domingo, 26 de setembro de 2010





Contador Grátis

Quem vai matar? Quem vai morrer?


A Pena de Morte e o Estelionato Eleitoral


Professor Nazareno*


O Brasil tem uma das sociedades mais violentas do mundo embora muitos afirmem que somos o país da paz, do amor e da tranqüilidade. A nossa violência é principalmente social e tem números alarmantes. Vivemos presos e acuados dentro de nossas próprias residências. Difícil não conhecer alguém, algum amigo ou parente, que já não tenha sido vítima deste caos. Por isso, o debate sobre a adoção da pena de morte ganha fôlego neste ambiente de insegurança. Nas campanhas eleitorais o assunto se espalha e vários candidatos, até a cargos executivos, vêm prometendo implantar a lei capital para resolver o problema da insegurança que toma conta dos cidadãos. E o pior é que muitos incautos não percebem o estelionato eleitoral, o puro oportunismo e apóiam abertamente tal campanha sem levar em conta a nossa Constituição, sem levar em conta os princípios cristãos. Devemos rasgar a nossa Carta Magna e abdicar da religião?

Defender a execução de criminosos é algo natural para quem foi vítima da violência. Queremos isso pelo desejo de segurança que não temos. Mas o fato não vai trazer mais tranqüilidade para nós. É mais outro erro social e a emenda pode ficar bem pior do que o soneto. Não que muitos dos "nossos criminosos" não a mereçam. Por que teríamos apreço e dó pela vida de quem só praticou o mal e que não teve respeito pela vida do outro? É até normal se pensar assim, mas o problema está no fato do executor desta pena: o Estado por intermédio da Justiça. O Estado somos nós. Talvez o palhaço Tiririca seja o Estado. A Justiça somos nós. O próprio STF disse isso dando ao povo uma decisão final. E eu não gostaria de ser transformado em um criminoso. Ninguém se livra de um Estado assassino. O Nazismo, o Fascismo e a Ditadura Militar são exemplos de estados-policiais que perderam rapidamente o bom-senso.

O Brasil tem hoje cerca de 600 mil presidiários. E para cada um destes, há pelo menos uns cinco soltos pelas ruas praticando crimes. Uma sociedade que não construiu escolas, que não investiu em educação de qualidade não deveria se envergonhar de construir presídios. Somos hipócritas. Façamos a carnificina e matemos todos de uma só vez. Teremos segurança? É preciso atacar a causa do problema e não a conseqüência. Defender pena de morte, castração de pedófilos dentre outras bobagens em tempos de eleição é puro oportunismo político para ganhar voto dos trouxas. Se Deus nos deu a vida, só Ele é quem tem o poder de tirá-la. É preciso fechar a máquina que fabrica este tipo de gente: a desigualdade social e o péssimo sistema de educação que temos no país. Sem isso, a população carcerária e os problemas só aumentarão. Não vejo nenhum político ou pessoa "esclarecida" propor algo concreto para enfrentar esse caos.

Se pena de morte resolvesse o problema da violência, até o Vaticano já a teria adotado. A literatura não fala de nenhum país ou sociedade que resolveu este dilema matando os outros. Além do mais, "a pena de morte é quando se mata alguém para ensinar que não se deve matar". Gostaria de ver também pedirem a pena de morte para político corrupto, para autoridade desonesta, para padres pedófilos, para quem rouba o Estado, para pessoas ricas, para que tem privilégios. Se a União Européia baniu esta punição máxima de sua Constituição é por que não viu resultado nenhum nela. E não é apenas uma questão de direitos humanos, é questão de civilidade. Os presidiários são frutos de toda a sociedade. Fomos nós que os criamos e agora não sabemos o que fazer com eles. Botá-los dentro de nossas casas, nem pensar. Guardar cascavéis em caixas de sapato? Se desde décadas anteriores tivéssemos exigido e assegurado educação pública de qualidade para todos, talvez hoje não estivéssemos nesta encruzilhada.


*Leciona em Porto Velho.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O JN no Ar devia ter vindo a Porto Velho!

