domingo, 28 de dezembro de 2014

Reféns da violência premeditada



Reféns da violência premeditada

Professor Nazareno*

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo com pouco mais de meio milhão de presos. Porém no país só há vagas para 350 mil. E o pior: levando-se em consideração o que diz a Sociologia, deveríamos ter bem mais detentos, já que em toda sociedade mais ou menos dois por cento dos indivíduos, por algum motivo, não se adaptam ao convívio social. A terrível conta é óbvia: se temos 203 milhões de habitantes, devíamos ter próximo de quatro milhões de presidiários. Rui Barbosa disse que um país que não constrói escolas deveria construir presídios. O Brasil não fez uma coisa nem outra. E por isso, os cidadãos honestos têm de conviver no meio de bandidos e de pessoas socialmente desajustadas. Para cada preso que existe no nosso país, há pelo menos outros cinco que estão soltos, quando deveriam estar atrás das grades.
Se estiver certa a máxima de Jean-Jacques Rousseau de que “todo homem nasce puro, mas a sociedade o corrompe”, fica mais do que claro que a nossa própria sociedade é a maior responsável pelo excesso de violência que temos e dela somos reféns. Somem-se a isso a questão das drogas e a secular e conhecida ojeriza que os brasileiros têm pela educação de qualidade. Aqui não se investe o que deveria nas escolas e o resultado todos já sabemos qual é. Somado a este cenário caótico, ainda existe a corrupção em todos os setores da vida pública, fato que destrói toda e qualquer  possibilidade de melhoras. Países como Holanda e Suécia, por exemplo, estão há tempos fechando seus presídios. A Alemanha, com quase metade da população do Brasil, tem apenas 62 mil presidiários e vagas para mais de 75 mil em suas cadeias.
Então fica fácil entender por que no nosso país um condenado nunca cumpre a pena na sua totalidade. A Justiça condena um criminoso de alta periculosidade a 200 anos de detenção, mas por lei ele só pode cumprir 30 anos, que na maioria dos casos serão transformados em seis ou oito. Como não há espaço nem vagas suficientes no sistema carcerário, ele tem que dar a vaga para outros condenados e assim fazer girar o revezamento de detentos, único no mundo. Por isso, têm-se tantos bônus, “fugas” em massa e indultos para os presos. A falta de vagas só “facilita” a vida de quem deveria pagar pelo mal que cometeu. Mais de 50 mil brasileiros são assassinados ao ano. Proporcionalmente, isso equivale a mais de 40 vezes a guerra da Faixa de Gaza ou a do Iraque. No trânsito, são mais outros 60 mil mortos todo ano. Punições, nem para pobres.
Por isso, muitas pessoas esclarecidas defendem abertamente penas maiores. Defendem também maus tratos, torturas e injustiças contra presidiários ignorando que o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Burros, “aplaudimos a morte de um ladrão de 100 reais e nos calamos quando nos roubam 57 milhões”. A absurda e anacrônica justiça com as próprias mãos também tem sido defendida até por setores da mídia e por pessoas geralmente mal intencionadas, alienadas, políticos à caça de votos ou mesmo cidadãos privilegiados que sabem que a justiça jamais lhes pegará. Ao contrário de alguns países civilizados, devíamos construir mais presídios e, obviamente, investir mais e melhor no nosso falido sistema de educação. Somente atacando as causas do problema e não as suas consequências é que enfrentaremos esse caos de maneira mais civilizada. Sem isso, continuaremos sendo reféns dessa barbárie.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O pior Natal da minha vida



