sábado, 26 de setembro de 2015

Rondônia devia receber os sírios



Rondônia devia receber os sírios

Professor Nazareno*

            A atual crise dos refugiados tem assombrado a Europa e o mundo. Centenas de milhares de homens, mulheres e crianças fugindo desesperados de seus países cruzam o mar Mediterrâneo e chegam ao velho continente em busca de uma vida melhor. Líbia, Tunísia, Afeganistão, Iêmen, Iraque e principalmente a Síria são os países onde se origina esta diáspora moderna. A Síria está mergulhada em uma sangrenta guerra civil ainda remanescente da Primavera Árabe e que já dura quase cinco anos. Mais de dois milhões de pessoas já fugiram do país. Estima-se que quase 200 mil já morreram. O conflito envolve várias facções. Menor do que o Estado de Rondônia (tem 185 mil km quadrados contra 237 mil do nosso Estado) e com uma população dez vezes maior, a Síria poderia mandar parte de seus habitantes para se refugiar em terras karipunas.
            Esses refugidos não sentiriam nenhuma diferença ao chegarem aqui. A fumaça das criminosas e permitidas queimadas daria inicialmente aos visitantes a impressão de que está havendo constantes bombardeios aéreos em nosso Estado, fato com o qual eles já estão bem acostumados. Aleppo e Damasco, principais cidades sírias, estão em destroços. Quase nada ali funciona direito. O caos é generalizado. Falta água potável, saneamento básico, há muitas obras inacabadas, faltam médicos e os hospitais lotados com pacientes esparramados pelo chão lembram até o “açougue” João Paulo Segundo. “Pronto, estamos em casa! Tudo aqui nesse tal de Porto Velho lembra nossas cidades”, devem dizer os eufóricos e já felizes visitantes. A capital das “sentinelas avançadas” não está em guerra, mas a sua infraestrutura lembra a de um país arrasado por combates.
            Alguém pode até reclamar dos visitantes por causa de sua religião, o Islamismo, considerada erroneamente por muitos como sendo uma fé muito retrógrada, alienante, radical e conservadora. Se for por isso, em Rondônia eles estão realmente em casa. O nível de consciência política dos nossos eleitores é de fazer inveja a qualquer ditadura teocrática do mundo. E o que não faltam em terras rondonienses são líderes religiosos que se metem na política, com o apoio irrestrito de suas ovelhas, para afundar de vez o Estado. A gente até negociaria com eles: uma semana se governa usando a Bíblia, na outra, usando o Alcorão. Cristo e Maomé se tornariam amigos por causa de Rondônia. E como Porto Velho e as cidades sírias são sujas e imundas, a estadia dos árabes por aqui seria fácil. A culinária, sem problemas. Nossas gororobas são das “mil e uma noites”.
A língua, claro, não seria obstáculo. O feio e horroroso sotaque daqui seria facilmente entendido por qualquer pessoa. Já do ponto de vista político eles não vão estranhar muita coisa também. Na Síria, eles têm um presidente, Bashar al-Assad, que não faz absolutamente nada. Simplesmente não governa. E aqui alguém governa? Empatou, então. E como lá, ninguém daqui quer sair do poder de jeito nenhum. Largar o osso, jamais. Oposição, nunca existiu. Mas e o Estado Islâmico? Ora, nós temos um aqui que é muito pior e mata mais gente do que o deles: é a Assembleia Legislativa do Estado, que junto com a Câmara de Vereadores de Porto Velho, transformam a vida dos cidadãos inocentes num inferno. Esse tal de EI é fichinha. As autoridades daqui deviam entrar em contanto com a ACNUR para solicitar a entrada de milhões de refugiados em nossas fronteiras. Já pensou eles dançando Boi no Flor do Maracujá e comendo tacacá?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

“Secretaria das Porongas”




