domingo, 31 de maio de 2009

Rondônia, uma nação soberana?








Ivo Cassol, King Jong Il e a bomba atômica


Professor Nazareno*


Se o Estado de Rondônia fosse um país soberano teria, de acordo com o seu PIB, uma classificação muito modesta em relação às outras nações do mundo. Dentre os 180 países pesquisados, nós ficaríamos na incômoda 152ª posição. Mais ou menos junto ao Haiti, Burkina Fasso (país miserável da África sub-saariana) e Papua Nova Guiné, (República de economia desprezível da Ásia/Oceania) países que dispensam maiores comentários. Isso mesmo. Com um Produto Interno Bruto um pouco inferior a cinco bilhões de dólares, representamos dentro da federação apenas meio por cento dos recursos nacionais. Uma posição pífia e pra lá de ridícula. Seríamos apenas os campeões em devastação ambiental, desrespeitos à natureza e em bizarrices na área política.

Se na economia os números de Rondônia são desastrosos, na política também não há notícias animadoras. O nosso “presidente” seria Ivo Narciso Cassol, um pseudo-estadista que está enfrentando sérios problemas internos. Existem relatos de que o mandatário maior do fictício país tropeça até na própria língua oficial da nação. Há acusações de ter sido reeleito por ter comprado votos a cem reais (apenas 50 dólares norte-americanos). Fatos que podem tirá-lo do poder. Neste caso, assumiria os destinos do país o todo-poderoso Neodi Carlos, presidente do Legislativo nacional. O nosso Congresso Nacional seria a Assembléia Legislativa do Estado (pasmem). Qualquer semelhança com o legislativo dos países acima citados seria mera coincidência.

Para se ter um país soberano, deveria haver também a questão relacionada à segurança interna. Temos uma Base Aérea e meia dúzia de aviões (na verdade “teco-tecos” enferrujados e sobras da Segunda Guerra) para nos defender. Faríamos fronteira com a Bolívia e o Brasil, a décima economia do planeta. Deste, por razões óbvias, jamais sofreríamos qualquer ataque. O perigo estaria nos ‘hermanos’ do outro lado do rio Guaporé. A nossa infantaria teria condições de repelir um ataque dos bolivianos? Talvez sim, pois já demonstramos “nossa bravura” ao invadir um terreno destinado à construção de um teatro em pleno centro da capital do país. À marinha, caberia a difícil tarefa de explicar por que os barcos de passageiros do rio Madeira partem vazios e chegam cheios de gente aos seus destinos...

País soberano, imprensa livre. É o que reza qualquer manual. Mas grande parte da imprensa de Rondônia é composta de jornalistas sem formação acadêmica e a serviço de algum político de plantão. Existe o site que "representa" a Prefeitura Municipal, o site da Assembléia Legislativa, o site deste ou daquele político e assim por diante. Aqui seria um dos únicos países do mundo cuja imprensa teria cor: seria marrom. Esta deprimente postura se verifica também, de um modo geral, nos jornais impressos, nas rádios e na televisão. São os formadores de opinião a serviço do nada e da burrice. É a cafajestada formando cafajestes. Triste destino de um país fadado à ditadura dos pasquins e da ‘gambiarra’ oficializada dentro das redações.

Entretanto, como país soberano, Rondônia não teria a bomba atômica, exemplo às avessas da Coréia do Norte e do seu ditador King Jong Il. Rondônia, dentro da realidade do país, seria a bomba atômica. Com um governador ameaçado de perder o mandato a qualquer momento, uma imprensa amordaçada por questões econômicas, um Legislativo inoperante, forças armadas adormecidas, problemas ambientais em todas as frentes e uma população sem nenhuma identidade cultural, este fictício país estaria fadado ao desaparecimento. Não seríamos uma reles republiqueta de bananas ou um dos incontáveis países miseráveis dos continentes africano e asiático, mas uma nação sem nenhum prestígio dentro do contexto do mundo globalizado. Seríamos, na verdade, um nada ou a segunda pessoa do “quase nada”.



