terça-feira, 30 de novembro de 2010

E Porto Velho não muda mesmo...


Porto Velho: Modernidade com Velhos Hábitos (02)


Professor Nazareno*


Já ouvi muita gente dizer que Porto Velho não é o fim do mundo. Pode até não ser, mas que por aqui acontecem coisas do "arco da velha", não há dúvidas. Embalada pela construção das duas usinas hidrelétricas para a produção de energia apenas para beneficiar os Estados do Sul do país e sem ganharem absolutamente nada em troca, muitos dos habitantes locais se orgulham deste feito absurdo. Com uma população de aproximadamente 426 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE, o fato é que em pleno século vinte e um a capital dos rondonienses ainda é uma cidade brega, mal planejada, suja, cara e que não oferece quase nada de moderno para os seus moradores. Se sair daqui resolvesse algo, acredita-se que muita gente já "tinha picado a mula". Muitas autoridades, filhos daqui mesmo, já moram fora do Estado faz tempo.

Conhecida orgulhosamente como a "Cidade das Hidrelétricas", talvez não haja no país uma capital onde a falta de energia seja uma constante. Todo santo dia praticamente os porto-velhenses têm de conviver com os irritantes apagões. Bairros inteiros ficam às escuras até por mais de 20 horas. Choveu, falta energia. A Ceron (Conseguimos Escurecer Rondônia) mudou de nome, só de nome mesmo. Mas se ligar no 0800, atendem direto do Rio de Janeiro. Não é incrível? E como presente pela incompetência, 10,60% de aumento para nós, otários consumidores. Para os outros, tudo. Para os rondonienses, nada. Apenas a grande e irreversível devastação do nosso já desgastado meio ambiente. Esses péssimos serviços têm como aliados os arroubos telúricos de meia dúzia de tolos que parecem não conhecer lugares mais civilizados.

Em Porto Velho, as transmissões de televisão ainda são feitas do modo tradicional. A maioria das capitais e cidades de grande porte já convive com esta tecnologia há mais de dois anos. TV digital é um mimo inacessível para muitos porto-velhenses. Apenas uma única emissora já se livrou da imagem analógica. Pior: quase toda a programação exibida pelas principais redes de televisão são gravações que os telespectadores vêem uma ou duas horas depois que já passarem no resto do país. Bancos existem na cidade e também há caixas eletrônicos. O gozado é que nos finais de semana eles quase nunca funcionam. A Internet daqui é lenta demais e enquanto muitas cidades já a têm grátis e rápida, aqui se paga uma fortuna. E não presta. Nós estamos acomodados achando que "Em Rondônia é assim mesmo...". E não é. Nós é que deixamos ser.

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Porto Velho é uma piada. Geralmente entrega as contas de final de mês com dois, três ou mais dias de atraso. O cidadão de Porto Velho, que paga seus impostos em dia, sofre "o pão que diabo amassou" se não quiser quitar suas contas com juros e correção. Pela Internet é quase impossível: além da lentidão, sempre há cabos de fibra ótica sendo consertados. Nos caixas eletrônicos não há muita condição, pois eles estão sempre fora do ar ou com saques indisponíveis. Nas lotéricas é muito difícil por que há muita falta de energia e também muita gente sempre "fazendo uma fezinha". Não basta ter as coisas que o mundo civilizado tem, é preciso que elas funcionem e dêem garantias ao cidadão. A violência crescente, o alagamento das ruas, o alto preço da carne e uma penitenciária para abrigar os bandidos perigosos do Rio de Janeiro é o que nos fazem semelhantes ao Sul do país.

O Transporte coletivo daqui é um caos completo. Duas horas é o tempo médio de espera em cada parada de ônibus. Isso numa cidade que é do tamanho apenas de um bairro de porte médio de São Paulo. As autoridades tentaram resolver o problema criando o serviço de mototáxi e construindo viadutos que ainda estão inacabados e algumas passarelas que só servem para serem observadas quando os transeuntes passam por baixo delas. Alugar uma casa imunda ou um apartamento sujo por aqui é mais caro do que um flat à beira-mar ou na paradisíaca Serra Gaúcha. O único Shopping Center da cidade ainda tem uma madeireira no pátio e é um lugar moderno, mas que convive com assaltos e até mortes. Esta madeireira é a síntese da Porto Velho atual: a modernidade chegou, está ali bem ao lado, mas tem que conviver com o velho e o ultrapassado. E tudo isto por que disseram que isto aqui ia mudar. Está mudando sim, mas para pior.


*Leciona em Porto Velho.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guerra no Rio: notoriedade em Rondônia


Drogas: a Guerra que não tem Fim


Professor Nazareno*


A recente guerra deflagrada no Rio de Janeiro entre as forças do Governo do Estado e os traficantes de drogas foi uma das melhores coisas que aconteceram a Rondônia nos últimos tempos. Devido à transferência de alguns bandidos de alta periculosidade para o presídio de segurança máxima de Porto Velho, o nosso Estado e a nossa cidade foram mencionados como nunca em toda a mídia nacional. Só o Jornal Nacional da Rede Globo em uma única edição falou cinco vezes o nome de Rondônia. Claro que houve algum repórter desastrado que confundiu (ainda) Rondônia com Roraima. Isaías do Boréu, Elias Maluco, Marcinho VP dentre outras conhecidas figuras do crime organizado do Rio são, a partir de agora, nossos mais novos hóspedes. E, estranhamente, metem medo também por aqui.

