terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Retrospectiva sem perspectivas


Retrospectiva sem perspectivas

Professor Nazareno*

O ano de 2016 está quase no final e a ladainha não mudou em nada. Pessoas se confraternizam toscamente e na maioria dos casos desejam uns aos outros um ano novo repleto de alegrias e esperanças. Só falsidade mesmo, pois quem viveu o ano de 2106 e sobreviveu a ele sabe que o próximo ano será muito, mas muito pior do que este que está terminando. Pior na política, na economia, nos esportes e na vida cotidiana dos brasileiros. No Brasil não há retrospectiva, pois foi tudo muito igual como nos outros anos que findaram. Em 2016, os políticos roubaram como nunca o Erário e não houve, como rotineiramente nunca há, nenhuma reação da população explorada. Em Rondônia não foi diferente em nada. Aqui, na maior cara de pau, parte da mídia continuou a se confraternizar com a classe polícia, o dinheiro foi curto e o sofrimento todo aceitável.
Em quase tudo, o ano que se encerra foi igual aos outros. Tudo continuou a mesma desgraça de sempre. O povo continuou à mercê da vontade dos governantes e de nada reclamou. Aqui nada mudou para melhor. A cidade de Porto Velho continuou com a mesma sujeira e imundície características e o povo explorado pelas autoridades continuou alegre e feliz como se nada disso fosse anormal. O hospital João Paulo Segundo da capital rondoniense iniciou o ano de 2016 como um campo de concentração e terminou o ano como um campo de extermínio de pobres. Houve mudança? A sujeira das ruas de Porto Velho não mudou em nada. Tudo ainda está sujo e fedido. A educação dos portovelhenses (a falta) continuou a mesma: no comércio, escolas, ruas e repartições públicas. Como entender que as pessoas no final de 2015 nos desejaram um feliz 2016?
Mas é bom aceitar e até se alegrar por enquanto, pois 2016 foi um ano excelente se comparado ao ano que virá. Acreditem! 2017 será pior, mas muito pior para todos nós brasileiros e rondonienses. Mesmo com a Operação Lava Jato funcionando a todo vapor, os políticos vão continuar a roubar o Erário como sempre fizeram. A desfaçatez dos poderosos em relação aos mais necessitados continuará. Na política, o ano de 2016, assim como o de 1964 nos reservou um golpe de Estado dado, de novo, pela elite nacional. Michel Temer é um Castelo Branco do século XXI e o povão, como sempre, não entendeu nada. De camisas amarelas da seleção e gritando “Fora, Dilma! Fora, PT!”, muitos idiotas despolitizados saíram às ruas para pedir o pior. E a desgraça veio a cavalo. Quase ninguém percebeu que os golpistas queriam apenas se livrar da Lava Jato.
Sem maiores investimentos em educação de qualidade e com os mesmos políticos a “servirem” o povo, as coisas no Brasil não têm perspectivas de nenhuma melhora no ano que iniciará em breve. Com todo mundo querendo explorar todos os seus semelhantes e pensando apenas em seus próprios umbigos, como superaremos a crise que fora inventada apenas para nos explorar ainda mais? Quase tudo o que aconteceu de bom e de ruim em 2016 foi usado para enriquecer ainda mais os inescrupulosos de plantão. Da queda do avião da Chapecoense ao golpe que deram na Dilma Rousseff, tudo foi usado contra o povo brasileiro. Até a opção pelos pobres da esquerda não deu certo: o ano de 2016 foi rico de opção do pobre pelos evangélicos. O Brasil e Rondônia caminharam para trás. O correto seria desejarmos um feliz 2015 para todos, pois a partir de 2017 a miséria e a desgraça serão nossas parceiras inseparáveis.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Natal é uma furada


