quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Movimento Desista de Porto Velho




Movimento Desista de Porto Velho

Professor Nazareno*

          Já há algum tempo, um grupo de empresários de Porto Velho, incomodado com as características inabitáveis da cidade, vem se movimentando no sentido de resgatar a autoestima dos habitantes locais e transformar esta capital em uma “cidade mais segura, bonita, solidária e realmente democrática”. É o Movimento Abrace Porto Velho. Juro que não entendi o porquê do “realmente democrática”. Teriam os políticos dado uma espécie de golpe para estarem mandando nos destinos da capital de Rondônia? Ao que se sabe, desde o distante ano de 1986 quando nós elegemos Jerônimo Santana, o Bengala, que esta cidade “bem ou mal” respira, além da fragrância de esgotos, carniça e podridão, ares de democracia. Respira também, vergonhosamente, em todas as épocas de estiagem, muita poeira e fumaça das “permitidas” queimadas urbanas e rurais.
            Embora seja para muitas pessoas incautas um movimento sensato, tenho maus pressentimentos quando o assunto é melhorar o aspecto desta cidade. E parece que isto foi criado “de cima para baixo”, já que esta escaramuça teria mais credibilidade se tivesse saído espontaneamente do povão, que é quem mais sofre com o descaso das autoridades. Assim, talvez esta campanha fosse mais exitosa. Empresários sofrem bem menos com a insensatez dos políticos já que são eles, os empresários, que muitas vezes contribuem para colocar estes mesmos maus políticos no poder. Além do mais, essa elite geralmente não passa férias aqui, seus filhos estudam em boas escolas, cursam faculdades caríssimas lá fora, visitam regularmente a Serra Gaúcha, Miami e também os campos floridos da Europa. Conviver com a poeira e a lama é um destino só de pobres.
No entanto, já que é um movimento legítimo torçamos para que dê certo, pois todos nós ganharemos. Mas não tenho coragem de abraçar um lugar cheio de tapurus, carniça, lixo, podridão, esgotos a céu aberto, lama, poeira, fedentina, fumaça, água contaminada e outras imundícies que já viraram rotina por aqui. Em termos de administradores, Porto Velho parece ser uma cidade amaldiçoada. Entra Prefeito e sai Prefeito e a desgraça continua. O rosário de amarguras e sofrimento para nós é quase infinito. Obras inacabadas, sem saneamento básico e água tratada, incompetência das autoridades, desdém, abandono, falta de arborização, violência, escuridão, dentre outras mazelas, é nossa triste rotina diária. E não adianta dizer que isso acontece porque é uma cidade nova. Alguém sabe a idade de Londrina, Maringá, Gramado ou Caxias do Sul?
Por tudo isso, proponho criar o “Movimento Desista de Porto Velho”, pois isso aqui não tem mais jeito. Devíamos todos é cair fora. Em vez de criar campanhas para fazer o impossível, não seria mais sensato, e realista, estes empresários criarem uma campanha para expulsar os maus políticos locais? Fora, Nazif! Fora, vereadores! Fora, também todos aqueles que nos roubam e denigrem a nossa imagem. Mas, quantas pessoas participaram da última campanha, no início do ano, para expulsar o Prefeito? Tomara que estes empresários não queiram aumentar ainda mais o seu faturamento com movimentos assim e realmente estejam preocupados com o aspecto sinistro da cidade, mas o fato é que o ex-prefeito e até o atual vice já estão procurando “montar no porco” e, se eleitos, vão morar na luxuosa e distante Brasília. Enquanto isso, pagamos impostos e esperamos um futuro que nunca virá. Mas felizes, pois aqui ainda não choveu bosta.




*É Professor em Porto Velho.



segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Promessa nova: educação integral



