quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Macaquinhos no teatro dos CUpins



Macaquinhos no teatro dos CUpins

Professor Nazareno*

            Depois do falso terremoto que teria sacudido a cidade de Porto Velho e causado “sérios danos” aos seus belos viadutos e ao Espaço Alternativo, a notícia de maior repercussão ultimamente, no entanto, veio de fora. Foi a apresentação da peça teatral “Macaquinhos” no Teatro do SESC em Juazeiro do Norte lá no longínquo Ceará. Baseada no livro “O povo brasileiro” de Darcy Ribeiro, a polêmica peça envolve nove atores, que dentre outras coisas, ficam em cima do palco cutucando e cheirando a BUNDA um do outro. A plateia delira e fica em êxtase. Porém, os fiscais de CU alheio espalhados pelo Brasil não gostaram da performance artística e desabafaram sua ira nas redes sociais. Sem entender absolutamente nada de arte, muitos internautas de Rondônia disseram que mexer no TOBA do outro não pode ser considerado nada artístico.
            A peça Macaquinhos deveria ser apresentada em Porto Velho. Primeiro por que a cidade é um verdadeiro ÂNUS, então combinaria. Se o Brasil fosse um corpo humano já se sabe qual o órgão que Rondônia representaria. Porto Velho seria pior ainda: ficaria localizado no FIM DA TRIPA GAITEIRA, o ESFÍNCTER ANAL. Uma capital repleta de obras inacabadas, sem água potável e sem rede de esgotos só pode ser comparada mesmo a um FIOFÓ. Lixo, podridão, fedentina e carniça espalhada no meio das ruas, a “capital das sentinelas avançadas” fede muito mais do que qualquer FURICO. Isso sem falar nas últimas decorações natalinas a que a cidade foi covardemente submetida. Além do mais, a referida criação é a síntese do povo brasileiro: levando no RABO e cantando alegre e feliz. Aqui é todo mundo botando no FRESADO do outro sem acanhamento.
A peça não é imoral como muitos pensam. Imoral e indecente é a nossa política partidária. Existe algo mais ridículo do que a bancada BBB do Congresso Nacional? E o PMDB, o PT e outras indecências? Alguém vai jurar que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados é um cidadão íntegro e probo. O Mensalão e o Petrolão são bem piores do que qualquer BUFANTE e quase ninguém reclama de nada. A Câmara de Vereadores de Porto Velho e a Assembleia Legislativa do Estado, por exemplo, não são instituições que possam ensinar moral e ética a ninguém. Imoral, fedorento e abominável é o aumento, de novo, nas contas de energia elétrica e também a novela dos transportes coletivos de Porto Velho e a corrupção e roubalheira escandalizada do dinheiro público que parecem até coisas legais, decentes e moralmente aceitáveis.
Num país com hábitos culturais exóticos como o Brasil onde 92,5% não costumam ir a exposições de arte, 91,2% não vão a espetáculos de dança, 88,6% não frequentam teatro, 80,6% não vão a shows e mais de 70% não leem livros é absurdo e totalmente descabido e inconsequente se fazer crítica a qualquer peça teatral. Alguém pode até dizer que há dinheiro público patrocinando estes artistas. E de onde sai o dinheiro que banca os nossos políticos? Rompimento de hidrelétricas em Porto Velho, terremoto fictício, e agora uma peça teatral bolinando o ORIFÍCIO DA MALDADE dos outros. Ninguém devia se preocupar com o RETO alheio nem com mentiras e invenções tolas quando se têm tantas coisas mais importantes para se discutir em todo o país. Não assisti à peça, mas acho que ela vai ficar “ANOS” em cartaz. O BUTICO do próximo sempre foi algo artesANAL. Quem não se lembra da famosa EXPO-CU de Paris?




*É Professor em Porto Velho.
 

