domingo, 15 de novembro de 2015

Santa Maria, Mariana, Paris




Santa Maria, Mariana, Paris

Professor Nazareno*

        Tragédias sempre aconteceram na história da humanidade. De causas naturais ou ligadas à ação humana, as catástrofes já causaram mais mortes do que todas as doenças e epidemias. Revoluções, guerras, acidentes aéreos, incêndios, atentados terroristas, epidemias de proporções colossais sempre meteram medo e ainda assustam todos os seres humanos. Hoje em dia, o que diferencia uma tragédia de outra, no entanto, é a reação das pessoas a elas. O incêndio da Boate Kiss em janeiro de 2013 em Santa Maria no Rio Grande do Sul matou mais de 250 pessoas e infelizmente já é um assunto totalmente esquecido pela mídia e por quase todos os brasileiros. Recentemente o desastre de Mariana em Minas Gerais, que vitimou algumas dezenas de pessoas e matou o rio Doce, já perdeu a sua importância para os atentados terroristas de Paris na França.
            Toda tragédia é horrorosa e abominável e devia ser lamentada por todos. Se morreu uma única pessoa ou se morreram milhares, o fato deve ser repudiado e devem-se criar mecanismos para evitar a sua repetição. Mas infelizmente muitas pessoas não veem dessa forma. Os atentados terroristas em Paris mataram até agora 132 pessoas e deixaram outras 352 feridas. O mundo inteiro está consternado. A mídia não fala de outra coisa. O Jornal Nacional da Globo se despede em silêncio total. O fato é notícia nos jornais do mundo inteiro. Mas ninguém dá um pio quando jatos de guerra franceses bombardeiam cidades no Iraque ou na Síria matando centenas de pessoas também inocentes e causando o mesmo terror de Paris. No Afeganistão ocupado, a carnificina não é diferente. Na Síria mísseis russos dilaceram pessoas todos os dias e não é notícia.
            No Brasil a briga não é para saber o porquê das atrocidades na França, mas por que as pessoas daqui não se preocupam com as nossas tragédias. O Facebook muda a cor do seu perfil e todo mundo de uma hora para outra vira francês. Boate Kiss, Mariana e outras catástrofes locais não chegam nem perto do nosso pior drama: mais de 52 mil cidadãos brasileiros são mortos todos os anos. Hoje, serão assassinadas no nosso país pelo menos 143 pessoas segundo estatísticas. Isso sem falar nas vítimas de acidentes de trânsito. Nossos mortos não têm rosto nem identidade e são tão insignificantes que não são sequer lembrados pelas redes sociais e pelo Poder Público. Os Estados Unidos, por exemplo, “pediram” o onze de setembro assim como a França “provocou” a atual situação. E essa briga não é por causa de religião. É pelo petróleo abundante da região.
            Se tivéssemos amor ao próximo como dizemos ter, devíamos lamentar o atentado às torres gêmeas, a Paris, Londres, Beirute, Madri, Damasco, Kandahar, o acontecido de Mariana, Santa Maria e todo lugar onde se tira a vida de inocentes por questões político-ideológicas, religiosas, econômicas ou mesmo por incompetência como é o caso do Brasil. Devíamos lutar por um mundo melhor para todos. Devíamos participar mais da política e exigir dos nossos governantes mais decência e honestidade para com os governados. A nossa luta não seria somente nas redes sociais, mas nas ruas, no Congresso, nas Assembleias, Câmaras e principalmente na hora de votar. Não devemos orar por Paris, pois rezar lembra religião e foi por causa dela que tudo isto aconteceu. Mas toda crença é boa e prega o bem. Nenhuma quer a morte de ninguém. Tragédias não são mais ou menos importantes e não se comparam, apenas se lamentam. Enfim, um mundo onde a solidariedade é seletiva não é um bom lugar para se viver.



                    *É Professor em Porto Velho.

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