domingo, 24 de fevereiro de 2013

FICA, RENAN!



Em respeito ao povo, fica Renan!


Professor Nazareno*
           

          De tempos em tempos, acontecem no Brasil e em Rondônia, manifestações em defesa de causas perdidas e que geralmente não dão em nada. Parte da sociedade brasileira é tomada por arroubos estéreis e muitas vezes direcionados por manifestantes eufóricos com o objetivo de apenas aparecer diante dos holofotes. Foi assim contra a aposentadoria vitalícia dos ex-governadores, pela adoção da lei do ficha limpa, pelo fim da corrupção em nosso país, por mais ética na política, pela punição deste ou daquele político ladrão, dentre outras inúmeras mobilizações. Aqui, pessoas se mobilizaram até pela emancipação do charmoso distrito de Extrema, pertencente ainda, mais de três anos após um patético plebiscito, ao município de Porto Velho e localizado nos confins da Amazônia. Nenhum problema em se manifestar, afinal vivemos em uma sociedade democrática e a pluralidade de opiniões é extremamente salutar.
Eis que desta vez, surge com força razoável em vários recantos deste país e até em algumas cidades do mundo, mais outra lorota tipicamente nacional: a saída do senador Renan Calheiros da Presidência do Senado, cargo que ele conquistou no voto de seus pares e de forma indiscutivelmente democrática. De quebra, alguns manifestantes gostariam também que o Deputado Federal potiguar Henrique Eduardo Alves, do mesmo partido do Renan, também deixasse o cargo que conquistou de forma lícita para presidir a Câmara dos Deputados. Nas manifestações organizadas com este propósito, há sempre uma expectativa de que “multidões” compareçam. Porém, tudo não passa de mais um sonho inatingível. Como encher as ruas de “manifestantes politizados” se não distribuem drogas nem cachaça para os participantes? Nem abadás há, muito menos bandas de músicas para divertir a alegre rapaziada.
Não se discute aqui a vida pública do político alagoano, que a exemplo de muitos de seus pares, não é nada abonadora. Renan está envolvido até o pescoço em muitas maracutaias. As acusações contra ele são diversas e todo mundo sabe disto. De tão sujo e enrolado, ele se parece até com político de Rondônia. Henrique Alves também é detentor da mesma biografia. Mas se grande parte da opinião pública brasileira sabia disto, por que mais de 800 mil alagoanos o reelegeram para o Senado em 2010? Renan pediu para ser eleito e a população prontamente o atendeu. Logo, quem deveria ser consultado sobre a saída dele da Presidência do Senado seria o eleitor que o reconduziu para Brasília dando-lhe de forma honesta mais um mandato. Tirar-lhe o cargo sem fazer esta consulta naquele estado nordestino, seria como “estuprar” a nossa já frágil democracia. Não é no regime democrático que o povo deve ser sempre ouvido?
Tirar somente Renan Calheiros do cargo que ocupa seria uma grande injustiça, já que  quase todos os políticos que estão em Brasília, e por aqui também, são muito mais sujos do que ele e vão permanecer em seus respectivos cargos. Nossos representantes são como “pau de galinheiro”. O povo devia fazer uma faxina geral na política. Mas haveria um problema: ficaríamos sem representantes legais uma vez que como povo, também somos sujos, ladrões e ordinários. Se os políticos são corruptos, sacanas e desonestos é por que representam um povo de igual índole e que a cada eleição os presenteia com cargos públicos para que nos administrem. Renan, Sarney, Roberto Sobrinho, Lula e mais uma infinidade de cidadãos desta estirpe é fruto do povo. Então quem tem que ser punido é o povo enquanto eleitor. Como tirar a razão do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello: “A sociedade não é vítima, mas autora. Somos responsáveis por todos os homens públicos que aí estão”. Assim, não se veem muitas diferenças entre político e povo. Pelo menos no Brasil.