O pior Natal da minha vida

Professor Nazareno*

            Inesperadamente o ano de 2014 ainda reservava uma estupenda surpresa para mim. Liso, sem cartão de crédito e muito endividado não pude viajar, como faz a maioria dos portovelhenses ricos todos os anos, para passar os festejos natalinos fora da cidade e do Estado. Poderia ter escolhido uma belíssima praia no litoral do Nordeste, ir para o Réveillon de Copacabana ou da Avenida Paulista, ter viajado à paradisíaca Serra Gaúcha ou, como sonhar ainda não é proibido, ter ido com toda a minha família para a Europa ou os Estados Unidos a fim de ver neve, civilização, limpeza, pessoas educadas e elegantes, organização, frio aconchegante e um verdadeiro Natal com direito a comer pratos raros e beber vinhos deliciosos. Mas como não trabalho na Petrobras, o jeito foi encarar mesmo as horrorosas e toscas festas natalinas deste triste fim do mundo. 
            Se neste ano eu tivesse caído em uma das inúmeras operações da Polícia Federal e do Ministério Público, até que poderia ver neve ou degustar finas iguarias no Natal. Com o dinheiro minguado e com pouquíssimas opções de lazer, minha esposa já foi me advertindo que eu não poderia beber muito nesta noite, pois no trabalho ainda teria que participar de um enfadonho Conselho de Classe. “-Vê se não gasta o dinheiro do IPTU e dos outros impostos que sempre pagamos no início do ano”, fui advertido pela fiscal que casou comigo. Sem dinheiro e sem perspectivas, não aceitei a rotina de ir à casa de parentes para participar de uma ridícula brincadeira de amigo oculto, beber cerveja ruim, ou então comer aquela gororoba horrível. Em Rondônia é tanta comida de baixa qualidade que procurei evitar uma indigestão ou uma bruta diarreia nos dias seguintes.
            Como fui obrigado a passar o Natal em Porto Velho, não perdi tempo. Para ficar igual a muitos habitantes locais, bebi cachaça barata como se estivesse com o maior desgosto do mundo. Vesti uma roupa molambenta e a pé saí de casa reclamando e fui para o centro da cidade. Na Avenida Jorge Teixeira, próximo à rodoviária, caí no chão depois de escorregar numa poça de água suja. Bem perto dali, num boteco repleto de pessoas fedorentas e bêbadas ouvia-se repetidas vezes a música “Porque homem não chora”. Encostado numa “ruma” de pneus velhos enfeitados com detalhes natalinos, todo ensopado e tentando me livrar do calor e da chuva que caía, me senti no inferno. A cidade estava escura como sempre e em vez de neve, havia muita lama. Queria ouvir Beethoven, Vivaldi, Bach, mas só tinha o tal de Pablo. Que “sofrência”, meu Deus! 
            Chupando uma cabeça de mandi frito, fedendo a álcool, sujo e todo se cuspindo, um sujeito se aproxima de mim e puxa conversa. “-Nasci aqui mesmo e nunca passei um Natal tão bom quanto este em toda a minha vida”, disse querendo me impressionar. Elogiou umas dez vezes a decoração natalina da cidade, falou bem das autoridades locais e não escondia sua satisfação por todos os envolvidos nas operações policias já estarem soltos e passando o Natal “Deus sabe onde” com seus familiares. O miserável com bafo de onça ainda me provocou: “-Sabe, mano! Nas últimas eleições, ganhei todos os meus votos. Por isso estou aqui feliz e comemorando”. Cansado de matar carapanãs, molhado, decidi voltar para casa antes que uma “cadela no cio” começasse a me lamber. Quase fui assaltado no caminho. Em casa estava faltando água, não tinha energia nem internet. Pior: não vi Papai Noel nas ruas como haviam me falado. Feliz Natal uma ova!




É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Escola João Bento da Costa faz História, de novo, no ENEM

