domingo, 25 de novembro de 2018

Nunca houve ditadura


Nunca houve ditadura


Professor Nazareno*


O Brasil é um país abençoado por Deus. Disso quase todo mundo sabe. Acredita-se inclusive que Ele possa até ser brasileiro. Eu mesmo tenho certeza de que, se não nasceu por aqui, Deus tem um carinho muito grande pelo nosso país. Por isso não se pode sair dizendo por aí que já houve uma ditadura no Brasil. Muitos professores de História afirmam de forma muito convicta que entre 1964 e 1985 tivemos apenas um governo “forte, responsável, pacífico, ordeiro e baseado no patriotismo”. Várias personalidades dizem que nunca houve tirania no Brasil. O cantor sertanejo Zezé de Camargo, por exemplo, disse que tivemos “apenas” um militarismo vigiado. “As pessoas confundem ditadura com militarismo”, afirmou. O artista inclusive se considera um sujeito muito politizado. Muitas outras pessoas também comungam dessas ideias.
O “Estimado Líder”, que é um sujeito muito sábio e letrado, tem absoluta certeza de que o Brasil, em momento algum de sua História, nunca viveu sob uma ditadura. Afirmou isto recentemente para o primeiro ministro da Hungria e praticamente em todas as suas entrevistas confirma tal pensamento. Muitos de seus fiéis seguidores também acreditam nesta conversa. “Em 1964, o que houve no Brasil foi só uma intervenção patriótica de setores militares para deter o avanço das ideias esquerdistas”, é no que muitos creem convictamente. O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação do Brasil tem a mesma convicção. “O golpe militar de 1964 no Brasil é uma data para se lembrar e comemorar”, afirmou. Segundo ele, os nossos militares prepararam os quadros de oficiais para se inserirem num Brasil totalmente democrático.
Está errado, infelizmente, o futuro ministro do “Mito”: em 1964 não houve golpe também. Aquilo foi um movimento militar, uma espécie de “Revolução do bem”. E quem viveu aquela época sabe perfeitamente que nunca existiram essas coisas que andaram falando por aí. Principalmente durante os últimos 16 anos. Aquele foi o período mais pacífico e bom que tivemos em nossa sociedade. Os brasileiros viviam felizes e eufóricos. E quem não se lembra das lindas músicas que todos cantavam? “Eu te amo, meu Brasil” com os Incríveis. “Obrigado ao homem do campo” da dupla Dom e Ravel. “Pra frente, Brasil” incendiou as ruas do país quando ganhamos a Copa do México em 1970. O conceito de felicidade pode ser confundido, com toda a certeza, com aquelas aquarelas e com aquela alegria. O povo brasileiro já foi muito feliz um dia.
Engana-se redondamente também quem diz que houve censura naqueles tempos bons e felizes. Liberdade era rotina. A mídia anunciava o que bem entendia. O problema é que só havia coisas boas e felizes para serem noticiadas. O milagre econômico, quando o Brasil crescia a mais de dez por cento ao ano. A ponte Rio-Niterói, a Transamazônica, a paz nas cidades, a produção em massa no campo, a vida com pleno emprego, o Nordeste sem seca, a construção a todo vapor, a felicidade geral dos nossos habitantes... Torturas? Onde? Quando? Quem? Como? Todos podiam se expressar sem nenhum medo de represálias. Não há registro de um só oposicionista brasileiro preso ou exilado. Não havia quase oposição na época. E até se compreende o porquê: ninguém queria reclamar ou se opor ao que estava dando tão certo. Só não se entende por que em 1985, com tanto progresso e muita aceitação popular, os militares deixaram o poder.





