Tomara que o Brasil
perca a Copa
Professor Nazareno*
Claro que vou torcer contra a seleção
brasileira na Copa do Mundo. Onde está escrito que quem nasceu no Brasil deve
necessariamente se alegrar e torcer pela sua seleção de futebol, ou qualquer
outro esporte, em uma competição internacional? Devemos, sim, incentivar e nos
alegrar com o bom futebol. E isto o nosso país, comparado a outras grandes
seleções, ainda não tem suficientemente para ganhar um campeonato desse porte.
Não é estranho torcer por outro país, já que não gosto de futebol e depois por
que a derrota pode representar uma das melhores coisas já vividas por esta
nação nos últimos tempos. E ao contrário do que muitos imaginam, quero que essa
Copa seja realizada: com tanto dinheiro público nela investido, cheira a
burrice, e a muito mais prejuízo, se qualquer coisa acontecer para inviabilizar
o torneio.
O Brasil não deveria ter organizado esta
festa. As previsões de desorganização, atraso absurdo nas obras, gastos
exorbitantes de verbas públicas, roubalheiras e superfaturamento infelizmente
foram todas confirmadas. Porém, protestar agora contra a sua realização é
tolice e oportunismo barato. A chiadeira
devia ter acontecido durante a fatídica decisão em 2007, quando o “Molusco
Presidente”, a FIFA e o PT empurraram suas vontades “goela abaixo”
da população sem nenhuma consulta. A absurda mistura de política com futebol
tem um único objetivo: ajudar os petistas a se perpetuarem no poder. A derrota
dos canarinhos pode frustrar as pretensões do PT e do Lula e a vitória,
certamente, vai reeleger a Dilma já no dia 12 de julho. Igual a ditadores como
Médici no Brasil e Jorge Videla na Argentina, os petistas também sabem usar o
poder do futebol.
A FIFA pediu oito sedes. Lula e o PT “marotamente”
indicaram uma dúzia de cidades. Aumentavam assim o espaço para mais propaganda
política. Um disparate sem tamanho indicar lugares em províncias atrasadas, sem
futebol e com pouca ou nenhuma organização como Manaus, Natal, Cuiabá e
Brasília para serem sedes de uma Copa do Mundo. Qual o legado que os jogos
deixarão para estes lugares além de enormes elefantes brancos que ficarão sem
nenhuma serventia depois do evento? Até Ronaldo, o tal de "Fenômeno", disse recentemente
estar com muita vergonha do atraso nas obras e na desorganização geral nesta
Copa do Mundo. Com mais de 30 bilhões de reais gastos, o Brasil vai fazer a
competição mais cara da história. A Alemanha gastou apenas 20 por cento desse
valor em 2006 e encantou o mundo com muita organização e lisura.
Torcer contra a nossa seleção nesta Copa
é a maior prova de civismo que um brasileiro pode mostrar num país onde o amor
à nação só acontece de quatro em quatro anos. Com isso, abre-se a possibilidade
de derrotar o PT nas urnas e iniciar as mudanças sociais de que tanto
precisamos neste lugar desigual e injusto. Uma provável vitória e todos ficam
anestesiados aceitando toda e qualquer injustiça. Ninguém terá coragem de sair
às ruas para fazer protestos. Hoje dá pena observar carros, casas e ruas enfeitadas
com as bandeiras verde-amarelas. Para a maioria, civismo é só isso. O futebol,
e apenas isso, faz explodir o amor à pátria, o espírito de brasilidade, a
alegria, o otimismo. Além do mais, com a inusitada derrota não existirá coisa
mais alvissareira de se ver do que muitos idiotas e imbecis chorando
desesperados nas ruas. Por que não torcer pela Argentina ou por um país mais
justo, civilizado e desenvolvido? Seria bem mais lógico.
*É Professor em Porto Velho.