*É professor na escola João Bento da Costa em Porto Velho


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Você também é consumidor da Caerd?



“Água mole em pedra dura...”

Professor Nazareno*

Imaginemos duas cidades brasileiras de duas regiões bem diferentes entre si. Porto Velho, capital do estado de Rondônia com aproximadamente 400 mil habitantes, região Norte do país, e localizada em plena floresta Amazônica e Cabaceiras quase um vilarejo empoeirado com pouco mais de 4 mil pessoas, na região do Cariri paraibano, uma das regiões mais secas do mundo e sem dúvida a região mais árida do país com um índice pluviométrico baixíssimo. Certamente o que não é comum entre as duas cidades citadas é a abundância de água em uma e a escassez na outra. A miséria com certeza se faz presente nas duas bem como a existência de ruas esburacadas, sujas e fedorentas.

Banhada pelo rio Madeira (já sentenciado de morte), um dos 15 maiores rios do mundo em extensão e o segundo maior do Brasil em volume de água perdendo somente para o rio Amazonas, além de uma infinidade de lagos, furos, igarapés e um dos mais altos índices de chuva do mundo e próxima a outros rios também grandes e caudalosos como o Candeias, Jaci-Paraná e Jamari, a capital de Rondônia sofre há anos com a falta do precioso líquido nas torneiras domésticas. Há promessas (só promessas mesmo) de água potável para todos na capital com as obras do PAC. É a esmola que querem nos dar em troca das hidrelétricas. A cidadezinha de Cabaceiras tem água potável 24 horas por dia. Lá, os paraibanos não sabem o que é uma bomba para poço nem talvez o significado de artesiano.

A Cagepa, Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba, abastece diuturnamente os mais de 200 municípios paraibanos com água potável e com pressão suficiente para fazer jorrar as torneiras sem precisar de bombas nem de caixas de água ou cisternas. Enquanto isso a Caerd, a nossa companhia de água (só água mesmo porque não há esgotos por aqui), contenta-se em mandar a cada dois dias um mísero filete do líquido que mal chega às casas dos rondonienses. Sem bomba de captação, adquirida por conta do pobre consumidor, não há abastecimento. Não são poucos os bairros da capital que não são atendidos pela estatal. Poço comum, geralmente cavado ao lado de uma fossa, ou artesiano é uma rotina para a maioria dos nossos habitantes.

Se com tanta água disponível a Caerd (que de tão velha e ultrapassada ainda não atualizou a sigla, pois usa a mesma desde quando isto aqui ainda era território) não consegue abastecer dignamente a população, resta saber para que serve ela, então? Por que os inúmeros governos que por aqui passaram simplesmente não privatizaram o sistema de captação e distribuição de água? Quando será que a nossa população terá água encanada nas suas torneiras sem precisar comprar bombas, cavar poços e fazer cisternas? E a cidade de Porto Velho, uma capital de estado, quando terá rede de esgotos? Ou será que tudo isso são apenas sonhos distantes? A Sanepar, Companhia de Água e Esgotos do Paraná já pensa, por exemplo, em duplicar a oferta de serviços para seus clientes disponibilizando dois tipos de água: a tratada para consumo humano e a sem tratamento para serviços gerais como descargas, lavagens de carros e outros fins.

Enquanto as companhias de abastecimento de água de outras unidades da federação já estão em ritmo de Primeiro Mundo, os porto-velhenses, apesar de tanta disponibilidade do produto, lutam desesperadamente para conseguir superar mais um verão sem água. E provavelmente com muita poeira. E não adianta muito apelar para as soluções alternativas. Enquanto por aqui um garrafão de 20 litros de água mineral custa hoje entre 3 e 4 reais a unidade, em Cabaceiras, lá no Cariri seco da Paraíba, está custando menos de 2 reais. Dá para entender um absurdo destes? “Mas para uma cidade que produzia maracujás quando era pequena e depois que cresceu inexplicavelmente perdeu esta característica pode-se esperar de tudo.” É, parece que o ditado popular está certo mesmo: “Deus só dá asas a quem não sabe voar...”.