Promessa nova: educação integral


 Professor Nazareno*

            Em um recente discurso, a candidata do PT, Partido dos Trabalhadores, à Presidência da República, Dilma Rousseff, anunciou solenemente que “Nenhum país do mundo virou um país rico sem escola em tempo integral.  Nós temos que dar escola em tempo integral para todas as crianças desse país”. Sábias e corajosas palavras estas da nossa Presidente se ela e o seu respectivo partido não estivessem no poder deste país há longos doze anos e com possibilidades de estender até os dezesseis. Imediatamente os partidos de oposição e parte da opinião pública questionaram o porquê de não já ter sido implantado em todo o país este sistema de educação que não chega a ser novidade nos países mais desenvolvidos e civilizados do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, já existe desde o século dezenove enquanto na Europa data de antes da Segunda Guerra.
            O Brasil infelizmente possui um dos piores sistemas de educação do mundo. Aqui, a escola pública principalmente não ensina nada a ninguém nem consegue incluir socialmente grande parte da população carente. Essa incompetência e descaso, como pouca gente poderia pensar, também são verificados na maioria das escolas particulares. É muito difícil se aprender algo em escola de turno único. E parte da nossa elite pensa que se protege do mau ensino matriculando seus filhos na rede privada. Engana-se, infelizmente. O brasileiro de modo geral procura mascarar as coisas. Criamos o EJA (Eu Jamais Aprenderei), e não Educação de Jovens e Adultos. O nosso velho e surrado supletivo nunca ensinou nada a ninguém. E na contramão da história, nem os nossos políticos e muito menos a população reivindica ou quer melhorias na Educação.
            A educação em tempo integral pode não ser a “panaceia milagreira” que vai resolver todos os problemas do Brasil, mas nunca é tarde tentar implantá-la por aqui. Se a partir de 2003, quando o PT assumiu o Governo Federal tivesse sido implantada somente nas primeiras séries do Ensino Fundamental, hoje todas as turmas e séries até o fim do Ensino Médio já estariam sendo trabalhadas com esta modalidade de ensino. Praticamente onde foi implantado, esse sistema de educação só trouxe bons resultados e colheitas satisfatórias. A escola de excelente qualidade tira jovens das ruas e das drogas, trabalha e fortalece habilidades das nossas crianças, cria e incentiva futuros atletas e artistas. Com alimentação de boa qualidade dentro das escolas, atendimento médico, psicológico e odontológico diminuiria a procura pelos lotados hospitais públicos.
            E isto não é sonho, pois não estou no Sudão e nem na Etiópia. O Brasil se gaba de ser uma das maiores potências econômicas do mundo. E como é ano de eleições (e de promessas) já prometem universidade estadual em Rondônia, implantação no Estado do modelo da escola João Bento da Costa de Porto Velho, educação em tempo integral no país, valorização dos professores e tantas outras lorotas e promessas vãs que jamais serão realizadas. O povo não cobra educação de qualidade aos seus representantes e eles também não são “bobos de fazer o que não lhes é pedido”. Todos os candidatos à Presidência da República sabem que resolveriam ou amenizariam os eternos problemas do Brasil se investissem em educação de qualidade. Quem quer ser Governador também sabe disso. Mas qual deles vai “remar contra a maré”? Ninguém é contra a educação neste país, mas por que nenhum governante até hoje quis fazê-la a salvadora dos povos?





*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Vergonha: a fumaça voltou





Vergonha: a fumaça voltou

Professor Nazareno*

           Não é novidade para ninguém que Porto Velho, a suja, abandonada, poeirenta e distante capital de Rondônia tem um dos piores IDH’s, Índice de Desenvolvimento Humano, do Brasil e talvez do mundo. Falar mal desta capital e de sua anacrônica infraestrutura urbana já se tornou uma terrível rotina há muito tempo. E o pior: a cada ano que passa parece que as coisas só pioram. Durante o inverno, a situação fica mais do que caótica com as constantes alagações, lama, podridão, monturo, ratos, carniça, urubus e toda sorte de imundícies. No verão, embora sejam só dois meses de estiagem, a poeira toma conta das esburacadas ruas. E para piorar o drama, a fumaça das queimadas urbanas e rurais dá o tom ao combalido meio ambiente. Doenças alérgicas e do trato respiratório transformam diariamente a vida por aqui em um verdadeiro inferno.
            Parece até que não existe Governo nem Poder Público por estas bandas. A notória inoperância dos muitos órgãos de fiscalização ambiental, tanto do Estado quanto dos municípios, todos praticamente “perdidos” em tempos de eleições e tudo isto associado a uma quase inexistente consciência ambiental por parte da maioria dos habitantes faz com que a pouca qualidade do ar diminua ainda mais. Impossível respirar com tanta fumaça, fedor de bichos mortos e poeira no ambiente. A última grande “hecatombe climática” verificada em Porto Velho foi coincidentemente em 2010, ano das últimas eleições estaduais e nacionais. Tomara Deus que neste período de escolhas das novas autoridades, não haja o arrefecimento da fiscalização sobre quem insiste em resolver seu problema particular sem levar em conta que vivemos em sociedade.
            Viver em Porto Velho não é fácil. Entra Prefeito e sai Prefeito e a situação não dá sinais de que um dia vai melhorar. Trânsito caótico, desorganização urbana, excesso de obras inacabadas, sujeira espalhada pelas ruas, lama podre e água contaminada no inverno e poeira associada à carniça no verão é a triste rotina de quem insiste em continuar sobrevivendo nesta capital. Como se não bastasse este imenso rosário de desgraças e amarguras, eis que à noite enfrenta-se uma escuridão que faz isto aqui se parecer com uma espécie de filial do inferno. Agora, com a fumaça absurda que somos obrigados a respirar, por absoluta incompetência de quem devia evitá-la, a situação é de calamidade pública e de caos generalizado. Quem mora em Porto Velho só poderá ver o fundo do poço se olhar para cima. Estamos bem pior do que se possa imaginar.
            Em tempos de eleições, o que mais se tem observado é a maioria dos candidatos hipocritamente falar em dignidade, trabalho, honra, decência, respeito, dentre outras palavras puramente “virtuais” que jamais serão postas em prática. Os malditos não percebem que estamos precisando de “promessas novas”. Em meio ambiente quase nada se ouve falar. Nem nos partidos que usam esse termo para se promoverem e arrebatar votos dos incautos e trouxas. Para muitos destes candidatos, qualidade de vida é um assunto esquecido que só pode e deve existir no mundo desenvolvido e civilizado. Essa gente devia se acanhar e entender que essas criminosas queimadas deviam ser denunciadas e punidas. Todos perdem quando respiramos este ar poluído pela cínica ambição do bicho homem. E se São Pedro não mandar chuva logo, logo, vamos ter que aguentar mais este pesadelo. Rinite, sinusite, labirintite e outros males nos aguardam.




