quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Roraima devia ser extinta



Roraima devia ser extinta

Professor Nazareno*

            Diante de mais uma operação da Polícia Federal desencadeada em Roraima para tentar acabar ou pelo menos diminuir a corrupção no Estado, chego à triste conclusão de que esta simpática unidade da Federação devia ser desmanchada, desfeita, extinta mesmo. Haveria uma enorme economia de dinheiro para todos nós. Somente nos últimos anos, foram várias operações: Dominó, Termópilas, Olimpo, Érebo, Plateias, Luminus, Endemia, Vórtice, que desviram, segundo estimativas otimistas, mais de 500 milhões de reais do sofrido contribuinte local. Este Estado tem apenas 0,8 por cento da população nacional e um PIB que não chega a um por cento da riqueza do Brasil. Ou seja, sem nenhuma importância a nível nacional, a extinção pura e simples de Roraima não faria falta a ninguém e poupava muita gente da triste vergonha de ter nascido aqui.
            Sou meio suspeito de pregar abertamente o fim deste Estado, já que não sou filho daqui, mas o que se tem visto nos últimos anos, principalmente na área da política e da administração pública, leva qualquer um a desanimar. São quase 40 anos que  pago impostos sem retorno nenhum. É uma decepção atrás da outra. E o pior: como quase ninguém é punido corretamente, a impunidade, como um câncer agressivo, corrói cada vez mais o já debilitado organismo. De fato: de todas estas malditas operações, quantos acusados de roubar o Erário foram condenados? Quantos ainda estão presos? Alguém devolveu algum centavo aos cofres públicos? A impunidade, além de alimentar o crime, contribui para a certeza de que “se roubar de novo, nada acontecerá e o corrupto ficará cada vez mais rico e rindo de todos nós”. Se fosse na China, todos seriam fuzilados.
            É bem verdade que a corrupção está generalizada no país inteiro e acredita-se não ter fim, mas Roraima infelizmente parece que tem sido um caso à parte. Aqui, os larápios levam tudo e não deixam nem o indez. Além do mais, nada é feito em benefício de quem paga os impostos para sustentar esta trupe miserável. Há problemas em todas as cidades do Estado. A má administração e os constantes saques aos cofres públicos empobrecem sistematicamente todos os cidadãos trabalhadores e nada funciona. Todas as obras, sem exceção, são manipuladas, superfaturadas, fraudadas e o pior, nunca concluídas. É ponte sem iluminação, Espaço Alternativo suspenso, teatro sem alvará, viadutos inacabados, obras de hospitais, infraestrutura e saneamento básico todas paralisadas. Até linhas aéreas foram canceladas. Somos o inferno, quem pode nos evita.
            Acabando com Roraima não se acabaria com a corrupção, até por que seríamos administrados por Brasília e pelo PT, mas já seria um bom começo. E como ninguém consegue estancar a sangria, é melhor praticar a eutanásia mesmo. Viver num lugar sem uma Assembleia Legislativa seria o máximo. Mas o pior de tudo é a cara de pau e a hipocrisia das instituições responsáveis por esse roubo do dinheiro público. Nas propagandas oficiais parecem até debochar de nós, contribuintes. O horror midiático parece não ter fim: é propaganda mentirosa da Assembleia Legislativa, do Governo do Estado, enfim, são publicidades oficiais que desafiam a inteligência da população. Um acinte, uma chacota mesmo. Os caras nos roubam e ainda tentam nos convencer, usando o nosso dinheiro, de que estão trabalhando pelo nosso bem. Se o Diabo administrasse Roraima, talvez tivesse pena de nós e não nos roubaria tanto.  Vamos para Rondônia?




*É Professor em Porto Velho/Roraima.