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As Mentiras do Jornal Nacional


Professor Nazareno*


E o Jornal Nacional da Rede Globo finalmente chegou a Rondônia. A equipe do JN no Ar desembarcou na cidade de Vilhena a mais de 210 quilômetros da cidade sorteada, que embora digam possuir um aeroporto com uma pista de mais de dois mil metros de extensão, estacionamento de aeronaves, sistema de drenagem para impedir o acúmulo de água, sinalização da pista sem obstáculo geográfico, "fato raro em aeroportos do mundo" e outros acessórios imprestáveis e sem utilidade alguma e que já recebeu até jatos executivos, o jornalista Ernesto Paglia e sua equipe optaram por um pouso bem mais distante, ignorando os mais de 20 milhões de reais que foram gastos nas reformas do Aeroporto Capital do Café e que foi inaugurado com toda a pompa e uma penca de políticos à cata de votos em março deste ano. Parece que esse "mega" aeroporto só não tem lâmpadas de pistas para pousos noturnos. Um mero detalhe. O avião Falcon 2000 chegou a Vilhena à noite e na manhã seguinte uma outra aeronave de menor porte, um teco-teco rompe fumaça, foi até Cacoal fazer as reportagens.

Após denunciar indiretamente a pouca ou nenhuma eficiência do Aeroporto de mentirinha da cidade, o JN desfiou um rosário de informações tendenciosas sobre o Estado de Rondônia. Quem disse que aqui tem o menor índice de distribuição de água tratada do Brasil? A equipe global deveria ter vindo a Porto Velho, não para que pudéssemos aparecer, mas para constatar e mostrar ao restante do país como a capital deste Estado é uma cidade progressista, limpa e organizada. Um exemplo que os brasileiros deveriam copiar. Uma das únicas capitais do Brasil que tem quase cem por cento de esgoto, água tratada para a maioria dos seus habitantes, arborização e principalmente limpeza nas ruas e avenidas, Porto Velho tem muito a ensinar. Jamais foi visto por aqui, abandonado em plena via pública, qualquer animal morto em adiantado estado de putrefação. Dizer que quase cem por cento dos rondonienses não têm esgoto é uma injustiça sem tamanho. Um acinte até. Fossas sépticas ao lado do lençol freático é uma invencionice.

Se Paglia tivesse vindo a Porto Velho certamente veria por que a educação ministrada por aqui é uma das melhores do Brasil. A rede física das escolas públicas deixa qualquer escola de Primeiro Mundo no chinelo. Nunca se viram nesta cidade escolas caindo aos pedaços. Principalmente as estaduais e municipais. A Unir daqui é um centro de excelência com influência até na Bolívia. Seu curso de medicina é referência mundial. Com vestibulares altamente organizados e inteligentes, milhares de alunos do Brasil inteiro deixam suas cidades de origem no centro sul para prestar exames em Porto Velho. Alguns desses universitários chegaram até a propor boicote ao ENEM. Por ter uma das maiores concentrações de professores-doutores por metro quadrado, o desejo de todo jovem porto-velhense é estudar no Campus do Lixão. Sempre se vêem doutores e cientistas de outras universidades do país chegar a Porto Velho para receber experiências com os mestres e doutores locais.

Os alunos daqui são tão politizados e conscientes que lembram as barricadas de Paris de 1968. Acreditam que fazem protestos contra as péssimas condições da rede física das escolas públicas e contratam para isso a banda Cariocas MC'S. Certamente o JN no Ar não viu o melhor de Rondônia e talvez por isso não deu as informações corretas. O índice de analfabetismo daqui não é o mesmo do Brasil. É bem menor. Basta observar nos comentários que os internautas fazem nos sites locais de notícias. Quase não se observam erros de gramática e ortografia. A equipe global deveria ter vindo para cá. Para ter mais segurança poderia ter se hospedado na Base Aérea de Porto Velho. Teria tido um tratamento VIP dispensado pelos cabos e soldados que servem lá. Além do mais, Ernesto Paglia ganharia experiências e aprenderia muita coisa se fizesse contato com os "jornalistas de barranco e adoradores de hinos" que só existem na capital. Mas não tem problemas: os Suruís e Cacoal nos representaram muito bem e por isso estão de parabéns.


*Leciona em Porto Velho.

terça-feira, 7 de setembro de 2010


Sete de Setembro: Brasil Independente e Feliz?


