quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Mataram o rio Madeira

Mataram o rio Madeira

 

Professor Nazareno*

 

            Há quase 43 anos quando passava pela primeira vez em Porto Velho, eu fiquei admirado com a grande exuberância do rio Madeira. Era o longínquo mês de janeiro de 1981 e perguntei a um senhor se eu podia atravessar aquele magnífico rio a pé. Ele sorriu e disse que era impossível, pois havia uma profundidade muito grande. Algo em torno de 20 metros ou mais no caudaloso canal. Além do mais, disse o homem, há muitos bichos que devoram um ser humano em questão de minutos. O tempo passou e a minha pergunta pode ter uma outra resposta hoje. O velho Madeira perdeu o encanto de outrora e diminui cada vez mais ano após ano. A seca inclemente na região em 2023 associada a um calor insuportável que beira os 40 graus à sombra parece que querem o fim irremediável do décimo oitavo maior rio do mundo. Lula: “não é normal o que acontece no rio Madeira”.

            Secaram o Madeira. E todos vamos pagar por isso. Em seu leito construíram duas grandes hidrelétricas e hoje é a tosca mão humana que determina repiquetes, enchentes e vazantes. O rio Madeira não tem mais madeiras e praticamente nasce em Porto Velho, logo a jusante da hidrelétrica de Santo Antônio. Sem forças, agonizante e debilitado pela ambição do homem, o rio também deixou de ser piscoso. Os poucos e raros peixes que ainda teimam em nadar em busca da piracema perderam o rumo com os paredões que impuseram ao seu habitat natural. Quem não se lembra dos famosos festivais de pesca na extinta cachoeira do Teotônio? Ali sim, era peixe aos montes! Cansei de pegar peixe no tapa. No verão, ao pé das corredeiras era fácil ser pescador. Era curimatá, surubim, pacu, sardinha, pescada, mandi e infinitas outras espécies que matavam a fome de muita gente.

            O rio Madeira está hoje com apenas um metro e trinta centímetros de água. Se não chover pra valer a partir de outubro próximo, vai secar ainda mais e a travessia nele “sem molhar os pés”, que antes era impossível, vai se tornar uma realidade. Até as embarcações de pequeno porte têm restrição para navegar em seu leito seco, cheio de pedras e bancos de areia. A navegação noturna foi proibida. Vilarejos como São Carlos, Nazaré e Calama têm dificuldade de acesso. O rio Madeira já está morto. As hidrelétricas em seu curso condenaram-no à extinção. E as dragas do garimpo ilegal extraindo ouro em seu leito cambaleante e removendo areia completaram o serviço. Provavelmente o velho Madeira nem canal tem mais. Ali está tudo revirado, mexido, destruído. Assorearam o maior rio dos rondonienses. Os poucos peixes que ainda existem estão contaminados pelo mercúrio.

            E quem ganhou com as hidrelétricas? Certamente não foram os “trouxas” dos rondonienses. Aqueles que gritavam de peito estufado no início deste século: “queremos hidrelétricas, já!”. Quanto se paga hoje para ter energia elétrica em Porto Velho? Não é pouca coisa, não. E nestes meses de verão o consumo aumenta exponencialmente. Grande parte da produção energética das hidrelétricas rondonienses vai para o Sistema Interligado Nacional. Rondônia deixou que estuprassem a sua natureza e em troca paga uma das tarifas de energia elétrica mais caras do país. O Estado hoje praticamente está até sem aeroporto, pois os poucos voos regulares que havia foram quase todos retirados sem maiores explicações. Rondônia deu o que tinha para o Brasil e nada recebeu em troca. E a classe política local, rica, pouco ou nada faz. Com essa seca severa no Madeira, até o abastecimento de combustível pode ficar comprometido. Por aqui só falta chover merda.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 24 de setembro de 2023

Como sair de Porto Velho?

Como sair de Porto Velho?

 

Professor Nazareno*

 

            A atual situação em Porto Velho, capital de Roraima, é muito angustiante. Os rondonienses estão quase que sitiados em sua suja e imunda cidade. Aqui quase ninguém consegue sair por água, por rodovia ou mesmo de avião. Voltamos ao antigo Primeiro Ciclo da Borracha em meados dos anos 1800 quando para se viajar à capital do país, precisaria primeiro viajar de recreio para Manaus e somente de lá ir até o Rio de Janeiro. Por aqui praticamente não há mais aviões disponíveis para se viajar. Até há um ou dois voos regulares por dia, mas o problema é o preço que é de desencorajar qualquer um. As principais companhias aéreas do país diminuíram unilateralmente o seu atendimento aos cidadãos porto-velhenses alegando altas demandas judiciais contra elas. Já a classe política e as autoridades em geral fazem o que sempre fizeram nessas horas tristes: nada.