*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Passarela de churrascos


Passarela de churrascos


Professor Nazareno*


A passarela do novo Espaço Alternativo de Porto Velho, a famosa “montanha- russa do atraso”, está sendo exposta aos maiores críticos de arquitetura das Américas, na XXI Bienal Pan-Americana de Arquitetura de Quito, no Equador. Não entendi ainda o porquê dessa participação, uma vez que a referida construção pouco ou nada representa para os porto-velhenses. Pode até ganhar algum prêmio, mas duvido muito que coisa tão horrenda possa encantar quem realmente entende de arquitetura e de arte. Projeto superfaturado que levou ao xilindró um deputado federal e um ex-prefeito, a geringonça desajeitada só serviu até agora para fazer vergonha aos transeuntes que a usam. Só que de útil mesmo não se vê nada naquele trambolho. É mais um amontoado de ferro cuja única função até agora foi só fazer “fotinhas” para postar nas redes sociais.
Como não havia ninguém interessado ou com coragem suficiente, foi o próprio criador daquilo que fez a inscrição na Bienal do Equador. A rigor, quase ninguém sabe o significado de coisa tão feia. Basta perguntar a qualquer uma das pessoas que diariamente caminham por ali. Todos os dias centenas de cidadãos continuam fazendo suas caminhadas sem perceber a presença do “monumento”. A escuridão já toma conta de algumas áreas daquele espaço e não vai demorar muito para que a violência faça companhia aos atletas de fim de semana. De jacaré a cobras venenosas já foram vistos entre as pessoas. Não sei o que vão avaliar para dar um prêmio àquela coisa imprestável, pois ali não tem internet como prometeram e não existem banheiros, como se fosse algo feito somente para curupiras, seres mitológicos sem o órgão excretor.
Acredita-se que por total ineficiência da fiscalização do próprio município, os camelôs e vendedores ambulantes de comida já invadiram o local com seus fogareiros, botijas de gás, carrinhos de pipoca, picolés, caixas de isopor e outros utensílios. A fumaceira horrível exalando cheiro de carne de quinta é o que mais se vê quando se vai lá. Em vez de apreciar a “obra de arte”, as pessoas ficam sufocadas. Não existe nenhum estacionamento e os carros ficam parados em uma das pistas inviabilizando totalmente o tráfego. E se houver um acidente aéreo de grandes proporções? Tomara que aquilo não ganhe nenhum prêmio, pois assim não incentivaria outras coisas do tipo em Porto Velho. Já chegam os horríveis grafites nos elevados, a Praça dos Horrores, as Três Caixas D’Água, os próprios viadutos íngremes e a inútil ponte escura do rio Madeira.
É de partir o coração saber que gastaram muitos milhões de reais para fazer tal objeto. Antes, o lugar era repleto de árvores frutíferas e o verde abundava. O barulho de um igarapé com águas cristalinas encantava a todos. Fazia gosto caminhar respirando o pouco de ar puro que ainda havia na cidade. Pássaros não faltavam. Hoje aquele recanto de lazer é lúgubre, feio, escuro, cheio de concreto e sem o verde que antes lhe caracterizava. É um troço feito somente para angariar votos dos mais incautos e tolos, tanto que serviu para eleger um senador da república e reeleger o mesmo deputado que antes fora preso por causa da fatídica obra. Os jurados equatorianos deveriam saber de todas essas informações antes de votar. Fato: aqueles arcos infernais e sinistros com a falta de manutenção característica de Rondônia podem cair em cima dos transeuntes algum dia. Assim como o símbolo maior da cidade lá no centro, que até já apodreceu.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 18 de novembro de 2018

Seremos monitorados?


Seremos monitorados?