Os rondonienses deveriam se tranqüilizar quanto à presença dessa gente em terras karipunas. Mesmo sendo "da pesada", nenhum deles, por enquanto, desviou um único centavo sequer dos cofres públicos deste Estado. Nunca foram filmados exigindo propina de nenhum governante local, além de não terem praticado qualquer crime que pudesse dar prejuízo aos cidadãos daqui que pagam seus impostos. Mesmo sendo bandidos perigosos, nenhum deles criou o Hospital João Paulo Segundo, que mata e abandona pacientes pelo chão. Qual deles pode ser responsabilizado pela devastação ambiental ou pela morte do nosso lendário rio Madeira? Nunca compraram votos aqui nem desviaram recursos públicos para benefício pessoal. Nem são os responsáveis pela maldita fumaça durante o verão.

Essa guerra nos morros cariocas é um equívoco e não deveria acontecer. O Estado desce ao nível do traficante quando propõe o enfrentamento homem a homem nas favelas. Além do mais, a questão do tráfico de drogas envolve uma cadeia maldita de que participam vários elos: produtor, traficante, transportador, vendedor de armas, consumidor, etc. Grande parte desta droga só pode ser produzida no ar rarefeito dos Andes. Como chega aos grandes centros do Brasil e do mundo é um mistério que envolve dentre outras coisas a incompetência de quem devia fiscalizar corretamente as nossas fronteiras e do próprio Estado que se mostra despreparado para impedir o transporte da droga. Colocar as Forças Armadas para trabalhar pode não adiantar muito, pois como foi visto os bandidos sempre fogem.

O óbvio: se não houver consumo não haverá tráfico nem produção. E as leis do Brasil não punem o elo consumidor. Muitos países já adotam uma legislação em que cada parte desta cadeia é punida com o mesmo rigor. De que adianta pais de família se envolver nesta guerra, perder suas vidas, apenas para livrar os "filhinhos de papai" do vício? O Estado devia proteger todos e não apenas a elite consumidora de drogas. Quem usa substância entorpecente deve saber que alimenta esta violência que presenciamos nos morros do Rio de Janeiro e também em outras cidades do país. Cada carreirinha de coca que se consome mata muitas pessoas e alimenta um círculo vicioso demoníaco. Em vez de balas, é preciso investir mais na conscientização dos nossos jovens. O erro: o Estado pune um elo e libera outro.

E essa estratégia é totalmente inútil: matam-se ou se transferem os líderes do tráfico e outros aparecerão. É apenas uma questão de tempo. Alguém terá que abastecer os viciados. A abstenção dos riquinhos em busca de mais uma cheirada deve ser bem pior do que muitos carros incendiados nas ruas. "O sistema" descrito no filme "Tropa de elite 2" é imbatível e nunca morre. Mas se o fluxo de dinheiro que alimenta os AR-15, bazucas e as metralhadoras do tráfico fosse interrompido, não haveria necessidade dessa guerra urbana nem de mortes que tanto mancham o nome do país que vai sediar a próxima Copa de Mundo e as Olimpíadas de 2016. Soluções há, basta o Estado se fazer mais presente nestas comunidades que o tráfico adotou há tempos. Desvio de recursos públicos, corrupção, roubos, desmandos, enriquecimento ilícito, impunidade, falcatruas, nepotismo são piores do que abrigar temporariamente bandidos de outros Estados. Alguma coisa o Brasil devia mandar para Rondônia em troca da energia que vamos produzir para os Estados do sul do país.


*Leciona em Porto Velho.

domingo, 21 de novembro de 2010

Porto Velho está se desenvolvendo mesmo?


Porto Velho: Modernidade sem Velhos Hábitos (01)


Professor Nazareno*


Já ouvi muita gente dizer que Porto Velho é o fim do mundo. Quanta injustiça se afirmar isto. É claro que aqui não acontecem coisas do "arco da velha", não há a menor dúvida. Embalada pela construção de duas usinas hidrelétricas para a produção de energia apenas para beneficiar os Estados do sul do país e achando que vão ganhar o paraíso em troca, muitos dos habitantes locais se orgulham deste feito inusitado. Com uma população de aproximadamente 410 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE, o fato é que em pleno século vinte e um a capital dos rondonienses já é uma cidade moderna, bem planejada, limpa, sem carestia e que oferece tudo de moderno para os seus moradores. Daqui ninguém quer "picar a mula" e a felicidade é geral. Que bom.