O Natal é uma furada

Professor Nazareno*

            Está mais do que claro que o Natal não existe. Não como os seus criadores o idealizaram. Boa parte do mundo cristão ocidental o festeja como se fosse o nascimento de Jesus Cristo, mas não é. Cristo não nasceu no dia 25 de dezembro como se afirma e que muitos tolos sem a menor leitura de mundo e informações acreditam piamente. O atual calendário cristão ou calendário gregoriano só foi adotado oficialmente em 1582 já na Idade Moderna. Acredita-se que o nascimento de Jesus possa ter sido no mês de dezembro devido a relatos das condições climáticas da região onde se deu o fato. Há inclusive algumas religiões cristãs, como as Testemunhas de Jeová, que sequer comemoram o Natal por entenderem que os evangelhos não mencionam a data em que nasceu o “filho de Deus”. Para eles é proibido, inclusive, festejar o que não se sabe.
                Porém como boa parte da população mundial é formada por imbecis e otários, não custa nada faturar em cima de estupidez alheia. Óbvio que no mundo muçulmano não há a menor referência à festa. Lá certamente as tolices são outras. O fato é que no mundo ocidental difundiu-se a ideia absurda e mentirosa de que exatamente nesta data deu-se o nascimento de Cristo. E nesse dia comemora-se hipocritamente o amor, a fraternidade, a bem-aventurança, a alegria e tantas outras fantasias. Famílias se reúnem para celebrar o que não existe, o invisível. A ceia de Natal é uma estupidez ridícula, mas popular e que é vista praticamente em todas as casas como símbolo maior da cristandade. Pior: nesta fatídica noite os ânimos se alteram e passa-se a acreditar em duendes, paraíso, fadas encantadas e na lorota de que o bem sempre vence o mal.
            Existe, por exemplo, coisa mais tosca, nojenta e enfadonha do que a já esperada e cafona brincadeira de amigo oculto? Parentes e demais familiares, de forma mentirosa e forçada, se confraternizam, dizem esquecer as desavenças e trocam seus presentinhos chulos e bregas como se fossem verdadeiros amigos. A comida servida geralmente é uma gororoba já fria que fora feita muitas horas antes só para impressionar os donos da casa e alguns convidados penetras. “Nossa, maninha! Como está deliciosa esta galinha picante!”, é a triste conversa que mais se ouve entre os já bêbados cidadãos e as suas espevitadas mulheres presentes àquele dantesco espetáculo. Cerveja ruim e insossa, vinho de quinta categoria, sem o menor sabor e dentro de garrafões de plástico completam aquele já manjado circo patético. Parece uma horrorosa comédia pastelão.
            Não gosto de festas de Natal e delas não participo. Primeiro por que para mim não representam absolutamente nada e depois por que não se pode fingir para si mesmo. O Natal é um engodo, uma farsa que só existe para os simplórios. Como encarar, por exemplo, um Papai Noel com o bafo fedendo a cachaça barata, fantasiado de comunista e trazendo presentinhos para os pequenos carentes? Velho amaldiçoado, canalha, escroque, rufião, tarado, pedófilo, masturbado social, ranheta, com os dentes podres e representante maior do Satanás não tem e nem nunca terá a minha permissão para existir. Mas infelizmente o brasileiro senso comum é assim mesmo: acredita em toda besteira que lhe contam. Não entendo como ainda fica feliz e ri da própria desgraça. As comemorações desta data deviam ser extintas para o bem da humanidade. Como aceitar que o comércio ainda sobreviva à custa de uma mentira tão absurda e aceita por todos?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Natal escuro na currutela



