quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A patética secessão tupiniquim




A patética secessão tupiniquim

Professor Nazareno*

            Passadas as eleições e divulgados todos os resultados, que indicaram a reeleição da petista Dilma Rousseff para mais quatro anos na Presidência da República e a vitória do atual governador Confúcio Moura para continuar mandando em Rondônia, começaram as conversas de botequim e as “masturbações mentais” dos que se achavam derrotados. A grande verdade é que mesmo que as vitórias fossem do Aécio Neves e do Expedito Júnior, ainda assim, todos os brasileiros e rondonienses, com raríssimas exceções, seriam igualmente perdedores. Como nas mais atrasadas republiquetas do mundo e inconformados com a derrota, vários cidadãos resolveram apelar para a mais bizarra estupidez e publicamente ou nas redes sociais demonstraram não ter nenhum espírito democrático e, virando a mesa, pregaram uma infeliz volta ao passado.
            Dentre essas bizarrices, a que mais chamou a atenção foi a chuva de impropérios e maldições que rogaram contra as regiões Norte e Nordeste do país. Muitos sulistas, inconformados com a vitória petista nos estados mais ao norte, estarreceram o Brasil e o mundo com suas declarações toscamente separatistas, xenofóbicas e intolerantes. Propuseram abertamente a separação do Norte e do Nordeste do resto do país, pois “são regiões habitadas só por pobres, miseráveis e beneficiários dos programas sociais do Governo Federal”. Tudo tolice e miopia, pois democracia é aceitar perder. No novo país do sul, por exemplo, quem votou na Dilma seria expulso rumo ao norte? E no Norte, o que fazer com os quase 12 milhões de eleitores do Aécio? Brasileiro não gosta mesmo é de pessoas pobres. Nosso preconceito é social e quem é rico detesta a pobreza.
            E como muitos brasileiros gostam de levar vantagens, nessa pseudo divisão escolheriam a parte mais rica para morar, claro. E já que o preconceito e a intolerância seriam a tônica do país sulista, lá se deviam proibir o Funk e a música Gospel. Artistas, poetas, professores, jornalistas, atores, escritores, dentre outras profissões “macabras” teriam sérias restrições. Todas as pessoas, pobres ou ricas, só votariam nos candidatos previamente escolhidos por uma comissão. Constituição não haveria nesta nova nação. Usariam somente a Bíblia. E quem tivesse sobrenomes como Silva, Souza, Pereira, Oliveira ou nomes como Zé, Pedro, Manoel, Maria, Antônio, Chico seria marcado e monitorado por câmaras. Eleitores do PT e da Dilma seriam todos enforcados, claro. Negros e analfabetos, desde que fossem ricos e tivessem uma religião, seriam aceitos.
            Carnaval, Expovel, Flor do Maracujá, passeatas do orgulho gay, bandas e blocos, por serem “festas mundanas e pagãs”, seriam todas proibidas. Futebol, só com restrições. O Norte continuaria exportando rapadura, sal, calangos, desempregados, eleitores do Governo e beneficiários do Bolsa Família enquanto o Sul exportaria perseguições, intolerância, solidão, preconceito e arrogância. E ambos os países, em comum acordo, exportariam injustiça, corrupção, impunidade, políticos ladrões e desigualdade social. Em conjunto também e para a felicidade geral decidiriam que não haveria Câmaras de Vereadores nem Assembleias Legislativas em seus respectivos territórios. Minas Gerais e Rio de Janeiro, por terem dado a vitória a Dilma seriam punidos. Já Rondônia e Acre poderiam escolher a qual país pertencer, pois deram maioria a Aécio e ao PSDB. E você, já escolheu onde quer morar? Já tirou o passaporte?




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 26 de outubro de 2014

Perdão, Brasil: votei na Dilma!



Perdão, Brasil: votei na Dilma!

