segunda-feira, 25 de março de 2013

É gostoso falar (mal) dos outros



É gostoso falar (mal) dos outros


Professor Nazareno*

           Não sei se Sócrates ou Platão, ou nenhum deles, falando sobre leitura de mundo, teria afirmado que as pessoas, em relação ao saber, se dividem em três tipos: os sábios são aquelas que falam sobre ideias, os normais falam sobre coisas e os medíocres são aqueles que falam sobre pessoas. Os indivíduos inteligentes discutem ideias, são geralmente empreendedores, discutem suas aspirações, projetos para o futuro, para si ou em conjunto com seus entes queridos. Já as pessoas comuns ou normais falam sobre coisas do cotidiano, acontecimentos recentes ou passados. Enquanto que as pessoas medíocres são vulgares, bisbilhoteiras, fofoqueiras e só se preocupam em falar mal dos outros. O dia-a-dia dos medíocres se resume a intrigas e futricas, a falsos julgamentos, a bater o martelo muitas vezes sem nenhum conhecimento de causa. O medíocre geralmente nada conhece e se guia pelo senso comum.
Mas convenhamos: é gostoso falar mal dos outros. Eu também gosto e confesso que às vezes sou flagrado “descendo a língua” principalmente em quem está ausente. Só que é preciso se policiar para não passar dos limites. É preciso entender até que ponto a nossa atitude medíocre não vai causar problemas para terceiros, não vai desencadear crises insolúveis e mexer com que está quieto. Deve ser por isso que no Brasil, que tem uma sociedade extremamente medíocre, a bisbilhotice e a fofoca fazem sucesso nacional. O alheio em nosso país é da conta de todo mundo. Como se fosse uma coisa rotineira e mais do que normal, aqui se fala mal do vizinho, da filha do vizinho, da mulher do vizinho, do conhecido, do parente, do padre, do pastor, do Governador, do Prefeito e até da Presidenta. Ninguém em nosso país está a salvo da maldade alheia e das fofocas. Até a mídia, muitas vezes, ajuda a meter a língua nos outros.
Incrível, mas os programas de maior audiência da nossa televisão são exatamente aqueles que cuidam da vida dos outros, da bisbilhotice pura e simples como novelas, BBB e outras porcarias televisivas que especulam sobre o que os outros fazem em sua intimidade. Na internet só dão audiência as matérias que especulam sobre fofocas, intrigas e comportamentos. A adolescente desapareceu? Chegou tarde a casa? Rompeu com o namorado? Está de namorado novo? Com quem ela saiu? Dormiu fora de casa? O que seus pais disseram? Alguém falou sobre o fato? Milhares de comentários. Pessoas até então desconhecidas dão palpite, opinam, dão conselhos, censuram. Tudo terminou bem e por isso jornalistas se aborrecem na suposta matéria perdida. Os programas policiais, típicos de gentinha sem bom senso, sem a menor leitura de mundo, fazem muito sucesso e estão entre os carros-chefes das emissoras de rádio e televisão.
Até falar de coisas normais é possível. Impossível mesmo é discutir ideias, pensar sobre o futuro, tecer comentários inteligentes sobre a sociedade e as pessoas. Não discutimos política, não participamos das decisões mais importantes da nossa sociedade nem nos preocupamos com o nosso destino. Não falamos sobre a qualidade da nossa Educação, da Saúde pública ou do saneamento básico da nossa cidade. Mas queremos saber quem matou a mocinha da novela ou engravidou a boa jovem que com ela contracenava. Por isso, enquanto a nação for refém desta maioria medíocre e burra as coisas jamais se consertarão. Grande parte do nosso eleitorado é alienada, burra e despolitizada. Poucos votam com consciência e conhecimento. Falamos mal dos outros como se eles não vivessem a nossa mesma realidade. Para muitos de nós, brasileiro é sempre o outro. O Facebook, por exemplo, só faz tanto sucesso no Brasil porque somos fofoqueiros. Até pessoas semianalfabetas estão nas redes socais bisbilhotando a vida dos outros. Ou então escrevendo textos que falam sobre pessoas ou lendo e comentando estes textos.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Nós somos a violência