Natal escuro na currutela

Professor Nazareno*
           
No Natal de 2016, Porto Velho ficará no escuro outra vez. Ficará é um modo de se dizer, pois esta cidade sempre viveu no breu absoluto apesar de ter em seu solo pelo menos três hidrelétricas. A capital da sujeira e da fedentina é um lugar cristão que hoje tem mais de 510 mil pessoas, mas parece que todos aqui são judeus, muçulmanos ou ateus, pois não haverá Natal iluminado como em muitas outras cidades espalhadas pelo Brasil afora. A escuridão sempre foi uma grande companheira dos portovelhenses. A desnecessária e caríssima ponte que fizeram sobre o rio Madeira é escura e não tem a menor previsão de quando será iluminada. Aquilo que chamam de viaduto e que tentaram terminar às pressas por causa das eleições também é outra obra escura. Escura, por não ter lâmpadas, por que não se sabe quanto custou ou por que nunca a concluem.
A mente da maioria dos habitantes daqui é igualmente escura. Assim como as ações de nossas autoridades. Porto Velho é uma cidade escura em todos os sentidos. Não que o Natal seja algo importante, mas o orgulho de muitos moradores ficaria melhor se houvesse pelo menos uma comemoração que lembrasse essa data cristã. O atual prefeito, Dr. Mauro Nazif, recebeu dos eleitores daqui mais de 200 mil votos para exercer seus cargos políticos. Devia se preocupar com o seu futuro político, mas parece que não quer saber da autoestima de ninguém. Já fez decoração de Natal até com pneus velhos. Irados, os eleitores escorraçaram-no nas urnas na esperança de ter, sob a batuta do novo prefeito, uma cidade com “ares mais perfumados e cheirosos”. Com lama, lixo, podridão e muita escuridão, Porto Velho já se acostumou a sua triste rotina de mazelas.
Nada aqui dá certo. A “capital das sentinelas avançadas” é uma cidade amaldiçoada. Está, de novo neste final de ano, mais deserta do que nunca, pois quem pode já caiu fora para passar as férias em recantos mais aprazíveis. Um lugar onde a Semana Santa é em novembro, o São João às vezes é em outubro e o carnaval em julho não deve nunca ser levado a sério. Até o Ibope aqui não funciona e a principal emissora de televisão local (afiliada da toda poderosa Rede Globo) retransmite seus noticiários gravados como se estivéssemos ainda na época dos ultrapassados videocassetes. Enquanto isso, as cidades do interior se esmeram com a data natalina. Ariquemes tem a maior árvore de Natal da região Norte. Ji-Paraná está um encanto com seus viadutos já prontos e todos enfeitados. Nem é bom falar sobre Canela e Gramado na Serra Gaúcha.
Os infelizes moradores da capital de Rondônia sofrem feito sovaco de aleijado.  Nem os oposicionistas da Ditadura Militar sofreram tanto como nós habitantes de Porto Velho. A tortura a que eles foram submetidos se parece com cafunés se comparada com a nossa vergonha e sofrimento. Somos torturados todos os dias com a incompetência, a roubalheira e o descaso e ninguém tem pena de nós. Nenhum prefeito se compadece de nós beiradeiros. Vivemos o antinatal. Aqui é uma terra sem eira nem beira onde parte da mídia se confraterniza todos os anos com os políticos. A cada dia que passa as coisas só pioram. Viramos Aleppo? Sem as festas de Natal, mais uma vez sucumbimos sob a lama do inverno amazônico. Sem esgoto, suja, pontilhada de imundícies, abandonada e agora escura no Natal, a maldita currutela vive o seu martírio rotineiro. E eu nem posso desejar que o DIABO leve logo Porto Velho para as profundezas do inferno: sou ateu.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Rondônia, minha paixão!


Rondônia, minha paixão!