Professor Nazareno*

            Eu disse o tempo inteiro que ia anular o meu voto no segundo turno das eleições, pois não tinha opção coerente. E de fato não tinha mesmo. Era votar no diabo ou na mãe dele. Como eu, também muita gente estava contra a parede, entre a cruz e a espada. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” era o ditado popular que me espinhava a consciência a todo instante. Indeciso, fui à urna e lá, como um cidadão imbecilizado, votei no PT e na Dilma. Quando digitei o número 13, senti vontade de vomitar. E quando apareceu o rosto da Dilma, comecei a engulhar e votei, depois me afastei daquele sinistro lugar com a sensação de ter feito a pior coisa de toda a minha vida. Em casa, diante do espelho, me xinguei feito um louco: “-Seu filho da puta, como pode ter feito isto”? Depois, me dei um soco no estômago e gritei: “-verme maldito, canalha”!
            Votar no PT é aceitar indiretamente o que estão fazendo com a Petrobras. É sacanear com o trabalho fenomenal de um Joaquim Barbosa no STF, é aceitar como algo perfeitamente normal o Mensalão. É dar um cheque em branco para os corruptos e ladrões. É achar cívico trocar votos por programas sociais como os “petralhas” estão fazendo, é enfim, fazer vistas grossas à amizade entre os petistas e Collor, Sarney, Maluf, Renan Calheiros e tantos outros. Em Porto Velho foi o PT e sua camarilha, por exemplo, que acabaram de destruir o pouco que restava da cidade. E eu não concordo jamais com nada disto, mas que opção me deram os eleitores no primeiro turno? Na hora de sufragar o voto, imaginei que votando no Aécio Neves eu não só estaria sendo injusto comigo mesmo, mas também estava punindo, de novo, uma nação inteira.
            O Aécio Neves pode até ter tido boas intenções, mas foi o seu PSDB, durante os oito anos do Governo de Fernando Henrique, que perseguiu funcionários públicos com demissões em massa e promoveu o maior festival de transferência dos bens públicos para a iniciativa privada, a conhecida “Privataria Tucana”. Neste período, ensandecidos pelo Neoliberalismo, os caciques deste partido fecharam inúmeros bancos estatais, demitiram funcionários, extinguiram instituições públicas, entregaram a Vale do Rio Doce à iniciativa privada, privatizaram portos, aeroportos e grandes rodovias. Quase todo o patrimônio do povo brasileiro foi “doado” a amigos e colaboradores do então Governo. Que lucros estas privatizações trouxeram para o nosso sofrido povo? Quem ganhou com isso? Fala-se abertamente em prejuízos de mais de cem bilhões de dólares.
            Além do mais, vi o PSDB muito “à direita”. Seu conservadorismo torpe e ultrapassado contrasta totalmente com o PT, que apesar dos inúmeros defeitos, sempre esteve mais próximo do povão e governou mais “à esquerda”. A conservadora revista Veja, por exemplo, foi a maior vergonha destas eleições: perseguiu seus oponentes e tentou a todo custo interferir na vontade soberana do povo. Hoje a existência dessa revista só se justifica para que o Brasil saiba como pensam os fascistas. A Rede Globo, como sempre, também não poupou ataques traiçoeiros. Foi ridículo o papel que a mídia, controlada pela elite, exerceu nestas eleições. Por tudo isso, fiquei muito alegre com a derrota dos tucanos, mas triste com a vitória da Dilma. Mesmo tendo recebido "apenas" 54 milhões de votos, ela governará 204 milhões de brasileiros e é, mais uma vez, a nossa Presidente. Roguemos ao diabo para que ela faça um bom governo para todos.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Professor: pior do que o Ebola



Professor: pior do que o Ebola

Professor Nazareno*

             Todos os anos é a mesma ladainha triste que se ouve no dia 15 de outubro: muitas pessoas hipocritamente desejando um feliz dia do professor. Não se sabe para quê nem o porquê de mais esta bobagem que só cheira a cretinice e falsidade. Este deveria ser um dia para ser riscado para sempre da rotina de comemorações e festas, pelo menos no Brasil, país cuja maioria da população, juntamente com os governantes, sabidamente nunca valorizou o professor e muito menos a educação. Diferente do Japão, dos Estados Unidos e de muitos países da Europa, onde esse profissional é extremamente valorizado e às vezes até venerado pelas pessoas, muitos brasileiros veem na labuta do magistério uma praga pior do que o vírus Ebola, que deve ser evitada a todo e qualquer custo. São poucos os de bom senso que hoje estudam para ser professor.
            Profissão em franca decadência, desvalorizada e mal vista por grande parte da população brasileira, já muito próxima da extinção, sem remuneração adequada e totalmente desprestigiada no mercado de trabalho, só os mais incompetentes e rejeitados em outras áreas aceitam o “desafio forçado” de entrar em uma sala de aula para trocar por dinheiro o conhecimento adquirido durante a sua formação. Ser professor hoje, na maioria dos casos, virou um bico para muitos profissionais que esperam passar em algum concurso, para qualquer outra profissão, mas que geralmente pagará bem melhor do que o que se paga ao “maldito vendedor de ilusões”. Pior, segundo o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, em 2013, pelo menos 44% dos docentes paulistas foram agredidos dentro da escola.  O caos: dar aulas agora virou profissão de risco.
              Até para ter participação política, há restrições para estes profissionais. Em Rondônia, por exemplo, tem-se o Sintero, um sindicato não de professores, mas dos trabalhadores em educação, incluindo-se aí merendeiras, pessoal de secretaria, vigias, auxiliar de serviços gerais, serventes, inspetores de alunos, etc. etc. O pior é que desde que foi fundado, este sindicato tem servido apenas como trampolim para as aspirações políticas dos integrantes de suas diretorias, que se revezam nos cargos já há 25 longos anos. Quando um professor se diz politizado e de visão é porque está vergonhosamente fazendo campanha política para algum candidato ligado ao governante de plantão. Alienado, geralmente não assume sua posição política dentro de sala, e na busca do politicamente correto se anula totalmente enquanto ser pensante e formador de opinião.
             Não é fácil ser professor em uma sociedade que nunca valorizou a educação e o saber. Professor! E não educador, pois quem educa são os pais. Professor ensina. E, às vezes, aprende também. Num país em que muitas pessoas por falta de tempo ou vergonha abriram mão de educar seus filhos, sobrou esta tarefa para quem? E se o aluno progride é porque é inteligente, gênio. Se nada aprende, a culpa já se sabe de quem é. Com o seu minguado salário, tenta mensalmente driblar as contas de sua amarga sobrevivência. E não adianta trabalhar em escolas particulares, pois lá o salário que se paga é muito baixo por causa da cobrança absurda que se faz. Explorando o trabalho do infeliz, muitos empresários e donos de escolas enriqueceram rapidamente. Por tudo isto, a profissão de ministrar aulas devia ser proibida ou até extinta no Brasil. Mas como não imagino um mundo sem o professor, teimosamente continuarei vendendo minhas aulas.



