domingo, 30 de outubro de 2016

Meus pêsames, Dr. Hildon!


Meus pêsames, Dr. Hildon!

Professor Nazareno*

Se conselho fosse bom, não se dava. Vendia-se. Mas, como pagador de impostos e morador há 36 anos desta “antessala do inferno” me achei no direito de lhe falar ao pé do ouvido. O senhor recebeu uns 150 mil votos para ser prefeito. Meus pêsames! Fosse eu, estaria muito preocupado com este “presente de grego”, pois vai administrar uma das piores cidades do Brasil em IDH. Sujeira, lixo, catinga, carniça, fedentina, bosta, esgoto a céu aberto e imundície é o que não faltam por aqui. Fico muito triste pelo senhor, pois pegou um dos piores abacaxis de sua vida. Cidade fedorenta, sem árvores, escura, violenta, sem praças, sem planejamento urbano nenhum e repleta de gente mal educada não é o lugar ideal para se fazer política. Mas escute este humilde munícipe e talvez o senhor tenha um pouco mais de sorte na sua faina pelos próximos quatro anos.
Siga algumas regrinhas básicas se quiser ter sucesso. Não faça a bobagem de, por pura ambição, se candidatar para governador em 2018 e deixar o pepino para seu vice. Se o senhor tiver um parente muito próximo, jamais o nomeie para qualquer cargo na prefeitura, muito menos para ser Secretário de Obras. Pode até não ser Nepotismo, mas dá um azar danado. Não invente de trocar, sem nenhuma necessidade, o sentido da Avenida Sete de Setembro. Nunca diga que a administração anterior deixou a cidade em frangalhos e totalmente desarrumada. Porto Velho sempre foi um caos e ninguém acreditaria nesta lorota. E nunca faça decoração natalina com pneus velhos. Dá também muito azar e o povão não esquece. A maioria da população daqui é composta de gente simplória, sem a menor leitura de mundo e que crê em Deus, Cristo, Natal e Papai Noel.
Capriche em todas as decorações natalinas, portanto. Não mande arrancar nenhuma das poucas árvores da cidade como fizeram com a famosa e centenária castanheira do Triângulo. Se tiver que construir ruas e avenidas, faça-as todas com retorno. Rua sem retorno lembra administração municipal também sem retorno. O senhor já andou pela Avenida José Vieira Caúla? Sempre que puder, mande limpar com o seu próprio dinheiro, claro, o terreno em frente a sua residência ou condomínio. O povo daqui diz que adora ver limpeza. Plante flores, mande fazer jardins floridos nas poucas praças da cidade. E nunca se esqueça de aguá-los durante o verão. Acabar com as alagações da cidade? É muito difícil. Então, nunca prometa fazer o que não pode. E reze para não ter outra enchente histórica senão sua reputação desce por água abaixo.
Dê uma função para o seu vice-prefeito. No Brasil, vice só serve para dar golpe e trair o titular. Por isso, fique de olho no seu. Apesar de ele ser um BOI, não confie muito. Não permita que ele passe quatro anos recebendo um baita salário para não fazer absolutamente nada. Não votei no senhor, Dr. Hildon Chaves. Nem no Léo Moraes. É que sempre voto no “menos ruim” e neste caso era impossível: vocês dois são péssimos e nenhum merecia meu voto. Faça desta cidade, senhor futuro prefeito, um lugar bom para se morar. Não permita mais que eu me envergonhe ao trazer parentes meus da limpa Curitiba e da civilizada Serra Gaúcha para visitar esta maldita currutela fedida. Sei que o senhor não conhece a cidade. Então pegue o Interbairros 030 e dê um rolé pelas suas imundas e esburacadas ruas. Vá à zona Leste à noite. Uma dúvida: o senhor ainda vai acariciar, cheirar, beijar e amar a cidade após a esperada chuva de MERDA?  




