domingo, 30 de abril de 2017

Religião, Estado e alienação


Religião, Estado e alienação


Professor Nazareno*

RELIGIÃO é uma senhora muito charmosa, elegante, atraente e enigmática. É casada há muito tempo com o senhor ATRASO e com ele tem vários filhos: PRECONCEITO, ÓDIO, GUERRA, RACISMO, INTOLERÂNCIA, EXPLORAÇÃO e HOMOFOBIA. A senhora RELIGIÃO sempre foi muito cortejada pelas pessoas, pois durante muito tempo transmitiu aos humanos a falsa imagem de bonança, caridade, amor e respeito ao próximo. Responsável maior por quase todas as desgraças da humanidade, a dissimulada dona RELIGIÃO já matou, torturou e perseguiu muitos sábios e cientistas que não lhe davam importância. Toda poderosa, ela já teve tribunais famosos, que julgavam e matavam na fogueira os defensores de outras verdades. Giordano Bruno, Galileu Galilei dentre muitos outros sofreram as “agruras divinas”.
A estranha senhora sempre foi aliada dos mais notórios carrascos da História. Dizem até que Adolf Hitler, apesar de não ter tido uma relação muito amistosa com ela, sempre explorava cinicamente a amizade dela com as outras pessoas e teria, segundo Richard Dawkins, concordado com Napoleão Bonaparte, que disse: “RELIGIÃO é ótima para manter as pessoas comuns caladas” e também com Sêneca: “A dona RELIGIÃO é considerada verdade pelas pessoas comuns, mentira pelos sábios e útil pelos governantes”. Muito sinistra e hábil, a senhora RELIGIÃO se associou sem nenhum acanhamento a todos os tipos de governo apenas para continuar a exploração dos mais humildes e desinformados. Importante observar que os seus filhos são instruídos e bem educados enquanto seus seguidores, na maioria dos casos, são idiotas.
Muito gananciosa e voraz, a RELIGIÃO explora cinicamente os mais pobres prometendo-lhes bonanças e riquezas numa terra imaginária a que todos terão acesso, mas só depois da morte. E por falar em coisas imaginárias, todos os líderes apresentados por ela são seres igualmente imaginários que só povoam a cabeça dos mais incautos e sem leitura de mundo. Nietzsche, filósofo, crítico e pensador alemão, tentou em vão combater as maldades dessa inútil senhora. Fracassou e terminou louco e sem muita credibilidade. Baruch Spinoza talvez tenha feito a melhor definição dela, mas também teve de viver escondido e no anonimato. No Brasil do século XXI, a influência da miserável está em todos os lugares conhecidos, principalmente na política. Forte e decidida, influencia os parlamentares que pertencem à Bancada da Bíblia no Congresso.
A desprezível senhora luta com todas as suas forças para acabar com o Estado laico e pela volta vergonhosa dos conceitos da Idade Média dentro de nossa sociedade. Aqui, sua influência cresce cada vez mais. Na política é golpista, reacionária, conservadora e rica. Acho até que é filiada ao PSDB ou ao PMDB. Na sociedade e nos costumes se mete em tudo tentando ditar suas ultrapassadas regras de convivência. Seus filhos estão, claro, a seu serviço e não poupam esforços para manter seus privilégios e também para disseminar sua ideologia segregacionista, má, defasada e obsoleta. Com ela e seus parentes e seguidores à frente, o mundo não caminha, não se moderniza e os direitos humanos são sempre desrespeitados. Um mundo sem RELIGIÃO seria um lugar muito melhor, é o que muitos afirmam. Basta observar, por exemplo, países como Suécia, Noruega e Japão e compará-los àquelas nações que a seguem obrigatoriamente.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 29 de abril de 2017

A esquerda morreu?


A esquerda morreu?

