Papai Noel, Companheiro ou Camarada?
Professor
Nazareno*
Nunca
gostei do Papai Noel. Com o seu enorme saco nas costas, dizem que cheio de
brinquedos, ele na verdade enche é o meu. Velho com cara e jeito de idiota,
pançudo miserável, mentiroso de uma figa, patife desgraçado. Jamais deixaria
meus inocentes netinhos se sentarem em seu imoral colo. Há desconfianças de que
ele seja um pedófilo de primeira, por isso não devia merecer a confiança de
ninguém. E o pior: está em todos os lugares. Já ouvi lorotas sobre a sua ideologia
dizendo que o mesmo era petista ou comunista. Pura mentira, só enganação mesmo.
Esse miserável de uma figa, apesar de estar sempre de vermelho, não pode ser
tão cruel assim com o seu povo. Essa peste só pode ser obra do satanás. Papai
Noel foi criado nos quintos dos infernos e de lá todos os finais de ano é
enviado à terra com a missão de trazer paz e alegria para os simplórios e
idiotas. Porém, bem antes do Natal o “praga” apareceu em Porto Velho só para
trazer desassossego, dor e vergonha para nós. Tive delírios homicidas quando o
vi.
Mesmo
sendo uma criação do demônio, já que foi inventado no inferno só para
satisfazer as ambições do Capitalismo, ele se parece com “companheiros e
camaradas”, pois vive de mentiras e enganações. Não gosta de favelas nem de
lugares pobres como o Nordeste do Brasil porque lá as crianças não comem e por
isso mesmo não podem ganhar lembrancinhas. “Criança que não come, não ganha
presentes”, diz com desfaçatez. Assim como o “infame velhinho”,
conheço muitos políticos do Brasil que usam essa mesma estratégia para se dar
bem na vida. Todos juram que trabalham em benefício dos mais necessitados
quando na verdade estão ficando cada vez mais ricos metendo a mão no dinheiro
público que serviria para estes mesmos pobres. Vejam só que realidades
maquiavélicas: “criança que se comporta o ano inteiro, recebe a visita do
Papai Noel. O Mensalão nunca existiu. O PT e o PC do B são partidos políticos
de pessoas honestas. Toda militância política é inteligente. Os pobres do
Brasil, e bons eleitores, serão sempre os únicos beneficiados com as
lembrancinhas do meu saco.”
O
problema é que muitos brasileiros acreditam nessa fantasia natalina como sendo
algo verdadeiro. Assim como acreditam também que políticos corruptos e ladrões
serão punidos exemplarmente pela nossa Justiça e que, por exemplo, a Assembleia
Legislativa de Rondônia é a casa do povo. Às vezes penso que a “miséria”
do bom velhinho mora mesmo é dentro da ALE: nunca precisou ser fim de ano para a
população rondoniense receber muitos presentes dos nossos queridos
representantes. Ali, corrupto e malfeitor dá lição de ética e achaca até
pessoas honestas. Não me recordo de nenhuma legislatura em que o povo mais
sofrido do nosso Estado não tenha sido agraciado com a bondade vinda de dentro
daquela “casa de leis”. Se não morar na ALE, a “desgraça do Noel”
mora é na Prefeitura ou na Câmara de Vereadores do nosso município. Nos últimos
oitos anos, recebemos presentes como ninguém: rodoviária nova, viadutos,
passarelas, arborização, saneamento básico, asfalto, água tratada, ação e
coragem dos parlamentares municipais, etc. É tanta bondade que a ALE e a Câmara
Municipal embora sejam instituições públicas, se parecem com privadas. Haja
bondade e sujeira.
Como
dissimuladamente Rondônia insistia em ser sub-sede da Copa do Mundo e a EFMM
será Patrimônio da Humanidade, as nossas autoridades poderiam reivindicar
também, que o “maldito velhinho” fixasse residência em Porto Velho.
Papai Noel usando as privadas da nossa limpa e asseada rodoviária seria o
máximo. De lá, despacharia junto com os nossos Deputados Estaduais e Vereadores. “Mandar merda e sujeira para todos seria um
sonho possível”. O problema é que ele, muito vaidoso, talvez não pudesse
suportar a enorme concorrência que naturalmente sofreria dos nossos excelentes
políticos. Uma vantagem: como sempre há festas no Natal, em vez de Nossa
Senhora Auxiliadora da Câmara, o “cretino velhinho” seria o padroeiro de
nossa cidade. Fantasia ou não, realidade ou não, a verdade é que estamos
precisando de alguém ou de alguma entidade que nos governe, nos administre de
fato, trabalhe em benefício da coletividade e que respeite o suado dinheiro dos
nossos impostos. Sem isso, viveremos eternamente num mundo de faz-de-conta, mas
sem heróis. Ou com heróis sendo presos e soltos em menos de uma semana. Aqui
para nós: ganhar a liberdade após uma pirotecnia midiática só pode ser mesmo coisa
para herói. Ou então para o Papai Noel.
*É Professor em Porto
Velho.
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