            Hoje para o cidadão comum, aquele que não tem carro próprio, não há como sair tão facilmente assim de Porto Velho. Enquanto a rodoviária nova não sai, a atual está funcionando precariamente perto do porto do Cai n’água em meio à sujeira e à imundície caraterísticas da cidade. Ratos, urubus e muita carniça é a visão caótica de quem chega a esta capital. É preciso usar máscaras para aliviar um pouco a catinga daquele ambiente fétido e promíscuo. Parece até que ainda estamos em plena pandemia do Coronavírus. E como não tem eleições este ano, somente em 2024 é que vão inaugurar o novo terminal de passageiros. Pelo menos essa é a promessa que se escuta. Enquanto isso, turistas e visitantes têm que se conformar com o lodaçal. Se o cidadão chegar num dia de domingo, o tormento aumenta drasticamente, pois ali funciona um feira livre com toda a fedentina.

            Porém a poucos metros daquela insalubre e caótica “rodoviária-feira” está o porto de passageiros no rio Madeira. Não se sabe, no entanto, qual dos dois lugares é mais sujo e fedorento. A concorrência é grande entre porto e rodoviária. Só que esse tal porto nada mais é do que um barranco íngreme, cheio de mato, restos de peixe, comida estragada jogada fora, porco e imundo e que não tem sequer um caminho para os passageiros irem até os barcos. O sebento porto de Porto Velho é a cara da própria cidade: sem a menor infraestrutura e que funciona ali desde os anos áureos dos ciclos da borracha na região. O porto rampeado que a Santo Antônio Energia doou à cidade está inoperante há muito tempo, enferrujando a céu aberto e sem data para voltar a atender com um pouco mais de decência os seus passageiros pobres. Nem por terra nem por água se pode sair de Roraima.

            No aeroporto a situação é pior ainda, embora o ambiente por incrível que pareça tenha um pouco mais de limpeza. Conseguir um voo saindo daqui para Brasília, São Paulo ou outra cidade civilizada qualquer é só para os ricos, políticos e autoridades. O problema é o preço e as infinitas conexões que nos obrigam a fazer. Há casos de até 24 horas entre esperas e conexões para se chegar a São Paulo. Muita gente viaja a Manaus de barco ou vai até Rio Branco ou Cuiabá para tentar a sorte. Como eu não tenho dinheiro nem muitas necessidades, fico por aqui mesmo desfrutando as belezas da terra dos “destemidos pioneiros”. Essas “paragens do poente” nos oferecem coisas bizarras e surreais para se ver. Na Rondônia bolsonarista da extrema-direita, apesar da pobreza imensa de sua gente, ainda é possível ter portadores de deficiência sem direitos e até pessoas pobres sendo censuradas por que conseguem comer carne só uma vez na semana. Sair daqui para quê?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

É difícil viver na democracia

É difícil viver na democracia

 

Professor Nazareno*

 

            A democracia foi criada pelos gregos ainda na Antiguidade Clássica e os primeiros países a implantá-la foram, nessa ordem, Inglaterra, Estados Unidos e França. No Brasil a democracia tem pouco tempo levando-se em consideração os mais de 523 anos de História do nosso país. Depois da Segunda Grande Guerra, nossa democracia reapareceu, ainda que muito frágil. Por isso durou pouco tempo. Em 1964, os militares em conluio com a rica e abastada elite civil deram um golpe e surrupiaram os nossos mais elementares direitos. Somente em 1985 nos devolveram a liberdade. Assim, o nosso atual regime democrático tem apenas 38 anos. Mas esse é o maior tempo ininterrupto em que vivemos sob este regime. Winston Churchill disse que “a democracia é o pior regime político, com exceção de todos os outros”. Viver sob a democracia pressupõe aceitação e até sacrifício.