Professor Nazareno*

            Já deve ser o sinal dos novos tempos. Eu o Professor Nazareno começo a desconfiar de que “forças estranhas e reacionárias” estão querendo monitorar os cidadãos. O “Estimado Líder” ainda nem tomou posse e parece que a “caça às bruxas” já está em vigor. Não sei com que razão e objetivo. Também não sei de onde partem as ordens para espionar jornalistas e professores. Inicialmente pensei que fosse aquela deputada do PSL eleita recentemente em Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, ou até mesmo o ex-ator pornô Alexandre Frota, eleito deputado federal por São Paulo. Pode ser também algum “amigo” meu, professor de História, que votou no “Mito” e agora se acha no direito de chafurdar a vida alheia. Ou quem sabe até alguém de Porto Velho mesmo, do meio jornalístico, que se alimenta do ódio pelo PT e pelas esquerdas.
            O problema é que apesar do voto no Haddad, não somos da esquerda. Na verdade nunca fomos. E nem da direita, do centro, de baixo, de cima, de fora ou de dentro. Será que é por que nas minhas aulas lá no colégio João Bento da Costa eu ensino alguns meninos a pensar? Reconheço que certa vez eu falei para eles: “a cadela do fascismo está no cio, meninos! Por isso, é preciso deter o avanço desta doutrina em nossa sociedade”.  Pedi-lhes que assistisse ao filme “A onda” de Christian Becker e também lhes disse que era preciso ler de Karl Marx a Antonio Gramsci passando por Machado e por Nietzsche. “Leiam todos os autores”. E de qualquer tendência política ou social. “Isso lhes fará bem e lhes dará muita leitura de mundo”. Mas tenham muito cuidado a partir de agora: a besta do fascismo ri à toa e relincha de alegria e satisfação.
            O “Estimado Líder” não é tão perigoso quanto a maioria de seus seguidores. Ele tem pouca leitura de mundo e só sabe repetir feito papagaio que a esquerda tem que acabar e que o Comunismo deve ser extinto da face da terra. Não entende que num mundo globalizado é preciso abrir mercados em detrimento da questão ideológica. Suas absurdas declarações já têm causado prejuízos gigantescos para o Brasil antes mesmo de ele tomar posse. Sua desastrada fala criou problemas com Cuba, Noruega, países árabes, MERCOSUL e China. Parece até que ele não tem uma boa assessoria para lhe advertir que deve permanecer com a boca fechada. “Só fale o que sabe, senhor presidente!”. E como ele quase nada sabe, o silêncio será a sua melhor política externa. Transferir a embaixada do Brasil de Telavive em Israel para Jerusalém é algo ridículo e esdrúxulo.
            Muitos dos 57 milhões de eleitores do “Mito” veem nele a oportunidade de colocar na ordem do dia em nossa frágil sociedade alguns temas já extintos como repressão, perseguição a “militantes subversivos”, extinção de direitos adquiridos e supremacia do conservadorismo. Tomara que não voltem os DOI-CODI e a tortura a oposicionistas. Os reacionários de plantão não veem também a hora de adotarem a pena de morte, reduzir a maioridade penal para oito ou 10 anos, extinguir totalmente os direitos humanos, romper relações diplomáticas com países considerados de esquerda, censurar toda e qualquer publicação da mídia e controlar a arte, teatro, cinema e sites da internet. A felicidade de muitos desses eleitores está em transformar a escola em um lugar vigiado onde só se podem ensinar os valores da direita. O mundo mudou e quem perdeu o bonde da História corre o risco de repeti-la. “Mas ela só se repete como farsa”.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Programa Menos Médicos


