A rua Santos
Dumont é torta
Professor
Nazareno*
Em Porto Velho,
a feia e inabitável capital de Roraima, existem pelo menos umas três ou quatro
ruas com esse “sugestivo” nome. Ali
por trás do inútil ginásio Cláudio Coutinho no bairro Caiari, por exemplo,
existe uma que “quase” liga a Avenida
Abunã à rua Benjamin Constant cortando a Herbert de Azevedo. E certamente deve
haver muitas outras ruas com este nome pela periferia da suja e imunda cidade.
Mas esta “nova” rua, apesar de estar
também na periferia, tem outra função: dizem que vai ligar a antiga Avenida rio
Madeira, a Chiquilito Erse, com a Jorge Teixeira no Espaço Alternativo e de lá vai
até o imprestável, obsoleto e já quase parado aeroporto da cidade. Só que tem
um detalhe urbanístico surpreendente: em vez de ser uma rua em linha reta, como
deveriam ser todas as ruas, ela é torta e muito sinuosa. Estranhamente faz uma curva
de quase 90 graus um pouco antes de se ligar à Jorge Teixeira.
Dizem que a nova rua será a panaceia
milagreira que vai resolver o caótico trânsito na Avenida rio Madeira com a
Imigrantes na zona norte da cidade. Mentira, tolice! Essa insólita rua vai
apenas trocar seis por meia dúzia, uma vez que grande parte do caos será
transferido para a frente do Hospital de Base e do supermercado Assaí. O
congestionamento sairá da Imigrantes no sentido Leste-Oeste e ficará na Jorge
Teixeira, sentido Norte-Sul. Assim como foi feito no viaduto da Campos Sales
com a BR-364. O congestionamento só mudou de horário. Antes era pela manhã em
frente ao “açougue” João Paulo
Segundo. Hoje é à tarde. Da mesma maneira, tenta-se agora mudar o itinerário da
Avenida Calama entre a Guaporé e a rua Venezuela, mas somente nos dias úteis
entre seis e meia e oito e meia da manhã. Resta saber no relógio de quem será
marcado este horário. E nos feriados antecipados ou adiados?
Óbvio que esta bisonha rua não foi
projetada por um Pereira Passos, Jaime Lerner ou um Oscar Niemayer. A rua será
infelizmente exatamente igual a quase todas as outras ruas dessa cidade: torta,
sem boa calçada, sem meio-fio, sem arborização, sem acesso a cadeirantes e sem
rede de esgotos. Fala-se pomposamente que mais de 700 quilômetros de asfalto
foram colocados em Porto Velho ultimamente. Só o piche mesmo, pois arborização
e saneamento básico são temas tabus por aqui. Segundo o Instituto Trata Brasil,
a “capital dos destemidos pioneiros”
tem hoje apenas 2,9 por cento de esgoto e saneamento básico. Há oito anos a
cidade tinha aproximadamente 2,4 por cento. Neste ritmo, levará uns dois mil
anos para se ter a totalidade da capital servida por uma boa rede de esgotos.
Fala-se que o Flor do Maracujá, o Carnaval, a Expovel, Parada para Jesus e a
Marcha do Orgulho Gay serão na rua torta. Será?
A nova rua
Santos Dumont na parte norte de Porto Velho além de ser enviesada pode também
ser pouco útil para alguns eventos, uma vez que por não ter ainda arborização
será inicialmente uma via extremamente quente e úmida. Sete de Setembro lá será
um inferno. Mas se vão arborizá-la, por que então devastaram a pouca cobertura
vegetal que havia em suas proximidades? Já não bastava o genocídio absurdo que
fizeram com as árvores da Avenida Tiradentes no Pedacinho de Chão? Nada
justifica que essa rua não tenha sido projetada em linha reta, já que o terreno
é todo plano, não há residências por perto e também não tem outra rua sequer
nas adjacências para se ligar a ela. A rua parece ter sido feita em uma
currutela ou numa favela. Além do mais, se fosse em sentido retilíneo evitaria
possíveis acidentes de trânsito e economizaria até mais combustível. Se for uma
artéria projetada para a realização de eventos, as arquibancadas que certamente
vão montar lá vão seguir o sentido torto da rua?
*Foi
Professor em Porto Velho.
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