domingo, 27 de outubro de 2013

Derrubem todas as nossas árvores!




Derrubem todas as nossas árvores!

Professor Nazareno*


           Porto Velho é uma das cidades menos arborizadas do Brasil e isso é muito bom. Dos mais de 5500 municípios do país, segundo a Revista Galileu, ficamos na honrosa colocação de número 4510 dentre as áreas urbanas mais arborizadas. Mas esta posição pode ficar melhor ainda: recentemente a Prefeitura da cidade, por meio da SEMA, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, prometeu arrancar centenas de árvores que enfeiam, sujam e poluem as ruas e avenidas daqui. Esta medida, considerada radical por alguns “ecos-xiitas”, é mais uma ‘tacada de mestre’ do atual prefeito, Dr. Mauro Nazif, uma espécie de Jaime Lerner amazônico, um administrador nato, de decisões inteligentes, hábeis e corretas. Sua cabeça é uma usina de ideias urbanas e ecológicas. Com esta ação, finalmente seremos reconhecidos para sempre no Brasil e no mundo.
        A capital de Rondônia tem poucas árvores, é verdade. Mas para que servem mesmo as árvores a não ser para criar sujeiras, imundície, danificar a rede de esgotos e abrigar nas suas sombras pessoas desocupadas, alcoólatras e drogados? Além disso, servem também para atrair toda espécie de insetos e animais como ratos, morcegos, sapos e cobras. As árvores são uma desgraça que infestam nossas cidades. Precisamos de mais asfaltos, cimento, concreto, construções e alvenaria para mostrar o quanto estamos crescendo e desenvolvendo. Árvores lembram mato, zona rural, lugares ermos e distantes. Enfim, lembram o subdesenvolvimento e o atraso. E Porto Velho é uma metrópole que caminha garbosamente para o seu primeiro meio milhão de habitantes. Antes feia e cheia de mato, agora será lembrada como o “Pulmão da Amazônia”. 
       A SEMA de Porto Velho, ligada à própria prefeitura, é uma instituição de notório saber e abrangência ecológica e com esta louvável ação de derrubar centenas de árvores na cidade para apenas substituir por outras, deveria ser indicada para receber prêmios e condecorações mundiais. Seus inúmeros engenheiros e funcionários, pessoas de ilibada dedicação ecológica, poderiam ser lembrados para receber um Nobel e afagos da ONU ou outra instituição qualquer ligada à natureza. De fato, no mundo inteiro, qual o órgão de defesa do meio ambiente que manda arrancar centenas de árvores sem a aprovação dos moradores da cidade? Quem será que vendeu esses “Ficus” para a prefeitura plantá-los? Por que só agora viram que essas árvores são danosas ao ecossistema urbano? Quem será que vai vender as novas mudas a serem plantadas?
          O Globo Repórter exibiu recentemente uma matéria falando sobre a relação harmoniosa entre qualidade de vida, verde e meio ambiente. Tudo mentira. Tudo lorota para enganar trouxas. Dúvidas? É só perguntar aos homens da SEMA de Porto Velho que eles terão as sábias respostas. Será que as novas mudas a serem plantadas e os canteiros serão pintados com as cores do PSB, o partido do nosso prefeito? Como o Dr. Mauro tem feito muitas obras em benefício da sofrida população desta cidade, as campanhas das redes sociais exigindo que “não derrubem nossas árvores” não passam de perda inútil de tempo. Num país onde roubar dinheiro público e ser corrupto não dá punição alguma, por que derrubar alguns “pés de pau” inúteis vai dar problemas? Se eu fosse essa gente, matava essas árvores toscas por envenenamento e ninguém ficaria sabendo de nada. Parabéns, Dr. Mauro Nazif! Continue com esta ação positiva. Isso só demonstra que o senhor está antenado com os novos tempos e com os desejos e anseios populares. Devaste o meio ambiente, arranque e substitua todas as árvores da cidade. Afinal, elegemos o senhor para quê mesmo? Mostre serviço, trabalhe. A hora é agora!



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Serei candidato: vamos conversar?



Serei candidato: vamos conversar?

