segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carnaval com desfile depois da festa.



Carnaval devia ser mais incentivado


Professor Nazareno*

       
          Como é tempo de folia, eu estava em um retiro. Depois que aceitei o Senhor Jesus em minha vida, não posso mais perder uma única oportunidade para ler a Bíblia e refletir sobre a santa palavra de Deus. Embora se tenha a certeza de que o Senhor está sempre presente nessas reuniões espirituais, não há como deixar de prestigiar a grande explosão de cultura, civismo e folclore que é o carnaval de Porto Velho. Do “santo retiro”, poderia ter ido direto ao Rio de Janeiro ou mesmo até Salvador a fim de apreciar as festas de Momo, mas perder o “carnaval Karipuna” chega a ser um pecado imperdoável tendo em vista a organização, o desprendimento, a civilidade, a modernidade, a fraternidade, o espírito festivo e a garra com que esta grande festa popular é realizada por aqui. Nunca entendi por que Porto Velho e o seu carnaval ainda não figuram nos grandes circuitos internacionais da folia. Da Europa aos Estados Unidos, do Japão à América Latina e praticamente em todo o território nacional, não se fala de outra coisa neste mês de fevereiro que não sejam as festividades que acontecem na bela capital de Rondônia.
      Por isso, o Poder Público local bem que poderia colaborar um pouco mais com a alegria. Doar apenas 700 mil reais das verbas públicas para animar essa festa chega a ser algo absurdo, ridículo, incompreensível até. O incansável guerreiro Governador Confúcio Moura e o insubstituível e estimado líder Prefeito Roberto Sobrinho junto a seus inteligentes e bem intencionados assessores bem que deveriam rever esta quantia para os próximos anos. Claro que o nosso rico Estado ou a Prefeitura do município poderiam ter disponibilizado uma quantia dez vezes maior. Os foliões agradeceriam, já que precisamos de circo também. A vida tem sido muito dura, mas graças a Deus temos autoridades sempre empenhadas em resolver os nossos mais elementares problemas. Crises sociais não se observam por aqui já faz um bom tempo. Nossos serviços públicos são de primeiríssima qualidade, há hospitais bem equipados, ruas floridas, limpas e cheirosas, segurança total na cidade e dessa maneira, abandonar um retiro para apreciar o carnaval e encontrar vários amigos durante esta inocente festa não pode ser pecado.
      A explosão folclórica começou com o bloco Galo da Meia Noite na quinta-feira, dia 16. Músicas belíssimas e com importantes significados filosóficos, estandarte de ouro, passistas sincronizados, cantores afinadíssimos, euforia controlada e nenhuma violência. No sábado, foi a vez da maior banda de rua da região Norte do país encantar a todos com os seus quase 200 mil brincantes. Meia cidade praticamente estava na avenida. Recorde absoluto de participantes. Manchetes glamourosas, SECEL em delírio, inteligentes colunistas de cultura entusiasmados e eternizando cada momento, autoridades se confraternizando com o povão, otimismo, nenhuma sujeira, tapumes nas lojas. Viam-se famílias inteiras com suas crianças prestigiando aquilo tudo, pessoas fazendo coraçõezinhos com as mãos. Parecia uma cópia do Paraíso. Muitos foliões juram ter visto coelhinhos saltitantes e borboletas azuis durante o desfile. O Senhor só podia estar ali também naquele ambiente sadio e quase santo. E já que alguns tolos rondonienses pensam em transformar uma velha, inútil e abandonada ferrovia, a EFMM, em Patrimônio da Humanidade, o Vaticano bem que poderia olhar para o nosso carnaval e canonizar muita gente. Em Rondônia devem existir muitos santos esquecidos pelas autoridades eclesiásticas de Roma.
      Sendo assim, a Banda do Vai Quem Quer, que é um monumento vivo, deveria ser também transformada em alguma espécie de patrimônio. Quase duzentas mil pessoas, todas politizadas e participativas da vida política e social do lugar, não se encontram facilmente. A heróica paciência cabocla agradeceria tal pleito. Aqui se pensa tudo igual, que beleza! Os viadutos inacabados do Trevo do Roque, as hidrelétricas, construídas apenas para agradar os forâneos, a eterna sujeira da capital dos rondonienses, a desnecessária ponte sobre o Madeira, o Mercado Cultural, a Unir, as Três Caixas D’água, o inigualável e belo símbolo da capital, a Catedral, os inacabados CPA e Teatro Estadual e o imponente, asseado e majestoso porto do Cai N’água poderiam também figurar numa interminável lista “made in Rondônia” para virarem Patrimônio da Humanidade. Particularmente eu indicaria a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia nesta lista. Não o prédio, mas o ambiente da “Casa de Leis” mesmo e suas sessões ordinárias pelo glorioso trabalho que tem prestado ao humilde povo rondoniense.
      Outro ponto alto das festas de Momo em Porto Velho deviam ser os desfiles das escolas de samba da cidade que neste ano foi “burocraticamente” adiado. Ou seja, em Rondônia só há desfile depois do carnaval. Nada anormal para um lugar em que a Semana Santa é encenada em junho, constroem-se pontes desnecessárias, comemora-se a data maior do Estado em dois meses diferentes, humoristas são levados a sério e políticos, na brincadeira. Muitos dizem que essas escolas de samba sempre serviram de inspiração para as suas homônimas do Rio de Janeiro e de São Paulo, por isso desfilam sem ser carnaval só para chamar mais a atenção do mundo. Na passarela, encenam um espetáculo de rara beleza e encantamento que chega a emocionar o enorme público que paga para se deliciar com aquilo. Carros alegóricos muito bem feitos e milimetricamente postados na avenida, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, baianas, sambistas afinados, belas e politizadas músicas, lindas mulatas sambando como ninguém, temas extremamente pertinentes e cadenciados, jurados excepcionais. É só festa.
      O samba só pode ter sido inventado em Porto Velho, não resta a menor dúvida. Perder o desfile adiado é um crime de lesa-pátria. Uma demonstração de falta de amor a Rondônia e a Porto Velho. Mas não entendi por que a Assembleia Legislativa de Rondônia, a Casa do Povo, não será representada na avenida. Lugar de políticos honestos e trabalhadores e onde nunca houve roubalheira nem negócios escusos, a ALE poderia ter escalado alguns de seus membros para sambar na avenida já que muitos deles adoram fazer o povo dançar. E agora com 542 milhões de reais em empréstimos que o nosso Estado receberá de Brasília, certamente essa dança vai continuar firme e forte, pois cada centavo deste será empregado em benefício do nosso sofrido e batalhador habitante, mas que é feliz por ter carnaval. Na avenida haverá uma faixa com os dizeres: “seja altruísta, faça voto de pobreza e aceite morar somente em Rondônia”, o quê ela quer dizer? Por tudo isto, obrigado, Senhor! Dizem que és brasileiro, mas tenho certeza absoluta que és rondoniense e que adoras este lugar abençoado.  Somos felizes!