*Leciona em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Aluno de Escola Pública também produz texto "porreta"




TEMA: Segundo dados de órgãos ligados ao Estado, o Brasil chega a produzir quase três vezes mais alimentos acima da necessidade de sua população. No entanto, o Programa Fome Zero do Governo Federal detectou há quatro anos, que havia no país mais de 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, ou seja, passando fome. Produza um texto dissertativo apontando possíveis causas da fome no Brasil. O que fazer para distribuir melhor os alimentos no nosso país? Seria a fome uma instituição humana ou divina? Como se livrar desta incômoda realidade?



“O Sistema da Desigualdade”


Jâmisson de Araújo Conceição*


No século XIX, Karl Marx (criador do Socialismo Científico) apontou diversos problemas no sistema Capitalista, tais como a desigualdade gerada por um sistema que produz alimentos que dariam para alimentar toda a humanidade, mas que simplesmente não o faz. Tal disparidade ocorria e ainda ocorre, porque vive-se (SIC) em uma sociedade movida pela “Mais Valia”, ou busca por lucros na linguagem cotidiana. Com isso fica claro que a fome do século XXI é fruto da desigualdade humana.

O Brasil por sua vez vive um momento de grandes contrastes tecnológicos, pois se no Centro-Sul o acesso a (SIC) informação está ao alcance de quase todos, no Norte e Nordeste são poucos os que têm acesso aos meios de informação, e consequentemente não conseguem se adaptar a este mundo globalizado. Logo se percebe que estas pessoas ficam excluídas e com dificuldades para conseguir um emprego digno que garanta a sua sobrevivência e a de sua família se houver.

Outro fator crucial para as desigualdades e consequentemente para a fome no Brasil é a política de distribuição de alimentos. Como um país que é o maior exportador de carne bovina, entre outros produtos pode ter tamanha pobreza e fome por parte de seus cidadãos? Isso ocorre pois (SIC) a maior parte do capital brasileiro está nas mãos de multinacionais (?) que visam apenas o (SIC) lucro retratado por Karl Marx.

Em um país com tamanha capacidade produtiva de alimentos não deveria haver fome. Isso pode ser conquistado mudando as políticas públicas, criando projetos que tenham como principal finalidade capacitar pessoas para que estas possam criar formas de conseguir sua subsistência, e a cima de tudo, devem ser feitos grandes investimentos na educação, pois foi assim que países europeus após a 2º (SIC) Guerra Mundial conseguiram diminuir drásticamente (SIC) os índices de pobreza e fome.


*Aluno do Colégio João Bento da Costa – Terceirão, turma 09 da tarde.


SIC é uma expressão latina que significa "assim mesmo, dessa forma, foi escrito assim por mais absurdo ou errado que pareça". Por isso, onde aparece esta expressão ou interrogação no texto acima deve-se entender que foi dessa forma mesmo que o aluno escreveu. E claro que isto (os poucos erros) não tira o mérito do bom texto. Uma pena que a maioria dos textos produzidos sobre este tema não tenha correspondido às expectativas. Leitura, meus queridos, leitura e todos terão plenas condições de produzir uma maravilha de texto como este. Precisa dizer que estou orgulhoso? Parabéns!

sábado, 16 de maio de 2009

Que nome deve ter o nosso teatro estadual?




O Nome do Novo Teatro


Professor Nazareno*


O nome do Estado de Rondônia é uma homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, um mato-grossense, como todos sabem. Treze anos após a criação do Território Federal do Guaporé, de terras desmembradas do Estado do Mato Grosso e do Amazonas, e uma justa lembrança do rio e do belo vale que nos separa do território boliviano, resolveram fazer proselitismo com os forâneos, ainda que no início o sertanista não tenha aceitado o fato, dois anos antes de sua morte deixou-se vencer pela idéia.

