quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Como eu queria gostar de Rondônia



Como eu queria gostar de Rondônia

Professor Nazareno*

Sei que muitas vezes sou mal interpretado quando produzo textos mostrando os inúmeros problemas enfrentados por Porto Velho, Rondônia e sua gente. Muitas pessoas ficam irritadas e mal humoradas quando leem o que escrevo. Às vezes tenho certeza de que se me conhecessem e me encontrassem, talvez chegassem “às vias de fato” comigo. E eu não tiro a razão de ninguém: afinal somos todos criados e educados, não se sabe o porquê, para amar, gostar e enaltecer a terra onde nascemos mesmo que ela nada nos dê. Um escritor, um artista ou qualquer pessoa famosa já teceu loas de encantamento e paixão pelo lugar onde nasceu. São as raízes telúricas falando mais alto. E ainda pesa contra mim o fato de não ter nascido aqui e de ter vindo, quando muito jovem, parar nestas terras distantes do lugar onde fui parido.
            Na verdade nunca entendi por que desde criança odiava o Brasil. A seca e árida Paraíba não me encantava em quase nada. Naquela época já não entendia, e nem aceitava, o conceito da famigerada “indústria da seca” que castigava e ainda castiga meus sofridos conterrâneos e quando, vagando no meio do mundo, buscava outros portos, fora do país, claro, encontrei este último porto, sujo e mal cuidado, mas que aceitou receber a minha enferrujada e suja âncora e que ainda hoje, mais de três décadas depois, insiste em grudá-la às suas entranhas. Perto da Bolívia e do Peru, Rondônia me esperava e me recebeu muito bem. “Se este pedaço de Brasil for diferente, finco raízes para sempre por aqui”, pensei na época. Não era, mas “me plantei de corpo e alma”. Então, por que não vou amar um povo bom como sem igual, uma comida que é a melhor do mundo e um clima incomparável?  O desencanto: Rondônia copiou o Brasil.
            Há 34 anos sem querer voltar à Paraíba e sem querer ficar em Rondônia, percebi e denunciei que o quê há de ruim neste lugar é a mesma coisa que há de péssimo no restante do país: a classe política e os aproveitadores de plantão. Rondônia tem muita gente honesta e trabalhadora, tem muita riqueza e muito dinheiro, mas é um lugar atrasado, subdesenvolvido e quase amaldiçoado. Aqui, nada dá certo. Quase todos os políticos, como no restante do país, são patifes, ladrões, desonestos, mentirosos e roubam todo o dinheiro destinado ao nosso desenvolvimento e progresso. E não fazemos quase nada, assim como os paulistas, capixabas, cariocas, nordestinos ou gaúchos. A gente se deixa roubar e ainda acredita nas lorotas que eles criam para nos enganar. “Em meu governo só haverá ficha limpa”, dizem. “O povo em primeiro lugar”, afirmam cinicamente outros ou então a máxima “farei jorrar mel e leite das ruas”.
            Quero gostar de Rondônia e de sua capital, mas os políticos não deixam. Situada em dois biomas conhecidos internacionalmente, fronteira do MERCOSUL, um território gigantesco, água em abundância e uma população pequena, este Estado era para ser uma potência econômica. Mas não é. Como me dói na alma falar o que falo de Porto Velho: vivemos sem nenhuma qualidade de vida sufocados em poeira e fumaça e atolados na lama. Essa é a pura verdade. Entra prefeito e sai prefeito, entra governador e sai governador e a roubalheira e a desgraça continuam, os problemas continuam, o caos continua e parece que todos nós estamos nos adaptando ao que é ruim, ao que é medíocre. E pior, perdemos a capacidade de nos indignar e de exigir os nossos direitos. A saída, solução dos covardes, não é sair, é ficar e tentar mudar. É pedir que o novo prefeito seja honesto e trabalhe sem roubar. É torcer para que tudo dê certo. É exigir que a mídia não compactue com a corrupção e os desmandos. É ensinar o conceito de justiça e de cidadania às futuras gerações. Como pode um “paraibinha” metido a besta, um rebotalho qualquer, um retirante querer isto para quem não se nutre o mínimo de amor?


*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

“... E o mundo não se acabou...”




“... E o mundo não se acabou...”

