segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A rua Santos Dumont é torta

A rua Santos Dumont é torta

 

Professor Nazareno*

 

Em Porto Velho, a feia e inabitável capital de Roraima, existem pelo menos umas três ou quatro ruas com esse “sugestivo” nome. Ali por trás do inútil ginásio Cláudio Coutinho no bairro Caiari, por exemplo, existe uma que “quase” liga a Avenida Abunã à rua Benjamin Constant cortando a Herbert de Azevedo. E certamente deve haver muitas outras ruas com este nome pela periferia da suja e imunda cidade. Mas esta “nova” rua, apesar de estar também na periferia, tem outra função: dizem que vai ligar a antiga Avenida rio Madeira, a Chiquilito Erse, com a Jorge Teixeira no Espaço Alternativo e de lá vai até o imprestável, obsoleto e já quase parado aeroporto da cidade. Só que tem um detalhe urbanístico surpreendente: em vez de ser uma rua em linha reta, como deveriam ser todas as ruas, ela é torta e muito sinuosa. Estranhamente faz uma curva de quase 90 graus um pouco antes de se ligar à Jorge Teixeira.

            Dizem que a nova rua será a panaceia milagreira que vai resolver o caótico trânsito na Avenida rio Madeira com a Imigrantes na zona norte da cidade. Mentira, tolice! Essa insólita rua vai apenas trocar seis por meia dúzia, uma vez que grande parte do caos será transferido para a frente do Hospital de Base e do supermercado Assaí. O congestionamento sairá da Imigrantes no sentido Leste-Oeste e ficará na Jorge Teixeira, sentido Norte-Sul. Assim como foi feito no viaduto da Campos Sales com a BR-364. O congestionamento só mudou de horário. Antes era pela manhã em frente ao “açougue” João Paulo Segundo. Hoje é à tarde. Da mesma maneira, tenta-se agora mudar o itinerário da Avenida Calama entre a Guaporé e a rua Venezuela, mas somente nos dias úteis entre seis e meia e oito e meia da manhã. Resta saber no relógio de quem será marcado este horário. E nos feriados antecipados ou adiados?

            Óbvio que esta bisonha rua não foi projetada por um Pereira Passos, Jaime Lerner ou um Oscar Niemayer. A rua será infelizmente exatamente igual a quase todas as outras ruas dessa cidade: torta, sem boa calçada, sem meio-fio, sem arborização, sem acesso a cadeirantes e sem rede de esgotos. Fala-se pomposamente que mais de 700 quilômetros de asfalto foram colocados em Porto Velho ultimamente. Só o piche mesmo, pois arborização e saneamento básico são temas tabus por aqui. Segundo o Instituto Trata Brasil, a “capital dos destemidos pioneiros” tem hoje apenas 2,9 por cento de esgoto e saneamento básico. Há oito anos a cidade tinha aproximadamente 2,4 por cento. Neste ritmo, levará uns dois mil anos para se ter a totalidade da capital servida por uma boa rede de esgotos. Fala-se que o Flor do Maracujá, o Carnaval, a Expovel, Parada para Jesus e a Marcha do Orgulho Gay serão na rua torta. Será?

A nova rua Santos Dumont na parte norte de Porto Velho além de ser enviesada pode também ser pouco útil para alguns eventos, uma vez que por não ter ainda arborização será inicialmente uma via extremamente quente e úmida. Sete de Setembro lá será um inferno. Mas se vão arborizá-la, por que então devastaram a pouca cobertura vegetal que havia em suas proximidades? Já não bastava o genocídio absurdo que fizeram com as árvores da Avenida Tiradentes no Pedacinho de Chão? Nada justifica que essa rua não tenha sido projetada em linha reta, já que o terreno é todo plano, não há residências por perto e também não tem outra rua sequer nas adjacências para se ligar a ela. A rua parece ter sido feita em uma currutela ou numa favela. Além do mais, se fosse em sentido retilíneo evitaria possíveis acidentes de trânsito e economizaria até mais combustível. Se for uma artéria projetada para a realização de eventos, as arquibancadas que certamente vão montar lá vão seguir o sentido torto da rua?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


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