A cultura de agradar ao que é de fora, muito comum no “comportamento de vira-latas” do brasileiro, segundo o cineasta Glauber Rocha, também é bastante forte entre os rondonienses. A começar pelo nome da maioria das ruas da nossa capital. A principal avenida do centro de Porto Velho se chama Sete de Setembro, isso é fato. Nenhum problema já que nos consideramos brasileiros mesmo. Mas apenas seis dias depois (13 de Setembro) o nome soaria bem mais familiar para os que viveram a epopéia do Território. Avenidas como a Jatuarana, Calama e Rio Madeira são honrosas exceções.

Já a maioria das outras ruas importantes do centro da capital leva nomes pouco familiares para quem nasceu e vive aqui: Percival Farquar, Campos Sales, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Marechal Deodoro, Almirante Barroso, Duque de Caxias e até a atual Jorge Teixeira, que não pertence mais aos rondonienses, tinha o nome de John Kenedy para homenagear um presidente que nem do Brasil era. O único nome apropriado parece ser o da capital. O porto, que não existe, é velho mesmo. Um barranco sujo, fedorento, mal cuidado e cheio de imundícies dá nome à cidade.

Por isso a construção do teatro pelo Governo do Estado pode estar no centro de uma grande polêmica. Inicialmente o Exército Brasileiro tentou vetar a idéia invadindo o terreno, com tanques e tropas, numa operação patética de quem não tinha e nem tem o que fazer. E este teatro deve ter um nome, claro. A prefeitura de Roberto Sobrinho incrivelmente inovou nesta área e batizou de “Banzeiros” o teatro Municipal. Por que não colocar o nome de Ivo Cassol? Ou então o nome (desconhecido para muitos) do General da 17ª Brigada de Infantaria e Selva? Guerreiros da cultura, ora.

O que não pode acontecer é fazer o que fizeram com o Ginásio de Esportes (?) Cláudio Coutinho (que certamente confundia Rondônia com Roraima e nunca veio aqui). Seria óbvio que o nome do novo teatro refletisse um pouco da nossa realidade, do nosso cotidiano, da nossa fauna ou da nossa riquíssima flora. Devemos ficar alerta, pois os rondonienses encenam a Semana Santa em pleno mês de junho contrariando assim o calendário ocidental, além de importar nomes exóticos para os seus festejos e arraiais como o ‘Flor do Cacto’ e o famosíssimo e polêmico ‘Flor do Maracujá’.


*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Onde estão os falsos defensores da cultura desta terra de ninguém?



MERCADO CULTURAL:
A MEMÓRIA TRATORADA E A EXALTAÇÃO DA CÓPIA

Victor Gabriel*


Há pouco mais de um ano, quando do segundo atentado covarde que varreu do mapa, por definitivo, as últimas reminiscências arquitetônicas originais do antigo Mercado Público do Município de Porto Velho, símbolo de uma era arquitetônica da cidade, marcada pelo estilo neoclassicista eclético, flamejante, vários artigos foram publicados na mídia local, assinados por renomadas personalidades do segmento cultural. Consternados com o sinistro, artistas e intelectuais deitaram opinião sobre o lamentável e traiçoeiro golpe aplicado no nosso patrimônio histórico.


Um equívoco de proporções imensuráveis foi a demolição de um relevante bem cultural do povo de Porto Velho, ícone de resistência da memória local, levando junto, desta vez e para todo o sempre, o originalíssimo Bar do Zizi, fato, inclusive, tão bem abordado por Antônio Serpa do Amaral Filho, no artigo publicado à época sob o título “Morte do Mercado – o solo mais fúnebre do maestro Júlio Yriarte!”. Engrossaram as fileiras dos indignados o advogado Ernande Segismundo, assinando o texto “Mercado Central - Indignações, versões e fatos”; e o Grupo Cidade, Cultura e Inclusão – GCCI (coletivo de artistas e intelectuais empenhados na defesa intransigente da cultura local), publicando o artigo “Entre o pó dos escombros do Mercado Municipal e as cinzas do carnaval”.


