sábado, 2 de maio de 2009

"Se a moda pega..."



Católicos “made in Paraguai”

Professor Nazareno*

Religião não se discute. Política e futebol também não, diz o anedotário popular. Mas diante de tanta confusão provocada por vários integrantes da Igreja Católica tanto no Brasil quanto em vários países do mundo, a exemplo dos Estados Unidos, onde vários padres recentemente se envolveram em escândalos de pedofilia, não há como deixar de se promover uma boa discussão sobre este assunto. Recentemente o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica em seu país, assumiu a paternidade de um filho, concebido quando ele, Lugo, ainda era religioso e a mãe do garoto tinha apenas 16 anos. Duas outras mulheres também afirmam que tiveram filhos com o presidente e exigem que ele assuma a paternidade. Há relatos que seriam quase duas dezenas os ‘herdeiros’ do viril religioso, agora sério candidato a “pai de todos os paraguaios”.
Por que integrantes de algumas religiões não podem constituir uma família de forma absolutamente normal? Por que um dos votos da Igreja Católica é justamente o voto de castidade? Os mandatários católicos afirmam ser muito difícil para um homem normal conciliar o sacerdócio com a vida em família. Pura lorota. Os padres e freiras não podem casar para que não apareçam filhos e óbvio, herdarem os bens da Igreja Católica que, aliás, não são poucos. Não é à toa que outro voto seja exatamente a pobreza. Castidade, pobreza e obediência não necessariamente nesta ordem, são os votos que todos os candidatos a padre, ou freira, estão sujeitos a aceitar. Uma verdadeira ditadura teocrática imposta a esses cristãos. Além do mais, no caminho inverso ao que prega a Santa Sé, muitos cristãos católicos têm filhos em vários casamentos e como garanhões, às vezes, se orgulham das muitas mulheres que já tiveram. Cadê a indissolubilidade familiar que pregam para os outros?
Talvez não devêssemos polemizar ainda mais. Afinal, religião é um dos assuntos que não se discute. Mas estaria um religioso apto a opinar sobre temas que desconhece? A sexualidade é um exemplo (Lugo, claro, é exceção). Talvez este seja um dos problemas da iminente extinção dos católicos no Brasil. Em uma publicação do IBGE sobre o censo de 2.000, observava-se que os católicos brasileiros haviam diminuído de 83,8% para apenas 73,8% em apenas uma década. Enquanto isso, os evangélicos tinham crescido de 9% para 15,4%. Hoje, quase uma década depois, estes números estão bem maiores. E se a tendência continuar com este impressionante ritmo, em menos de um século, o Brasil terá que devolver o Núncio Apostólico ao Vaticano. Não seria mais lógico para o catolicismo abolir o celibato clerical para não mais ter alguns de seus integrantes envolvidos em escândalos de pedofilia ou comparecendo às barras dos tribunais e tendo que, humilhados, assumirem a paternidade de vários filhos?
Já pensou se todo mundo resolvesse, como gostaria a Igreja Católica, ser padre ou freira? A população do planeta simplesmente acabaria. A humanidade pararia de crescer. E como ficaria a máxima divina “crescei e multiplicai-vos”? É provável que Deus não veja esta posição da Igreja Católica com bons olhos. Afinal não se pode entender como simples homens decidem interferir no mais sublime dos instintos humanos: a perpetuação da espécie. Como não há sentido em se multiplicar após a morte (levando-se em consideração a existência da vida eterna), os pregadores evangélicos e de outras religiões ganham espaço neste terreno prometendo o paraíso aqui mesmo na terra e praticando sexo, muito sexo mesmo. Só que de maneira legal e ética e evitando assim esse constrangimento perante o mundo que se diz civilizado.



*O professor Nazareno leciona em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)

5 comentários:

FLH disse...