Escola João Bento da Costa faz História, de novo, no ENEM

         Após a divulgação pelo INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, dos resultados do ENEM/2013 por escolas, a alegria tomou conta de professores, alunos e funcionários da Escola Estadual Professor João Bento da Costa localizada na zona sul de Porto Velho. O motivo de tanta euforia foram as excelentes notas conseguidas por esta instituição pública de ensino no Exame Nacional do Ensino Médio do ano passado. Com quase 500 alunos participando daquelas provas, um recorde estadual, o JBC não só fez História como também elevou ao topo máximo o nome do Estado de Rondônia nos cenários regional e nacional. “Infelizmente o Estado de Rondônia, principalmente na área política e administrativa, nos últimos anos, só tem dado desgosto e vergonha para os seus habitantes, as incontáveis operações policiais neste Estado associadas à corrupção e à roubalheira nos faz perder a vontade de viver e trabalhar dignamente aqui”, afirmou um professor do Projeto Terceirão da escola, que não quis se identificar. “Esse resultado conseguido pelos dedicados alunos desta instituição de ensino demonstra que há coisas neste Estado que dão certo e por isso deveriam ser reconhecidas. E é dessa forma, usando a competência, o trabalho sério, a disciplina, a dedicação e o compromisso, que a Escola João Bento da Costa dá a sua contribuição para limpar o nome deste Estado”, concluiu o educador.
            As notas do Colégio João Bento da Costa são realmente envaidecedoras em todos os sentidos. Com uma média superior aos 514 pontos nas provas objetivas e 574 na prova de Redação, o JBC ficou em primeiro lugar no Estado de Rondônia dentre todas as escolas estaduais e em toda a região Norte do país, esta escola da zona Sul de Porto Velho ficou em terceiro lugar nesta modalidade de ensino perdendo apenas para o Colégio Militar da Polícia Militar do Estado do Amazonas e para a Escola Estadual de Tempo Integral Marcantonio Vilaça II, ambas de Manaus, respectivamente com as notas 537 e 535. No ENEM de 2013, o João Bento desbancou escolas estaduais de estados tradicionais da Federação como o Pará, Mato Grosso, Maranhão, Sergipe e Paraíba. Vários professores do Projeto Terceirão da Escola João Bento da Costa foram unânimes em afirmar que estas notas são o resultado de muita dedicação, trabalho e compromisso e que poderiam ser bem maiores que ainda assim não seria nenhuma surpresa. “Ainda temos muito a conquistar, estas notas estão muito baixas se levarmos em consideração as notas obtidas por escolas estaduais de Estados como São Paulo, Minhas Gerais e Rio de Janeiro”, afirmou a professora Soniamar Salin de Redação e Língua Portuguesa do Projeto Terceirão da Escola João Bento da Costa.
            O Diretor da Escola, professor Chiquinho Lopes, foi categórico ao afirmar que o sucesso da escola é um esforço conjunto de todos os envolvidos no processo educacional do estabelecimento de ensino. “Do mais humilde funcionário, passando pelo pessoal de Secretaria, Supervisão, Orientação Educacional e por todos os professores e alunos das séries iniciais do Ensino Médio e, obviamente, pelos professores e alunos do Projeto Terceirão desta escola, todos são os grandes responsáveis por este sucesso”, disse o Diretor, que acabou de ser reeleito para um mandato de mais três anos à frente desta unidade de educação. Vários professores afirmaram que o ensino ministrado no João Bento em nada se diferencia das tradicionais escolas particulares de Porto Velho. Aliás, em termos de nota do ENEM, percebe-se que o JBC está parelho com as melhores escolas particulares da cidade tendo inclusive superado algumas delas. Realmente, as notas da escola se parecem e muito com as notas das melhores escolas particulares de Porto Velho, basta se verificarem as relações divulgadas pelo INEP.
Se a nossa escola proporcionasse um turno integral para os seus alunos, sem demagogia e sem propagandas político-partidárias no processo, certamente ninguém nos batia neste Estado e seríamos uma das melhores escolas do país”, afirmou convicta uma das alunas que estudou na equipe de 2013 da escola. Do ponto de visto da estrutura física, no entanto, a escola JBC em nada se diferencia de outras escolas públicas de Rondônia e mesmo do Brasil. Há muita sujeira, esgotos a céu aberto, carteiras quebradas, aparelhos de ar condicionados defeituosos, calor insuportável, banheiros imundos que mais se parecem os banheiros da rodoviária da cidade. O grande diferencial, entretanto, são os professores compromissados com os bons resultados e principalmente a garra dos alunos que chegam ao terceiro ano. “Aqui nós cobramos muito dos nossos alunos, pois sabemos que eles têm muito a dar, pois não se faz uma escola boa na base da conversa mole e do jeitinho”, afirmou o Professor de Redação. “Até o horário aqui é rigoroso. Aluno que chega atrasado 1 minuto apenas, é advertido, não entra em sala de aula e nem faz prova, só depois e com justificativas pertinentes”, concluiu.
O professor de Redação afirmou ainda que as notas obtidas pelo João Bento são realmente muito baixas observando-se outras realidades em Rondônia e no Brasil. “Todas as nossas escolas públicas deveriam ser de tempo integral, o Poder Público deveria junto com a população incentivar e reaparelhar melhor todas as escolas públicas”, disse. O professor também mostrou a sua preocupação com as outras escolas públicas de Rondônia: “se a melhor escola teve esta nota, é de se imaginar como não é o ensino na pior escola”, concluiu.
O potencial dos professores do João Bento parece realmente fazer o grande diferencial em favor da escola. Neyzinho, professor de Matemática e Mestre com estudos de pós-graduação e especialização na França, sempre reconheceu a potencialidade dos seus alunos. “Aqui, temos alunos de excelente qualidade que se forem realmente trabalhados produzirão grandes resultados”, afirmou um dos melhores professores de Matemática de Rondônia. Carlos Moreira, poeta de primeira linha, vários livros publicados e professor de Literatura do Projeto Terceirão também concorda com o professor Ney. O João Bento da Costa conta também com outros grandes nomes na área da educação em Rondônia como o Professor de História Walfredo Tadeu, um dos melhores do Estado, Arimatéia Dantas de Geografia, Thalles Gomes, Russimeire, Geane, Mônica de Química, Doralice de Inglês, Vagson, Adriana, a vice-diretora e coordenadora do Projeto, Elizabet Lima da Silva, dentre tantos outros. Mas não são eles que estão de parabéns. É Porto Velho, é Rondônia, é a educação pública deste Estado. São, enfim, os pais e os alunos do Projeto Terceirão do Colégio João Bento da Costa de Porto Velho: uma escola pública que sempre deu certo.