Do antigo e legítimo Mercado Público, pela segunda vez vítima indefesa dos arroubos arrogantes de colonizadores aventureiros e analfabetos estéticos, ora da direita ora da esquerda, nada sobrou. Caçambas e tratores, com possantes esteiras de ferro, conduzidos por exploradores insensíveis, alheios aos estilos arquitetônicos de época, sem compromisso com a história local, avançaram, definitivamente, sobre parte da memória, da história e do patrimônio cultural de caboclos, mestiços, beradeiros, karipunas e karitianas, demolindo, desta feita, o que sobrou da antiga edificação do Mercado Central, sem deixar vestígio algum de um capitulo de nossa insipiente história recente.


Nesta sexta-feira, 15 de maio de 2009, o executivo municipal, iletrado nas formas dos estilos da linguagem arquitetônica e aniquilador algoz e implacável da cultura local, entregará à população da cidade, em especial para o segmento cultural, uma cópia exata do antigo prédio que um dia existiu como o original Mercado Público Central. A cidade será presenteada com um ‘legítimo’ clone sem memória, desprovido das marcas do tempo, sem as chagas que traduzem o fato histórico vivido. Receberemos do poder público municipal – o demolidor de memórias - uma edificação clonada daquela que outrora fora uma imponente e legítima arquitetura do nosso histórico Mercado Público.


Não se trata de uma atitude redimida e justa da autoridade humana que reconhece o erro. Trata-se, pois, de uma ação equivocada em sua origem, assentada na petulante concepção de alguém que pensa por todos e decide sozinho, sem dar ouvidos aos atores sociais - atuantes no segmento cultural. E, menos ainda, a cópia do Mercado Cultural não é um produto resultante de olhares atentos e sensíveis de gestores públicos que contemplam as experiências exitosas de cidades vizinhas, como Rio Branco, no Estado do Acre, inclusive conduzida por companheiros da mesma legenda partidária que administram a cidade de Porto Velho, que naquela capital tem desenvolvido importante e imponente programa de revitalização do centro antigo da capital acreana, respeitando a história daquele povo.


No que diz respeito às cópias, dois pesos e duas medidas norteiam as atitudes da prefeitura de Porto Velho, no campo da institucionalização das políticas públicas, aplicadas em qualquer que seja a área de atuação do nosso executivo municipal.


Temos assistindo por meio da mídia local, em especial dos jornais eletrônicos, as inúmeras diligências de ficais da Secretaria Municipal da Fazenda, resguardadas por equipes de Policiais Militares, percorrendo as principais vias do comércio central de Porto Velho, com a antipática missão de confiscar produtos pirateados, principalmente milhares de cópias de CD’s e DVD’s. De um lado, a força pública, estrategicamente posicionada sobre fortes argumentos de se combater a evasão de milhares de reais que deixam de entrar nos cofres públicos, sob forma de impostos não recolhidos, desviados a partir da comercialização de produtos falsificados - cópias e arremedos esdrúxulos clonados, criminosamente, de produtos e objetos originais -, fartamente vendidos nas vias púbicas da cidade. Do outro lado, o trabalhador informal, desempregado, entrincheirado no comércio de quinquilharias falsificadas, buscando uma forma de sobrevivência, enquanto foge da autoridade policial e dos ficais da fazenda, combativos e implacáveis confiscadores de mercadorias falsificadas.


Todo e qualquer cidadão probo e reto, com posturas ancoradas na ética, no respeito e na verdade, que se colocar, porventura, diante deste dilema atroz, certamente se posicionará, sem hesitar, nas fileiras do combate ao crime, à falsificação e à cópia.


Contudo, temo que este mesmo munícipe ético e sério, provavelmente analfabeto estético, durante o evento de inauguração do ‘velho-novíssimo’ Mercado Cultural, esteja orgulhosamente, sentado nas primeiras fileiras de cadeiras, entusiasmadamente ovacionando, na condição de subserviente inconsciente, a autoridade apagadora de memória. E, feliz, aplaudirá a extinção de sua própria história, exaltando a cópia sem memória, imposta como símbolo de uma nova era de preservação do bem cultural público.