Professor Nazareno*

            Nasci em Londrina, a rica e progressista cidade do Norte do Paraná. Tenho mais de 50 anos, sou profissional liberal e sempre disse para todo mundo que me conhece que sou um “rondoniense de coração”. Cheguei por aqui com os meus pais ainda na década de 1980 quando este Estado era território. Consegui um bom emprego no governo e estudei numa dessas escolas públicas da cidade mesmo. Prestei o vestibular naquela época na UEL, a boa Universidade Estadual de Londrina, onde com muito orgulho me formei e depois fiz cursos de pós-graduação e mestrado. O governo do Estado de Rondônia sempre me dispensava para que eu pudesse estudar. Meu pai ganhou do antigo governador Jorge Teixeira um pedaço de terra no interior, onde junto com meus irmãos recomeçamos a vida. Nada foi fácil para nós que começamos do zero.
            Sou casado, claro, com uma legítima paranaense e temos dois lindos filhos. Minha esposa é filha de imigrantes ucranianos que vieram para o Brasil em meados do século passado e se instalaram na região cafeeira do Paraná. Quando tive que me mudar para a Amazônia, prometi a ela que um dia voltaria para nos unirmos. Promessa feita, promessa cumprida! Nosso casamento foi na linda catedral de Londrina, paróquia Sagrado Coração de Jesus. Nossos filhos, apesar de morar e já trabalharem em Porto Velho, nasceram em Londrina no Hospital Mater Dei, uma excelente instituição de saúde ligada à Irmandade Santa Casa de Londrina. Durante a gestação, esperávamos até o oitavo mês. Confesso que morria de medo de ver meus descendentes nascerem em terras tão distantes de suas tradições. Além disso, a medicina em Londrina nem se fala!
            Dentro de casa sempre fizemos questão, eu e minha esposa, de falar com os meninos usando o sotaque característico do Paraná. Apesar de ser mais bonito, nos dava a sensação de que estávamos mais próximos dos nossos ancestrais. Desde que aqui chegamos sempre fiz questão de viajar à “terra das araucárias” pelo menos duas vezes ao ano. Não dá para esquecer o friozinho do meio do ano. Sempre tiramos as férias no final do ano mesmo. Então Natal e Ano Novo tem que ser no Jardim Lindoia, zona leste da “Capital do Café”. Meu time de coração sempre foi o Londrina E. Clube, o Tubarão. Nunca perdi um só jogo de uma das melhores equipes de futebol do interior do Brasil. Quando cheguei aqui, ficava desesperado quando tinha jogo e não conseguia sintonizar uma emissora de rádio do Paraná a fim de acompanhar os jogos do meu time preferido.
            Estou muito perto de me aposentar. E não vejo a hora de chegar este dia tão esperado. E quando isto finalmente acontecer, volto com os meus filhos e toda a família para Londrina, claro, onde já comprei um lindo apartamento no Jardim Coliseu na zona norte da cidade. Minha esposa comenta diariamente sobre “a sua volta ao lar” e conta eufórica os dias. Deve ser um sonho mesmo viver de rendas, num lugar aprazível, tranquilo, desenvolvido e com muita disposição esperar a chegada dos netos. Rever os amigos de infância, saborear a deliciosa culinária ucraniana e conversar sobre assuntos importantes não tem preço. Aqui, deixo alguns conhecidos que fiz e a tristeza de ter sempre que vir visitar a sepultura de meu pai que fez questão de ser enterrado por estas bandas. Mas Rondônia e Porto Velho são lugares excelentes e maravilhosos para se viver. Nasci e cresci em Londrina, mas há como negar que meu coração é rondoniense?




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Corrupção, onde ela está?



Corrupção, onde ela está?