Professor Nazareno*

Sobre a greve geral convocada pelos esquerdistas no último dia 28 de abril em todo o país para protestar contra as reformas trabalhistas e da Previdência não vou tecer quaisquer comentários. Se foi ou não bem-sucedida somente o tempo dirá. Palmas, então, para aqueles poucos que saíram às ruas na vã tentativa de barrar a covarde retirada de seus direitos conquistados há pouco tempo e a muito custo. A direita conservadora, fascista e reacionária venceu de novo, por que ela sempre vence. Manda absoluta no país desde o seu descobrimento e também no mundo praticamente desde que o Homo erectus saiu das cavernas. Os raros 13 anos de domínio das esquerdas no Brasil foram um embuste, uma “conversa para boi dormir”. Lula e o PT se aliaram covardemente à direita para roubar o povo num dos maiores escândalos já vistos.
Zé Dirceu, Lula, Delúbio Soares, João Vaccari, José Genoíno e quase todos os outros petistas mentiram para os jovens militantes que aguardaram ansiosamente pela chegada deles ao poder desde as décadas de 70 e 80 do século passado. “A esquerda precisa chegar ao poder para estancar a roubalheira e a sangria que a elite impôs ao país nestes cinco séculos de exploração”, era a cantilena mentirosa dos novos aspirantes à Presidência da nação. “Com a esquerda no Planalto, o povo terá vez e voz”, era o mantra em que cegamente se acreditava. E era tudo mentira. O projeto do PT não era de governo, mas de poder apenas. E isto ficou se sabendo pouco tempo depois quando estouraram os escândalos do Mensalão e do Petrolão. A Lava Jato e as delações da Odebrecht desnudaram tudo e o Brasil soube qual era a “competência” da esquerda.
A direita deu chances para os esquerdistas e estes jogaram tudo fora tentando imitar seus algozes. Os antigos marxistas e revolucionários se encantaram com o poder e tentaram roubar tudo sozinhos sem dividir nada com ninguém. Deu no que deu: em 2016, sofreram um golpe, foram humilhados e escorraçados. Os mais visionários, no entanto, ainda sonham com esse tal de Lula como próximo presidente a ser eleito. Sem carisma e acusado de ter recebido propinas de empreiteiras como um sítio e um tríplex à beira mar, o “sapo barbudo” agoniza politicamente e se dará por satisfeito se não for parar atrás das grades antes das eleições. “O Brasil não tem direita nem esquerda, mas um bando de políticos ladrões e salafrários que se juntam para roubar o já espoliado, cansado e sofrido povo brasileiro”, disse Diogo Mainardi, antigo colunista da Veja.
Um povo sem educação de qualidade, sem transportes públicos, exposto à violência desenfreada, sem saúde pública e sem perspectiva nenhuma de dias melhores é o resultado desse assalto sistemático e secular à oitava economia do mundo. Mas burra a direita não é. Diz que a última greve geral fracassou, foi pífia e que não entende como alguns brasileiros ainda ousam reclamar: o Brasil já está na Copa do Mundo de 2018 e o Carnaval não foi proibido para ninguém. Blocos, bandas e escolas de samba são criados diariamente para, disfarçados de cultura, financiar a orgia popular. Entorpecidos, muitos se dão por satisfeitos em manter seus raros empregos. Direita ou esquerda, o certo é que todos nós continuaremos jogando o jogo dos maus políticos e em 2018 reelegemo-los para que continuem a nos administrar. Seguimos a produzir riquezas na esperança vã de dias melhores. A greve não fracassou. O fracasso é nosso, que nunca reagimos a nada.



*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Trabalharei na sexta, 28/04