A cópia tem se colocado como instrumento contumaz e conquistado relevantes espaços e mentes nas sociedades modernas, facilitada pelo extraordináio advento da rede mundial de computadores. A cultura do “control c control v”’ (copiar e colar) marca profundamente, por exemplo, as atitudes de alunos internautas de todos os níveis de ensino. Sobre este tema, o da cópia descarada e abundante, Roberto Farias (recentemente falecido) e Sonia Sampaio, Professores do Departamento de Línguas Vernáculas da UNIR, com muita propriedade falam a este respeito, em Artigo intitulado “O que é um texto? Revisitando um tema já antigo”, publicado no livro Formação Docente e Estratégias de Integração Universidade/Escola nos Cursos de Licenciatura, vol. II, organizado por Nair Ferreira Gurgel do Amaral e Tania Suely Azevedo Brasileiro. No artigo, os professores exemplificam seus raciocínios, citando um fato ocorrido na campanha eleitoral de Porto Velho em 2004, quando “um candidato foi acusado publicamente de plagiar, em sua dissertação de mestrado, passagens de trabalho já publicado. O episódio (...), curiosamente, não encontrou eco nos eleitores (...). A denúncia não alterou o resultado da eleição na medida em que o candidato foi eleito (...)”.


Como podemos observar, a cópia não é mérito apenas de marginais e vendedores ambulantes de CD’s e DVD’s, de quinquilharias e bugigangas pirateados, meide in China. Vai além, muito além do alcance da razão, e se coloca para nós como políticas públicas assertivas para preservação do patrimônio cultural.


Resta-nos um consolo: o tempo é o senhor da razão e, certamente, fará a distinção entre o joio e o trigo. O antigo Mercado Público, hoje Mercado Cultural - também apelidado e já conhecido como o Mercado Cotó, tal qual as idéias de quem o concebeu - de uma forma ou de outra, entra para a histórica da arquitetura desta cidade, seja pela bizarra história do original demolido propositalmente ou pela cópia, sem sentido, erguida – um falso fausto - para substituir o original. Fica-nos a lição de aprendermos com os nossos erros. Quanto ao gestor público, autor da façanha que ‘tratorou’ e decretou o fim de uma edificação histórica e emblemática, por sua atitude covarde e insensata, aplicada ao campo das políticas públicas para preservação do patrimônio, este, certamente, passará à história da cultura do município de Porto Velho, entrando pela sombria porta dos fundos da história oficial, como o grande realizador de fiascos artísticos. O entregador de falso ouro.



(*) Aluno do Curso de História da Universidade Federal de Rondônia e músico. Endereço eletrônico: victorgabriel1963@gmail.com.


domingo, 10 de maio de 2009

Quem acredita em duendes?




“Parabéns, mamãe, pelo seu dia!”


Professor Nazareno*


Hoje é o segundo domingo de maio, dia das mães. O comércio está em festa. Mesmo sendo um domingo ensolarado, o comércio de Porto Velho, e de todo o país, funciona normalmente como se fosse um dia qualquer da semana. Esta data só perde em faturamento para o Natal quando se comemora outra fictícia e interesseira data: o nascimento inventado de Jesus Cristo. Eu não tenho mãe há 20 anos, por isso já consigo observar sem remorsos a imbecilidade alheia que acompanha os hipócritas há tanto tempo.

Hoje, as floriculturas e outras casas do gênero, fazem a festa mesmo que amanhã, uma segunda-feira modorrenta, as lixeiras estejam repletas de rosas, cravos e guirlandas que serviram de suntuosos presentes no dia anterior. Hoje é dia das mães. O dia consagrado àquelas que com seu inestimável amor... etc. e tal e outras besteiras e baboseiras do gênero que fazem os incautos de plantão visitarem cemitérios, mandarem celebrar missas, comprarem presentes, caríssimos ou não, para presentearem a outrora “rainha do lar”.