Professor Nazareno*

            Segundo a ONG Transparência Internacional, o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo. Numa recente lista de 180 nações divulgada pela entidade, ficamos num número nada invejável ao lado de republiquetas africanas. Com um PIB que o coloca entre as dez maiores economias do planeta, o nosso país patina de forma vergonhosa quando o assunto é a qualidade de vida de sua população, que hoje já ultrapassa os duzentos e seis milhões de indivíduos. O professor Leandro Karnal, um dos ícones do pensamento esquerdista, afirma que “não existe sociedade honesta com governo corrupto ou vice-versa”. No Brasil, infelizmente, tem sido muito comum as pessoas apontarem o dedo sempre para os outros quando se quer encontrar os culpados pelo mau uso do dinheiro público, principalmente. Aqui, o corrupto sempre é o outro.
            Para a maioria dos nossos cidadãos, no entanto, “o roubo vem de fora, dos outros”. Pior: são os políticos os maiores responsáveis pela corrupção que assola o país há séculos. E entre os próprios políticos e autoridades, é comum apontar sempre o outro poder como o maior responsável pela roubalheira. Mas todos estão redondamente enganados. Somos um dos povos mais ladrões e desonestos do mundo e a culpa, como se pensa, não é dos portugueses que a partir de 1500 trouxeram para cá os seus degredados. Só que a nossa desonestidade com o alheio é algo próprio de nós mesmos. Praticamente só pensamos em nós e depois em nós. A corrupção está no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, na Igreja, nas escolas, nas instituições e em cada Estado e município deste país. Dizem até que nas nossas veias corre um sangue já corrompido.
            Execrar apenas o Congresso Nacional ou o Poder Executivo por causa da corrupção é uma injustiça. Dentro do próprio Judiciário deve haver “coisas tão cabeludas” que envergonhariam um ladrão de chinelos. Por que um juiz como o Sérgio Moro só apareceu agora 514 anos depois de descoberto o país? Este estado de coisas só foi possível por que houve vistas grossas por parte do Judiciário durante todo este tempo. E isto não é corrupção? Um cidadão ganhar 100 mil reais por mês ou mais num país de famintos e miseráveis não é corrupção? Os supersalários do Brasil, em quase todos os setores da vida pública e que sangram mais de 10 bilhões de reais por mês é algo decente e aceitável? Quase todos querem sempre ganhar acima do teto fixado por lei sem se importar de onde saem os recursos. “Farinha pouca, meu pirão primeiro!”
Na iniciativa privada, a “festa” é até pior do que no setor público. No Brasil, o importante é levar vantagem em tudo. Não interessa quem vai sair perdendo. O individualismo reinante na nossa mentalidade é uma praga que já foi abolida há anos nos países civilizados. Nunca se pensa no coletivo, apenas no “EU”. E quando os dois setores se encontram a desgraça está feita sempre em desvantagem para os mais pobres. Veja-se o exemplo da Operação Lava Jato e as relações incestuosas onde não se define claramente o que público nem o que é privado. E as “punições” dadas aos juízes brasileiros? E os privilégios dados a outros setores? E os conchavos espúrios envolvendo os mandatários do país? Tudo isso não seria também um tipo velado de corrupção e de privilégios? Deram um golpe numa presidente eleita para botar no poder pessoas igualmente corruptas. A Odebrecht delatou todos e o país caiu na vala comum.





*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O povo acordou. Onde?

O povo acordou! Onde?

Professor Nazareno*

            Hoje no Brasil está virando moda em qualquer manifestaçãozinha de esquina que consiga reunir 10 ou 12 pessoas para reivindicar a mais tola e inútil das coisas, dizerem e gritar aos quatros cantos que o povo acordou. “O povo agora está mais consciente e não aceita facilmente ser usado pelos governantes hipócritas e exploradores”, é o mantra que mais se ouve. Só que é uma das maiores mentiras que já se ouviu. É uma tolice sem tamanho. Uma desinformação absurda. Onde foi que o povo acordou? Onde foi que o povo alienado, despolitizado, acomodado e explorado, de uma hora para outra, ficou consciente de seus direitos e deveres? No Brasil não foi. Usa-se como sempre o nome do povo como se ele fosse algo importante. Antes se dizia: “o povo unido, jamais será vencido”. Hoje, marotamente, coloca-se o povo nas manchetes.
            No Brasil se usa o povo como Bombril. Tem serventia para tudo, principalmente os pobres. Nas campanhas políticas, por exemplo, não existe nada melhor, e mais fascista, do que usar aqueles cidadãos, em cuja boca metade dos dentes está podre e a outra metade está fedendo a merda, para fazer proselitismo político. O pobre dá entrevista, recebe candidatos ricos em sua humilde casa e com eles toma café e almoça. Reúne o que chama de família e apresenta ao futuro prefeito ou deputado. O miserável do pobre é paparicado, adulado e até acredita que tem alguma importância além do seu mísero voto. Terminadas as eleições, nenhum candidato volta àquela pocilga longe, podre, violenta e infecta. Nem para agradecer os votos que conseguiu com as suas mentiras e promessas. Pobre só serve para isso: ser enganado e passar necessidade.
            A lorota agora é dizer que o povo acordou, participa dos debates nacionais e está em plena ebulição sociológica. “Me engana que eu gosto”. O povo interessado por política nem na Revolução Francesa. Não sei de onde tiraram esta piada infame. O povo está assistindo à Globo e outras emissoras reacionárias e se divertindo com programas igualmente reacionários, idiotas e fascistas. Muitos estão fazendo churrasco na laje e bebendo cerveja barata e cachaça ruim. Povo geralmente não tem tempo para participar de política muito menos de manifestações de rua. Primeiro por que não tem leitura de mundo nem estudos. Depois por que não consegue entender que a sua desgraça de vida está ligada às maracutaias e decisões políticas. Pobre no Brasil é massa de manobra. Sempre foi. E não sabe por que é usado pelos outros mais politizados.
            Nas manifestações, o pobre geralmente veste camisa amarela da seleção nacional e vai gritar nas ruas a favor dos direitistas. Muitas vezes nem sabe o porquê de estar ali. Quando o aglomerado é da esquerda, lá está ele de novo no meio dos “intelectuais” gritando palavras de ordem e reclamando de tudo. Um verdadeiro revolucionário semianalfabeto e desdentado da favela. Dos 206 milhões de brasileiros acredita-se que pelo menos oitenta por cento deles sejam cidadãos sem a menor leitura de mundo que age politicamente sempre como uma “Maria vai com as outras”. Basta observar os resultados das últimas eleições municipais. Em Porto Velho, por incrível que pareça, a composição da Câmara Municipal, por exemplo, é o retrato fidedigno de eleitores ignorantes e descompromissados com o futuro. O Brasil, assim, continuará deitado em berço esplêndido esperando um milagre para resolver a sua caótica e pobre situação.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Como ser otimista?