            Na Nova Ordem Mundial, a maioria dos países ricos e desenvolvidos vive sob o regime democrático. Dos cinco integrantes do atual Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, três deles, exatamente a Inglaterra, os Estados Unidos e a França são defensores ardorosos da democracia e têm suas sociedades baseadas sob esse regime. Já China e Rússia praticamente desconhecem as mais elementres regras de como se viver de forma democrática. Na maioria dos países árabes, em grande parte das nações africanas e nas ex-repúblicas que se autoproclamavam comunistas no Leste Europeu, assim como na periferia do mundo, o jogo democrático quase não faz parte do cotidiano dos governos e das pessoas de um modo geral. Democracia é a aceitação ao diferente. É o respeito ao que foi combinado anteriormente, é acima de tudo, civilidade, fraternidade e boa convivência.

            No Brasil, infelizmente, em muitos ainda reina a mentalidade golpista, truculenta e desrespeitosa para gerir a sociedade. Principalmente na caserna, onde a obediência e a hierarquia reinam quase absolutas. No último governo que tivemos, o ex-presidente Jair Bolsonaro, um militar oriundo do Exército, tentou destruir “o que conquistamos há pouco tempo e a muito custo”. Foram praticamente quatro anos de ataques rasteiros à nossa democracia, que resistiu bravamente. O “Bozo” atacou as instituições democráticas sem trégua durante todo o seu mandato. O STF e seus ministros eram atacados quase que diariamente. No Congresso Nacional, o ex-presidente “comprou” o apoio da maioria para se garantir no cargo sem o menor risco de impeachment. Na PGR tinha a certeza de que não seria importunado pelo procurador Augusto Aras. Mas os podres estão vindo à tona.

            Derrotado e humilhado nas eleições de 2022, Bolsonaro tentou dar um golpe para continuar no poder. A delação premiada de seu ex-ajudante de ordens não deixa quaisquer dúvidas. As Forças Armadas foram até consultados sobre a essa vil possiblidade. E pelo que se sabe até agora, somente a Marinha, por meio do então ministro Almir Garnier, aceitou participar da derrubada do novo governo, que ainda sequer havia tomado posse. Comprovada a armação golpista, todos, inclusive o ex-presidente, têm que pagar caro por terem conspirado contra as nossas instituições. Viver sob uma democracia ainda é muito complicado nesse Brasil de analfabetos funcionais e políticos, por isso nosso regime democrático ainda corre sérios riscos de ser varrido do mapa. O dia 8 de janeiro foi o mais claro exemplo disso. Bolsonaro teve 58 milhões de votos e quase derrota o “Ladrão” como muitos bolsonaristas falam. Mas o Bolsonaro só daqui a oito anos. É a democracia!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A rua Santos Dumont é torta

A rua Santos Dumont é torta

 

Professor Nazareno*

 

Em Porto Velho, a feia e inabitável capital de Roraima, existem pelo menos umas três ou quatro ruas com esse “sugestivo” nome. Ali por trás do inútil ginásio Cláudio Coutinho no bairro Caiari, por exemplo, existe uma que “quase” liga a Avenida Abunã à rua Benjamin Constant cortando a Herbert de Azevedo. E certamente deve haver muitas outras ruas com este nome pela periferia da suja e imunda cidade. Mas esta “nova” rua, apesar de estar também na periferia, tem outra função: dizem que vai ligar a antiga Avenida rio Madeira, a Chiquilito Erse, com a Jorge Teixeira no Espaço Alternativo e de lá vai até o imprestável, obsoleto e já quase parado aeroporto da cidade. Só que tem um detalhe urbanístico surpreendente: em vez de ser uma rua em linha reta, como deveriam ser todas as ruas, ela é torta e muito sinuosa. Estranhamente faz uma curva de quase 90 graus um pouco antes de se ligar à Jorge Teixeira.

            Dizem que a nova rua será a panaceia milagreira que vai resolver o caótico trânsito na Avenida rio Madeira com a Imigrantes na zona norte da cidade. Mentira, tolice! Essa insólita rua vai apenas trocar seis por meia dúzia, uma vez que grande parte do caos será transferido para a frente do Hospital de Base e do supermercado Assaí. O congestionamento sairá da Imigrantes no sentido Leste-Oeste e ficará na Jorge Teixeira, sentido Norte-Sul. Assim como foi feito no viaduto da Campos Sales com a BR-364. O congestionamento só mudou de horário. Antes era pela manhã em frente ao “açougue” João Paulo Segundo. Hoje é à tarde. Da mesma maneira, tenta-se agora mudar o itinerário da Avenida Calama entre a Guaporé e a rua Venezuela, mas somente nos dias úteis entre seis e meia e oito e meia da manhã. Resta saber no relógio de quem será marcado este horário. E nos feriados antecipados ou adiados?