Rainha do lar, que reino pequeno e tosco. Mãe é mãe com ou sem dedicação. Com ou sem dia dedicado a elas pelo comércio. Não existe um dia apenas no ano como dia da mãe. Dia da mãe é todo dia. Se existe um único dia para as mães, os outros 364 dias do ano podem ser entendidos como dias que não são da mãe. Mas, em contrapartida, existe também o dia do pai, o dia dos namorados, do avô, da avó, do professor, da mulher, do índio e até da sogra (levando em conta que também é um ser humano) que é o 28 de abril. A criatividade dos comerciantes não tem limites. Já pensou quando inventarem o dia do político? Feriado nacional e com direito a muitas festas...

Mas por incrível que pareça já temos uma conduta politicamente mais correta hoje em dia: os comerciantes já não incentivam nas propagandas da mídia, como há alguns anos, a compra de panelas de pressão, geladeiras, jogos de sofá e fogões de oito bocas para “presentear a idiota da Amélia”, aquela senhora patética, só que abrem, num dia de domingo, os seus comércios que vendem, dentre outras coisas, estes eletrodomésticos à espera de incautos que ainda acreditam na existência do amor à base de bugigangas e outras tantas quinquilharias.


*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com


sábado, 2 de maio de 2009

"Se a moda pega..."



Católicos “made in Paraguai”

Professor Nazareno*

Religião não se discute. Política e futebol também não, diz o anedotário popular. Mas diante de tanta confusão provocada por vários integrantes da Igreja Católica tanto no Brasil quanto em vários países do mundo, a exemplo dos Estados Unidos, onde vários padres recentemente se envolveram em escândalos de pedofilia, não há como deixar de se promover uma boa discussão sobre este assunto. Recentemente o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica em seu país, assumiu a paternidade de um filho, concebido quando ele, Lugo, ainda era religioso e a mãe do garoto tinha apenas 16 anos. Duas outras mulheres também afirmam que tiveram filhos com o presidente e exigem que ele assuma a paternidade. Há relatos que seriam quase duas dezenas os ‘herdeiros’ do viril religioso, agora sério candidato a “pai de todos os paraguaios”.
Por que integrantes de algumas religiões não podem constituir uma família de forma absolutamente normal? Por que um dos votos da Igreja Católica é justamente o voto de castidade? Os mandatários católicos afirmam ser muito difícil para um homem normal conciliar o sacerdócio com a vida em família. Pura lorota. Os padres e freiras não podem casar para que não apareçam filhos e óbvio, herdarem os bens da Igreja Católica que, aliás, não são poucos. Não é à toa que outro voto seja exatamente a pobreza. Castidade, pobreza e obediência não necessariamente nesta ordem, são os votos que todos os candidatos a padre, ou freira, estão sujeitos a aceitar. Uma verdadeira ditadura teocrática imposta a esses cristãos. Além do mais, no caminho inverso ao que prega a Santa Sé, muitos cristãos católicos têm filhos em vários casamentos e como garanhões, às vezes, se orgulham das muitas mulheres que já tiveram. Cadê a indissolubilidade familiar que pregam para os outros?
Talvez não devêssemos polemizar ainda mais. Afinal, religião é um dos assuntos que não se discute. Mas estaria um religioso apto a opinar sobre temas que desconhece? A sexualidade é um exemplo (Lugo, claro, é exceção). Talvez este seja um dos problemas da iminente extinção dos católicos no Brasil. Em uma publicação do IBGE sobre o censo de 2.000, observava-se que os católicos brasileiros haviam diminuído de 83,8% para apenas 73,8% em apenas uma década. Enquanto isso, os evangélicos tinham crescido de 9% para 15,4%. Hoje, quase uma década depois, estes números estão bem maiores. E se a tendência continuar com este impressionante ritmo, em menos de um século, o Brasil terá que devolver o Núncio Apostólico ao Vaticano. Não seria mais lógico para o catolicismo abolir o celibato clerical para não mais ter alguns de seus integrantes envolvidos em escândalos de pedofilia ou comparecendo às barras dos tribunais e tendo que, humilhados, assumirem a paternidade de vários filhos?
Já pensou se todo mundo resolvesse, como gostaria a Igreja Católica, ser padre ou freira? A população do planeta simplesmente acabaria. A humanidade pararia de crescer. E como ficaria a máxima divina “crescei e multiplicai-vos”? É provável que Deus não veja esta posição da Igreja Católica com bons olhos. Afinal não se pode entender como simples homens decidem interferir no mais sublime dos instintos humanos: a perpetuação da espécie. Como não há sentido em se multiplicar após a morte (levando-se em consideração a existência da vida eterna), os pregadores evangélicos e de outras religiões ganham espaço neste terreno prometendo o paraíso aqui mesmo na terra e praticando sexo, muito sexo mesmo. Só que de maneira legal e ética e evitando assim esse constrangimento perante o mundo que se diz civilizado.