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O exemplo de Lucrécia/RN


O exemplo de Lucrécia/RN

Professor Nazareno*

            Lucrécia é uma simpática cidadezinha localizada no sertão semiárido do Estado do Rio Grande do Norte. Tem cerca de quatro mil habitantes e está distante uns 350 quilômetros de Natal. As autoridades e a populução da cidade deram um grande exemplo ao Brasil e ao mundo nestas eleições municipais de 2016. O fato quase não foi noticiado pela grande mídia, embora fosse inusitado, exemplar e sem precedentes. Durante o pleito, não houve naquele município nenhuma disputa ou concorrência para a escolha dos seus futuros representantes. Como, óbvio, só havia uma vaga para prefeito, somente houve um candidato. Na verdade, candidata. A futura prefeita da cidade será a professora Conceição Duarte, do Democratas, eleita com 2.316 votos. Para a Câmara Municipal de Lucrécia/RN, havia nove vagas para vereadores. Só houve, portanto, nove candidatos.
            Na cidade não se gastou dinheiro nenhum para bancar a eleição de ninguém. Todos os candidatos, desde que tivessem sufrágio diferente de zero, já estavam eleitos antes da votação do dia dois de outubro. Não houve comícios, panfletagem, discursos de ódio, acusações, intrigas, fofocas, baixarias, ofensas, estresse e muito menos briguinhas por causa de nenhum concorrente. Tudo já tinha sido acertado antes em infindáveis reuniões entre os possíveis candidatos, os partidos políticos, as autoridades constituídas e a população da cidade, a maior beneficiada com os acertos. Todos já estavam eleitos para trabalhar em benefício da coletividade. Por que Porto Velho não segue este belo exemplo de Lucrécia? O Dr. Hildon Chaves devia chamar o Léo Moraes ou vice-versa para acertar os detalhes de uma fusão política para o bem da cidade onde moram. “Hildon Moraes e Léo Chaves”.
Um dos dois vai administrar esta capital pelos próximos quatro anos. E como ambos dizem amá-la incondicionalmente, podiam pensar melhor na possibilidade dessa união. O poder de escolha do povo continuaria sendo respeitado: o mais votado dos dois representava a Prefeitura ou metade dela e o menos, cuidava da administração da cidade e da outra metade, numa espécie de Parlamentarismo tupiniquim. Porto Velho teria dois prefeitos ao mesmo tempo. Com quase 27 mil votos, o petista Roberto Sobrinho assumiria qualquer secretaria do município, assim como Williames Pimentel que teve mais de 33 mil sufrágios, Mauro Nazif com 51 mil, José Ribamar com seus 12 mil, e até o Pimenta com seus mais de dois mil votos seriam também secretários da capital de Rondônia, já que todos só queriam o progresso, o desenvolvimento e a felicidade daqui.
O pior é que nenhum deles está disposto a se unir para beneficiar o lodaçal, a pocilga. Todos só pensam em si mesmos, em suas ambições pessoais, em seus partidos, em suas coligações. O portovelhense entra no jogo deles e toma partido por um ou por outro e se esquece da sua cidade que é quem mais sofre nesse “jogo de empurra”. Todos devíamos nos unir por esta maltratada cidade. Isto por que as propostas de um não são melhores do que as do outro e transformariam a provinciana, suja e fedida Porto Velho na Paris, Londres ou Milão dos trópicos. Porém, já se sabe que cidade teremos daqui a quatro anos. As atuais promessas não passam de engodo, de enganação para se ganhar votos dos simplórios. Não somos Lucrécia/RN e certamente, para a nossa desgraça, ganhará aquele que souber melhor enganar a população, aquele que mentir de forma mais profissional e convincente. Domingo tem eleição. E Porto Velho perderá de novo.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 23 de outubro de 2016