Professor Nazareno*

             
            Segundo as profecias do povo Maia, o mundo deveria ter-se acabado por completo na sexta-feira, dia 21 de dezembro de 2012. Como isto não aconteceu, muitas pessoas respiraram aliviadas achando que a profecia havia falhado. Mas há um engano, o mundo de fato se acabou, e faz tempo, em uma região do Planeta muito pouco conhecida: a cidade de Porto Velho, capital do jovem Estado de Rondônia. Por incrível que pareça, foi um dos únicos lugares do mundo onde pouquíssimas pessoas se prepararam para o Armagedon final. Aqui, quase não se viu o corre-corre de pessoas tentando comprar água, estocar comida, despedir-se dos parentes mais distantes, socorrer as crianças ou cavando buracos na terra para se proteger da hecatombe que se anunciava. Acostumada a conviver com todo o tipo de desgraça, a pacata população de Porto Velho enfrentou o que seria o “fatídico dia” com a tranquilidade e o sossego de sempre.
            Os noticiários afirmavam que próximo ao fim dos tempos tudo viraria às avessas: o trânsito das cidades ficaria caótico e confuso, carros atropelariam os pedestres, animais seriam mortos e deixados apodrecendo no meio das ruas, ninguém respeitaria as leis, o lixo tomaria conta de tudo e a sujeira seria enorme. Diziam também que além do calor infernal, haveria falta de energia, de água potável, de saneamento básico e os esgotos das cidades estourariam sujando as ruas e avenidas, os tapurus boiariam entre os humanos e o mau cheiro seria insuportável. Nas repartições públicas, não haveria hierarquia, todo o dinheiro seria roubado por autoridades corruptas e o povo ficaria à mercê da própria sorte. Haveria governantes, sim, mas estes ignorariam a população e dariam preferência somente aos seus parentes e às pessoas mais chegadas e todos os recursos do povo seriam cinicamente desviados para contas no exterior.
            Além do mais, antes das primeiras bolas de fogo aparecer nos céus, a mídia ficaria contra o povo e só divulgaria notícias de políticos corruptos que já se envolveram em todo tipo de maracutaias. “Quanto mais ladrão, patife e desonesto, mais espaço teria nos noticiários”, era o mantra anunciado em horário nobre pelos sites, jornais e emissoras. Numa inversão de valores, típica do Apocalipse, nenhuma notícia de político honesto, caso houvesse algum, seria informada à população. Muitos jornalistas se fingiriam de portadores da honestidade e dos bons costumes, mas nos bastidores se confraternizariam com os corruptos e depois se elegeriam com o dinheiro saído do “esgoto” dos partidos políticos. Empresários corromperiam políticos que corromperiam jornalistas e a Justiça, embora atenta a tudo o que se passava, só faria alarde na hora das prisões. Pouco tempo depois, todos seriam soltos e, felizes, sorririam à vontade.
            Por isso, para a maioria dos moradores de Porto Velho e de Rondônia, foi indiferente o mundo ter-se acabado ou não. Pouca coisa mudaria, mesmo. A sujeira das ruas e das repartições públicas deve continuar, a roubalheira na política não terá fim, a impunidade será a nossa maior marca registrada, alguns corruptos poderão ser presos, mas depois a legislação vai soltá-los. As pessoas pobres que errarem irão para os presídios e serão punidas na forma da lei, já os ricos e privilegiados serão, como sempre, todos perdoados. Os governantes continuarão mentindo descaradamente para a população e no final, todos serão felizes. Dessa forma, a retrospectiva dos acontecimentos, característica dos finais de ano, nem precisa ser feita. Basta olhar os anos anteriores, desde 1914, e veremos que a História teima em se repetir, de forma macabra, ano após ano. Porém, algumas poucas pessoas de espírito revolucionário, mas já profetizando, afirmavam: “não tenho medo que o mundo se acabe em 2012, tenho medo que ele continue do mesmo jeito em 2013”. A grande novidade será sairmos desse caos em que sempre vivemos.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Corinthians, o Barcelona do Brasil