Secretaria das Porongas


Professor Nazareno*

           Ainôdnor é uma aldeia indígena muito grande. Muito maior até do que a nação Ianomâmi localizada entre os Estados de Roraima e Amazonas. No tempo cronológico, esta simpática comunidade indígena ainda está na Idade Média, embora muitos antropólogos e estudiosos afirmem que há vestígios fortes de que os “ainôdnor” vivem na Idade da Pedra ou dos Metais. Povo atrasado, rústico, selvagem e quase sem nenhum acesso à tecnologia, esses descendentes diretos dos homens das cavernas desenvolveram uma maneira bastante peculiar para tocar as suas vidas. Todos os índios que governam ou já governaram a nação e que também participam da política, por exemplo, são de fora. Nunca um filho da terra teve o privilégio de governar o seu povo. Afirma-se que isto é um dado cultural no DNA dessa gente: “tudo aos forasteiros, nada aos nativos”.
            Mas a nação ainôdnor até que é organizada politicamente: tem pelo menos 52 tribos. Todas administradas por um cacique que é assessorado por muitos índios de menor poder político. E por incrível que pareça em cada uma dessas comunidades existem os três poderes, como numa sociedade ou numa “democracia civilizada”. Por isso que se fala abertamente que em todas essas tribos há muitos caciques para pouco índio. Desabitada, inóspita e ainda selvagem, a sociedade desses silvícolas não tem a sua disposição todos os aparatos tecnológicos como se verifica em outros lugares ermos do mundo. O sistema de locomoção, como é chamado o setor de transporte público, é precaríssimo. Os aldeões mais antigos já pensaram em reimplantar o sistema de cipós. Na parte da iluminação pública, criou-se recentemente a Secretaria das Porongas.
            Poronga é aquele tipo de lanterna rústica colocada na cabeça, que os seringueiros usavam na mata. Um grande avanço tecnológico para quem sempre está na escuridão. Essa inusitada secretaria vai doar para cada índio da localidade uma dessas novidades tecnológicas, visto que o sistema de iluminação dos brancos não está funcionado adequadamente. O problema é que em Ainôdnor até que existe produção farta de energia elétrica, mas é preciso abastecer outros centros mais desenvolvidos de tribos externas e, além disso, as tradições culturais desse povo devem ser preservadas: “tudo para quem é de fora”. Os índios que representam os interesses locais e também os que governam os brutos nativos fingem estar preocupados com a escuridão. Dizem que vão tomar providência e coisa e tal. Tudo encenação, claro. O atraso sempre foi bem-vindo.
            Além disso, o povo de Ainôdnor é hipócrita ao extremo, pois diz odiar a corrupção e a roubalheira, mas nas eleições elege quase sempre os candidatos mais ladrões e canalhas. O sistema de saúde “ainodrense”, claro, também é precaríssimo. Pajés e rezadeiras sempre têm serviço. Obras públicas existem muitas, mas só servem para desviar dinheiro do Erário, eleger outros caciques, e mostrar a incompetência dos homens públicos. Dizem que é por isso mesmo que quase todas estão inacabadas e totalmente abandonadas. Espelhos, miçangas e quinquilharias sempre foram produtos bem aceitos na aldeia. Fala-se que rádio amador, giletes, lamparinas, carros de mão, baldes, facões, armadores de rede e fogões a lenha são os bens duráveis mais vendidos nas precárias tabernas locais. E como os nativos adoram incendiar suas matas, vão criar uma forma de não produzirem mais fumaça. Quem não gostaria de morar em Ainôdnor?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 19 de setembro de 2015

A cidade da escuridão eterna



A cidade da escuridão eterna

Professor Nazareno*

   Rondônia e a sua imunda, inabitável e longe capital são lugares ermos sem nenhuma qualidade de vida. Porto Velho é um fim de mundo sem eira e nem beira cheio de lixo, ratos, moscas, tapurus, urubus, violência e toda a sorte de desgraças e mazelas sociais e que devia, por isso mesmo, já ter sido riscado do mapa há muito tempo ou então entregue aos bolivianos ou peruanos para tentar mudar sua madrasta sorte. Isto, infelizmente, não é novidade para ninguém que deu o azar de nascer ou morar por aqui. Já há algum tempo, os alegres e felizes moradores locais esperam bovinamente por uma inusitada chuva de merda que pode cair a qualquer momento para a felicidade geral. O fato novo agora, porém, é a constante falta de energia elétrica. Na “cidade das hidrelétricas”, em 40 dias foram pelo menos cinco apagões.  E índio precisa de energia?
Situada numa curva de rio, o exuberante, poluído e já estuprado Madeira, a cidade aos trancos e barrancos tenta copiar, e mal, tudo o que não deu certo no restante do país. Repleta de lixo, carniça e imundície, Porto Velho se parece com aquelas aldeias inóspitas da Idade Média. Até alguns comerciantes daqui outro dia tentaram inutilmente criar uma espécie de campanha para melhorar os ares do lugar: “Abrace Porto Velho”. E claro, como tantas outras tentativas anteriores, terminou em "beiju da caco". O estranho, no entanto, é que muitas pessoas dizem não estar acostumadas com a escuridão desses constantes apagões. Com três hidrelétricas, que foram construídas apenas para fornecer energia boa e barata para o sul do país, a cidade não era para ter a sua realidade feito breu. Dizem que esses apagões existem para poupar a energia que é mandada para fora.
A escuridão é a rotina. Até a única ponte que a cidade se orgulha de ter, e que não serve para absolutamente nada, está escura e em quase todas as ruas e avenidas a realidade não é muito diferente durante a noite. Por que, então, alguns dizem estranhar este fato tão corriqueiro e já familiar? Aqui não há água tratada e nem saneamento básico e por isso mesmo Porto Velho devia ter um açude bem grande no seu centro e em vez de “modernos potes de barro” deviam distribuir cabaças para os habitantes pegarem água. Arborização não existe, embora estejamos situados bem no meio da floresta amazônica. Até as poucas árvores que há são arrancadas pela Prefeitura para se colocar fios elétricos e mais asfalto. O calor é insuportável. Dizer que moramos no inferno é um pleonasmo. Satanás é o protetor da cidade: não há nenhum santo que queira esse cargo.
Viver em Porto Velho é um desafio diário. Poeira sufocante, aliada à fumaça das queimadas irresponsáveis, é a rotina no curto verão. No inverno, época das chuvas na região, o cotidiano é a lama podre e as alagações. Mas como pode um lugar assim ter prefeito? Não só tem como tem uma Câmara de Vereadores que também não serve para nada. Aqui a escuridão é eterna. E o pior e inexplicável: há uma penca enorme de políticos querendo se lançar candidatos para ocupar o cargo e administrar este inferno durante os próximos anos. O transporte coletivo é penoso e quando a energia se vai, os semáforos fazem os cruzamentos se parecerem com aquelas cidades da Índia. Aqui não se tem alegria, só agonia feito sapo. Não existem times de futebol e até a única banda de música da cidade não foi convidada para o Rock in Rio. Como pode um “buraco quente” assim ter internet e seus habitantes andarem eretos como se fossem civilizados?




*É Professor em Porto Velho.
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