Trabalharei na sexta, 28/04

Professor Nazareno*

Sou professor, claro. Não daqueles bons e catedráticos. Professor de Redação e de Gramática Normativa. Tenho mais de 700 alunos só no Projeto Terceirão da Escola João Bento da Costa em Porto Velho. Não sou reacionário, conservador e nem coxinha, mas não me recuso a ir trabalhar na sexta-feira, dia 28 de abril, quando o Brasil inteiro vai fazer greve geral contra as reformas trabalhistas anunciadas pelo governo golpista de Michel Temer. Até concordo com quase todas as reivindicações e reclamações dos protestos, mas se negar a ir dar aulas é jogar fora uma das poucas oportunidades de mostrar aos pupilos a real situação em que se encontra o país depois do golpe dado num governo igualmente ladrão, mas eleito democraticamente. Além do mais, muitos dos meus alunos não têm leitura de mundo e precisam de opiniões sobre todos os temas.
Não posso me recusar a dar algumas aulas onde lhes informarei que várias empresas do Brasil como os grandes bancos, por exemplo, devem muito à Previdência Social e que a tática covarde e criminosa de se colocar a culpa nos trabalhadores pela falência do nosso sistema previdenciário é mais uma farsa desse governo ilegítimo e corrupto. Falarei ainda sobre o golpe de 17 de abril passado quando um Congresso Nacional repleto de denunciados na operação Lava Jato golpeou a Dilma Rousseff com a sórdida intenção de se livrar das acusações, que foram mostradas à nação com as recentes delações da Odebrecht. Direi que a Rede Globo de Televisão é uma empresa que deve satisfações ao país e que, apesar de sua competência, manipula a opinião pública ao seu gosto e que quase todos os seus programas são alienantes e ridículos.
Seria uma tolice perder a oportunidade de dizer aos meus alunos que Porto Velho ainda continua sendo o “cu do mundo” e que a Consultoria Macroplan afirmou recentemente que em sujeira e podridão só ganha de Macapá no Amapá. Embora muitos deles já sabiam disto, por que não repetir que temos uma das piores qualidades de vida do Brasil?  O nosso IDH é menor do que Porto Príncipe no Haiti e igual ao de muitas capitais de países da África subsaariana. Muitos meninos ficarão informados de que o “prefeito sem salário” Hildon Chaves é uma farsa em Porto Velho. Hildon mentiu sobre os quinquênios e empregou sem concurso público mais de dois mil “assessores”. Tudo isto com a conivência absurda da Câmara de Vereadores da cidade. Meus parentes das civilizadas Curitiba e Gramado continuarão sem me visitar ainda por um bom tempo.
Direi a todos eles que espero convictamente pela prisão do Lula e pela punição exemplar do PT, o partido que me enganou durante décadas. Falarei também que os tucanos José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves estão enrolados na Lava Jato por causa das delações das empreiteiras e que assim como os petistas devem ser punidos sem dó nem piedade. O PMDB e o PSDB, parceiros no golpe contra o PT, também são tão sujos quanto pau de galinheiro. Por que não falar que a corrupção na política brasileira é endêmica e que o povo não reage por que é acomodado e despolitizado demais? E claro que eles saberão que Rondônia é o Estado da pistolagem absoluta e que por aqui impera a lei do mais forte. Não teria coragem de dispensar meus alunos com assuntos tão importantes para se debater em boas aulas. E então, vocês estão esperando o quê? Todos para a sala de aula. Depois vamos às manifestações. Ou vão se acomodar?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Hitler envergonhado


Hitler envergonhado

Professor Nazareno*

O ditador nazista Adolf Hitler mora no inferno desde o seu suicídio naquele distante 30 de abril de 1945. Mas vez por outra faz uma visitinha ao mundo, de onde diz sentir ainda muitas saudades. Recentemente esteve no Brasil, país tropical que com outro ditador era, naquela época e às escondidas, um grande aliado dos alemães. Mesmo em pleno século XXI, o carniceiro germânico ficou espantado com muitas coisas que acontecem por aqui. Ficou estarrecido e morto de vergonha com alguns métodos de controle social usados pelos nossos políticos. “Como pode uma enorme massa ignara com mais de 206 milhões de pessoas se submeter bovinamente às ordens e ditames de meia dúzia de mandatários?”, pensou o escroque ariano. Uma nação inteira trabalhar de sol a sol para sustentar luxos e roubalheiras do staff nem os nazistas conseguiram.
Hitler era racista, misógino, preconceituoso, assassino, homofóbico, cruel, ditador, cínico e sanguinário. Mas não foi corrupto como o são muitos dos políticos brasileiros. Os nazistas perseguiram cruel e covardemente todas as minorias em solo alemão. Mataram muitos negros, homossexuais, deficientes e judeus. Já os mandatários do Brasil perseguem a maioria de sua população, principalmente os pobres e desassistidos. Hitler não era alemão, mas gostava muito de seus compatriotas arianos e por eles fazia tudo o que fosse possível. Decididos a não roubar um único centavo dos germânicos, os nazistas não interferiram muito na infraestrutura do país tanto que hoje, só 70 anos depois, a Alemanha figura entre as maiores potências econômicas e culturais do mundo. Isso apesar de ter sido derrotada, humilhada e repartida entre os vencedores.
O sistema educacional dos brasileiros é um dos piores do mundo na atualidade. O oposto da educação pública da Alemanha e da Áustria, por exemplo. “Todo o imposto arrecadado do povo deve ser investido em benfeitorias para esse mesmo povo”, tentou em vão ensinar Hitler aos políticos e autoridades brasileiras. Com os olhos marejados de emoção, o ditador nazista lamentou não ter empregado contra os seus inimigos judeus o sistema de saúde pública do Brasil. “Verdadeiros campos de extermínios são os hospitais públicos deste país”, disse. “Só que em vez de matar os inimigos do Estado, os brasileiros matam os pobres e pagadores de impostos”, completou meio confuso. Imagine-se se ele tivesse visto o Hospital João Paulo Segundo de Porto Velho em Roraima. Exemplo claro de como se matam pessoas e ainda se é reconhecido por isso.
O sistema de Justiça deste país é hilário. Só os pobres são punidos. Roubar muito dinheiro geralmente não dá em nada. Veja-se a Operação Lava Jato que está em curso. Alguns dos ladrões do dinheiro público já estão soltos ou cumprindo prisão domiciliar em suas luxuosas mansões. O Partido Nazista era fichinha diante das falcatruas dos partidos políticos do Brasil. O PT, o PSDB, o PP, o PMDB e tantos outros se especializaram em dilapidar impunemente o Erário do país. Os nossos políticos roubam, corrompem, desviam e depois mentem diante da Justiça dizendo que são inocentes. Afinal “uma mentira contada diversas vezes, torna-se uma verdade”. Em 2018 haverá eleições e a maioria dos bandidos, corruptos e ladrões do dinheiro público será eleita tranquilamente para continuar roubando o povo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aqui, Hitler aprendeu muitas coisas e se envergonhou dos políticos.