sábado, 22 de novembro de 2014

Corrupção com os dias contados



Corrupção com os dias contados


Professor Nazareno*

Neste ano de 2076 a situação política do Brasil foi muito preocupante. Mesmo sendo reeleito para mais um mandato de sete anos, o Presidente Mário Eugênio Lula da Silva já admitiu que haverá muitas mudanças em seu novo governo. “O nosso país precisa se inserir na nova realidade mundial e para isso é necessário investir na honestidade do nosso povo”, disse o recém-eleito mandatário, talvez se inspirando em seu famoso bisavô. Sobre o escândalo de corrupção que praticamente destruiu todo o setor elétrico do país e que envolveu e envolve várias personalidades e líderes do PT e também de todos os outros partidos políticos, o líder dos brasileiros disse que na sua nova gestão será implacável com os que usam o dinheiro público para enriquecer. “Vamos combater a corrupção em cada canto, em cada cidadão”, disse o Presidente.
Lula da Silva ainda não escolheu os novos integrantes do seu futuro governo, mas especulações dão conta de que Tirulipa Neto, o Deputado Federal mais votado do país pela terceira vez, será o Ministro da Justiça. Indagado sobre a subserviência do STF ao Executivo, por ter os 11 ministros da Suprema Corte nomeados pelo partido que está no poder, o Presidente desconversou: “precisamos pensar no futuro”. Lula disse também que a Polícia Federal seria reconhecida no novo governo. E já adiantou que dará 100% de aumento para todos os agentes e vai proibi-los de participar de qualquer operação, já que eles não são médicos. “No nosso governo só participará de operação quem tiver diploma na área da Medicina ou tiver feito estágio em Cuba”, informou. O raciocínio é até lógico: sem operações não há corrupção e a mídia não noticiaria nada.
O Presidente assegurou que a patifaria vai acabar em nosso país. “Basta ver o que aconteceu no ex-Estado de Rondônia”, alertou. Realmente, naquele inóspito e pouco civilizado lugar, a roubalheira acabou com tudo. Lá, até as eleições deixaram de existir por absoluta falta de candidatos honestos. De casca de ferida até o asfalto das ruas, nada escapou da ganância dos seus administradores. Em Ji-paraná, sua linda e arborizada capital, a corrupção e a incompetência destruíram completamente a cidade. “Foi preciso dar Bolsa Família a todos para incentivar uma reação, já que o povo dali é passivo demais”, reclamou Lula. Os rondonienses podem ficar tranquilos, pois Brasília nomeará agora um governador realmente ficha limpa. “Vamos criar o ROBAN, Rondônia Banco, para impulsionar aquela área nacional”, disseram as autoridades.
Mário Eugênio talvez possa recriar o Ministério Público, só que agora com bem menos autonomia. Com relação à mídia, disse que continuará sendo regulamentada e sob estrita vigilância, já que esses órgãos recebem verbas públicas para divulgar somente os interesses nacionais. Os programas “menos leitura”, “mais religião”, “mais jabá” e “mais mandi” podem sofrer algumas alterações, pois a partir de agora o Palácio Dilma Rousseff governará em plena sintonia com o povo, afirmaram alguns jornalistas. O Ministério das Empreiteiras finalmente dará prosseguimento às obras de transposição do rio São Francisco bem como iluminará a ponte de Rondônia e terminará as obras dos viadutos de Porto Velho, a segunda maior cidade daquela região administrativa. “Viver num país sem roubalheiras e sem corrupção era só uma meta sonhada pelos nossos antepassados e que agora será realidade”, concluiu eufórico o reeleito Presidente.



*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Roubônia, a Petrobras amazônica



Roubônia, a Petrobras amazônica

Professor Nazareno*

          A deflagração da Operação Plateias, dentre inúmeras outras já realizadas em Roubônia e levadas a cabo pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e por outras instituições me trouxe vários sentimentos que eu, devido à idade avançada, já não acalentava mais. E também quando vejo na televisão os desdobramentos da Operação Lava Jato da Petrobras, esses mesmos sentimentos continuam a bater forte no meu cansado peito. A primeira destas emoções é a inveja. Não há coisa mais bonita de se ver hoje em dia do que homens de gravata, travestidos de autoridades poderosas, sendo conduzidos para prestar esclarecimentos à Justiça. Eles ganham notoriedade instantânea e são filmados como heróis para quem quiser assistir. Alguns cobrem o rosto, já outros ficam rindo da situação e mandam seus caríssimos advogados dar explicações à mídia.
            Essa minha inveja talvez seja pelo fato de que como um professor da rede pública de ensino, eu nunca tive nenhum dos meus sigilos quebrados. Uma pena, pois ficaria famoso se a Polícia Federal quebrasse, por exemplo, o meu sigilo bancário. Eu explodiria de orgulho. Com ordem judicial, claro, “os federais” veriam o que faço com tanto dinheiro que recebo mensalmente deste Estado para dar aulas. Quando quebrassem o meu sigilo telefônico, Roubônia e o Brasil saberiam com quem ando falando e trocando mensagens, às vezes tão sigilosas e toscas que se minha esposa soubesse, eu seria um homem encrencado. Já o meu sigilo fiscal se fosse desvendado seria um escândalo nacional: a Receita Federal não sairia de dentro de minha residência. O Brasil inteiro ficaria sabendo dos muitos bens que deixo de declarar anualmente ao Leão.
            O outro sentimento que me vem com estas operações é a incredulidade, uma espécie de decepção pessoal. Não acredito e nem aceito que haja qualquer tipo de  irregularidade dentro do governo Confúcio Moura ou mesmo dentro de qualquer outro governo em Roubônia. Repito: corrupção e desvios de dinheiro são coisas que talvez nunca tenham existido por aqui. Nem aqui nem no Brasil do PT acontece isso. Basta pesquisar qualquer gestão que logo se observam a garra, a honestidade, a probidade e a competência dos nossos governantes municipais, estaduais e federais. Os órgãos responsáveis por estas operações deviam repensar melhor suas ações, senão vão querer insinuar que há corrupção e desmandos até dentro da Assembleia Legislativa do Estado e também na Câmara de Vereadores de Porto Velho. Fatos impossíveis de acontecer.
            O sofrido povo de Roubônia e do Brasil merece ter alegria pelo menos uma vez na vida. Estes acusados deveriam ser logo inocentados para a alegria dos milhões de eleitores que reconduziram Confúcio Moura e Dilma Rousseff para mais um mandato de quatro anos. E já que essa pirotecnia, como sempre, “não vai dar em nada” é melhor poupar tempo e comprar logo “as pizzas”. A Dilma, o Lula e o PT, graças a Deus, vão nos governar por muito tempo ainda. Eu também não creio que haja qualquer ilícito na Petrobras nem em qualquer outra instituição. Tudo intriga da pseudo-oposição. Somos um povo abençoado e sempre soubemos escolher muito bem os nossos governantes. A Filosofia nos diz que o caos antecede a ordem, só que no Brasil e em Roubônia, estamos vivendo a ordem. O caos virá depois. Por isso, alegre e consciente a “plateia” já rejeitou Expedito Jr. e Aécio Neves na esperança de dias melhores, que para nós nunca virão.