Nós somos a violência

Professor Nazareno*

             O Brasil, embora apresente uma produção de riquezas que o deixa entre as maiores economias do planeta, tem paradoxalmente uma das sociedades mais violentas do mundo. Cai por terra qualquer propaganda no sentido de se dizer ou fazer acreditar que somos o país da paz e da fraternidade. Aqui, anualmente, morrem mais pessoas do que a soma de todas as guerras que estão sendo travadas na atualidade. Pelo menos 50 mil cidadãos são assassinados todos os anos em nosso país numa incrível marca de 136 mortes diárias. São mais de 60 mil mortos no trânsito, fora os casos de violência mais explícitos como roubos, assaltos, estupros, arrombamentos, agressões, xingamentos, intolerância, racismo, preconceito e o uso desnecessário da força. Por isso, somos lamentavelmente uma potência pontilhada de grotões que lembram um país em guerra. Além de carnaval e futebol, aqui também se mata muito e de forma cruel e desumana.
            Infelizmente esta loucura é o resultado da sociedade que nós próprios forjamos nestes 513 anos de existência. Da ditadura colonialista de Portugal passando pelo inferno da escravidão e da implantação de uma das piores formas de capitalismo do mundo, praticamente a única coisa que fizemos durante este período foi aumentar cada vez mais a exploração contra nossos irmãos brasileiros. Aliada a esta aberração histórica, desenvolvemos a alienação e a estupidez coletivas e viramos reféns de nossos próprios atos. Protestamos contra a morte de nossos jovens, principalmente, como os casos em Porto Velho das jovens Naiara Karine e Raíssa Lopes e de tantas outras indefesas vítimas, mas nos esquecemos de que os verdadeiros culpados continuam livres e impunes, pois a verdadeira “máquina que mata” parece que nunca é afetada com a nossa dor e os nossos protestos. A violência nos cerca e se aproxima de nós.
            Enquanto sociedade organizada, somos muitas vezes abjetos, cretinos e hipócritas. Em fevereiro, colocamos 150 mil pessoas nas ruas de Porto Velho numa ridícula banda de carnaval que só incentiva o consumo de álcool, drogas e mais alienação e não exigimos de nossas autoridades maiores e melhores investimentos em segurança pública por exemplo. Na Marcha para Jesus, Carnaval Fora de Época ou Passeata do Orgulho Gay mobilizamos igual número de participantes somente para mostrar a nossa orientação sexual, religiosa ou cultural e parece que nos esquecemos de que a sociedade necessita de boa Saúde com hospitais públicos decentes, Educação pública de qualidade, saneamento básico e segurança, principalmente segurança. Todas estas manifestações devem existir, é pluralidade, mas por que não outras? Quantos de nós nos mobilizamos para exigir dos nossos governantes melhoras nestes últimos itens?
            A violência está dentro de cada um de nós quando de forma intolerante, racista e preconceituosa discriminamos o nosso irmão que é homossexual, quando queremos que o Poder Público adote sem discussões a pena de morte, quando incentivamos numa absurda volta ao passado medieval o “olho por olho e o dente por dente”, quando não cobramos os nossos mais elementares direitos, quando nas eleições votamos em canalhas corruptos e ladrões e nada cobramos deles depois de eleitos, quando, por comodismo e alienação, não exigimos mudanças na nossa frágil legislação, quando aceitamos a impunidade só dos ricos e abastados, quando damos audiência a programas cada vez mais alienantes da nossa mídia, quando discriminamos o outro por causa de sua religião, time de futebol e até modo de vida, quando não valorizamos a Educação e a Política, quando, enfim, fazemos chacota com a política de Direitos Humanos em nosso país e não participamos de passeatas e protestos contra a violência. Por isso, somos muitas vezes os causadores dessa mesma violência absurda que tanto abominamos.