*O professor Nazareno leciona em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)

sexta-feira, 1 de maio de 2009


QUANDO NÃO SE ENTENDE O QUE ESTÁ LENDO


Suamy V. Lacerda de Abreu

Professor de História

Quem acessou o blogdotionaza.blogspot.com, e viu a proporção que tomou a contenda criada pelo Artigo “Em Rondônia é assim mesmo...”, de 22 de março de 2009(domingo), com mais de 100 respostas contendo apoios e repúdios e, tiver o mínimo de equilíbrio, após ler alguns posicionamentos de alunos e populares terminará até pela falta de ver o ciclone que a turma do repúdio enxergou dando razão ao “tio Nazareno”. Isso se for considerado que em um estado democrático de direito é livre aos indivíduos a emissão de ponto de vista crítico ou não a respeito de qualquer assunto que lhe incomodar ou que for de interesse público. O que se viu foi um ataque desorganizado, atabalhoado contra o artigo do professor, alguns até duvidando de sua idoneidade moral ou da qualidade de seu trabalho, outros através da livre e espontânea pressão o convidando a retirar-se de Rondônia, enfim um conjunto de posicionamentos insensatos e que terminaram por levar os mais esclarecidos a concordar com o “errado Professor Nazareno” puramente por falta de opção. Talvez o professor não tenha escolhido o melhor jogo de palavras para organizar o artigo de forma que apresentasse a mesma situação sem que a mesma fosse entendida como agressão aos rondonienses. Cabe aqui deixar claro que: quando não se concorda com a tese de alguém, se organiza uma antítese fundamentada em valores contrários ou diferentes apresentando argumentos que contraponham a tese, de forma que se consiga ao menos convencer através de idéias o público alvo à qual foi destinada a tese, isso se considerarmos a premissa que “brigam as idéias não os seres humanos”. Hoje qualquer pessoa que tiver a coragem ou autenticidade para apresentar problemas (falar a verdade) é considerado doido, e foi exatamente isso que aconteceu com o tio Naza. O que a meninada está precisando é ler um pouco mais, mais concentração em leitura para que possam entender o espírito do texto, e de estudar muito para mudar essa realidade cultural brasileira de aceitar as coisas sem questionamento. É lógico que o professor que redigiu o artigo sempre deixou claro não gostar da idéia das usinas de energia, bem como possui ponto de vista formado a respeito dos rumos da cultura regional, de futebol, de religião e outros que inclusive são contrários ao de muita gente, porém realmente necessitamos discutir as questões que envolvem o estado, o município com equilíbrio e elegância, sob a luz da ética, sempre buscando alternativas e nunca convidando cidadãos a “juntar a bagagem” e mudarem-se de cidade ou estado, até porque isso nos tornaria realmente habitantes de um rincão inóspito, criando um problema grave de ter que na pior das hipóteses esvaziar o estado. Tudo indica que grande parte dos leitores, ou não leram o texto todo, ou foram induzidos por alguém a tomar posicionamento imediatista, ou são hipócritas, ou são oposicionistas de plantão ( e aí sim, temos um problema que é o fato de vivermos em meio a extremistas). É preciso com certeza separar o joio do trigo, e entender que parte do que o professor enfatizou foi para despertar nos rondonienses que vivam mais as coisas de sua região, ou seja, que mais ardorosamente demonstrem mais envolvimento com as coisas do estado. Talvez o professor não tenha alcançado seu objetivo, porém uma coisa é certa seu blog foi bem visitado. Amém.