Programa Menos Médicos

Professor Nazareno*

            De forma unilateral, Cuba desiste de continuar no “Programa Mais Médicos” do governo brasileiro. As autoridades cubanas alegam que declarações “depreciativas e ameaçadoras” do futuro presidente Jair Bolsonaro inviabilizam qualquer possibilidade dos médicos cubanos permanecerem no país. A data de retirada de todo o pessoal já está marcada: a partir de 31 de dezembro próximo, os cerca de oito mil e duzentos médicos caribenhos não mais darão atendimentos nos rincões do Brasil. Faltando ainda quase dois meses para assumir o governo brasileiro, o “Mito” tem causado com as suas desastradas falas estragos em todas as áreas em que se mete. Bolsonaro e seus assessores já nos envergonharam com os árabes, com os palestinos, com o Mercosul, com a China, com os Brics, com a Noruega e agora o problema é Cuba e seus médicos.
            Livrando-se dos médicos cubanos e do viés ideológico, Bolsonaro acredita que teria um problema a menos. Engano: com esta decisão de Cuba, os problemas na área social no Brasil se avolumarão de maneira avassaladora. Em breve teremos um “apagão médico”. Pelo menos duas mil e oitocentas cidades brasileiras serão afetadas com a saída dos médicos estrangeiros. Destas, cerca de mil e quinhentas só contavam com esse pessoal de fora. As aldeias indígenas serão as mais afetadas, pois cerca de 75% delas são atendidas pelo programa. Mais de 60 milhões de brasileiros pobres e desassistidos dependem desse atendimento e a partir de agora ficarão à mercê da sorte. Os médicos brasileiros, geralmente filhos de famílias mais abastadas, não querem ir para os rincões do Brasil e não será desta vez que eles vão atender ao apelo do Ministério da Saúde.
            Lugares ermos do país como as periferias das grandes cidades, o sertão do Nordeste e principalmente a Amazônia sempre foram comunidades evitadas pela classe médica do Brasil. Somente os médicos estrangeiros, principalmente os cubanos, é que se aventuravam “nestas brenhas”. E não precisa se discutir de quem é a culpa. O que mais importa no momento é saber quando todos esses médicos cubanos serão substituídos. Bolsonaro tem os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein para se tratar, como quando levou recentemente uma facada. Lula, Michel Temer, Dilma Rousseff e outras altas autoridades do país têm acesso a médicos bons e eficientes a hora que bem quiserem. Já o pobre pagador de impostos nada tem. Conta somente com a sorte. E quando poderia ter contato com um médico de verdade, essa chance acaba, desaparece.
            Como torcer por um governo que faz “uma bobagem atrás da outra” antes mesmo de assumir o poder? Bolsonaro precisa imediatamente parar de falar asneiras. Precisa entender que o mundo evoluiu e com a globalização, qualquer declaração precisa ser avaliada. Não se governa mais sozinho um país, é preciso compreender as relações complexas que norteiam as nações. Mas o mesmo parece não ter inteligência suficiente para entender isso. Havia um compromisso feito com a Organização Pan-Americana da Saúde entre Brasil e Cuba e o “Mito” com a sua língua comprida ameaçou mudar as regras já estabelecidas. Deixou que a questão ideológica prejudicasse milhões de cidadãos brasileiros. A pergunta que não quer calar: quantas pessoas morrerão por falta de médicos com este fato criado agora? A quem atribuir a culpa desta tragédia anunciada? Isso é só o começo. Pior: outras tragédias podem estar a caminho.





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 11 de novembro de 2018

O “Estimado Líder” enrolado


O “Estimado Líder” enrolado


Professor Nazareno*

            Apenas três dias. Isso mesmo: três dias após ter sido eleito com a avassaladora onda de mais de 57 milhões de votos, o senhor Jair Bolsonaro o “Estimado Líder” para a maioria de seus eleitores, já teve de recuar várias vezes na composição do seu futuro ministério. Parece que a “coisa” não é bem como ele e os seus radicais seguidores prometiam durante a campanha eleitoral. Ninguém governa um país complexo como o Brasil “de qualquer maneira e como bem entender”, ou seja, “a cu de cavalo”. Bolsonaro, que não tem uma boa leitura de mundo devido ao seu pouco estudo, vai ter que analisar detalhadamente todas as situações. A princípio achou que poderia normalmente ignorar o “establishment” e ditar as suas vontades. Ledo engano. Não conseguiu sequer fundir meio ambiente com agricultura por pressão da União Europeia.
            A desastrada fusão desses dois ministérios, que daria indiretamente plenos poderes para o desmatamento e para o aumento das agressões ao ecossistema brasileiro, foi prontamente interrompida pelo alerta da bancada ruralista. Com a globalização, o mundo hoje está conectado a tudo. Nada passa despercebido. Com mais desmatamentos para a expansão da agropecuária, os europeus boicotariam de imediato toda e qualquer pretensão do novo presidente. Um grão sequer não seria comprado a mais do Brasil se isso acontecesse. O “Mito” está de mãos atadas. Precisa entender a complexa conjuntura política internacional senão pode colocar o nosso país em maus lençóis lá fora. Erro: muitos eleitores toscos e desinformados votaram no Bolsonaro achando que o mesmo teria plenos poderes para mandar e desmandar no país da forma que bem entendesse.
            Se as eleições fossem hoje, duvido que o “Estimado Líder” tivesse a mesma quantidade de votos. Poderia, por incrível que pareça, já perder as eleições que acabou de ganhar. Já há muita gente insatisfeita com suas escolhas para a futura assessoria. A indicação do “político” Sérgio Moro para o Ministério da Justiça pode ter sido “um tiro no pé” e não uma grande cartada aplaudida pelos anseios populares. Com isso, a Operação Lava Jato praticamente se acaba. Não há um juiz da envergadura do Moro para conduzir os trabalhos em Curitiba. Isso sem falar no fato de que a sua aceitação para ser futuro ministro deu razões de sobra aos petistas: “Moro foi parcial quando prendeu Lula só para eleger o Bolsonaro e por isso já foi devidamente recompensado”.  A sua ida para o ministério coloca o Judiciário a nu e lança suspeitas sobre a Lava Jato.
Sérgio Moro agiu bem diferente do advogado Sobral Pinto, por exemplo, que na década de 1950 criou a Liga de Defesa da Legalidade para apoiar a candidatura de Juscelino Kubistchek à Presidência, mas recusou o convite do novo presidente para ser seu ministro. Sérgio Moro deixa a Lava Jato “órfã de pai e mãe” por causa da ambição de ser futuro ministro do Supremo Tribunal Federal a partir de 2020 na vaga de Celso de Mello. Se não for indicado por Bolsonaro, ainda assim o magistrado paranaense, que é muito popular, pode concorrer à Presidência em 2022. Se ainda vão prender corruptos em Curitiba é algo que “temos de pagar para ver”. Bolsonaro já ameaçou um jornal e muitos de seus seguidores não veem a hora de começar a abater “pretos e pobres” que portarem fuzis. Ele já criticou o Enem e incentiva perseguição a professores. Até árabes, chineses, Brics e Mercosul já estão “putos”. Se não mudar, o “Mito” estará encrencado.