Como ser otimista?

Professor Nazareno*

O poeta, dramaturgo, escritor, jornalista e Nobel de Literatura, o português José Saramago disse certa vez que não era pessimista, mas “o mundo é que é péssimo”. Olhando por esta ótica, a realidade do Brasil não aponta para outra perspectiva que não seja a de sofrimento, tristeza, angústia, dor, decepção e penúria. O time de futebol da Chapecoense de Santa Catarina, por exemplo, foi dizimado quase por inteiro por causa da irresponsabilidade em um fatal desastre aéreo nos Andes colombianos e o país consternado chorou copiosamente a perda de seus atletas. Nesta tragédia, para mais uma tristeza nossa, vimos que a Colômbia é um país muito mais civilizado e organizado do que nós brasileiros. Percebemos por que somos uma nação de quinta categoria e que na maioria das vezes não merecemos sequer o respeito de outros países do mundo.
Como ser otimista com essa classe política que temos em nosso país? Como ter alegrias com esse povo, cuja maioria é chinfrim, ridícula, com pouquíssima leitura de mundo, semianalfabeta, despolitizada e que em todas as eleições vota sempre nos mesmos patifes e ladrões? Como ter um mínimo de decência com um Congresso Nacional igual a esse que temos no Brasil? Políticos escroques que em meio à dor coletiva do país legislaram na calada da noite em causa própria. O presidente do Senado responde a vários processos e inquéritos na Justiça e parece que nada acontece ao mesmo. Como esboçar um mínimo de alegria num país cujo presidente da República é golpista, traidor, sem popularidade alguma, com vários ministros afastados por corrupção e desmandos e que representa uma legião de políticos igualmente nefastos?
Como suportar a dor de integrar uma nação cuja maioria de seus governantes demonstra pouco ou nenhum respeito aos seus próprios cidadãos? Como se conformar com o “jeitinho” como se fosse a coisa mais normal e natural do mundo? Como conviver com um dos piores sistemas de educação em pleno século vinte e um? Como ser tratado por uma medicina curativa que suga cada centavo de seus pacientes e nada devolve em serviços de excelência? Como ter os piores serviços públicos se para evitar isso se paga uma das mais altas taxas de impostos de que se tem notícia? Como aturar a falta de mobilidade urbana nas grandes e médias cidades espalhadas pelo vasto território nacional? Como aceitar passivamente que um time grande rebaixado no campeonato nacional de futebol pode entrar depois no tapetão e evitar a queda para outra divisão?
Como morar numa capital de Estado como Porto Velho que é cheia de lixo, ratos, urubus, podridão, bichos mortos, ruas tortas, violência e pessoas mal educadas que ainda reclamam de quem denuncia esse descaso? Como aceitar que as passagens aéreas para cá sejam as mais caras do país? Como aceitar e ainda pacificamente que a cidade mais uma vez fique sem decoração de Natal? Como votar e eleger uma Câmara de Vereadores como a que foi recém-eleita na capital de Rondônia? Como no país ter a coragem de tirar uma presidente eleita, mas negligente e no lugar dela colocar “todas essas tranqueiras” que aí estão? A violência aumenta, a devastação da natureza aumenta, a recessão aumenta, a inflação aumenta, os problemas sociais aumentam, o cinismo aumenta e os políticos e as autoridades ainda zombam da população. Como ser otimista num caos desse? Mas sejamos esperançosos: ainda não choveu BOSTA aqui.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