*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

E viva o carnaval

 
“O carnaval de Rondônia chega a ser bizarro, esquisito mesmo. Há um bloco cujo nome é Galo da Meia Noite. Deveria ser Galinha da Meia Noite em homenagem aos otários, pois galinha é um animal que coloca um ovo bem grande, se rasga toda e ainda sai cantando alegre e feliz por ter machucado o traseiro. Boa parte do povo de Rondônia age como se galinha fosse, pois foi roubado em duas ocasiões (Operação Dominó e Operação Termópilas cujos integrantes já estão livres, leves e soltos), vai pagar uma dívida de mais de meio bilhão de reais, tem a capital mais suja e imunda do país, possui uma corja de políticos crápulas e ladrões quase sem igual, uma Assembléia Legislativa que só produz escândalos e roubalheiras, um prefeito da capital que nunca consegue terminar suas obras, um dos trânsitos mais caóticos do Brasil, um hospital que mais se parece um açougue e que ninguém resolve o problema, 300 mil famélicos dentre outros infinitos gargalos sociais. E ainda assim esse povo, alegre e feliz, vai às ruas para comemorar. Ninguém sabe o quê se pode comemorar nestas terras karipunas. Deve ser também a síndrome da hiena, um animal nojento e asqueroso que se alimenta de carniça e vive rindo o tempo todo da própria desgraça.”

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O triste fim de uma epopeia



“Porto Velho e Rondônia têm praticamente a sua origem no rio Madeira e na E.F.M.M., mas nunca se deu a devida importância para estes monumentos. Este ano, a velha ferrovia, totalmente depredada, mutilada e abandonada, completa um século de existência e como presente maior ganhou a fúria dos banzeiros assassinos da hidrelétrica que a maioria dos rondonienses aceitou construir para beneficiar outros Estados. Este golpe de misericórdia apagará os últimos resquícios de uma epopeia que encantou o mundo, mas parece que nunca sensibilizou os filhos desta terra. O velho Madeira está domado, assoreado, enfurecido e, completamente impotente, observa a alegria da transposição, do Shopping Center, das passarelas, da inútil ponte e do falso progresso que trouxe dinheiro para ser desviado pelos meandros da corrupção.” Professor Nazareno

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Mais um feriado nacional?