*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Votar nulo é premiar os canalhas





Votar nulo é premiar os canalhas

Professor Nazareno*


        Segundo Platão, filósofo da Antiguidade Clássica, “o preço que o homem de bem paga por não se envolver em política é ser governado pelos mal-intencionados”. E parece que é exatamente isto que está acontecendo há certo tempo no Brasil. Além do futebol e do carnaval, outra mania preferida dos brasileiros é falar mal da política e dos políticos. O sistema político vigente no nosso país está em frangalhos e totalmente desacreditado pela maioria dos eleitores. De modo geral, a política é a atividade restrita apenas a interesseiros, corruptos, mentirosos, ladrões, desonestos e canalhas. “Homem de bem e de caráter não se envolve com a política”, é o pensamento de muitas pessoas. No entanto, para Aristóteles, discípulo de Platão, “a ciência mais importante é a ciência política, pois esta decide a existência das outras ciências estudadas pelo homem”.
Aristóteles foi mais além ao formular que “a ciência política também inclui a finalidade das outras ciências e esta finalidade é o bem do próprio homem”. Filosofias à parte, o que se tem observado no Brasil é uma total ojeriza e repulsa pela política e pelos políticos. Com isso, de forma justa, muitos eleitores se omitem e pensam em anular o seu voto nas eleições. Só que agindo assim no atual jogo político é beneficiar o mau político. Com muitos votos nulos ele tem mais facilidades para se eleger, já que os eleitos serão todos retirados do número de votos válidos. Além do mais, todos os votos de uma eleição jamais serão anulados. Familiares, puxa sacos e os imbecis em geral sempre votarão em algum “mau” candidato que os represente. Talvez melhor do que anular o voto, seja escolher quem nunca exerceu um cargo público, um novato.
Não reelegendo nenhum dos “velhos” candidatos, nenhuma figura carimbada da política, a mensagem do sofrido eleitor poderia estar sendo dada de forma mais consciente aos maus políticos, aos canalhas. Mas a mudança total só virá quando mudarmos o jogo todo e não apenas algumas peças dele. E não adianta esperar pela Justiça. Ela não julga, não absolve, nem condena ninguém. Se for correta e imparcial, apenas segue a legislação vigente, que muitas vezes é feita sob medida por estes mesmos maus políticos. Por isso, muitos candidatos espalhados pelo Brasil afora vão disputar as eleições tranquilamente mesmo sendo “fichas sujas”, já estiveram presos, roubaram, corromperam, mataram, desviaram verbas, se associaram ao narcotráfico, demonstraram incompetência para administrar e fizeram todo tipo de bandalheira.
Por isso que se diz que no Brasil a Justiça é cega, mas cegos mesmo e sem nenhuma visão política da sua triste realidade são muitos dos eleitores que demonstram não ter nenhuma ancestralidade, leitura de mundo ou apego a sua terra natal e respeito a si próprios quando votam em qualquer um sem pensar nas consequências que lhes aguardam por causa deste ato insano, amoral e irresponsável. Voto não devia jamais ser obrigatório, principalmente em uma democracia. Voto tinha que ser facultativo como é nos principiais países do mundo. De que adianta impedir um cidadão “nó cego” de ser candidato se ele, marotamente, coloca um parente seu para concorrer ao cargo pretendido e ainda o elege? Em muitos casos, o mau caráter se perpetua no poder por causa do eleitor otário e idiota. No Brasil, uma maioria burra, analfabeta e estúpida torna refém a minoria consciente que ainda sabe escolher bem o raríssimo bom político.




*É Professor em Porto Velho.