domingo, 15 de novembro de 2015

Santa Maria, Mariana, Paris




Santa Maria, Mariana, Paris

Professor Nazareno*

        Tragédias sempre aconteceram na história da humanidade. De causas naturais ou ligadas à ação humana, as catástrofes já causaram mais mortes do que todas as doenças e epidemias. Revoluções, guerras, acidentes aéreos, incêndios, atentados terroristas, epidemias de proporções colossais sempre meteram medo e ainda assustam todos os seres humanos. Hoje em dia, o que diferencia uma tragédia de outra, no entanto, é a reação das pessoas a elas. O incêndio da Boate Kiss em janeiro de 2013 em Santa Maria no Rio Grande do Sul matou mais de 250 pessoas e infelizmente já é um assunto totalmente esquecido pela mídia e por quase todos os brasileiros. Recentemente o desastre de Mariana em Minas Gerais, que vitimou algumas dezenas de pessoas e matou o rio Doce, já perdeu a sua importância para os atentados terroristas de Paris na França.
            Toda tragédia é horrorosa e abominável e devia ser lamentada por todos. Se morreu uma única pessoa ou se morreram milhares, o fato deve ser repudiado e devem-se criar mecanismos para evitar a sua repetição. Mas infelizmente muitas pessoas não veem dessa forma. Os atentados terroristas em Paris mataram até agora 132 pessoas e deixaram outras 352 feridas. O mundo inteiro está consternado. A mídia não fala de outra coisa. O Jornal Nacional da Globo se despede em silêncio total. O fato é notícia nos jornais do mundo inteiro. Mas ninguém dá um pio quando jatos de guerra franceses bombardeiam cidades no Iraque ou na Síria matando centenas de pessoas também inocentes e causando o mesmo terror de Paris. No Afeganistão ocupado, a carnificina não é diferente. Na Síria mísseis russos dilaceram pessoas todos os dias e não é notícia.
            No Brasil a briga não é para saber o porquê das atrocidades na França, mas por que as pessoas daqui não se preocupam com as nossas tragédias. O Facebook muda a cor do seu perfil e todo mundo de uma hora para outra vira francês. Boate Kiss, Mariana e outras catástrofes locais não chegam nem perto do nosso pior drama: mais de 52 mil cidadãos brasileiros são mortos todos os anos. Hoje, serão assassinadas no nosso país pelo menos 143 pessoas segundo estatísticas. Isso sem falar nas vítimas de acidentes de trânsito. Nossos mortos não têm rosto nem identidade e são tão insignificantes que não são sequer lembrados pelas redes sociais e pelo Poder Público. Os Estados Unidos, por exemplo, “pediram” o onze de setembro assim como a França “provocou” a atual situação. E essa briga não é por causa de religião. É pelo petróleo abundante da região.
            Se tivéssemos amor ao próximo como dizemos ter, devíamos lamentar o atentado às torres gêmeas, a Paris, Londres, Beirute, Madri, Damasco, Kandahar, o acontecido de Mariana, Santa Maria e todo lugar onde se tira a vida de inocentes por questões político-ideológicas, religiosas, econômicas ou mesmo por incompetência como é o caso do Brasil. Devíamos lutar por um mundo melhor para todos. Devíamos participar mais da política e exigir dos nossos governantes mais decência e honestidade para com os governados. A nossa luta não seria somente nas redes sociais, mas nas ruas, no Congresso, nas Assembleias, Câmaras e principalmente na hora de votar. Não devemos orar por Paris, pois rezar lembra religião e foi por causa dela que tudo isto aconteceu. Mas toda crença é boa e prega o bem. Nenhuma quer a morte de ninguém. Tragédias não são mais ou menos importantes e não se comparam, apenas se lamentam. Enfim, um mundo onde a solidariedade é seletiva não é um bom lugar para se viver.



                    *É Professor em Porto Velho.

sábado, 14 de novembro de 2015

“Quem semeia ventos...”



“Quem semeia ventos...”


Professor Nazareno*

           
        “Meu nome é Bashir Al- Mouhhamad. Tenho 25 anos, sou operário de construção e nasci na cidade de Qatana na República da Síria. Próximo à fronteira com o Líbano, o meu torrão natal sofre constantes bombardeios desde que se iniciou a sangrenta guerra civil que dilacera o meu país. Sou de uma família muito pobre. Meu pai era lavrador e minha mãe sempre cuidou das tarefas de casa. Éramos 12 filhos que, apesar das dificuldades, sempre tínhamos o que comer e o que vestir. De tradição muçulmana, a nossa cultura sempre foi respeitada por todos os que nos conheciam. Talvez por não entender bem, nunca nos metemos em política. Pouco falávamos sobre este assunto nas mesquitas e também em casa quando fazíamos as nossas orações. Sou casado com três esposas e destes relacionamentos nasceram cinco filhos, todos seguidores de Alá.”
        “Há quase dois anos, no entanto, um caça “Rafale” da Força Aérea francesa em voo rasante disparou vários mísseis que atingiram em cheio o quarteirão e a casa onde morávamos. Foi uma carnificina. Pedaços de pessoas voaram por todos os lados e o sangue banhou a nossa humilde rua. Gritos de horror e medo tomaram conta de todos nós. Desespero, choro e agonia voltavam a nos assustar toda vez que os jatos franceses retornavam em voos rasantes. Neste ataque covarde, perdi meu pai, minha doce mãe e quase metade de meus irmãos. Só uma de minhas esposas escapou ilesa. As outras duas morreram na hora. Perdi três filhos e o mais novo, Kalled Faiçal ficou com sérios ferimentos. A minha filha mais velha, Aisha Laila, de 13 anos, foi dividida em duas pelas bombas assassinas. Em minhas mãos, sua cabeça de adolescente ainda sangrava.”
        “Minha família nunca fez nada de mal contra nenhum francês, russo, norte-americano ou europeu. Não entendo porque o governo da França mandou seus aviões matarem as pessoas que eu tanto amava. Meus parentes nem sabiam da existência desses países. Muito triste e desolado, me mudei para Damasco, a capital do meu país, com a minha única esposa e os filhos que me restaram. Porém, a matança e as carnificinas continuaram sem dó nem piedade. São muitos grupos que guerreiam pelo poder na Síria. Têm as tropas do nosso Presidente, Bashar al-Assad, têm os seus opositores, tem o Estado Islâmico, os curdos também estão na briga assim como nações estrangeiras como Rússia, Estados Unidos, França e Inglaterra. Todos vendem armas modernas, aviões e tanques que diariamente ajudam na matança dos inocentes sírios.”
        “Outro dia presenciei um terrível bombardeio em um bairro residencial de Damasco. O sangue escorria em meio aos escombros. Só crianças despedaçadas eram quase três dezenas. Mães choravam desesperadas. Velhos, mulheres e jovens mutilados e aos prantos gritavam de dor. O horror estava em seus rostos sofridos. Aquilo era a visão do inferno. Mas o mundo não noticiou nada daquele bombardeio em que duas escolas e um hospital foram alvos. Alepo, a segunda mais importante cidade da Síria tem destino igualmente cruel. A rotina diária são as bombas matando cidadãos comuns e inocentes. Várias outras localidades do meu país são castigadas por chuvas de mísseis. Aqui aprendemos a conviver com a morte. O mundo não quer respeitar a nossa religião, a nossa língua, a nossa cultura, a nossa riqueza e os nossos costumes. Mais de 250 mil pessoas já perderam a vida nesta estupidez. Quando pararão de trucidar a nossa gente?”





*É Professor em Porto Velho.