Corinthians, o Barcelona do Brasil


Professor Nazareno*

             
            Não gosto muito de futebol, embora admita apreciar algumas partidas deste esporte que é preferência no mundo inteiro. Esperar quase duas horas torcendo por um time qualquer acho uma tortura. Falta-me paciência para tanto. Mas há partidas empolgantes, daquelas que valem a pena “perder” tanto tempo diante da televisão. E um desses jogos foi justamente a decisão do campeonato mundial de clubes, edição 2012, patrocinado pela FIFA. O Corinthians de São Paulo, num jogo épico, daqueles que ficarão marcados na história, derrotou com sobras, e mostrando um excelente futebol, o Chelsea da Inglaterra e se sagrou bicampeão mundial de clubes. Esse jogo de Yokohama no Japão teve vários motivos para ser uma “batalha” épica. Primeiro por que o time brasileiro não era o favorito e depois por que o Chelsea praticamente desapareceu em campo diante de um time brasileiro empolgado e ensinando o bom futebol.
            Confesso que só vi o segundo tempo da partida, mas valeu a pena, pois me lembrou da seleção brasileira de 1970, quando Pelé e seus companheiros se sagraram tricampeões mundiais de futebol no México. O Corinthians, nesta partida, esnobou do favoritismo europeu e praticamente vingou a humilhação que o Santos de São Paulo sofreu o ano passado quando perdeu de quatro para o Barcelona de Messi e companhia decidindo este mesmo torneio. Os alvinegros do parque São Jorge embora tenham ganhado por apenas 1 X 0, mostraram ser muito superiores ao time da Catalunha. O Corinthians de São Paulo não só é o melhor time de futebol do mundo na atualidade como demonstrou essa superioridade sem nenhuma sombra de dúvidas  e  agora já pode ser comparado, guardadas as devidas proporções, ao Brasil de 70, Holanda de 1974, seleção brasileira de 1982 e até do Santos, bicampeão mundial na década de 1960.
            Com este grande feito, o Corinthians devolveu um pouco de alegria aos sofridos brasileiros, atolados em escândalos intermináveis de corrupção, roubo e desmandos com a coisa pública. Em Porto Velho, os corruptos do PT e da Prefeitura Municipal, já estão quase todos soltos e torcendo em suas casas, com os seus familiares. Às vezes, os momentos bons nos vêm de onde menos esperamos. Por isso, em campo vimos um verdadeiro passeio dos heróis corintianos, um dos mais fáceis jogos que o time já disputou. Parecia até que o “Coringão” estava jogando contra o Fluminense ou o Flamengo do Rio de Janeiro, o Palmeiras ou o São Paulo. Fez um gol e poderia ter goleado os assustados ingleses. Paolo Guerrero, Danilo, Chicão, Jorge Henrique, Cássio e companhia ensinaram ao mundo como se joga o bom futebol. Aliás, quem é hoje o melhor goleiro do mundo? Se um grande time começa com um grande goleiro...
            Se eu gostasse de futebol e tivesse que escolher um time para torcer, apostava exatamente naquele que tem Tite, o melhor treinador do país e que não aceitou “nenhuma sobra da Europa” para compor o seu elenco. Deco, Ronaldinho Gaúcho, Wagner Love, Luís Fabiano, Dida, dentre outras velharias, todos já gordos, barrigudos e totalmente fora de forma, fazem a alegria dos inferiores times de futebol do Brasil. Na verdade, hoje só há dois times do futebol no nosso país: o Corinthians e o resto. No último campeonato brasileiro, com um time praticamente  reserva e já na Libertadores da América, ficou em sexto lugar. Não sou nenhum louco, nem gosto muito daquele “bando de loucos”, mas o Corinthians devia substituir a seleção brasileira de futebol na Copa das Confederações no próximo ano e também na Copa do Mundo em 2014. Faria um papel muito melhor do que a fraca seleção nacional da modalidade, que só tem dado vexame em cada jogo que realiza. Depois de muito tempo, o Corinthians nos devolveu a alegria de ser brasileiro e de se torcer pelo bom futebol. Para azar do Chelsea e dos anticorintianos.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Papai Noel, Companheiro ou Camarada?




Papai Noel, Companheiro ou Camarada?