Porto Velho para forâneos



Porto Velho para forâneos


Professor Nazareno*



            Porto Velho, a inóspita capital explorada, é uma das piores cidades do Brasil. Dizer que é o fiofó do mundo é um desrespeito, uma injustiça a esta parte do corpo humano. Dentre as 27 capitais do país, fica no 26º lugar em IDH. Tem, segundo o Instituto Trata Brasil, apenas dois por cento de saneamento básico e menos de 30 por cento de água encanada. É uma cidade suja e imunda, todos que moramos aqui sabemos disto. Parece até que existe nesta capital uma cultura pela podridão já impregnada há tempos nas pessoas e autoridades. Aqui há uma verdadeira adoração pela sujeira, pelo lixo e pela carniça. Nas campanhas eleitorais, como agora, o problema vem à tona e depois passa, todo mundo esquece e volta a sua vida feliz no monturo. Mário Português “levantou a lebre” em 2012. Agora, foi a vez de Hildon Chaves alertar os nativos.
            O pernambucano natural do Recife e atual candidato do PSDB à prefeitura de Porto Velho, ao constatar o óbvio, teria dito que “ninguém vem para Porto Velho nem com passagem barata”. Ele só errou ao dizer que a passagem seria barata. Hoje para sair daqui as empresas aéreas cobram menos da metade do preço para quem quer vir. E como ninguém em sã consciência sairia de seus aprazíveis lugares para ir ao inferno, a demanda caiu e como consequência os preços das passagens aéreas, que já eram caros, aumentaram consideravelmente. Vir para Porto Velho só mesmo a negócio ou para retirar um parente doente. A chiadeira foi geral, como se isso aqui fosse uma espécie de éden, um paraíso escondido entre a mata e os rios amazônicos. Os eleitores do outro candidato, o paranaense Léo Moraes, aproveitaram para explorar o fato pouco inusitado.
            Mário Português disse com todas as letras que Porto Velho se parecia com uma favela num total desrespeito às favelas, claro. Mauro Nazif, natural do interior do Rio de Janeiro ficou irado com essa declaração, mas nada fez nos quatro anos de administração para provar o contrário. O caos reinante nesta cidade é culpa de cada um de nós, seus moradores. Óbvio que o Poder Público colabora e muito com a desgraça. As promessas corriqueiras das campanhas eleitorais anestesiam os esperançosos e ingênuos eleitores. Visitar a capital das “sentinelas avançadas” é uma operação de risco e os dois candidatos sabem disso. Não entendo a declaração de amor que eles, com a maior cara de pau, fazem a Porto Velho. Um abraça, o outro cheira só para ganhar nosso voto. Filantropos eles não são, mas todos os nativos creem na conversa fiada desses forâneos.
            Porto Velho nunca teve um só prefeito nascido na terra. Mas não é por isso que é essa pocilga fedorenta. O perfil do eleitorado local é estranho: “dar tudo aos forasteiros e nada para os nativos”, parece ser a filosofia karipuna. Se os de fora não amarem isto aqui, nenhum nativo o fará. O sujeito, já falido e sem perspectivas, geralmente vem para cá, trabalha, ganha rios de dinheiro, manda tudo para a família lá no Estado de origem, onde investe parte do que ganhou, e quando se aposenta volta para a sua terra natal. Por que Léo Moraes e Dr. Hildon Chaves não se juntam para o bem da cidade que um deles vai administrar? Dividem os eleitores, inventam mentiras e lorotas e no fim das contas quem perde somos todos nós, moradores de uma cidade sem a menor estrutura para se viver de forma decente. Não acredito em promessas eleitoreiras, claro. Mas torço para que o vencedor do próximo domingo faça uma excelente administração. Precisamos!



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

36 anos e nada mudou



36 anos e nada mudou

Professor Nazareno*

Em 1980 eu passava por Porto Velho, capital do ex-território de Rondônia, onde terminei fincando raízes. A caminho do Peru e depois da Nicarágua sandinista, fugia da ditadura militar, da seca e das incertezas de futuro na Paraíba. Com pouco mais de 140 mil habitantes, a cidade parecia um esgoto a céu aberto. Exatamente como agora, 36 anos depois. Não havia saneamento básico, arborização, urbanização e muito menos água tratada. O prefeito da cidade era o engenheiro Francisco Paiva nomeado pelo então governador Jorge Teixeira. Estávamos no mês de janeiro e a lama era o que mais se via nas esburacadas e fétidas ruas. A rodoviária da capital, localizada na antiga Avenida Kennedy era suja, fedida, mal arrumada e seus banheiros exalavam carniça. Era muito comum ver no meio das ruas tapurus e urubus dilacerando carcaças de animais mortos.
Naquela época só havia duas emissoras de televisão na cidade: a TV Rondônia, afiliada da Rede Globo, e a TV Nacional. Ambas praticamente só retransmitiam programas gravados exatamente como fazem hoje. A especulação imobiliária era uma constante e o já precário sistema de transporte coletivo, além de muito caro, era uma desgraça. A cidade parecia um faroeste de quinta categoria por causa do garimpo no rio Madeira. Prostíbulos imundos e duelos entre garimpeiros eram cenas comuns. O antigo Trevo do Roque vivia abandonado pelas autoridades e o lugar era como Porto Príncipe pós-terremoto. Um cabaré sem a madame. Os políticos de então, quase todos nomeados, prometiam, como muitos fazem atualmente, mundos e fundos para a população pobre e recém-chegada ao “Eldorado”. As mazelas daquela cidade continuam vivas em 2016.
Infelizmente nada mudou na capital dos rondonienses apesar de quase quarenta anos. Só vinha e vem para esta cidade quem tem negócios ou parentes. As autoridades eram quase todas de fora. Hoje, temos dois candidatos a prefeito, ambos também de fora. Um nasceu no desenvolvido e civilizado Paraná, o outro veio de Pernambuco. Ambos, claro, dizem que amam de coração esta fedorenta capital. Neste período, pelo menos 13 prefeitos já passaram pelo Palácio Tancredo Neves e nenhum nada fez para mudar a realidade da mais suja e imunda das capitais do país. Porto Velho fica no 98º lugar em IDH e qualidade de vida dentre as 100 maiores cidades do Brasil. Uma posição vergonhosa para uma cidade rica que tem três hidrelétricas, um rio caudaloso com água potável como o Madeira e tem na agropecuária e no extrativismo o seu carro-chefe.
Porto Velho nunca teve um grande administrador, eis a verdade. Nunca tivemos uma espécie de Jaime Lerner de Curitiba ou um Pereira Passos do Rio de Janeiro no início do século passado. Aqui nunca teve alguém que realmente amasse a cidade como sendo sua verdadeira casa, sua terra natal. Fala-se que Chiquilito Erse foi um Deus como administrador. Mas isto é pura balela, pois não se vê nada por aqui que tenha marcado as suas duas administrações. Porto Velho sempre se pareceu com uma currutela daquelas de garimpo, um chiqueiro sujo, fedido e sem cuidados. Nada daqui presta, nada daqui tem futuro, nada daqui vai para frente. Espaço Alternativo, viadutos, ponte escura. Não temos praças, iluminação decente, áreas verdes nem recantos de lazer. A Porto Velho dos sonhos está apenas nas cabeças de Hildon Chaves e Léo Moraes. Tomara que o eleito aprenda a lição do Nazif: se nada fizer, perderá o emprego.