Professor Nazareno*

            “Meu querido e dileto cidadão, não se deixe enganar por falsas promessas de quem nunca teve o desejo de ajudá-lo, pois eu sou a única voz e a única possibilidade que pode lhe indicar o caminho certo. Tenho a certeza de que estão tentando botar tolices na sua cabeça. Não há pessoa mais bem intencionada neste mundo do que eu, seu amigo de todas as horas. Não acredite em conversas de oportunistas nem nas soluções imediatistas. A minha função é dizer-lhe sempre a verdade. À frente do Estado de Rondônia a partir do próximo ano, se assim for o seu desejo e a sua vontade, cumprirei todos os ritos para lhe satisfazer e também à sua família e amigos. Uma vez no poder, não medirei esforços para desviar todo e cada tostão que este povo produzir. Roubarei tudo e todos sem a menor vergonha na cara e para isso aliciarei várias pessoas.”
            “Uma vez no poder, usarei toda a estrutura do Governo para beneficiar apenas aqueles que ajudaram na minha eleição. Distribuirei todos os cargos do Estado para os meus apadrinhados e colegas, mesmo que não tenham a menor competência para seus respectivos exercícios. Se não houver emprego para todos, criarei mais e mais vagas, CDS, assessorias, indicações e outros afins para poder satisfazer aos meus chegados. Concursos públicos, não os farei nenhum e quero distância daquelas pessoas que se mostrarem mais competentes.  O Estado de Rondônia, na minha futura administração, ficará totalmente à minha disposição e da minha família e funcionará como uma extensão da minha casa e das minhas convicções e vontades. Pode ter a absoluta certeza disso. Comigo no poder, ‘o Estado serei eu mesmo’ e todos deverão me obedecer.”
            “Assim que assumir o Poder, mudarei também a função das polícias. A civil ficará ao inteiro dispor do meu Governo e não do Estado ou da sociedade. Perseguirá os meus desafetos políticos inventando dossiês, grampeado inimigos e bisbilhotando suas vidas particulares, mesmo sem autorização judicial para isso. A Polícia Militar perseguirá como nunca aqueles engraçadinhos que resolverem fazer passeatas reivindicando algo. ‘Descerá o cacete’ sem dó nem piedade nos desocupados que se meterem a oposicionistas. Uma vez no poder, meu dileto amigo, roubarei, prevaricarei, desobedecerei a leis, perseguirei, matarei, desviarei verbas, enfim, destruirei o Estado e não temerei nada nem a ninguém, pois se preso for, passarei pouquíssimos dias na cadeia e mesmo assim ainda existem ‘embargos infringentes’ a meu favor.”
            “Criarei quantos ‘Mensalões’ eu quiser sem o menor medo de ser condenado. Farei negociatas e acordos, lícitos ou ilícitos, com qualquer setor da sociedade, para me manter sempre à frente do Poder e me beneficiar do Estado e da sua receita. Criarei contas no exterior para mim e para meus seguidores, subornarei adversários, perseguirei a oposição, comprarei toda a mídia e nada farei em benefício dos pobres e desassistidos e se preciso for mandarei a democracia ‘às favas’. No meu Governo pessoas carentes e funcionário público que se meter a trabalhar serão duramente punidos. Só manterei contato com a Assembleia Legislativa se ganhar algo por fora para isso. Não terminarei nenhuma obra inacabada e ainda iniciarei outras tantas. Com o Poder Judiciário e os Ministérios Públicos não quero nem conversa. Farei sempre um Governo voltado para mim e para os meus interesses particulares. Governando assim, sei que terei total aprovação e aceitação de muitos setores dessa sociedade e da maioria dos eleitores, inclusive você, caro amigo. Eu sou o Professor Nazareno: vamos conversar?.



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Professor: mais um dia de hipocrisia


Professor: mais um dia de hipocrisia

Professor Nazareno*

            O dia 15 de outubro por aqui é dedicado aos professores. Um dia miserável e até amaldiçoado para quem escolheu uma das profissões mais ingratas do Brasil: como ensinar alguma coisa num país onde as pessoas não querem aprender? Penúltimo lugar numa pesquisa feita em Londres sobre a valorização dos docentes, o Brasil amarga a triste rotina de conviver a cada dia que passa com um déficit cada vez maior de profissionais nesta área em que todos são hipocritamente unânimes em afirmar: “é a profissão mais importante na vida de qualquer ser humano”. Talvez a carreira profissional mais desvalorizada da atualidade, ser professor no nosso país é um desafio que persegue a rotina dos “poucos heróis” que tiveram a coragem suficiente de enfrentar a família para se aventurarem numa vida sem futuro e pouco rentável.
            Suportar calado esta horrorosa data é uma desgraça, uma espécie de Armagedon para qualquer professor. Quando não é obrigado a trabalhar em seu próprio dia, os docentes muitas vezes têm que aturar festinhas estúpidas de seus alunos que, cheios de boas intenções, presenteiam seus homenageados com balinhas, doces, refrigerantes e outras guloseimas açucaradas, parece até que de propósito, já que fingem não perceber que a maioria de seus mestres está com as taxas de diabetes, colesterol e triglicerídeos lá pelas alturas. Mas o raciocínio é simples e até macabro: se não matar os condenados, faz muitos deles adoecerem e por isso, “ganham de presente” vários dias sem aulas. Há muito tempo que professor não ganha presentes de seus alunos a não ser murro na cara,  deboche, desdém, ameaça dos pais, diretores e toda a sorte de violência e intimidações.
            Mas quem perde com isso não são somente os docentes, é a própria sociedade e o país inteiro. O Brasil tem um dos piores sistemas de educação em todo o mundo. Nunca valorizamos o saber e só somos a sétima economia graças à produção de commodities e não de conhecimentos. Esse negócio de que o professor é o único profissional que forma todos os outros profissionais é pura balela, papo furado, hipocrisia da sociedade. Se assim fosse, seríamos bem mais valorizados e teríamos um salário de médico, de jogador de futebol ou de político. Porém a culpa não é só do Governo ou do Poder Público. A sociedade até incentiva esta desvalorização: ninguém cobra nem exige nada em beneficio da educação nem dos educadores. Nas greves, apanhamos da polícia e às vezes, na sala de aula, dos alunos. Somos a escória nacional.
            Neste triste dia, políticos e autoridades vão à mídia para se confraternizar com os educadores. Só hipocrisia e enganação. Na telinha, tecem loas e mentiras falando sobre a “importância do educador” e outras lorotas apenas para enganar os eleitores otários, pois muitas vezes não querem que seus próprios filhos sigam a “honrosa profissão”. De fato, no Brasil menos de dois por cento dos alunos querem ser professor enquanto que na Coréia do Sul, China, Finlândia ou Japão esse número ultrapassa os 90%. Aqui, quando um aluno diz que quer seguir esta carreira é logo taxado de louco, idiota ou imbecil. Sem salários dignos, sem motivação, sem esperanças, humilhados, estressados e já depressivos, muitos educadores são perseguidos até pelos próprios sindicatos da categoria. Uma sociedade que não valoriza a educação e nem o professor deveria ser sincera e ter pelo menos vergonha de comemorar esse maldito dia dedicado a ele.