            Óbvio que esta bisonha rua não foi projetada por um Pereira Passos, Jaime Lerner ou um Oscar Niemayer. A rua será infelizmente exatamente igual a quase todas as outras ruas dessa cidade: torta, sem boa calçada, sem meio-fio, sem arborização, sem acesso a cadeirantes e sem rede de esgotos. Fala-se pomposamente que mais de 700 quilômetros de asfalto foram colocados em Porto Velho ultimamente. Só o piche mesmo, pois arborização e saneamento básico são temas tabus por aqui. Segundo o Instituto Trata Brasil, a “capital dos destemidos pioneiros” tem hoje apenas 2,9 por cento de esgoto e saneamento básico. Há oito anos a cidade tinha aproximadamente 2,4 por cento. Neste ritmo, levará uns dois mil anos para se ter a totalidade da capital servida por uma boa rede de esgotos. Fala-se que o Flor do Maracujá, o Carnaval, a Expovel, Parada para Jesus e a Marcha do Orgulho Gay serão na rua torta. Será?

A nova rua Santos Dumont na parte norte de Porto Velho além de ser enviesada pode também ser pouco útil para alguns eventos, uma vez que por não ter ainda arborização será inicialmente uma via extremamente quente e úmida. Sete de Setembro lá será um inferno. Mas se vão arborizá-la, por que então devastaram a pouca cobertura vegetal que havia em suas proximidades? Já não bastava o genocídio absurdo que fizeram com as árvores da Avenida Tiradentes no Pedacinho de Chão? Nada justifica que essa rua não tenha sido projetada em linha reta, já que o terreno é todo plano, não há residências por perto e também não tem outra rua sequer nas adjacências para se ligar a ela. A rua parece ter sido feita em uma currutela ou numa favela. Além do mais, se fosse em sentido retilíneo evitaria possíveis acidentes de trânsito e economizaria até mais combustível. Se for uma artéria projetada para a realização de eventos, as arquibancadas que certamente vão montar lá vão seguir o sentido torto da rua?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


sábado, 16 de setembro de 2023

Os dois erraram


 Os dois ERRARAM

O advogado Hery Kattwinkel confundiu "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Éxupery com "O Príncipe" de Maquiavel. Já o ministro Alexandre de Moraes, que o corrigiu, pronunciou o nome Antoine (ontuâni) como (antoniê).

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

E se o 8 de janeiro triunfasse?

E se o 8 de janeiro triunfasse?


Professor Nazareno*


Eu certamente hoje estaria preso e talvez já sendo torturado em alguma prisão de Porto Velho. A censura voltaria com toda a força ao país. Sites, jornais, rádios e as principais emissoras de TV devidamente fechadas ou sob intervenção de um censor. Os DOI-CODI seriam restaurados em todas as grandes cidades. Eleições diretas canceladas e vários opositores sendo caçados, perseguidos e mortos. Governadores e congressistas eleitos pela oposição estariam em cana. Jair Bolsonaro seria o atual presidente do Brasil. O Congresso Nacional estava fechado e todo o Poder Judiciário estaria sob intervenção do governo federal. STF sob forte tutela. TSE fechado. Milícias de extrema-direita seriam criadas para vigiar todos os que fossem da oposição. Petistas, esquerdistas e simpatizantes de causas mais progressistas vigiados. Professores, jornalistas e sindicalistas todos presos.

Os patriotários, que estavam acampados em frente aos quartéis das Forças Armadas espalhados por todo o país desde a derrota que sofreram nas urnas em 30 de outubro, invadiram Brasília e as instituições democráticas com um único objetivo: golpear a democracia brasileira e reconduzir ao poder o seu “Mito”, que havia fugido para os Estados Unidos e provavelmente tramou a tomada do poder para se perpetuar no Planalto. Mas a ridícula e tosca intifada terrorista dos inebriados bolsonaristas fracassou retumbantemente e o país respirou bem aliviado. Bolsonaro não reconheceu a derrota fragorosa que sofreu nas urnas para o Lula e sem o menor conhecimento da conjuntura política internacional “viajou” numa fracassada experiência golpista que lhe pode trazer ainda sérias consequências. Se culpado, o “Bozo” vai amargar a cadeia por muito tempo.