*É Professor em Porto Velho.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Carnaval no Buraco Quente



Carnaval no Buraco Quente - Jorge Santos Quintela

Já se ouviu falar de um buraco muito fundo, escuro, úmido, quente e que todos os seus moradores insistiam em chamá-lo de cidade. Não se sabe ao certo como pessoas, seres humanos de verdade, conseguiram chegar até ele e ainda por cima habitá-lo como um lugar qualquer.
Sem história, sem heróis, sem pessoas importantes, esquecido, abandonado, perdido no tempo e sem líderes que pudessem lhe governar satisfatoriamente, esse buraco vivia a sua vida como se fosse um lugar civilizado. A maioria de seus habitantes não conhecia outros lugares, ou buracos, e muitos até acreditavam que era o único lugar habitável do mundo.
Não se conheciam ali outras realidades, só a daquele buraco quente mesmo. Notícias do mundo “lá fora”, quando havia, eram raridades, excentricidades muito difíceis de serem acreditadas. Porém, a duras penas, as pessoas tentavam levar a sua vidinha vazia, sem sentido, oca, inútil, tosca, ignorante e desprovida de qualquer resquício de inteligência e civilidade.
Ainda assim, muitas pessoas, não se sabe como, se divertiam naquele inóspito território. Copiaram, também não se sabe de onde, mais uma excentricidade e batizaram-na de Carnaval. Inventaram também uma brincadeira meio estúpida, mas que fazia um sucesso enorme entre os buraquenses: pessoas que acreditavam serem normais corriam atrás de carros enfeitados para conseguir o maior número de garrafas de cachaça ou de outras drogas e faziam uso ali mesmo no meio da multidão. Para delírio dos presentes, até as autoridades, tentando fazer média entre os estúpidos e dominados habitantes locais, se drogavam também na frente de todos.
Isso é coisa de abestados e alienados”, diziam alguns moradores que não gostavam da estúpida brincadeira e que, por isso mesmo, preferiam sair e se isolar no matagal, numa mistura devassa e promíscua entre homens e mulheres, para adorar seus deuses inventados e fictícios. O fato é que os criadores desta brincadeira alienante, que só faz apologia às drogas e à inutilidade geral e aonde “vai quem quer” são idolatrados como heróis e salvadores da Pátria.
Buraco Quente é administrado somente por médicos de fora. Corruptos, todos muito incompetentes e cuja massa cinzenta se assemelha à de toupeiras cegas. Nunca se entendeu por que seus moradores gostam tanto destes profissionais se o único hospital que há no lugar é um verdadeiro campo de concentração. Deve ser por isso mesmo, já que uma das características desse povo é se divertir com o próprio sofrimento. “Comem carne podre todo dia e ainda riem felizes como hienas”, afirmaram alguns antropólogos que estudaram esta sinistra sociedade.
Sem conhecer muita coisa além do que veem no próprio buraco, alguns buraquenses querendo homenagear os desconhecidos forâneos criaram até um bloco chamado “os de fora” (US DY PHORA, no dialeto local) apenas para aumentar o consumo de drogas e álcool e vender a falsa impressão de alegria e felicidade que não têm e que muitos afirmam que jamais terão.
Como há muitos blocos no buraco, acredita-se que seja para esconder a própria realidade infecta e suja onde vivem. Justiça, dizem que há naquele cacimbão nojento, mas todos os que roubaram e ainda roubam dinheiro alheio e público estão soltos e rindo das autoridades, que nada fazem nem podem, ou não querem, fazer. Mas, iludidos, dizem que vão fazer...
Para esquecer as agruras terríveis de se morar naquele lugar cheio de lodo, catinga e lama e sublimar a sensação de que estão sendo roubadas pelos seus representantes, as pessoas caem na folia e, embriagadas ou drogadas, parecem esquecer suas desgraças cotidianas.
Na outra historinha, a de Rubem Alves, as rãs mataram o pintassilgo, mas nesta os buraquenses se acasalam com quem cai no seu buraco profundo e não dão chances a ninguém para sair daquele ambiente promíscuo sem antes deixar uma penca de descendentes idiotas e imbecis que para viver em paz, começam a amar o carnaval e as suas consequências nefastas.


Jorge Santos Quintela é filho de Porto Velho e acredita que nunca morou em buraco algum.