*É Professor em Porto Velho.

domingo, 6 de outubro de 2013

Devastando o “Meu Pedacinho de Chão”



Devastando o “Meu Pedacinho de Chão”

Professor Nazareno*

          O bairro Meu Pedacinho de Chão, localizado na Zona Norte de Porto Velho, nas proximidades do Porto Velho Shopping entre a Avenida Calama e Tiradentes, é um dos bairros mais bucólicos e tranquilos da capital de Rondônia. Habitado em sua maioria por pessoas simples, humildes e trabalhadoras pertencentes à classe média baixa e funcionários públicos, esse lugar data do ano de 1976, quando ocorreu uma grande enchente no rio Madeira e a primeira dama da época, Gilsa Guedes, resolveu construir um lugar que abrigasse todas as famílias vítimas das intempéries da natureza. O nome do bairro surgiu rápido e traduzia a conquista daqueles que vivendo às margens do Madeira  nunca tiveram a oportunidade de possuir o seu pedaço de chão. No início foi tudo muito difícil, mas os problemas foram sendo aos poucos superados.
Assim, os zelosos moradores se encarregaram de dar feições de Primeiro Mundo ao seu recanto recém-conquistado: conservam na Avenida Tiradentes, há mais de 30 anos, várias árvores que foram plantadas e hoje, frondosas, dão sombras e ajudam no controle das altas temperaturas registradas aqui. Guardadas as devidas proporções, é o único lugar desta capital que se parece com Roma, Paris, Milão ou outra cidade da Europa. Só que os dias de convivência harmônica entre homem e natureza parecem que estão chegando ao fim neste pedaço de Porto Velho. A Prefeitura Municipal da cidade, na até então apagada gestão de Mauro Nazif, por intermédio da Sema, Secretaria Municipal de Meio Ambiente avança com uma força tarefa para destruir quase duas centenas destas árvores. Antes, já destruíra uma rotatória para colocar um tosco sinal.
Somos uma das cidades menos arborizadas da região Norte e esta ação intempestiva da Prefeitura além de colocar Nazif numa situação pior do que o ex-prefeito Roberto Sobrinho que, apesar dos defeitos, replantou várias mudas no caminho do aeroporto, faz também da nossa explorada capital um lugar cujas autoridades não respeitam o meio ambiente. E nem os eleitores, pois pelo que se sabe, os moradores do Pedacinho de Chão e adjacências não foram consultados sobre o assunto. A desculpa esfarrapada de que o Ficus é muito “agressivo” (mais do que o próprio homem?) e deve ser substituído é papo furado, pois assim todas estas árvores deveriam ser substituídas na natureza. O problema é que nada garante que apareçam outros “sábios” futuramente para destruir de novo o meio ambiente com estas “substituições”. E se depois, outros prefeitos quiserem substituir também os Ipês, Jambeiros e Sibipirunas plantados agora?
Dizer que as pobres árvores prejudicam a rede de esgoto é brincadeira, já que não há esgotos por aqui e ali é um lugar alto, portanto a água não tem dificuldades para escoar. Por que não se faz um serviço de poda parcial sem radicalizar? Reclamar que há desocupados embaixo das árvores é corroborar com a inoperância do próprio Poder Público. O problema é o desejo insano e patético de querer mostrar serviço destruindo a indefesa natureza. Quem não se lembra das frondosas mangueiras que havia na Avenida Sete de Setembro no centro da capital? Com menos de um ano à frente da Prefeitura Municipal, Mauro Nazif é seriíssimo candidato a ser um dos mais inoperantes gestores de Porto Velho. Com esta devastação absurda, atemporal, desnecessária e até ditatorial, poderá ser também um dos prefeitos mais odiados de todos os tempos. Os esquecidos moradores do Pedacinho de Chão e redondezas que o digam. E quem quiser registrar a beleza do lugar que o faça agora, pois em breve tudo pode ser destruído pela Prefeitura. Árvores frondosas, sombra e brisa suave talvez só daqui a 30 ou 40 anos... Ou jamais.


*É Professor em Porto Velho.