*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O PT caminha para a extinção?





O PT caminha para a extinção?

Professor Nazareno*

            Para a alegria de muitos brasileiros e felicidade geral da nação, o PT, Partido dos Trabalhadores, caminha inexoravelmente para a sua total extinção. Se a derrota de Dilma Rousseff for confirmada em 26 de outubro próximo para o PSDB de Aécio Neves, é bom a “companheirada” ir logo migrando para outras agremiações políticas, procurar novos empregos, voltar para os sindicatos de classe e abandonar para sempre as inúmeras fundações, autarquias e outras repartições oficiais de que participam desde que seu partido chegou ao poder. Se no restante do Brasil os petistas ainda alimentam uma tênue esperança de se manterem “por cima da carne seca”, em Rondônia a pá de cal definitiva para a extinção deste outrora partido de esquerda já foi jogada. Destroçado nas urnas, resta agora a árdua tarefa de juntar os cacos, isto se ainda restarem cacos.
            Todas estas afirmações podem parecer um discurso tucano, dirão alguns ainda otimistas seguidores da estrela vermelha, mas a realidade que a militância petista insiste em não ver é que este partido recebeu uma total desaprovação nas últimas eleições tanto no país quanto no Estado de Rondônia. Por aqui praticamente não elegeu ninguém, apenas dois deputados estaduais de pouca expressão e ainda teve que amargar um quarto lugar na disputa para o governo do Estado. Como se não bastasse tanta desgraça para os petistas, até a Presidente Dilma foi derrotada em nosso Estado. Rondônia deveria ser um reduto tradicional do PT por estar no Norte do país, mas o recado das urnas mostrou claramente que muitos eleitores locais ainda não perdoaram a última e desastrada administração dos petistas em Porto Velho, nossa abandonada e suja capital.
            Os eternos viadutos inacabados que enfeiam ainda mais a já feia cidade e infernizam a nossa vida são testemunhas dessa ineficiência petista. Além disso, no final da administração dos “companheiros” em Porto Velho, vários secretários foram presos. O próprio ex-prefeito também puxou uma cadeia, ainda que por muito pouco tempo. Claro que a corrupção e os desmandos existem em todos os partidos e estão entranhados no meio político há muito tempo, mas o PT foi o único dentre esses partidos que cresceu politicamente dizendo ser a vestal da moral e da decência. Por princípios éticos e de coerência era o único a não ter se metido em roubalheiras e corrupção. É Mensalão, é escândalo da Petrobrás, é a troca de votos por programas sociais. Enfim, o partido com que eu simpatizava, hoje não é nem a sombra do que foi lá na distante década de 1980.
            E por ser funcionário público já em fim de carreira, também não vou votar no Aécio Neves e no seu PSDB das privatizações, do PDV e do neoliberalismo oco, mas sinto que está na hora de afastar definitivamente, pela via democrática, os petistas do poder. Eles são muito bons só para fazer oposição mesmo. A grande verdade é que o PT começou a desmoronar quando se juntou a tudo o que não presta na política nacional como Sarney, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Jáder Barbalho, Collor e inúmeras outras figuras políticas que os petistas sempre combateram. No entanto, é bom ficar de olho. Como em política tudo é possível, a “Fênix petista” pode renascer das cinzas com as possíveis vitórias da Dilma e do Confúcio. Afinal de contas, o fisiologista PMDB aceita tudo em seu meio. Roberto Sobrinho, Secretário de Estado? Sarney, futuro Ministro?




*É Professor em Porto Velho.