mente. Deus, não só criou o homem como também o fez com uma bula, uma espécie de manual de instruções que o acompanhará por toda a vida: a Bíblia que, afirma-se, é sagrada.
Os que não acreditam na infalibilidade bíblica afirmam que “há milhares de anos, as lendas, mentiras, besteiras, mitos e costumes primitivos de uma pequena tribo de nômades semisselvagens foram reunidos e escritos em pergaminhos. Ao longo dos séculos estes textos foram modificados, mutilados, truncados, floreados e divididos em pequenos pedaços que foram então embaralhados várias vezes. Em seguida, este material foi mal traduzido para várias línguas e vários povos o adotaram como a expressão da verdade, a palavra de Deus definitiva e irretocável". Inerrante ou não, o fato é que ao lado dessas escrituras, aceitas como sagradas, apareceram outras de igual valor dependendo da época, do povo e das circunstâncias: o Corão muçulmano e a Torá judaica, dentre muitos outros “manuais de instrução humana”, seguem guiando almas.
Outra tolice e estupidez sem tamanho que nos ensinam é o sentimento telúrico. Incondicionalmente sempre se tem amor pela terra onde se nasce. Numa realidade capitalista se ganha dinheiro pela competência e pelo trabalho que se faz e jamais por ter nascido neste ou naquele lugar. O patriotismo, por exemplo, é o pior dos sentimentos coletivos assim como foram o Fascismo e o Nazismo. Volte-se então à questão religiosa: se Deus fez o homem, Mauro Nazif, Confúcio Moura e Dilma Rousseff são, portanto, criações divinas assim como todos os outros políticos brasileiros. Duvido que o Criador Supremo tenha dito: “- Vai, Nazif, administra Porto Velho”. Ou então o improvável, “- Confúcio, Eu te fiz. Governa os rondonienses, então”. Deus não pode ser tão mau assim. Com relação à Dilma, aí Deus “já estava morto”. Por que se aceita tudo o que nos dizem sem esboçar questionamentos?  É por sermos idiotas ou inteligentes?


*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Duisburg, a pérola do Reno




Duisburg, a pérola do Reno

Professor Nazareno*

            Adoro viajar, mas como não tenho dinheiro, tempo e nem boa saúde, quase não saio do Brasil. Há pouco mais de dois anos, no entanto, estive na Alemanha visitando algumas de suas belas e encantadoras cidades. Estava em Munique na Baviera e decidi visitar Duisburg, cidade industrial e portuária de aproximadamente 500 mil habitantes, localizada no Estado alemão da Renânia do Norte, no vale do Ruhr. Maior porto seco da Europa, esta encantadora metrópole germânica tem, portanto, quase a mesma população de Porto Velho, nossa feia, suja e desorganizada capital. Situa-se na confluência dos rios Ruhr e Reno a poucos quilômetros da fronteira com a Holanda e a apenas 20 minutos de trem de Dusseldorf e de Dortmund, as maiores cidades da região. Esse mesmo número de habitantes é a única coincidência de Duisburg com a nossa fedorenta Porto Velho.
           Como sofro da “Síndrome de Vira-Latas”, fiquei encantado e de boca aberta quando cheguei à Estação Central (Bahnhof Apotheke) desta linda cidade. Tudo limpo, organizado, pontual e funcionando no melhor estilo germânico. O trem devia chegar exatamente às 4 horas e 52 minutos da tarde. E para o meu espanto, chegou às 4h52. Recebi ali mesmo informações em Alemão, Inglês e Português de como me deslocar pela cidade e visitar os principais pontos turísticos. Meu Deus! Quanta diferença quando se chega a Porto Velho. Na nossa imunda, sem nenhuma limpeza e pouco cheirosa rodoviária, devemos agradecer aos céus se não formos roubados ou importunados com pedintes que não nos deixam em paz. Em Duisburg, o cheiro das flores em duas praças próximas dali contamina o ar com a fragrância dos mais nobres e caros perfumes.
            A charmosa Avenida Friedrich Wilhelm, que liga a estação de trem ao centro da cidade, é um deslumbre só. Motoristas super educados que respeitam os pedestres é uma rotina normal de se ver. Bem diferente da nossa desarrumada e suja Avenida Carlos Gomes, por exemplo. Nunca vi tanta gente limpa, cheirosa, inteligente e educada convivendo juntas. Naquela charmosa avenida, e em outras ruas da cidade, é impossível encontrar uma única garrafa Pet, pedaços de papel ou qualquer outro entulho de lixo jogado ao chão, enquanto por aqui... Como pode esta gente sisuda e disciplinada ter criado o Nazismo em tempos passados? Raciocinei intrigado. Em Duisburg tem metrô, o Stadtbahn, com pelo menos 13 estações. Pense num lugar limpo e asseado. Em cada estação, a composição para no horário previsto e a pontualidade chega a ser enfadonha.
            Tudo funciona naquela cidade. O porto fluvial é uma loucura de tanta eficiência. Nunca vi tanta limpeza e organização em toda a minha vida. Nos dois rios que cortam a cidade é impossível ver qualquer coisa boiando em suas quase transparentes e limpíssimas águas. Nem um absorvente feminino usado se vê ali. O aeroporto que serve à cidade é “internacional de verdade” e recebe voos de várias outras cidades da Europa e do mundo. Duisburg tem um prefeito. É Sören Link, do SPD, o Partido Social Democrata Alemão. De ideias arrojadas e dinâmicas, é um jovem de apenas 38 anos. Porto Velho também tem um prefeito. É o médico Mauro Nazif, que dispensa quaisquer comentários. A pérola do Reno faz jus ao nome enquanto aqui somos o monturo, o lixo. Os índices de corrupção e violência naquela cidade estão muito próximos de zero e não vi nenhuma obra inacabada por lá. Será que já sucumbimos ao caos e à barbárie?




*É Professor em Porto Velho.