*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Professor (des) valorizado


Professor (des) valorizado

Professor Nazareno*

              Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, toda e qualquer profissão tem que ser valorizada. Até por que há comprovadamente a necessidade da labuta de cada uma delas dentro de qualquer sociedade. A importância do professor, do médico, do fisioterapeuta, do psicólogo, do policial, do gari, do advogado, da doméstica, do enfermeiro, do jornalista, do engenheiro, do arquiteto e até do político não pode ser dispensada sob pena de se ter prejuízos incalculáveis para o conjunto da sociedade. Porém, de todas estas profissões a que se mostra mais presente em todas as outras é a do professor. Não que os mestres sejam mais importantes, mas sem ele todas as outras profissões perderiam a razão de ser. Ensina-se a ser médico, ensina-se a ser engenheiro, ensina-se a ser advogado. Toda profissão depende da labuta de um mestre.
A importância do educador dentro de uma sociedade é algo indiscutível, pois sem ele, acredita-se, as outras profissões não seriam o que são. No Japão, por exemplo, o imperador só presta reverência ao professor, pois “sem o professor não haveria imperador”, dizem solenemente os orientais. Nos Estados Unidos, a palavra de um docente é como uma sentença, um veredito em que a maioria das pessoas confia cegamente. Nos países desenvolvidos da Europa Ocidental a figura do professor é reverenciada por todos dada a sua importância. O incrível é que em todos estes países citados a figura do mestre não só é reverenciada, mas também a educação de qualidade é o que norteia estas sociedades. No Brasil, país que sabidamente não valoriza a educação, o professor é tratado com desdém: não tem bom salário nem reconhecimento.
Pior: o atual governo golpista de Michel Temer deu o tiro de misericórdia na nobre profissão. Na gambiarra que se anuncia como a mudança do nosso Ensino Médio determinou que “para dar aulas, basta ter notório saber”. Com isso, o Poder Público dispensa oficialmente os cursos de licenciatura para se ministrar aulas. Na prática, qualquer um pode ser professor. Afirmam que essa medida é para compensar a crônica falta desses profissionais. Se os “sábios” procurassem entender o porquê desta falta talvez não tivessem adotado medida tão discriminatória e prejudicial aos mestres do país. Faltam profissionais para dar aulas no país, dentre outros motivos, porque o salário é muito baixo e a carreira do Magistério quase não tem incentivo da sociedade nem dos governos. Além do mais, ser professor hoje no Brasil tem sido uma profissão de risco.
Muitos daqueles que têm a faina de lecionar são humilhados, espezinhados, agredidos e massacrados pelas circunstâncias que lhe são impostas. Com dois cursos superiores, uma licenciatura e um bacharelado, além de uma pós-graduação na área educacional eu, por exemplo, não posso consultar ninguém muito menos advogar. Assinar uma planta em uma obra da engenharia, nem pensar. Por que um profissional de outra área, sem a devida formação adequada, pode fazer de agora em diante o que faço sem problemas? A sociedade brasileira paga um preço muito alto por não valorizar seus docentes. Um médico, que apenas adia a morte de seus pacientes, não é mais importante do que aquele que ensina. Todos têm a sua importância e deviam por isso serem reconhecidos, inclusive pelo próprio Estado que paga a todos. Um país que não respeita seus professores e nem a educação é um país que não tem futuro. Só presente e passado.