*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Coisas só de Rondônia



Coisas só de Rondônia


Professor Nazareno*

           
Ouve-se falar com certa frequência que o Estado de Rondônia, apesar da pujança verificada no restante do país, estaria vivendo uma crise econômica. Deve ser mais uma dessas tolices que se inventam para enganar os trouxas. Este Estado jamais passaria qualquer aperto se usasse adequadamente todas as suas prerrogativas. Rondônia detém hoje o maior número de excentricidades de que se tem notícia em todo o território nacional e poderia muito bem exportá-las para qualquer lugar do mundo e cobrar uma espécie de royalties e assim aumentar o seu PIB. Realmente, não se conhece hoje, em praticamente nenhuma cidade do país, um shopping Center que tenha uma enorme madeireira em seu pátio. Porto Velho não só tem esta excrescência como tem também outro shopping, só que, como a maioria das construções da capital, ainda está inacabado. Ou seja, somos a única cidade que temos um shopping e meio.
Porto Velho é uma das poucas cidades do mundo onde estranhamente “só se trabalha quando não chove” e como aqui chove quase nove meses ao ano, as autoridades municipais se gabam disto e dão até entrevistas admitindo a “novidade”. Deve ser por isso que se tentou fazer uma enorme ponte que não tem serventia para nada. Sem precisar secar o caudaloso rio Madeira, não é que os rondonienses conseguiram a proeza de quase terminá-la no tempo previsto? Quase, pois ainda falta indenizar algumas famílias para a obra finalmente ficar pronta e não dar mais prejuízos aos porto-velhenses. Gastar mais de 300 milhões de reais para apenas subsidiar farinha de mandioca e para tirar belas fotos em cima do excêntrico monumento é algo para quem tem muito dinheiro vadio e sobrando ou então para fazer inveja aos simplórios e matutos. Como não temos uma universidade estadual ou bons centros de pesquisa, para quê estrada? Se houver necessidades de se ter uma no futuro, depois se faz.
Tão rondoniense quanto o bombom de castanha ou de cupuaçu e a cerveja suja (até que poderia ser limpa), não há nada mais telúrico para a gente daqui do que os “viadutos com manilhas”. Know-How de Primeiro Mundo, essas obras que dão acesso à cidade, são a “menina dos olhos” de quase todo cidadão de Porto Velho. Há comentários de que engenheiros da União Europeia e da China estariam interessados nesta mais nova tecnologia que seria exportada para alavancar o progresso e o desenvolvimento de suas respectivas e atrasadas regiões. Estes viadutos apresentam um “savoir-faire” que encantou as autoridades mundiais: próximo de suas frágeis e tortas pilastras de sustentação, pode-se criar caranguejos e outros tipos de animais da lama, além de servir perfeitamente para os carros esperarem a abertura dos semáforos que foram estrategicamente colocados embaixo de cada um deles. É Rondônia e sua gente ensinando novas tecnologias ao mundo “subdesenvolvido”.
Na área da política, ninguém tem mais a ensinar ao exterior do que Rondônia. As lições de como roubar muito dinheiro público e não ser preso, assaltar cinicamente o Erário, fraudar licitações, desviar verbas, enriquecer ilicitamente, falir um Estado, zombar da Justiça e dos cidadãos de bem e nada temer só podem ser ensinadas e aprendidas neste pedaço de Brasil. Um viajante desavisado talvez não entendesse as peculiaridades que só existem nestas terras. Aqui, todo final de ano, parte da mídia se confraterniza de forma bisonha com a classe política numa reedição inédita do mantra bestial “é dando que se recebe”. Tão comum quanto o “refrigerante no saquinho”, só aqui temos campos de extermínio de pobres que funcionam como hospital de pronto socorro, grandes hidrelétricas só para beneficiar os forâneos, OAB que sabe lidar com precatórios, comunistas milionários, capital sem futebol, mas com uma federação, ginásio de esportes que funciona como hospedaria, governadores e prefeitos da capital quase todos eles importados, carnaval sem desfiles, interior com a supremacia econômica do Estado e mais uma penca de bizarrices e coisas sinistras que deviam nos trazer notoriedade e uma rendinha extra.


*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Deus não é brasileiro...



