sábado, 17 de dezembro de 2016

Natal escuro na currutela



Natal escuro na currutela

Professor Nazareno*
           
No Natal de 2016, Porto Velho ficará no escuro outra vez. Ficará é um modo de se dizer, pois esta cidade sempre viveu no breu absoluto apesar de ter em seu solo pelo menos três hidrelétricas. A capital da sujeira e da fedentina é um lugar cristão que hoje tem mais de 510 mil pessoas, mas parece que todos aqui são judeus, muçulmanos ou ateus, pois não haverá Natal iluminado como em muitas outras cidades espalhadas pelo Brasil afora. A escuridão sempre foi uma grande companheira dos portovelhenses. A desnecessária e caríssima ponte que fizeram sobre o rio Madeira é escura e não tem a menor previsão de quando será iluminada. Aquilo que chamam de viaduto e que tentaram terminar às pressas por causa das eleições também é outra obra escura. Escura, por não ter lâmpadas, por que não se sabe quanto custou ou por que nunca a concluem.
A mente da maioria dos habitantes daqui é igualmente escura. Assim como as ações de nossas autoridades. Porto Velho é uma cidade escura em todos os sentidos. Não que o Natal seja algo importante, mas o orgulho de muitos moradores ficaria melhor se houvesse pelo menos uma comemoração que lembrasse essa data cristã. O atual prefeito, Dr. Mauro Nazif, recebeu dos eleitores daqui mais de 200 mil votos para exercer seus cargos políticos. Devia se preocupar com o seu futuro político, mas parece que não quer saber da autoestima de ninguém. Já fez decoração de Natal até com pneus velhos. Irados, os eleitores escorraçaram-no nas urnas na esperança de ter, sob a batuta do novo prefeito, uma cidade com “ares mais perfumados e cheirosos”. Com lama, lixo, podridão e muita escuridão, Porto Velho já se acostumou a sua triste rotina de mazelas.
Nada aqui dá certo. A “capital das sentinelas avançadas” é uma cidade amaldiçoada. Está, de novo neste final de ano, mais deserta do que nunca, pois quem pode já caiu fora para passar as férias em recantos mais aprazíveis. Um lugar onde a Semana Santa é em novembro, o São João às vezes é em outubro e o carnaval em julho não deve nunca ser levado a sério. Até o Ibope aqui não funciona e a principal emissora de televisão local (afiliada da toda poderosa Rede Globo) retransmite seus noticiários gravados como se estivéssemos ainda na época dos ultrapassados videocassetes. Enquanto isso, as cidades do interior se esmeram com a data natalina. Ariquemes tem a maior árvore de Natal da região Norte. Ji-Paraná está um encanto com seus viadutos já prontos e todos enfeitados. Nem é bom falar sobre Canela e Gramado na Serra Gaúcha.
Os infelizes moradores da capital de Rondônia sofrem feito sovaco de aleijado.  Nem os oposicionistas da Ditadura Militar sofreram tanto como nós habitantes de Porto Velho. A tortura a que eles foram submetidos se parece com cafunés se comparada com a nossa vergonha e sofrimento. Somos torturados todos os dias com a incompetência, a roubalheira e o descaso e ninguém tem pena de nós. Nenhum prefeito se compadece de nós beiradeiros. Vivemos o antinatal. Aqui é uma terra sem eira nem beira onde parte da mídia se confraterniza todos os anos com os políticos. A cada dia que passa as coisas só pioram. Viramos Aleppo? Sem as festas de Natal, mais uma vez sucumbimos sob a lama do inverno amazônico. Sem esgoto, suja, pontilhada de imundícies, abandonada e agora escura no Natal, a maldita currutela vive o seu martírio rotineiro. E eu nem posso desejar que o DIABO leve logo Porto Velho para as profundezas do inferno: sou ateu.




*É Professor em Porto Velho.

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