“Brasileirice” na tragédia?

Brasileirice” na tragédia?

Professor Nazareno*

            A tragédia que se abateu sobre o jovem time da Chapecoense e consternou o mundo do futebol teve dimensões épicas de dor e sofrimento inenarráveis para o Brasil e principalmente para aquela desenvolvida cidade no interior de Santa Catarina. É inimaginável tentar medir ou mesmo compreender o que estão passando os familiares das 71 vítimas fatais daquele fatídico voo. O Brasil que dá certo chora mais uma vez uma tragédia em pouco tempo. Outras catástrofes como o rompimento de uma barragem em Mariana, Mina Gerais, e o incêndio da boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul deixarão marcas profundas nos corações e mentes de todos os envolvidos que chorarão amargamente sobre cinzas e lama. Mas uma pergunta que não quer calar ainda ecoa incômoda: havia meios de se evitar o caos ou tudo não passou de obra do acaso?
            Não há ainda explicações claras e precisas sobre as causas que levaram o “avião da Chapecoense” a se espatifar sobre os Andes em plena selva colombiana matando quase uma centena de pessoas e dizimando completamente a promissora equipe de futebol brasileira. Pode ter sido um temporal amazônico, muito comum em nossa região. Podem ter sido falhas mecânicas ou outras causas até então desconhecidas e que serão futuramente melhor explicadas pelas autoridades daquele país. Mas ao que tudo indica, o problema mais provável foi mesmo pane seca, ou seja, falta de combustível. A aeronave, um modelo AVRO/ RJ 85 de fabricação britânica, tem autonomia para três mil KM de voo. Exatamente a mesma distância entre as cidades de Santa Cruz de La Sierra na Bolívia e Medellín, destino final na Colômbia. Não houve escalas na viagem.
            Mas segundo autoridades aeronáuticas bolivianas, o plano de voo desta aeronave previa uma escala em Cobija ou mesmo em Bogotá para reabastecimento. Além dessas duas cidades havia possibilidades de paradas para esse fim em Porto Velho, Rondônia, Rio Branco e Cruzeiro do Sul no Acre, Iquitos no Peru ou até mesmo Manaus, Tefé ou Tabatinga no Amazonas. Será que o piloto pensou como um brasileiro e achou que o combustível seria suficiente para completar a fatídica viagem? Além do mais, quem em sã consciência gostaria de fazer um pouso em Porto Velho, Brasil, um fim de mundo atrasado e esquecido como esse? “Um voo sem escalas economizaria tempo e dinheiro”, podem ter pensado erradamente os responsáveis pela condução daquela aeronave. Se assim foi, o jeitinho brasileiro prevaleceu e levou a um desastre que comoveu o mundo.
           Chapecó não merecia isso. Nem ela nem nenhuma outra cidade do mundo, claro. Município progressista do desenvolvido Oeste de Santa Catarina com cerca de 210 mil habitantes tem na agricultura e na indústria agropecuária o carro-chefe de suas receitas. Com uma das melhores qualidades de vida do Brasil, a limpa, civilizada, florida e asseada “capital do Oeste catarinense” pode até ser comparada a algumas cidades da Europa e dos Estados Unidos. Bem diferente das cidades do Norte e do Nordeste do Brasil, onde pobreza, lixo, exploração humana, miséria e violência são cenas comuns. A Chape, seu apelido carinhoso, tinha uma folha enxuta, organização, um bom elenco e já despontava como uma das grandes equipes do fracassado futebol brasileiro. Por tudo que se faça para reparar a tragédia, nada apagará de nossas mentes a alegria daqueles meninos alviverdes do interior. A Chapecoense viverá para sempre em nossos corações.