Professor Nazareno*

(Charge de Guto Cassiano)


Semana da Pátria, Sete de Setembro. Bandeirolas verde-amarelas enfeitam os pavilhões. Desfiles civis e militares pelas ruas. Céu ainda com um pouco de fumaça. Os ex-combatentes e o pessoal da ativa com os peitos estufados de medalhas deixam o reumatismo de lado e vão às ruas. Aplausos e mais aplausos. As Forças Armadas fazendo a única coisa que sabem fazer: desfilar, engraxar os sapatos e mostrar roupas de gala impecavelmente passadas. A multidão delirando de orgulho e ufanismo. Mais um espetáculo circense enchendo os olhos dos incautos, da mundiça ignara, dos abestados de plantão. É a “independência do circo” triunfando sobre a mesmice dos palhaços, a massa. Cantam-se hinos mentirosos. O de Rondônia fala de um céu azul, sempre azul. Já o do Brasil fala de uma brava gente! De um formoso céu risonho e límpido! Hinos idiotas que deviam homenagear São Pedro, o único que combate a fumaceira na região. Por que, calados, aceitamos tantas mentiras e fantasias?

Se metade dos brasileiros, estes que vão aos desfiles da Semana da Pátria, conhecessem a verdadeira história deste país, ficariam envergonhados de comemorar tal data. Se conseguissem perceber que grande parte das autoridades que recebem aplausos e ovações desse povão são as mesmas que lhe negam os mais elementares direitos, a história deste país certamente seria outra e escrita de modo bem diferente e entendida de modo igualmente diferente. São estas mesmas autoridades que representam este Estado voraz que nos engabela quase 40 por cento em impostos. Como um povo pode tão bovinamente aceitar tudo isto sem a nada reagir? Por que tanta gente simplória fica com os olhos marejados de emoção? Simples: faltam-lhe a consciência crítica e a política e só querem circo mesmo.

O desfile de Sete de Setembro é um espetáculo triste, patético, medonho, deprimente e acima de tudo falso e alienante. As polícias (são muitas polícias) mostram as armas de última geração com que depois vão bater nesta mesma platéia (aplausos). O IBAMA e as Secretarias de Meio Ambiente mostram as últimas tecnologias para combater incêndios em florestas. Helicópteros de combate ao fogo rugem seus motores sobre nossas cabeças. Aviões de caças (restos da Segunda Guerra Mundial) fazem acrobacias. Mais aplausos. Pelotão do Corpo de Bombeiros do Estado de Rondônia na Avenida: por causa da competência e esmero de sua função no combate ao fogo urbano, estrondosos aplausos que até ensurdecem. O povo arrepiado de tanto civismo e patriotismo chora de emoção. As pessoas se abraçam e se confraternizam. "É o progresso de Rondonha", afirmam. Difícil segurar as lágrimas quando o Batalhão de Polícia Ambiental desfila: haja denodo e bravura no combate aos incêndios florestais.

Este país nunca foi independente, pois não pode haver independência com povo no cabresto sendo vassalo da elite, de poucos. Desde a velha e manjada farsa encenada por D. Pedro I em 1822 que a mentira vem sendo mostrada ano após ano nas ruas do Brasil. E a lógica é perfeitamente seguida: se tem espetáculo, tem público. Em vez de perder tempo passando suas roupas ou mostrando suas armas ultrapassadas, os nossos militares deviam se preocupar com coisas mais cívicas. As nossas fronteiras estão desguarnecidas faz um tempão. Os Estados Unidos se aproximam perigosamente da nossa Amazônia com a instalação de bases militares na vizinha Colômbia. As queimadas na Amazônia são um caso de segurança nacional e os "milicos" não dão um pio sequer sobre o assunto.

E os nossos políticos, onde estão eles? Alguns vão aos palanques receber as palmas da platéia porque sabem que neste dia geralmente os eleitores se esquecem das mazelas do Hospital João Paulo Segundo, do trânsito infernal, da dengue, dos escândalos da compra de votos a cem reais, das obras inacabadas da cidade de Porto Velho, do lixo, da falta de saneamento básico, da energia gerada para fora do Estado, da violência, da Unir, do IBAMA, da cidade sem cultura, dos programas policiais, dos mototáxis, dos muitos escândalos na política, das espúrias coligações políticas com objetivos imorais, das incontáveis operações da Polícia Federal. Nos confins de cada Estado, certamente, os políticos são ovacionados pelos seus desdentados e maltrapilhos eleitores: E viva a "Independência do brasil”!


*É professor em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)