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Realidades numa chuva de agonia



Realidades numa chuva de agonia

Professor Nazareno*

      Segunda-feira modorrenta de mais um novembro sem perspectivas, nublada e quente, eu ainda estressado depois de uma noite mal dormida por causa de enxames de carapanãs famintos por sangue e ainda com muitas redações para corrigir, resolvo dar uma voltinha pelas ruas fétidas da cidade. De repente, não mais que de repente, cai uma colossal chuva que mais se parece com o Dilúvio Universal. Durante mais de três horas seguidas, São Pedro, como se estivesse querendo se vingar não se sabe de quê ou de quem, “abre suas fartas e pouco santas torneiras” sobre a frágil aglomeração urbana sem dó nem piedade. É água jorrando sem controle por todo lado. Bueiros entupidos, ruas alagadas, água podre, fedorenta e contaminada invadindo casas e comércios, pessoas molhadas e ensopadas tentando se proteger do inevitável. O caos sem controle.
            Assim é, foi e sempre será a minha cidade: amaldiçoada em qualquer tipo de tempo. Um lamaçal só, apesar das promessas mentirosas feitas na última campanha eleitoral de acabarem com os nossos alagamentos tão frequentes e até já familiares. Ainda não choveu merda desta vez, como já é esperado há muito tempo por aqui, mas havia fartura do “indesejável produto humano” boiando no meio das ruas tomadas pela lama. Tapurus oriundos das poucas sarjetas competiam num fictício torneio urbano de natação com aranhas peçonhentas, enormes sapos cururus, lacraias, sanguessugas, ratos graúdos, baratas e muitas outras pragas. Ao lado de seres humanos, veem-se fossas cheias até o gargalho dando o tom catinguento à paisagem urbana de uma capital “sem eira nem beira” e completamente abandonada pelas suas autoridades de mentirinha.
            Deprimido com o cenário de guerra e desespero geral por causa do aguaceiro, quero sair daqui o mais depressa possível e me refugiar em outro inferno que seja mais ameno. Quero conhecer outros demônios que talvez sejam melhores do que os nossos políticos e administradores. Quero assistir no “maior teatro sem alvará do Brasil” a uma peça de humor nem que seja negro e que não me permitem. Quero passear à noite na ponte sem iluminação. Quero comer a farinha d’água que não foi subsidiada por essa ponte do Madeira. Quero, enfim, viajar até para fora do país a partir de um aeroporto que “é internacional, mas não é”. Serei obrigado a encarar a “decoração natalina” da cidade, a provável epidemia de dengue e outras doenças? Esperarei calado pelo novo escândalo na Câmara de Vereadores ou na Assembleia Legislativa do Estado?
            Enquanto isso, a chuva não para e as alagações continuam inclementes. Cachoeiras e mais cachoeiras de dejetos fazem o horroroso espetáculo pluvial. E entre as pessoas próximas à rodoviária da cidade e também nas principais ruas do centro, que esperam inutilmente a chuva passar, encontram-se mais bostas boiando e serpenteando entre lixos, crianças, homens, mulheres e monturos. A Rua da Beira, avermelhada de tanta lama, está afogada num rali de lodo, lama, imundícies e água contaminada. A desolação está pelos quatro cantos da capital. No entanto, viam-se inexplicavelmente muitas pessoas alegres e sorridentes como que festejando o resultado das últimas eleições no Estado ou se preparando para as votações de 2016 para prefeito da cidade. Indiferente a tudo e a todos, São Pedro continuará seu trabalho, mesmo que corpos desapareçam sob a água torrencial que nunca foi novidade para ninguém por aqui.



*É Professor em Porto Velho.