É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Conselhos ao Dr. Hildon



Conselhos ao Dr. Hildon

Professor Nazareno*

        
          Outro dia quando escrevi um texto sobre a eleição do Dr. Hildon do PSDB para ser o próximo prefeito de Porto Velho e pedi-lhe os pêsames por aquilo que todo mundo achava uma glória, uma grande felicidade eu fui duramente criticado por tê-lo alertado sobre o abacaxi que ele herdou. Num programa de televisão sem muita audiência de uma emissora local fui alertado por duas loiras bonitas: “esse professor devia se candidatar a vereador em vez de fazer críticas atrás de um computador”, disse uma deles cheia de más intenções comigo. “Dê sugestões ao novo prefeito”, continuou a bela loira toda eufórica e já aborrecida. Elas podem não saber, mas jamais quero me candidatar a qualquer cargo político. Muito menos na capital da podridão. Escrevo textos e não tenho culpa se pessoas os leem e com eles se estressam. É minha função.
            Mesmo assim, no referido texto havia muitas sugestões para o Dr. Hildon. Basta fazer uma pequena releitura do mesmo para perceber as minhas boas intenções. Discordo humildemente da bela e nobre apresentadora: para dar sugestões a qualquer político deste país, não é necessário ser um deles. Somos cidadãos livres e gozando plenamente dos nossos direitos políticos podemos dar nossas opiniões. E por isso não medi palavras naqueles escritos para ajudar o futuro prefeito. E reitero: em Porto Velho ainda há tudo por se fazer. Mas todos os prefeitos anteriores que tentaram fazer algo naufragaram no mar de boas intenções. O Dr. Hildon precisa fazer as coisas certas pela fedida capital. A começar, claro, pela escolha do seu futuro secretariado. Como fazer o prometido choque de gestão com figurinhas já carimbadas do nosso triste meio político?
            Outra bela jornalista, a minha competente amiga Sandra Santos, disse-me outro dia que eu deveria fazer um texto sem ironias sobre a nova administração da “capital dos destemidos pioneiros”. Precisava dar palpites, boas sugestões e mostrar de maneira coerente como o novo prefeito deveria agir para tirar a cidade do marasmo secular em que lhe meteram. Claro que sempre me envergonhei em trazer parentes meus para me visitar. O que Porto Velho tem para oferecer aos seus poucos e escassos visitantes? Absolutamente nada de atraente se vê por aqui. A não ser que desorganização, lodaçal, falta de mobilidade urbana, lixo, violência, urubus, ratos, lama, poeira, fumaça e esgotos a céu aberto sejam atrações turísticas. Pouquíssimos portovelhenses com boas condições financeiras têm coragem de passar suas férias de fim de ano na cidade. É mentira?
            Administrar com os pés no chão já seria um bom começo. Nada de “adornar teus canteiros, perfumar teus ares e fazer felizes todos os teus lares”. Isso é balela, tolice, enganação, farsa, embuste. É letra de música brega, ridícula, cafona. É coisa de galanteador barato se dirigindo a sua amante ou a uma prostituta ordinária. A excelente blogueira e jornalista Luciana Oliveira disse que eram “os versos mais barrelas e ridículos que já apareceram por estas bandas”. Mas encantou o tolo, pateta e semiletrado eleitorado desta capital, infelizmente. Atenção, Dr. Hildon: faça retornos na Avenida Vieira Caúla, não arranque mais nenhuma árvore da cidade, faça belas decorações de Natal, canteiros floridos, uma nova rodoviária, nunca comece uma obra sem previsão de término, dê uma função para o seu vice, termine o seu mandato e faça valer cada suado centavo que pagamos em impostos. Ou o senhor quer mais sugestões?





*É Professor em Porto Velho.