Sem a chancela dos EUA e da União Europeia, não haverá golpe nenhum na América Latina. A anta Bolsonaro e seus idiotas seguidores pensavam que ainda estavam em plena guerra fria. Fracassaram por pura burrice e falta de visão de mundo. Além do mais, com um golpe a partir do “nada” e sem nenhuma justificativa, o nosso país sofreria retaliações e sanções violentas de todo o mundo desenvolvido e civilizado. Acordos comerciais seriam suspensos e o Brasil sofreria um isolamento internacional jamais visto em toda a História. Aviões comerciais do país seriam proibidos de pousar em aeroportos norte-americanos e europeus. Todos os navios com bandeira nacional seriam impedidos de desembarcar produtos e mercadorias na maioria dos portos internacionais. Países vizinhos rompiam relações diplomáticas conosco e tirariam os seus embaixadores daqui.

Com as sanções, o Brasil não poderia participar de competições organizadas pela FIFA. Com um golpe dado aqui, adeus à Copa do Mundo. Adeus à Copa Conmebol Libertadores e a Sul-americana para os clubes nacionais. Adeus também às Olimpíadas. Investidores internacionais retirariam seus dólares daqui imediatamente e o país sofreria muito com boicotes em todos os níveis. A Zona Franca de Manaus pararia em menos de uma semana. Montadoras de automóveis suspenderiam toda a produção de carros por falta de peças e de outros componentes em um mês aproximadamente. Vivemos em um mundo globalizado e dependemos do mercado externo. Produzimos muitos alimentos, é verdade, mas venderíamos os excedentes para quem? Por isso, foi bom ter fracassado o golpe do genocida contra o Lula, que apesar de ser fraco como presidente, foi eleito de forma democrática. A democracia é o nosso futuro. Ditadura e Jair Bolsonaro nunca mais.


 


*Foi Professor em Porto Velho.


segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Cadê o comunismo, Lula?

Cadê o comunismo, Lula?

 

Professor Nazareno*

 

            Nas últimas eleições presidenciais, votei no Lula no primeiro e no segundo turno. E faria tudo de novo. Eu queria derrotar nas urnas a extrema-direita fascista, genocida, reacionária e retrógrada. Mas já estou começando a refletir melhor. Além de derrotar os golpistas, eu esperava que Lula, o PT e as esquerdas também implantassem de uma vez por todas o comunismo em terras brasileiras. Mas isso está demorando muito e parece que não vai acontecer tão cedo. A bandeira do Brasil continua verde e amarela e não vermelha como deveria ser numa verdadeira nação guiada pelos sábios preceitos de Karl Marx. Lula viaja muito em vez de focar nos problemas do nosso país. Mostra que está ao lado de Putin e de algumas nações consideradas “vermelhas” como Venezuela, Cuba e China. Lula também é presidente do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo.

            A implantação do comunismo no Brasil traria muito mais benefícios para todos os cidadãos do país. A pobreza seria extinta e certamente humilhações como a fila do osso de Cuiabá e as cenas dantescas e surreais de pessoas revirando lixo em busca de comida fariam parte do nosso passado. Com o comunismo, o salário mínimo, com certeza, seria de pelo menos uns mil dólares mensais como é nas nações socialistas da Europa como Espanha, França e Alemanha. Somos uma das dez nações mais ricas do mundo e estamos nos primeiros lugares em produção de alimentos. Este ano de 2023 só a produção de grãos superará a casa das 300 milhões de toneladas. Estamos em primeiro lugar na produção de proteína animal. Por isso, nada justifica ter mais de 30 milhões de miseráveis que passam fome neste país de grande desigualdade social. Só o comunismo para superar essa mazela.

            Já são mais de oito meses de governo petista e até agora nada de mudanças reais à vista. Gente, é a quinta vez que Lula, Dilma e o PT governam o Brasil! Na educação, tudo parece que está do mesmo jeito e assim ficará por um bom tempo. Nada de turno integral nas escolas públicas do país. Nada de valorização real dos professores. E nada de renovações e novas ideias para nos tirar da miséria em que sempre vivemos. Até o Centrão, grupo de políticos conservadores e fisiológicos, já se juntou ao Lula e ao governo petista. Lula é, claro, da esquerda, mas já está de conluio com a direita reacionária e conservadora. Esse Centrão já ganhou dois ministérios e faz parte tranquilamente do governo petista. Num governo comunista de verdade ou até mesmo socialista nada de compactuar com essa gente de ideais capitalistas e retrógrados. É um Brasil conservador?