O Papa é argentino... E Deus também


Professor Nazareno*

           
       A eleição do cardeal argentino, da Arquidiocese de Buenos Aires, para suceder o Papa Bento XVI, que renunciou de suas funções recentemente, põe por terra em definitivo, uma crença absurda cultivada entre os milhões de compatriotas nossos: a de que Deus é brasileiro. Essa é uma das maiores mentiras e lorotas já difundidas entre nós. Uma verdadeira estupidez e falta de bom senso, pois se Deus existe, como se afirma com tanta convicção, certamente Ele não escolheria e nem gostaria de ter a nacionalidade de um “paisinho” de quinta categoria como é o nosso. Com tantas opções e lugares bem melhores do que o Brasil, o Todo Poderoso não faria uma tolice dessas. Primeiro por que se tratando de um ser divino, onisciente, onipresente e onipotente  imagina-se que não seria tão burro ou idiota a ponto de fazer tal escolha. Depois por que sendo nascido aqui, poderia ser confundido com um ser medíocre, estúpido, de pouca inteligência, interesseiro, malandro e de pouco reconhecimento no resto do mundo.
O novo papa, Jorge Mario Bergoglio, autodenominado Francisco, e não Francisco I, pois ainda não foi eleito nenhum outro com o mesmo nome, demonstrou de início ser também um homem muito simples e humilde: “foram me encontrar no fim do mundo para liderar os cristãos católicos”, disse serenamente. Porém, este fim do mundo a quê se referiu está bem à frente da nação que muita gente tola e desinformada acredita ser o lugar de nascimento de Deus. Os argentinos despontam no cenário mundial com números estatísticos bem melhores do que o Brasil. Em quase todos os aspectos analisados, os “hermanos” nos destronam e são muito superiores. A começar pelo sistema de Educação. Atualmente, a educação na Argentina é considerada como uma das mais avançadas e progressistas da América Latina, e firmemente reconhecida e destacada por diversos organismos internacionais como a UNESCO e a UNICEF. E a nossa?  Qual o lugar de destaque das nossas escolas e do nosso sistema de educação?
O Hino Nacional da Argentina é lindo e tem uma melodia que arrepia de emoção quem o ouve. Todos os cidadãos nascidos lá o cantam de maneira orgulhosa e de peito estufado. O daqui, além de feio e sem nenhuma graça, é apenas balbuciado nas solenidades por meia dúzia de pessoas que mal conseguem entender a sua complicada e medieval letra. Com 42 milhões de habitantes distribuídos por uma área quase a metade da nossa, os argentinos ostentam um IDH duas vezes melhor do que o seu “vizinho gigante.” Os indicadores sociais argentinos os credenciam como um dos melhores países do mundo para se viver, apesar de alguns problemas que enfrentam vez ou outra. No cinema, o país já ganhou o Oscar duas vezes. Prêmio Nobel é até rotina entre os nossos vizinhos: já ganharam pelo menos cinco. Sendo dois de Medicina, dois da Paz e um de Química. Quais os nossos prêmios internacionais? Tem algum que valha a pena? Camaro amarelo, Lek, Lek e Eguinha Pocotó são as nossas melhores músicas.
Na política, também perdemos. Lá os ditadores foram punidos e todos estão presos. Por medo ou conveniência, nós nunca acertamos as contas com o nosso passado ditatorial. A corrupção deles é bem menor do que a nossa. Tolice falar do futebol. Embora tenhamos cinco títulos mundiais, o esporte jogado nos gramados portenhos é bem melhor do que o nosso. Os times de lá são mais eficientes do que os daqui e Messi é atualmente o melhor jogador de futebol do mundo. No campo, Maradona foi superior a Pelé em tudo. Ver a seleção nacional da Argentina jogar é presenciar um exercício de nacionalidade, de garra e de amor à Pátria. Os argentinos inventaram o ônibus, a caneta esferográfica, o sistema de impressão digital, o marca-passo e o doce de leite e, além disso, Rondônia e Porto Velho se localizam no Brasil. Por todas estas qualidades, a escolha de um argentino para ser Papa foi a coisa mais acertada que o Vaticano e os cardeais fizeram. É possível que se brasileiro administrasse a Santa Sé apareceria um Mensalão e casos de corrupção podiam virar rotina em Roma. O Papa nasceu na Argentina e Deus também. Com tanto roubo, violência, fome, desigualdade social, incompetência, corrupção e desmandos acho que quem nasceu aqui foi o Satanás, o Capiroto, o “Coisa Ruim”. Em Rondônia, por exemplo, ele já tem até uma ferrovia.






*É Professor em Porto Velho.