A patética secessão tupiniquim
Professor
Nazareno*
Passadas as eleições e divulgados
todos os resultados, que indicaram a reeleição da petista Dilma Rousseff para
mais quatro anos na Presidência da República e a vitória do atual governador
Confúcio Moura para continuar mandando em Rondônia, começaram as conversas de
botequim e as “masturbações mentais” dos que se achavam derrotados. A
grande verdade é que mesmo que as vitórias fossem do Aécio Neves e do Expedito
Júnior, ainda assim, todos os brasileiros e rondonienses, com raríssimas exceções,
seriam igualmente perdedores. Como nas mais atrasadas republiquetas do mundo e
inconformados com a derrota, vários cidadãos resolveram apelar para a mais
bizarra estupidez e publicamente ou nas redes sociais demonstraram não ter
nenhum espírito democrático e, virando a mesa, pregaram uma infeliz volta ao
passado.
Dentre essas bizarrices, a que mais
chamou a atenção foi a chuva de impropérios e maldições que rogaram contra as
regiões Norte e Nordeste do país. Muitos sulistas, inconformados com a vitória
petista nos estados mais ao norte, estarreceram o Brasil e o mundo com suas
declarações toscamente separatistas, xenofóbicas e intolerantes. Propuseram
abertamente a separação do Norte e do Nordeste do resto do país, pois “são
regiões habitadas só por pobres, miseráveis e beneficiários dos programas
sociais do Governo Federal”. Tudo tolice e miopia, pois democracia é
aceitar perder. No novo país do sul, por exemplo, quem votou na Dilma seria
expulso rumo ao norte? E no Norte, o que fazer com os quase 12 milhões de
eleitores do Aécio? Brasileiro não gosta mesmo é de pessoas pobres. Nosso
preconceito é social e quem é rico detesta a pobreza.
E como muitos brasileiros gostam de levar
vantagens, nessa pseudo divisão escolheriam a parte mais rica para morar,
claro. E já que o preconceito e a intolerância seriam a tônica do país sulista,
lá se deviam proibir o Funk e a música Gospel. Artistas, poetas, professores,
jornalistas, atores, escritores, dentre outras profissões “macabras”
teriam sérias restrições. Todas as pessoas, pobres ou ricas, só votariam nos
candidatos previamente escolhidos por uma comissão. Constituição não haveria
nesta nova nação. Usariam somente a Bíblia. E quem tivesse sobrenomes como
Silva, Souza, Pereira, Oliveira ou nomes como Zé, Pedro, Manoel, Maria, Antônio,
Chico seria marcado e monitorado por câmaras. Eleitores do PT e da Dilma seriam
todos enforcados, claro. Negros e analfabetos, desde que fossem ricos e
tivessem uma religião, seriam aceitos.
Carnaval, Expovel, Flor do Maracujá,
passeatas do orgulho gay, bandas e blocos, por serem “festas mundanas e
pagãs”, seriam todas proibidas. Futebol, só com restrições. O Norte
continuaria exportando rapadura, sal, calangos, desempregados, eleitores do
Governo e beneficiários do Bolsa Família enquanto o Sul exportaria perseguições,
intolerância, solidão, preconceito e arrogância. E ambos os países, em comum
acordo, exportariam injustiça, corrupção, impunidade, políticos ladrões e
desigualdade social. Em conjunto também e para a felicidade geral decidiriam
que não haveria Câmaras de Vereadores nem Assembleias Legislativas em seus respectivos
territórios. Minas Gerais e Rio de Janeiro, por terem dado a vitória a Dilma
seriam punidos. Já Rondônia e Acre poderiam escolher a qual país pertencer,
pois deram maioria a Aécio e ao PSDB. E você, já escolheu onde quer morar? Já
tirou o passaporte?
*É Professor em
Porto Velho.