*É Professor em Porto Velho.

domingo, 9 de outubro de 2016

República Evangélica do Brasil


República Evangélica do Brasil


Professor Nazareno*

            Eu não tenho religião, pois sempre duvidei da existência de Deus. Mas não sou ateu, sou deísta, ou seja, acredito que se Deus existe chega-se a Ele pela razão e nunca pela emoção. Sempre admirei as pessoas que têm religião. Se a crença em qualquer divindade faz uma pessoa mais caridosa, tolerante, alegre, compreensiva e feliz, por que não tê-la? Já o Estado brasileiro é laico, aceita todas as religiões e crenças inclusive a não crença. Essa separação entre Estado e religião no Brasil se deu por forte influência de Rui Barbosa e Benjamin Constant ainda na época da Proclamação da República. Essa visão de que as nações devem estar atreladas a uma religião é coisa do passado e já ultrapassada na maioria dos países do mundo. Há, no entanto, ainda muitos países hoje em dia, principalmente os muçulmanos, cujos governos se baseiam em suas religiões.
            Isso pode ser um absurdo, um contrassenso, pois uma nação deve ser governada sempre se levando em consideração uma constituição, livro dialético escrito sob a vontade da maioria após incansáveis debates e que pode ser mudado a qualquer momento dependendo das circunstâncias. A religião geralmente se baseia em uma Bíblia ou Corão, livros dogmáticos escritos há milhares de anos e totalmente fora da realidade dos dias atuais. Além do mais, a mistura entre religião e política pode ser algo muito explosivo. A guerra na Síria e outras guerras espalhadas pelo mundo são tristes exemplos deste fato. No Brasil, infelizmente, esta combinação letal está cada vez mais se tornando realidade. Nestas eleições, por exemplo, há a possibilidade de o Rio de Janeiro ser administrado por um evangélico. E o número de religiosos eleitos só cresce.
            Candidatos com o nome de pastor, pastora ou de padre é o que mais se vê nas campanhas políticas. Muitos já têm mandato e muitos são eleitos a cada eleição. Os religiosos perceberam o poder que têm sobre a massa ignara. Podem mandar votar no Satanás que os fiéis votam. Pior: o Congresso Nacional do Brasil está repleto de deputados e senadores religiosos. Reacionários, conservadores, direitistas, “defensores da família” e seguidores de Cristo, a maioria destes políticos pertence à Bancada BBB, Boi, Bala e Bíblia e buscam introduzir na sociedade, usando sempre a religião, regras, costumes e culturas já há muito ultrapassados na história da humanidade. Direitos humanos, homossexualismo, novo tipo de família, união estável, aborto, eutanásia e outras conquistas sociais são temas proibidos neste meio. Só vale o que o pastor disser.
            A classe política brasileira, ambiciosa como sempre e na cata de cada vez mais votos para o seu projeto de poder, não titubeou para assimilar e aceitar a nova ordem. Duvido que nas eleições do segundo turno em Porto Velho, Léo Moraes ou Hildon Chaves vá à mídia declarar a sua religião. Religiões à parte, qualquer um deles aceita, claro, novas adesões ao seu projeto de administrar a capital rondoniense. A ganância pelo poder é tanta que no mesmo Rio de Janeiro o senador Marcelo Crivella, pastor evangélico e concorrente à cadeira de prefeito da cidade, já disse que apoiará a Parada do Orgulho Gay e o Carnaval. Não é ilegal um religioso participar da política, mas pode ser antiético uma vez que o ditado popular diz que religião e política não se discutem. Nem se misturam. Um presidente evangélico com um Congresso propenso a essa religião não seria uma volta aos inquietantes tempos medievais? E retroceder, jamais!





*É Professor em Porto Velho.