*É Professor em Porto Velho.



quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A Praça dos Horrores


A Praça dos Horrores


Professor Nazareno*
           
            
             Porto Velho, a fedorenta e suja capital de Roraima, sempre foi uma cidade podre, desorganizada e feia. Muito feia mesmo. É um lugar inóspito e difícil de viver. Nada tem de atrativo, nem sequer um prédio ou mesmo algo natural que lhe dê um visual “mais ou menos”. Quase não tem praças, não tem recantos de lazer, não tem áreas verdes e apesar de estar no meio da maior floresta tropical do planeta, também não tem árvores. Pontilhada de lixo e sujeiras por todos os lados, a “velha prostituta abandonada” tem sido nesses poucos mais de cem anos de existência, um laboratório para as pessoas de fora que sempre lhe administraram. Desta vez, a atual administração da cidade, aquela que disse que beijaria, acariciaria e amaria sem tréguas a “currutela fedida”, tentou fazer o que chama de praça, porém a tentativa fracassou mais uma vez.
            O insólito lugar escolhido para a presepada foi a confluência das ruas Amazonas com Nações Unidas no bairro Nossa Senhora das Graças. Uma espécie de “Praça dos Seringueiros” ou apenas uma homenagem aos seringueiros da região deveria ser construída naquela localidade. Só que o tiro saiu pela culatra. Colocaram estranhamente ali um boneco muito mal feito, todo desengonçado, em cima de um tosco pedestal, com o corpo maior do que as pernas, portando uma poronga na cabeça e ao lado de um “calango” medonho. Quando vi aquela sinistra coisa, pensei que se tratava da estátua do Jeca Tatu em homenagem aos matutos de Porto Velho. Aquilo não é uma obra de arte de jeito nenhum. É um trambolho feio e repugnante, só que combina com a feiura da maioria dos habitantes da “capital da fedentina”. Parece um triste espantalho de roçado.
            Só espero que não se tenha usado dinheiro público para bancar aquela horrenda coisa. A “praça” não tem uma só muda de seringueira para dar mais ênfase ao lúgubre “monumento”. Alguns bancos feios, tortos e sem graça tentam inutilmente dar melhor aparência ao lugar. O triste boneco com aspecto de “papangu” segura um tronco de pau seco e está lá a assombrar crianças indefesas e pessoas desavisadas. Coisas de Porto Velho e de Rondônia mesmo. Já não bastam as horrorosas pinturas que fizeram nos feios, sujos e desajeitados viadutos? Embora muitos chamem aqueles tristes grafites de arte, em nada melhorou a “fisionomia de catacumba” daqueles elevados, que para nada servem até hoje. Tenho medo de ir à noite ver aquela coisa funesta e apavorante, pois acho que também está escura feito breu, como os viadutos e a ponte do rio Madeira.
            A capital dos “destemidos pioneiros” não tem jeito mesmo. É uma cidade feia, nojenta e desarrumada que terá de conviver eternamente com esta sina de carniça e podridão. Vão agora gastar mais alguns milhões para embelezar a “Praça da Bosta” lá na Estrada de Ferro como se fosse possível transformar feiura em beleza de uma hora para outra. Como a “Praça do Papangu”, em pouco tempo estará também cheia de lixo, garrafas pet, merda e toda a sorte de sujeira jogada pelo chão. Com a eleição de mais um Coronel para governar o Estado, espera-se que o novo governador pelo menos olhe um pouco para a cidade onde mora com a sua família e lhe dê uma feição de capital. Pagar impostos caríssimos para ver jogarem fora, como sempre se fez em Porto Velho, nos dá uma tristeza sem tamanho. Que alegria há de se morar num lugar considerado como o pior do Brasil em saneamento básico e água tratada? E agora com o Jeca Tatu.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Escolas COM e SEM partido