            Lula, o PT e as esquerdas precisam urgentemente implantar uma revolução para melhorar a vida de todos os brasileiros. Nada dessa desigualdade social monstruosa que nos causa tanta vergonha internacional. Nada de acúmulo de riquezas enquanto grande parte da nossa população passa fome e vive na mais absoluta miséria. Nada de privatizações. Um decreto apenas mudaria as cores da nossa bandeira. No último dia 7 de setembro não vi a nossa flâmula com outra cor mais chamativa do que a atual. E enquanto não se cria um novo hino nacional, a Internacional Socialista deveria substituir o atual e incompreensível hino. Na religião, por exemplo, o Brasil é um país laico, mas o ateísmo precisaria ser mais estimulado entre a população. Se “Deus é o ópio do povo”, o governo tinha que cobrar impostos de todas as Igrejas como fazem muitos países socialistas. Os reacionários perderam as eleições. Por isso, deviam aceitar mudanças. São regras do jogo.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Sete de Setembro na fumaça

Sete de Setembro na fumaça

 

Professor Nazareno*

 

            O desfile de Sete de Setembro em Porto Velho, Roraima, foi algo fantástico. Como sempre fui um patriota e amo de coração o Brasil, vesti-me com roupas verde-amarelas, comprei algumas bandeirolas do meu país e fui à Avenida dos Imigrantes para assistir ao espetáculo dantesco. A fumaça das criminosas queimadas na Amazônia quase inviabiliza aquele grandioso momento cívico repleto de declarações amorosas à pátria. Vi, extasiado, vários pelotões desfilando para delírio dos intelectuais, autoridades e pessoas esclarecidas ali presentes. Abrindo aquele espetáculo surreal, estava o pelotão dos donos de dragas e balsas que retiram ouro do rio Madeira. A “turma do mercúrio” estava alegre, encantada e a cada aplauso que recebia da plateia delirava ainda mais. A seguir estava o pelotão dos que desmatam e tocam fogo nas nossas florestas. “Essa fumaça é nossa”, gritavam todos!

            O terceiro pelotão a desfilar na Imigrantes foi o do IBAMA. Ajudados pelo ICMBio e pelas secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, os orgulhosos funcionários do órgão mostravam, com o peito estufado, toda a tecnologia adquirida para o combate ao desmatamento e aos incêndios florestais em Rondônia. “Ainda bem que a nossa eficiência é reconhecida pelo povo”, dizia um cartaz. Os aplausos quase que ensurdeciam as pessoas presentes. Havia também, claro, muitos militares naquela festa. O general Jorge Reacionário estava meio corcunda de tanta medalha e condecorações que trazia no peito. Representante maior das Forças Armadas em terras karipunas, o militar não disfarçava a emoção de representar a pátria e as suas autoridades, embora estivesse naquele meio de direita e ainda bolsonarista. “Democracia é tudo. Viva o 8 de janeiro!”.

            Helicópteros da briosa Força Aérea Brasileira cortavam em voos rasantes os céus outrora azuis de Rondônia. Levantando tanta poeira no povão, quase não se viam arruelas, parafusos e ferrugem que caíam daquelas aeronaves. Esses “combativos” aviões de caça, provavelmente da década de 1930, estão prontos para defender a nossa pátria. “Temos condições de enfrentar qualquer ataque contra a nossa nação”, dizia em entrevista um orgulhoso tenente da FAB. Se por acaso os Estados Unidos ou qualquer outra potência da atualidade se “meterem a besta” contra o Brasil serão prontamente esmagados. Mísseis Tomahawk não são nem fichinha perto do poder de fogo que existe na base aérea de Porto Velho. Os Sukhoi- SU russos, Rafale franceses e os bombardeiros invisíveis Stealth dos EUA não teriam sequer coragem de vir tentar nos agredir. Seriam derrotados em minutos.