Realmente esse texto prega muitas verdades sobre a atual religião católica, entretanto, diga qual é o pai de família que iria em um momento de rebelião no Urso Branco, por exemplo, acompanhar, orar ou tentar convencer aqueles cidadãos de que aquela ação não é correta, sabendo que ali está colocando em risco a sua vida, e a sustentação de seus filhos? Um padre deve se doar complemente a igreja, e pode ter certeza que nos dias hoje, principalmente, é quase utopia acreditar que todas as pessoas poderiam resolver virar padre ou freira, impedindo assim, a perpetuação da espécie. E, podendo isso acontecer um dia, providências seriam tomadas. Possa ser até injustiça dizer isso, mas a maior diferença entre católicos e evangélicos é que um comete erros abertamente e o outro esconde seus erros atrás da crença, dita por eles eterna e sem pecados, respectivamente. Mas, a grande questão é que religião não se discute, espera-se apenas que a humanidade seja mais cautelosa em seus atos e que independente de sua opção de credo, seja capaz de usar a sabedoria e a 'fé' em prol de melhorias para sua vida e para todas as espécies que habitam a Terra.

Unknown disse...

Um fato chama muita atenção,que basta alguem, religioso ou não adquirir poder e principalmente dinheiro que ja conseguem pelomenos uma dezena de herdeiros...Não é engraçado como bastou ser presidente para esse religioso ganhar filhos? Entendam que não quero defende-lo mas é fato que pessoas como as mulheres que alegam terem filhos com este cristão só resolvem falar quando ele entra para a politica. E eis a pergunta, por que não falaram antes dele se tornar presidente?
O mairo pecado da igreja e a ganancia, mas o povo e bem pior...

Joice Brandão disse...

Hipocrisia

Anônimo disse...

Excelente texto, professor, parabéns! Disso tudo o que a maioria das pessoas que possuem um mínimo de bom senso acham. Mais uma vez, felicitações pelo texto.

Francisco Campos disse...

O articulista, no texto "Se a moda pega...", cometeu alguns deslizes feios, não sei se por desonestidade intelectual ou se por mera desinformação. Creio que o articulista que religião é basicamente escolha. Se escolhi ser católico, devo viver de acordo com os ditames da Igreja. Se há quem não siga esses preceitos, fazer o quê? Entre os Doze escolhidos por Jesus, havia Judas, não é? O joio convive com o trigo: é a vida. A Igreja Católica não é uma democracia. Há uma hierarquia e há parâmetros, dogmas, que não podem ser desobedecidos. Se alguém não gosta disso, que saia. As portas da Igreja estão sempre abertas. O senhor diz que um religioso não está apto a opinar sobre assunto dos quais desconhece; no caso, a sexualidade. Por esse raciocínio, todo oncologista deveria adquirir um câncer para conhecer melhor o seu assunto. Ou todo advogado criminalista deveria passar uma temporada na cadeia para melhor se inteirar do seu mister. O senhor diz que a Igreja gostaria que todos fossem padres e freiras. De qual documento o senhor tirou tal informação? A Ordem é um sacramento da Igreja, mas não é para todos. Jesus mesmo só escolheu doze apóstolos. Muitos são chamados, poucos são os escolhidos. Não sei se o senhor sabe, mas o Matrimônio também é sacramento da Igreja, pois, para ela, o casamento é uma vocação, assim como o sacerdócio e a vida religiosa. E mais uma coisa: para a Igreja, o ideal é que a família tenha muitos filhos. Não à toa ela considera os métodos contraceptivos como atos de egoísmo, pois um casal que não se abre para os filhos está turvando uma das razões de ser do casamento, que é a geração de descendentes. Sobre o Lugo, o senhor deve saber que ele é um dos expoentes da tal teologia da libertação, aquela infiltração marxista no âmbito da Igreja Católica da América Latina. Logo, não se pode esperar muitas virtudes de quem é educado pela cartilha marxista. Sobre o crescimento dos evangélicos, é preciso dizer que já não é tão grande como antes. Hoje o que mais ocorre é uma migração interdenominacional. Ou seja, o cara sai da Universal e cai na Mundial ou na Wesleyana. E outros simplesmente abraçam o ateísmo prático. Quanto ao Catolicismo, nos últimos anos, vê-se um crescimento no número de seminaristas. Deus, ao criar o homem, deu a ele o livre arbítrio. O homem tem o poder de escolher o caminho que quiser. Logicamente, deve arcar também com as suas escolhas. A Igreja, por sua vez, não pode mudar, pois, se ela é o Depósito da Fé e da Verdade, não deve se afastar do que Jesus pregou. Fica na Igreja quem quer. Se, mesmo às escuras, o homem peca, não deve esquecer que, para Deus, nada é invisível. Abraços!