"Escolas sem sentido"


Professor Nazareno*

Ainda faltam quase dois meses para o “Estimado Líder” tomar posse na Presidência do Brasil e os seus “lambe-ovo” estão excitados para ver as muitas mudanças que ele prometeu durante a campanha eleitoral. Uma dessas é a “escola sem partido”. Acreditam que o problema das nossas escolas é o ideológico. O Brasil figura entre as dez maiores potências econômicas do mundo há mais de 50 anos e tem um dos piores sistemas de educação dentre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não foi o PT sozinho ou qualquer outro partido ou governo que destruiu o nosso falido sistema educacional. Foram todos eles juntos. Desde a chegada de Cabral que nunca se investiu em educação de qualidade por aqui. Esse privilégio é só para poucos. Para os pobres, somente escolas velhas e podres que quase nunca ensinaram nada a ninguém.
Agora com a eleição de um candidato da extrema-direita no país, volta ao debate a função do professor e das escolas. Pura sacanagem. Só hipocrisia mesmo. Quase ninguém neste país se interessou pelo ensino e pelas escolas. Não se destrói o que sempre esteve destruído. Além do mais, a escola tem que ser a última trincheira do saber. E o projeto “escola sem partido” é um retrocesso dos mais notáveis uma vez que querem limitar ainda mais a função dos professores e das próprias escolas. Querem trocar uma ideologia por outra. Coisa de otários, de imbecis mesmo. Não tem nenhum problema se a escola tem orientação marxista ou de qualquer outra tendência político- ideológica.  A escola tem que ser a última trincheira do conhecimento. Um lugar em que se discute de MERDA a FOGUETE. E é um lugar muito bom de se fazer política, sim.
           Marx, Nietzsche, Gramsci, Drummond, Rui Barbosa, Jesus Cristo, Sócrates, Platão, Aristóteles, Pablo Vittar, Lula e Bolsonaro. É um lugar para se debater tudo. Todas as tendências sociais, políticas, econômicas e religiosas. Da direita, da esquerda, do centro, de cima, de baixo, de dentro e de fora. Se não se puder discutir política na escola, isso já é em si uma discussão política e uma posição ideológica: a neutralidade. Política se faz em todos os lugares, principalmente nas escolas. O professor é um ser político por excelência. Quem não concordar com ele e com as suas ideias, que traga os seus argumentos para o debate. Assim todos terão acesso ao contraditório e todos aprenderão. Não se deve ter medo de debater nada. Atenção professores reacionários e defensores da “escola sem partido”: não reduzam ainda mais a importância da escola.
Os senhores sabem muito bem que o único lugar onde não se podia debater política era nos porões do DOI-CODI e durante os interrogatórios antes de se começar uma sessão de torturas durante a ditadura militar. Toda escola tem que ser multifacetada e plural na sua ideologia. Nada de se militarizar escolas já existentes. Que se criem mais escolas militares com esse objetivo. Uma vergonha que a discussão não seja outra: a transformação de todas as escolas deste país em “escolas de tempo integral” como é nos países desenvolvidos do mundo civilizado. O Brasil precisa melhor o seu ensino para chegar pelo menos ao seu primeiro Prêmio Nobel. Escolas de excelência para todos: pobres e ricos. Com isso, não haveria necessidade de cotas e certamente os serviços públicos melhorariam juntamente com toda a sociedade. Mas em vez disso, preferem ficar discutindo tolices. Escolas com e sem partido. E o aluno escolhe uma. Ou as duas.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 3 de novembro de 2018

E agora, Coronel?


