terça-feira, 31 de março de 2015

Flertando com o terror

 
Flertando com o terror

Professor Nazareno*
           

              Hoje, 31 de março, faz exatos 51 anos do golpe militar de 1964 no Brasil. Em plena Guerra Fria, parte da conjuntura política internacional conduzida pelos interesses capitalistas dos Estados Unidos favoreceu intervenções armadas em todo o continente latino-americano.  A incipiente democracia nas Américas sofreu um duro golpe em toda a região. Da fronteira com o México até os confins da Terra do Fogo no extremo sul da Argentina, cruéis ditaduras militares financiadas pela CIA e pelo Pentágono floresceram como verdadeiras pragas. A desculpa esfarrapada de afastar o perigo comunista da ex-URSS e de se alinhar de vez com os americanos fortaleceu ainda mais a mentalidade tacanha da nossa elite e não deu outra: João Goulart, Presidente constitucional do país, foi arrancando à força do poder pelos militares golpistas a serviço dos ricos e poderosos.
            Durante longos 21 anos e impondo sérias restrições às liberdades individuais, os militares governaram o Brasil com mão de ferro. Sempre aliados a uma elite fascista e conservadora, os golpistas não mediram esforços para solapar as menores chances de conduzir o país sob a égide de um regime democrático e pluralista. “Instalou-se uma ditadura para afastar o risco e o perigo de outra”, era o bordão que se ouvia na época, e incrivelmente ainda hoje, como se regimes de exceção fossem remédios ou soluções para alguma coisa. De fato: por que a maioria dos países democráticos e capitalistas da Europa não instalaram também regimes ditatoriais para enfrentar o perigo vindo da “Cortina de Ferro”? Pelo contrário, nações como Itália, Inglaterra e França, dentre tantas outras, não só tinham como também conviviam com os seus partidos comunistas.
            Mas engana-se quem acha que esta mentalidade antidemocrática e medieval de parte da sociedade brasileira é coisa do passado. Durante os últimos protestos, o que mais se viram foram faixas e cartazes pedindo a volta dos militares. “Intervenção militar, já!” bradavam muitos sem levar em conta a atual conjuntura política internacional e fazendo-se de esquecidos. No entanto, muitas destas pessoas, que não tiveram parentes ou conhecidos como frequentadores dos porões do DOI-CODI, acham que os males que o PT e também os outros partidos políticos estão fazendo ao país justificam o cerceamento de um dos bens mais preciosos do ser humano: a liberdade. Ou não tiveram boas aulas de Histórias ou são burros mesmo. A luta agora não é de ricos contra pobres, mas contra a corrupção e os desmandos dos atuais governantes.
            Ademais, não se deve trocar o Brasil de hoje, com mais de 200 milhões de habitantes, com aquele da época dos militares golpistas quando tínhamos menos de metade desta população. Os números em quase todas as áreas mostram que estamos bem melhores e, para a nossa alegria, convivendo tranquilamente com a democracia e tendo o reconhecimento internacional. A corrupção sempre existiu, é verdade, mas o grande problema é que o partido que nos governa, o PT e seus seguidores, chegou ao poder denunciando exatamente todos aqueles a quem está vergonhosamente unido agora. Temos que lutar contra a corrupção e o roubo sistemático ao erário bem como contra a desigualdade social e também para mudar esta mentalidade atrasada de nossa elite. Precisamos de reformas sociais urgentes e não vamos conseguir isto virando as regras do jogo nem jogando o nosso país em mais uma época de escuridão e incertezas.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 24 de março de 2015