*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Deus, o Diabo e o Brasil


Deus, o Diabo e o Brasil

Professor Nazareno*

            Conta a História que Deus, cansado de tanto ver os políticos brasileiros pedirem votos em Seu nome, teria proposto um pacto com o Satanás. O Todo Poderoso também não estava muito satisfeito com os empresários do país que, segundo Ele, estavam distribuindo propinas para toda a classe dirigente para garantir os destinos da nação. O pacto era simples: Deus, por um bom tempo, saía de cena e não se incomodaria com os brasileiros e o Cramunhão passava a nos comandar e com isso, claro, ficaria depois com a maioria das almas verde-amarelas. Como era tinhoso, o Cão deu poderes a todos. Do PT ao PSDB passando obviamente pelo PMDB. Todos os políticos e dirigentes receberam aval para enganar o povo e lhe subtrair seus caros impostos. Militares, CUT, a mídia e até parte da Justiça, todos teriam poderes para surrupiar os incautos e idiotas.
            Mas Deus tinha que anestesiar os roubados, os humilhados. E assim foi feito, pois o “Senhor dos Senhores” estava cansado dos brasileiros e queria férias. A partir de então ninguém reclamaria de nada mesmo sabendo que seria enganado, vilipendiado. O Onipresente teria colocado na água uma substância que ao ser ingerida transformava inconformados em verdadeiras ovelhinhas. Mas o Pé Rachado quase bota tudo a perder quando permitiu na maior cara de pau aqueles 7 X 1 no futebol. Anestesiada, a população do país trabalharia como camelo para sustentar as classes política e empresarial. Não faltaria Carnaval nem futebol. Deus criou Banda do Vai Quem Quer, blocos carnavalescos, escolas de samba e muitos times de futebol. Os mais populares seriam campeões. A felicidade reinaria e a população alegre se divertiria como nunca.
            Políticos e empresários se danaram a roubar feito rato catita. Roubaram a previdência, os bancos públicos, as instituições, os hospitais e até as escolas. Quebraram Estados e municípios. Levaram dinheiro de hidrelétricas, de construções de estradas, metrô, dos salários dos funcionários. Redes de esgoto e saneamento básico não foram construídas nas grandes cidades só para desviar verbas para as contas dos felizes administradores públicos. A mídia sabia de tudo, claro, mas ficava calada enquanto a felicidade reinava entre o alegre povo, que se divertia adoidado indo aos estádios e pulando carnaval. Com Deus de férias e o Diabo à frente dos negócios protegendo os salafrários, a devassa ao Erário se deu de forma assombrosa. Até a carne consumida nos churrascos ficou podre e imprópria para o consumo humano. Mas ninguém reclamava.
            Em Rondônia, província pobre, distante e atrasada a roubalheira também virou rotina. E qual o problema? Basta dizer ao povo do lugar que ele é honesto, probo e trabalhador. Todos vão acreditar na lorota e, claro, continuar votando e elegendo ladrões como se fosse a coisa mais normal do mundo. O Coisa Ruim não queria, mas foi convencido de que se cidadãos religiosos fossem candidatos, os votos chegariam aos montes e bovinamente se aumentaria o rol da patifaria. “Vote no pastor ou padre e ganhe um terreno no céu”, era o slogan mais conhecido durante o pleito. O Belzebu permitiu até traficantes de drogas bancando eleições. Judeus, muçulmanos, hindus, cristãos e todas as outras denominações também receberam propina. Já há relatos de que Deus quando voltar de suas férias, não quer mais administrar o país. E o capeta também não quer, pois alega que foi corrompido e subornado pelos nossos políticos. E agora?