Professor Nazareno*





Nunca gostei do Papai Noel. Com o seu enorme saco nas costas, dizem que cheio de brinquedos, ele na verdade enche é o meu. Velho com cara e jeito de idiota, pançudo miserável, mentiroso de uma figa, patife desgraçado. Jamais deixaria meus inocentes netinhos se sentarem em seu imoral colo. Há desconfianças de que ele seja um pedófilo de primeira, por isso não devia merecer a confiança de ninguém. E o pior: está em todos os lugares. Já ouvi lorotas sobre a sua ideologia dizendo que o mesmo era petista ou comunista. Pura mentira, só enganação mesmo. Esse miserável de uma figa, apesar de estar sempre de vermelho, não pode ser tão cruel assim com o seu povo. Essa peste só pode ser obra do satanás. Papai Noel foi criado nos quintos dos infernos e de lá todos os finais de ano é enviado à terra com a missão de trazer paz e alegria para os simplórios e idiotas. Porém, bem antes do Natal o “praga” apareceu em Porto Velho só para trazer desassossego, dor e vergonha para nós. Tive delírios homicidas quando o vi.

Mesmo sendo uma criação do demônio, já que foi inventado no inferno só para satisfazer as ambições do Capitalismo, ele se parece com “companheiros e camaradas”, pois vive de mentiras e enganações. Não gosta de favelas nem de lugares pobres como o Nordeste do Brasil porque lá as crianças não comem e por isso mesmo não podem ganhar lembrancinhas. “Criança que não come, não ganha presentes”, diz com desfaçatez. Assim como o “infame velhinho”, conheço muitos políticos do Brasil que usam essa mesma estratégia para se dar bem na vida. Todos juram que trabalham em benefício dos mais necessitados quando na verdade estão ficando cada vez mais ricos metendo a mão no dinheiro público que serviria para estes mesmos pobres. Vejam só que realidades maquiavélicas: “criança que se comporta o ano inteiro, recebe a visita do Papai Noel. O Mensalão nunca existiu. O PT e o PC do B são partidos políticos de pessoas honestas. Toda militância política é inteligente. Os pobres do Brasil, e bons eleitores, serão sempre os únicos beneficiados com as lembrancinhas do meu saco.

O problema é que muitos brasileiros acreditam nessa fantasia natalina como sendo algo verdadeiro. Assim como acreditam também que políticos corruptos e ladrões serão punidos exemplarmente pela nossa Justiça e que, por exemplo, a Assembleia Legislativa de Rondônia é a casa do povo. Às vezes penso que a “miséria” do bom velhinho mora mesmo é dentro da ALE: nunca precisou ser fim de ano para a população rondoniense receber muitos presentes dos nossos queridos representantes. Ali, corrupto e malfeitor dá lição de ética e achaca até pessoas honestas. Não me recordo de nenhuma legislatura em que o povo mais sofrido do nosso Estado não tenha sido agraciado com a bondade vinda de dentro daquela “casa de leis”. Se não morar na ALE, a “desgraça do Noel” mora é na Prefeitura ou na Câmara de Vereadores do nosso município. Nos últimos oitos anos, recebemos presentes como ninguém: rodoviária nova, viadutos, passarelas, arborização, saneamento básico, asfalto, água tratada, ação e coragem dos parlamentares municipais, etc. É tanta bondade que a ALE e a Câmara Municipal embora sejam instituições públicas, se parecem com privadas. Haja bondade e sujeira.

Como dissimuladamente Rondônia insistia em ser sub-sede da Copa do Mundo e a EFMM será Patrimônio da Humanidade, as nossas autoridades poderiam reivindicar também, que o “maldito velhinho” fixasse residência em Porto Velho. Papai Noel usando as privadas da nossa limpa e asseada rodoviária seria o máximo. De lá, despacharia junto com os nossos Deputados Estaduais e Vereadores.  “Mandar merda e sujeira para todos seria um sonho possível”. O problema é que ele, muito vaidoso, talvez não pudesse suportar a enorme concorrência que naturalmente sofreria dos nossos excelentes políticos. Uma vantagem: como sempre há festas no Natal, em vez de Nossa Senhora Auxiliadora da Câmara, o “cretino velhinho” seria o padroeiro de nossa cidade. Fantasia ou não, realidade ou não, a verdade é que estamos precisando de alguém ou de alguma entidade que nos governe, nos administre de fato, trabalhe em benefício da coletividade e que respeite o suado dinheiro dos nossos impostos. Sem isso, viveremos eternamente num mundo de faz-de-conta, mas sem heróis. Ou com heróis sendo presos e soltos em menos de uma semana. Aqui para nós: ganhar a liberdade após uma pirotecnia midiática só pode ser mesmo coisa para herói. Ou então para o Papai Noel.











*É Professor em Porto Velho.