E agora, Coronel?


Professor Nazareno*

          
          Eleito com mais de 530 mil votos, a maior votação da História de Rondônia, o Coronel Marcos Rocha, candidato do pequeno PSL, partido do também eleito Capitão Jair Bolsonaro, tem tudo para entrar definitivamente na História deste jovem Estado. Ou então de ser um fracasso dos mais retumbantes. Na recente eleição desse desconhecido militar, acredita-se que o mesmo tenha desbancado as velhas oligarquias rondonianas e de ter aberto o caminho para instaurar um governo moderno com participação popular e com muito progresso e desenvolvimento. Esse Coronel, se quiser, poderá superar o outro, o “Deus de Rondônia”, considerado pelos rondonienses como o “maior administrador de todos os tempos em terras karipunas, o gaúcho Jorge Teixeira”. Os tempos são outros, mas condições não faltam para o Coronel de agora. Basta querer.
          Para começo de conversa, meu jovem Coronel, não tente administrar este Estado usando um simples blog como foi feito durante os últimos oitos anos. Respeite o povo daqui! Não use redes sociais para administrá-lo, por mais indolente, entreguista e despolitizado que ele seja. Não repita os velhos vícios da classe política local. Seja o novo, Coronel! Escolha a dedo os seus assessores sem repetir a prática das velhas raposas. Ataque com tenacidade os antigos problemas que sempre nos afligiram e que todos nós já conhecemos há muito tempo. O hospital João Paulo Segundo, por exemplo, tem que ser implodido. O “velho açougue” é uma vergonha para os filhos daqui e para os que aqui vivem. O senhor sabe isso. Como ficará a questão das queimadas sufocantes todo verão e o problema do saneamento básico e de água tratada em nossa capital?
          Não se aventure em conchavos políticos. Eles sempre foram danosos à população. Dê a Rondônia toda a importância que ela nunca teve em nível de Brasil, embora tenhamos menos de um por cento de sua população e sermos uma negação em termos de PIB e de IDH. Porto Velho é uma capital de Estado e não pode continuar sendo a eterna “capital da fedentina”. Invista em saneamento básico sem dó em piedade não só aqui, mas em todas as cidades do interior também. Somos o pior dos Estados da federação em limpeza e também em esgotos sanitários. Vá ou mande seus assessores a Curitiba ou à Serra Gaúcha para ver como eles cuidam de suas cidades. Não se envergonhe nem deixe que eu também fique constrangido quando os nossos parentes vierem nos visitar. Limpe a sujeira e ame esta capital como se ela fosse sua cidade natal.
            Todos sabem que não votei no senhor. Não votei nem jamais votaria. Não concordo com muitas coisas ditas pelo seu “chefe” maior, o Capitão que governará o Brasil. E como o senhor é um fiel seguidor dele... Mas torço para que o seu governo dê certo e seja um dos melhores já vistos por aqui. Pediria até voto para a sua reeleição se isso acontecesse. Não se esqueça: fumaça das queimadas, “açougue” João Paulo Segundo e saneamento básico. Resolvidos estes três problemas, o senhor entrará para a História deste Estado para sempre. Educação com turno integral, mobilidade urbana, fornecedores, conchavos políticos, estradas vicinais, duplicação da BR-364, Hidrovia do Madeira, escoamento da produção, publicidade oficial, dívida do Beron, proteção à natureza, relacionamento com a Assembleia Legislativa são coisas mais “simples” de serem resolvidas. Se não fizer nada disso, melhor nem ter sido eleito. Boa sorte, então!




*É Professor em Porto Velho.