sábado, 19 de setembro de 2015

A cidade da escuridão eterna



A cidade da escuridão eterna

Professor Nazareno*

   Rondônia e a sua imunda, inabitável e longe capital são lugares ermos sem nenhuma qualidade de vida. Porto Velho é um fim de mundo sem eira e nem beira cheio de lixo, ratos, moscas, tapurus, urubus, violência e toda a sorte de desgraças e mazelas sociais e que devia, por isso mesmo, já ter sido riscado do mapa há muito tempo ou então entregue aos bolivianos ou peruanos para tentar mudar sua madrasta sorte. Isto, infelizmente, não é novidade para ninguém que deu o azar de nascer ou morar por aqui. Já há algum tempo, os alegres e felizes moradores locais esperam bovinamente por uma inusitada chuva de merda que pode cair a qualquer momento para a felicidade geral. O fato novo agora, porém, é a constante falta de energia elétrica. Na “cidade das hidrelétricas”, em 40 dias foram pelo menos cinco apagões.  E índio precisa de energia?
Situada numa curva de rio, o exuberante, poluído e já estuprado Madeira, a cidade aos trancos e barrancos tenta copiar, e mal, tudo o que não deu certo no restante do país. Repleta de lixo, carniça e imundície, Porto Velho se parece com aquelas aldeias inóspitas da Idade Média. Até alguns comerciantes daqui outro dia tentaram inutilmente criar uma espécie de campanha para melhorar os ares do lugar: “Abrace Porto Velho”. E claro, como tantas outras tentativas anteriores, terminou em "beiju da caco". O estranho, no entanto, é que muitas pessoas dizem não estar acostumadas com a escuridão desses constantes apagões. Com três hidrelétricas, que foram construídas apenas para fornecer energia boa e barata para o sul do país, a cidade não era para ter a sua realidade feito breu. Dizem que esses apagões existem para poupar a energia que é mandada para fora.
A escuridão é a rotina. Até a única ponte que a cidade se orgulha de ter, e que não serve para absolutamente nada, está escura e em quase todas as ruas e avenidas a realidade não é muito diferente durante a noite. Por que, então, alguns dizem estranhar este fato tão corriqueiro e já familiar? Aqui não há água tratada e nem saneamento básico e por isso mesmo Porto Velho devia ter um açude bem grande no seu centro e em vez de “modernos potes de barro” deviam distribuir cabaças para os habitantes pegarem água. Arborização não existe, embora estejamos situados bem no meio da floresta amazônica. Até as poucas árvores que há são arrancadas pela Prefeitura para se colocar fios elétricos e mais asfalto. O calor é insuportável. Dizer que moramos no inferno é um pleonasmo. Satanás é o protetor da cidade: não há nenhum santo que queira esse cargo.
Viver em Porto Velho é um desafio diário. Poeira sufocante, aliada à fumaça das queimadas irresponsáveis, é a rotina no curto verão. No inverno, época das chuvas na região, o cotidiano é a lama podre e as alagações. Mas como pode um lugar assim ter prefeito? Não só tem como tem uma Câmara de Vereadores que também não serve para nada. Aqui a escuridão é eterna. E o pior e inexplicável: há uma penca enorme de políticos querendo se lançar candidatos para ocupar o cargo e administrar este inferno durante os próximos anos. O transporte coletivo é penoso e quando a energia se vai, os semáforos fazem os cruzamentos se parecerem com aquelas cidades da Índia. Aqui não se tem alegria, só agonia feito sapo. Não existem times de futebol e até a única banda de música da cidade não foi convidada para o Rock in Rio. Como pode um “buraco quente” assim ter internet e seus habitantes andarem eretos como se fossem civilizados?




*É Professor em Porto Velho.
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