200 milhões de achacadores

 
200 milhões de achacadores

Professor Nazareno*

            Cid Gomes, ex-ministro da Educação da “Pátria Educadora”, foi demitido recentemente pela Presidente Dilma Rousseff, a mando do Presidente da Câmara dos Deputados, por que disse, dentre outras coisas, que no Poder Legislativo havia pelo menos uns duzentos ou trezentos deputados achacadores. Achacar é roubar dinheiro de alguém por meio da intimidação, do achaque, é extorquir, delinquir. Linguarudo, o ex-ministro reiterou enfaticamente o que havia dito e caiu em desgraça após um bate-boca acalorado com os deputados dentro daquela casa de leis. Muito anteriormente a ele, o ex-presidente Lula quando ainda era deputado federal afirmara que ali no Congresso Nacional havia pelo menos uns 300 picaretas. Eles não provaram nada do que disseram, mas fica a pergunta: será que erraram ao afirmar algo que a maioria de nós já sabe?
            Com cerca de 203 milhões de habitantes, não seria nenhuma mentira ou unanimidade afirmar categoricamente que no Brasil pelo menos 200 milhões de cidadãos são ladrões, corruptos ou achacadores. Aqui sempre foi a pátria da vantagem, do individualismo. A nossa ética, de um modo geral, é levar vantagem em tudo o que fazemos. É a famosa “Lei de Gérson” que impera entre as relações mais rotineiras dos brasileiros. Neste país infelizmente quase não se pensa no coletivo. Para muitos, levar vantagem é a regra maior mesmo que isto cause prejuízos para os outros. Das mais altas autoridades do país até o mais humilde cidadão, passando por grandes empresas e até mesmo por aquelas pequenas de fundo de quintal quase todos se esmeram em levar vantagem, em lucrar, ganhar dinheiro e se possível, passar todos os outros para trás.
            O pior é que esta mentalidade egoísta e atrasada dos muitos brasileiros os impede de observar que com isso todos saem perdendo. Até os que não compactuam com estas práticas medievais. E quando todos perdem, a sociedade fica pior, mais pobre, mais problemática, mais desumana, mais violenta. A mídia, por exemplo, quer sempre levar vantagem em tudo, ganhar rios de dinheiro e por isso faz, sem nenhum acanhamento, anúncios de políticos ladrões e desonestos só por causa da grana que vai faturar. Propagandas de governos e de políticos, corruptos ou não, são diariamente mostradas para os tolos. No Brasil, a ética da mídia é só ganhar dinheiro, não interessa de quem nem a quem vai prejudicar. De um modo geral, aqui só se entra na política para enriquecer ainda mais, para roubar o erário, para se beneficiar de saques e roubalheiras.
            Embora haja algumas pessoas honestas no país, veem-se cada vez mais profissionais em todas as áreas, educação inclusive, que só pensam em levar vantagem. Os miseráveis incrivelmente usam a miséria para ganhar dinheiro. O rio alagou sua humilde casa? Não tem problemas. Constrói-se outra no mesmo lugar que será indenizado pelo Poder Público. O estudante de uma forma geral só quer fazer Medicina por que médico no Brasil ganha muito bem. Por que para ser professor não há concorrência? As profissões no Brasil geralmente não seguem a lógica do mercado, mas a do “vil metal” apenas. Se na política o dinheiro não fosse tão fácil, poucos se aventurariam nesta área. Declarar imposto de renda sem ocultar ganhos é tarefa quase impossível. Aqui o que é público, não é de ninguém. Diferente de países da Europa, do Japão ou dos Estados Unidos. Mas até quando esta selvageria que achaca a todos nós?




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Pleonasmo: Rondônia está parada



Pleonasmo: Rondônia está parada

Professor Nazareno*

            Durante pelo menos três dias, de 18 a 20 de março de 2015, ou seja, as prometidas 72 horas de paralisação, várias categorias do funcionalismo público de Rondônia anunciaram solenemente que iriam parar. E muitos pararam mesmo. Escolas sem aulas, hospitais sem atendimentos, policiais civis parados e várias outras categorias de barnabés de braços cruzados. O irônico de tudo isto é que quase ninguém percebeu diferença alguma. A maioria das coisas, pelo menos em Porto Velho, continuou sua triste rotina diária sem nenhuma perturbação aparente para a sofrida população que paga impostos. Pior: quase ninguém percebeu que estas manifestações não têm um endereço certo, já que há quase duas semanas o Estado está sem governador. O atual foi cassado pelo TRE e até agora não se sabe quem de fato governa ou responde pelo Estado.
            Dizer que somente agora Rondônia está parada é um pleonasmo vicioso dos mais infames: este Estado sempre esteve parado desde sua criação no longínquo ano de 1943 com o pomposo nome de Território Federal do Guaporé. A rotina de lerdeza, conformismo e lentidão continuou, no entanto, a partir de 1956 quando o rebatizaram de Rondônia, permaneceu após a equivocada transformação em Estado em 1982 e continua até hoje. Nada por aqui funciona direito. Nesta filial do inferno até os noticiários da televisão aberta retransmitem alguns de seus jornais gravados como se notícias fossem produtos com tempo de validade. Em Porto Velho, sua suja e imunda capital, a situação é muito pior. A cidade não parou no tempo e no espaço como muitos pensam. Ela caminha para trás feito caranguejo. Hoje é um lugar de década de 20 do século passado.
            Mas os teimosos funcionários públicos não desistem de reivindicar suas melhoras e o fazem sem pensar nas terríveis consequências. Estão certos, mas não percebem que tendo mais aumentos não sobrará dinheiro nenhum “para o Estado funcionar”. Já pensou se alguns dos deputados da Assembleia Legislativa, saudosos, resolvem de uma hora para outra atacar o erário? Não teria dinheiro para bancar a corrupção nem os desmandos. E sem escândalos, corrupção e roubalheiras passaríamos vergonha diante de outras unidades da federação. Senhores funcionários públicos, desistam por enquanto de suas nobres intenções. Os viadutos precisam ser concluídos, a ponte sobre o Madeira precisa de iluminação e o Espaço Alternativo, onde muitos dos senhores caminham, precisa ser terminado. Não há dinheiro para tanta coisa. Acreditem.
Pelo amor de Deus, senhores grevistas, entendam que o nosso Estado, assim como a Petrobras, o PT e os demais partidos políticos juntamente com o Governo Federal precisam alimentar os corruptos e a corrupção. Sem isso, que notoriedade teríamos no exterior? Como ficaria a nossa imagem lá fora? Os nossos sindicatos, que muito bem nos representam, precisam também entender isto. Seus dirigentes, todos eles homens conscientes, cultos e probos, “quase deuses na terra”, talvez entendam. A situação internacional não é muito boa e por isso sofremos tantos revezes na economia. Senhores, dinheiro não dá em árvores. E depois um funcionário público ganha muito bem aqui. Os senhores sabem quanto recebe um professor, por exemplo? Aumentando seus salários, como contratar os comissionados? Entendam! Juntos e com a colaboração de todos Rondônia será um Estado forte e o Brasil um país mais justo. Muito mais justo.




*É Professor em Porto Velho.