terça-feira, 14 de outubro de 2014

Professor: pior do que o Ebola



Professor: pior do que o Ebola

Professor Nazareno*

             Todos os anos é a mesma ladainha triste que se ouve no dia 15 de outubro: muitas pessoas hipocritamente desejando um feliz dia do professor. Não se sabe para quê nem o porquê de mais esta bobagem que só cheira a cretinice e falsidade. Este deveria ser um dia para ser riscado para sempre da rotina de comemorações e festas, pelo menos no Brasil, país cuja maioria da população, juntamente com os governantes, sabidamente nunca valorizou o professor e muito menos a educação. Diferente do Japão, dos Estados Unidos e de muitos países da Europa, onde esse profissional é extremamente valorizado e às vezes até venerado pelas pessoas, muitos brasileiros veem na labuta do magistério uma praga pior do que o vírus Ebola, que deve ser evitada a todo e qualquer custo. São poucos os de bom senso que hoje estudam para ser professor.
            Profissão em franca decadência, desvalorizada e mal vista por grande parte da população brasileira, já muito próxima da extinção, sem remuneração adequada e totalmente desprestigiada no mercado de trabalho, só os mais incompetentes e rejeitados em outras áreas aceitam o “desafio forçado” de entrar em uma sala de aula para trocar por dinheiro o conhecimento adquirido durante a sua formação. Ser professor hoje, na maioria dos casos, virou um bico para muitos profissionais que esperam passar em algum concurso, para qualquer outra profissão, mas que geralmente pagará bem melhor do que o que se paga ao “maldito vendedor de ilusões”. Pior, segundo o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, em 2013, pelo menos 44% dos docentes paulistas foram agredidos dentro da escola.  O caos: dar aulas agora virou profissão de risco.
              Até para ter participação política, há restrições para estes profissionais. Em Rondônia, por exemplo, tem-se o Sintero, um sindicato não de professores, mas dos trabalhadores em educação, incluindo-se aí merendeiras, pessoal de secretaria, vigias, auxiliar de serviços gerais, serventes, inspetores de alunos, etc. etc. O pior é que desde que foi fundado, este sindicato tem servido apenas como trampolim para as aspirações políticas dos integrantes de suas diretorias, que se revezam nos cargos já há 25 longos anos. Quando um professor se diz politizado e de visão é porque está vergonhosamente fazendo campanha política para algum candidato ligado ao governante de plantão. Alienado, geralmente não assume sua posição política dentro de sala, e na busca do politicamente correto se anula totalmente enquanto ser pensante e formador de opinião.
             Não é fácil ser professor em uma sociedade que nunca valorizou a educação e o saber. Professor! E não educador, pois quem educa são os pais. Professor ensina. E, às vezes, aprende também. Num país em que muitas pessoas por falta de tempo ou vergonha abriram mão de educar seus filhos, sobrou esta tarefa para quem? E se o aluno progride é porque é inteligente, gênio. Se nada aprende, a culpa já se sabe de quem é. Com o seu minguado salário, tenta mensalmente driblar as contas de sua amarga sobrevivência. E não adianta trabalhar em escolas particulares, pois lá o salário que se paga é muito baixo por causa da cobrança absurda que se faz. Explorando o trabalho do infeliz, muitos empresários e donos de escolas enriqueceram rapidamente. Por tudo isto, a profissão de ministrar aulas devia ser proibida ou até extinta no Brasil. Mas como não imagino um mundo sem o professor, teimosamente continuarei vendendo minhas aulas.



*É Professor em Porto Velho.

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