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 9 de abril de 2017

Cem dias de nada


Cem dias de nada


Professor Nazareno*


Há aproximadamente cem dias à frente da prefeitura municipal de Porto Velho, o “prefeito sem salário” Hildon Chaves do PSDB ainda não disse a que veio. A capital dos rondonienses continua o caos e o inferno que sempre foi. Praticamente nada mudou por aqui. A cidade das hidrelétricas caminha com o seu triste destino de ser a pior cidade para se viver dentre as capitais do país. O Instituto Trata Brasil insiste em desnudar com números o Holocausto que nós habitantes somos obrigados a viver diariamente. Esgotos continuam rotineiramente a correr a céu aberto mostrando o desleixo e a inércia das autoridades para resolver o problema. Água tratada ainda é um artigo de luxo nesta cidade amazônica, onde chove quase que diariamente e que é banhada por um dos maiores rios de água ainda potável do mundo. O inferno é aqui.
Hildon Chaves, o pernambucano que se elegeu prefeito dizendo não ser político, ainda não trouxe nenhum alento para os porto-velhenses. Já há boatos entre os seus quase 150 mil eleitores de que se as eleições fossem hoje, não votariam mais no tucano. A decepção com a nova administração de Porto Velho veio mais rápida do que com o seu antecessor, o lento Mauro Nazif. Assim, a maldição sobre a podre e suja capital rondoniense continua sem tréguas. Nestes 102 anos de história, entra prefeito e sai prefeito e os problemas insistem em infernizar a vida dos moradores. O trânsito continua caótico, as ruas enlameadas e as alagações não dão sossego principalmente nas periferias imundas da capital. O verão se aproxima e com ele a sufocante fumaça das queimadas e a poeira infecta das ruas esburacadas darão brevemente o ar da graça.
Questionado sobre sua primeira ação assim que empossado, Dr. Hildon, “o prefeito sem salário”, relatou que iria avaliar a situação da prefeitura para depois iniciar as ações. "Precisamos avaliar a prefeitura para poder decidir que atitude tomar”, disse há três meses. Não fez uma coisa nem outra. E se avaliou a situação, nenhuma providência tomou para melhorar a nossa vida. Qual a diferença, por exemplo, que se percebe na cidade nestes últimos 100 dias? NENHUMA. O lixo espalhado nas calçadas é o cartão postal de sempre. Merda boiando a céu aberto no meio da rua durante as chuvas é uma constante. A rodoviária continua com seus banheiros infectos para receber os poucos visitantes que ainda se arriscam a vir para cá. As obras inacabadas espalhadas pelos quatro cantos da capital sequer foram citadas pela nova administração da cidade.
Qual a novidade, então, que o novo prefeito de Porto Velho fez até agora que qualquer administrador “meia boca” não faria melhor? Criar quase dois mil cargos comissionados e avançar na calada da noite contra direitos dos servidores municipais como a extinção dos quinquênios certamente poucos administradores de bom senso fariam. Até os semáforos que a administração anterior deixou estão em alguns cruzamentos com a contagem já danificada. O trânsito não melhorou, a escuridão piorou, a sujeira campeia, os igarapés continuam podres e pior: a autoestima dos moradores está um caos também. O prometido choque de gestão do início virou “choque digestão”. Então, Hildon Chaves, “o prefeito sem salário”, é uma fraude, um embuste, uma farsa? Ora, se nem ele mesmo acreditava que pudesse ganhar as eleições, como os tolos eleitores podem querer agora alguma benfeitoria em apenas cem dias?




*É Professor em Porto Velho.