   “O Dia do Mal”


Professor Nazareno*


No Brasil, foi criado em 2009 o Dia do Bem. Várias ONGS, parte da classe política e associações beneficentes, que não têm muito que fazer, criaram esse dia com o intuito de oferecer cortesia com o chapéu alheio. Uma forma legal para se redimir publicamente das maldades cometidas diariamente contra uma população de pobres e miseráveis.  Uma pequena esmola da elite num vasto oceano de fartura. Afirmam que o Dia do Bem não é só doar alimentos, mas também fazer uma prestação de serviços oferecidos gratuitamente à comunidade como corte de cabelos, cadastros de senhas para os programas sociais do Governo, aplicação de vacinas, atividades esportivas dentre outras ações. Mesmo com esse dia, as mazelas crônicas existentes na nossa sociedade crescem absurdamente a olhos vistos. O óbvio é que se há apenas um dia para o bem, significa dizer que os outros 364 são do mal. Então, a solução seria criar um dia para o mal, os outros seriam do bem. Uma data única para a remissão dos nossos pecados. 
     Nesse dia, o Dia do Mal, os brasileiros fariam uma profunda reflexão sobre os seus mais variados problemas. Logo pela manhã, todos de mãos dadas se perguntariam para que serve o Poder Legislativo do país. Em Porto Velho, por exemplo, qual a função da Câmara de Vereadores além de respaldar bovinamente as decisões do Executivo municipal? Por que cinicamente e na contramão do politicamente correto em quase todos os municípios brasileiros aumentaram o número de vereadores? E o Poder Legislativo do Estado que serventia tem além de nos envergonhar nacionalmente? Ficaríamos também sabendo nesse dia que a função de todo policial militar é servir à comunidade como agente de segurança e não torturar presos. O Dia do Mal serviria também para fazer um mutirão e limparmos a cidade de Porto Velho das imundícies e carcaças de animais mortos. Por que será que esta cidade fede tanto a carniça e ninguém faz nada para limpá-la? Será que já nos acostumamos com tanta sujeira e lama?
No Dia do Mal, a maioria dos sites eletrônicos de Porto Velho, ao contrário dos principais jornais do Brasil e do mundo, não desejaria mais se transformar em noticiosos impressos. Quantas árvores não seriam poupadas para fabricar papéis? Os comentaristas desses mesmos sites fariam, enfim, as pazes com a Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Todas as escolas públicas da cidade teriam recursos de sobra para desenvolver suas atividades pedagógicas e os pais, maiores interessados na educação dos jovens, participariam diretamente da formação dos seus filhos. O eterno açougue João Paulo Segundo finalmente seria transformado em Hospital de Pronto Socorro e não haveria mais necessidade de trazer, a custo milionário e pago certamente com o dinheiro do contribuinte, emissoras de televisão de fora para denunciar o que todo mundo já sabia. A Unir, com toda certeza, usaria a data para mostrar competência aos vestibulandos e à comunidade. Pesquisa e extensão em vez de “só papel higiênico”.
Se as autoridades não criarem o Dia do Mal, a população devia se unir e criá-lo por conta própria. Haveria grandes passeatas pelas cidades e a Justiça daqui, como faz nos carnavais fora de época, interditaria várias avenidas que têm importância vital para os moradores só para realizar tal evento. Até a fumaça das queimadas tão comum nos “Céus de Rondônia” e que ninguém nunca sabe quem a produz nem de onde vem, diminuiria. Que dia memorável seria esse. O problema é que não seria distribuída nem vendida espécie nenhuma de droga nem de bebida alcoólica, como se faz todos os anos durante o carnaval. Tinha que ser algo voluntário mesmo. Também não haveria shows de dupla caipira do momento nem patéticos apelos fundamentalistas para atrair multidões de imbecis e alienados. Em Porto Velho, faríamos uma profunda reflexão sobre a tolice que fizemos de aceitar hidrelétricas em nosso combalido meio ambiente  para beneficiar os outros e construir ponte caríssima apenas para transportar mandioca.
Nesse dia, o povão não assistia ao BBB, não veria jogos de futebol e nem entraria em nenhuma Igreja para orar. Numa inédita concessão, os “poucos” maus políticos do Brasil e de Rondônia teriam permissão para usar esse dia, e só esse dia mesmo, para roubar dinheiro público à vontade, enganar seus muitos eleitores otários, tripudiar da população honesta que ainda resta ou aumentar mais a já pesada carga tributária do país. Todo mundo se lembraria do Dia do Mal como uma espécie de dia nacional de ação de graças. Algo inesquecível nos corações e mentes de cada brasileiro. Rondônia não seria mais conhecida como Roubônia e todo eleitor daqui pediria e conseguiria finalmente a cassação dos oito deputados propineiros. Caçar e cassar políticos seria um jogo que entreteria a todos. Até o PT governaria bem neste dia e os viadutos de Porto Velho, enfim, seriam terminados. O único dia do ano em que não seríamos governados por um blog nem por filosofias baratas seria o êxtase, uma espécie de apocalipse da felicidade. Alguém pode nos fazer isto? Mas há uma pequena dúvida: com tanta gente ruim e desonesta existente no Brasil o correto não seria “Dia do Mau”?







*É Professor em Porto Velho