            A PMRO estava também marchando na avenida. Armas modernas contra todo o tipo de violência social e urbana eram mostradas à multidão entusiasmada e orgulhosa. A COE era só rompança naquele momento. Homens treinados, salários altíssimos da tropa, armas modernas, táticas de combate, violência zero. Deu até pena da bandidagem. Isso se ainda existir uma só pessoa que tente entrar no mundo do crime. Pigarreando por causa da fuligem e da fumaceira constantes havia também no palanque oficial vários políticos. A confraternização era geral. Discursos emocionados pediam que a BR-319 fosse logo asfaltada para concluir o desenvolvimento de Rondônia. “Não vai demorar muito e teremos uma rodoviária nova, um novo hospital de pronto-socorro, saneamento básico, água tratada, esgotos, ampla arborização e mobilidade urbana”, gritavam vários dos representantes do otário povo que ali estava. Após todo o sacrifício, fui pra casa sorrindo.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Governo 100% de excelência

Governo 100% de excelência

 

Professor Nazareno*

 

            Não existe nem nunca existiu em toda a história da humanidade! Nem de direita, nem de esquerda, nem da extrema-direita, monarquista, anarquista, teísta, vegano, ateu, republicano, capitalista, socialista, comunista, ditadura ou democracia. Um governo com total e irrestrita aceitação popular só poderá existir mesmo nos mais remotos e fictícios contos de literatura. Mas não há como negar que mesmo nesses tempos modernos, há alguns governos que são sinônimos de grande simpatia das pessoas enquanto há outros que são odiados pela maioria da população governada. No Brasil, desde o longínquo 1500, nunca tivemos um governo que agradasse à maioria do iletrado e burro povo que sempre habitou esta nação. Nosso país tem 523 anos e desses pelo menos 201 como uma nação independente. Aqui nunca tivemos um só governo que tivesse o total apoio popular.

      Países como Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca, Alemanha e Nova Zelândia têm, vez ou outra, governos de grande aceitação popular. São países desenvolvidos e muito mais civilizados do que o Brasil, por exemplo. Lá, a maioria dos políticos não representa apenas a elite endinheirada e rica do país como acontece por aqui. Eles estão preocupados com toda a população, principalmente aquelas pessoas menos privilegiadas financeiramente. Em Rondônia, e também no resto do país, os políticos, de um modo geral, trabalham contra o povo que os elege. Um exemplo assustador foi o caso absurdo na ALE/RO neste ano de 2023 quando um deputado estadual, a serviço dos empresários, tentou aniquilar direitos da comunidade portadora de deficiências físicas. E num governo de excelência, geralmente a imprensa não se vende vergonhosamente aos políticos ricos.

O pobre e longínquo Estado de Rondônia hoje está isolado e quase sem voos comerciais. Enquanto isso, a classe política local, beneficiada com várias passagens aéreas grátis, só olha e pouco ou nada faz para resolver o problema. Porto Velho nunca teve um bom hospital de pronto socorro, mas os políticos sempre se reelegem depois de, todo ano de eleições, prometerem “mundos e fundos” para os idiotas eleitores. O velho “açougue” João Paulo Segundo é a única tábua de salvação para os pobres e miseráveis pacientes rondonianos. A abastada elite nacional, que explora o país sem dó nem piedade, se orgulha de dizer que o “ogronegócio” está bombando. Isso em detrimento dos mais de 30 milhões de pobres e miseráveis que passam fome. A fila do osso é uma realidade que nunca acabou. Gente revirando lixo em busca de comida também. Em qualquer governo.

E quem governa, qualquer que seja a sua cor partidária ou ideológica, tem que trabalhar para promover o bem-estar social de seus governados. Precisa melhorar a vida das pessoas. Durante a pandemia, Jair Bolsonaro boicotou a vinda de vacinas e foi o responsável direto pela morte de mais de 700 mil brasileiros. Mas hoje para muitas pessoas e puxa-sacos ele é um deus. Lula, eleito com mais de 60 milhões de votos, é a terceira vez que nos governa, mas os pobres não saem da miséria e da desgraça em que sempre viveram. O PT e as esquerdas entendem que governar é dar esmolas. Os governos de excelência sempre investiram em bons sistemas de Educação para o seu povo e sempre se guiaram pelo sistema democrático com justiça social. No Brasil os poderosos sempre mandaram nos governantes. Bolsonaro, Temer, Dilma, Lula, FHC, Sarney, Collor sempre “comeram” na mão dos poderosos. Por isso, até sem “excelência” eles governam. E mal.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.