Conhecida orgulhosamente como a "Cidade das Hidrelétricas", a cidade nunca registrou falta de energia. Todo santo dia os porto-velhenses desligam por conta própria seus disjuntores só para conhecer o que é um apagão. E se por um acaso isto acontecer, na primeira reclamação tudo é resolvido na hora. Não é qualquer chuvinha de fim de tarde que faz a Ceron interromper a oferta de luz elétrica. Para os outros, nada. Para os rondonienses, tudo. Ficamos felizes com a grande e irreversível devastação do nosso meio ambiente causada pela construção das usinas do Madeira. O progresso veio para ficar e é nosso amigo. O atendimento nas lojas faz inveja a qualquer um. Nos postos de gasolina, os frentistas correm atrás dos motoristas para poder abastecer mais rápido.

Em Porto Velho, as transmissões de televisão ainda são feitas do modo tradicional. E o povão adora. Enquanto na maioria das capitais e cidades de grande porte do país já se convive com esta tecnologia há mais de dois anos, aqui a televisão digital é um mimo inacessível para muitos moradores. Apenas uma única emissora já se livrou da imagem analógica. Mas ninguém aceita, já que quase toda a programação exibida nas principais redes de televisão são gravações que os telespectadores vêem uma ou duas horas depois que já exibiram no resto do país. Bancos existem na cidade e também têm caixas eletrônicos. O gozado é que sempre nos finais de semana eles nunca funcionam. "Fim de semana é para descansar e não para se preocupar com saques em dinheiro".

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Porto Velho é referência. Geralmente entrega as contas de final de mês com dois, três ou mais dias adiantadas. O cidadão de Porto Velho, que paga seus impostos em dia, não sofre "o pão que diabo amassou" se quiser quitar suas contas sem juros e correção. Pela Internet é bem melhor: não há lentidão, e nunca há cabos de fibra ótica sendo consertados. Nos caixas eletrônicos é a opção predileta, pois eles estão sempre disponíveis e funcionando perfeitamente. Nas lotéricas é também muito bom por que não há falta de energia nem muita gente "fazendo uma fezinha". Porto Velho já tem as coisas que o mundo civilizado tem, e aqui elas funcionam muito bem e só dão tranqüilidades ao cidadão.

O Transporte coletivo é uma beleza. Duas horas é o tempo médio de espera numa parada de ônibus. Isso é muito bom para colocar as amizades em dia. Ninguém reclama. As autoridades resolveram o "nó" do trânsito com o serviço de mototáxi e viadutos enquanto as passarelas servem para ser observadas pelos transeuntes que passam por baixo delas. Alugar uma casa limpinha ou um bom apartamento é quase de graça. Nem se compara ao preço de um flat à beira-mar ou na paradisíaca Serra Gaúcha. O único Shopping Center da cidade ainda tem uma madeireira no pátio e é um lugar moderno que não convive com assaltos nem registra violência. Esta madeireira é puro marketing e sinaliza que a modernidade chegou, está ali bem ao lado, mas precisa respirar um passado romântico e saudoso. E disseram que Porto Velho não precisava mudar. Se isto aqui não for um lugar abençoado por Deus, é a morada do Próprio.


*Leciona em Porto Velho.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quem é rico? Quem é pobre?


O Rico e o Pobre no Brasil


Professor Nazareno*


O Brasil é um país pobre, já os Estados Unidos são um país rico. A Europa tem vários países ricos e nenhum pobre. Antes, nós éramos do Terceiro Mundo, hoje somos emergentes, mas ainda pobres ou com muitos pobres. Quase todo mundo sabe as principais diferenças entre pobres e ricos. Rondônia, por exemplo, é um estado pobre, já São Paulo é um estado rico. Existem muitos estados ricos no Brasil. Mas as diferenças entre pobres e ricos em nosso país são bem maiores do que pensamos. Pobre quase sempre é analfabeto e geralmente estuda em escola pública. Ao contrário do rico, que tem à disposição a escola particular. Pobre paga para estudar em faculdade, rico estuda em Universidade Federal. Cursos de pobre geralmente são aqueles que oferecem muitas vagas e poucas oportunidades no mercado de trabalho. Curso de rico é aquele cujo mercado ainda não está saturado e paga muito bem ao profissional recém formado. Rico fala Inglês ou Espanhol, pobre nem o Português sabe falar direito. Rico dança ballet, pobre dança "Boi" e ainda acha que é cultura.

Pobre sonha com a casa própria, rico mora em flat e paga condomínio. Cozinha de pobre tem liquidificador com saia bordada, cachorro de louça na porta (ou verdadeiro no quintal) e paredes decoradas com pássaros, também de louça, grandes, médios e pequenos. Rico tem computador de última geração, televisão de plasma ou LED e carro importado, já o miserável do pobre anda de ônibus e vai à Lan House se não quiser ser chamado de excluído digital. Pobre vota no Governo, rico faz oposição. Rico tem leitura de mundo, pobre nem ler sabe. É óbvio que pobre vai ao Arraial Flor do Maracujá, Expovel e carnaval fora de época, rico vai ao teatro e ganha dinheiro com a Expovel. Avião é transporte de rico enquanto ônibus serve aos sem dinheiro. Ricos são eleitos e pobres são eleitores. A democracia, quando convém, é defendida pelos ricos enquanto os pobres “choram um olho e lagrimam o outro” por uma ditadura. Resumindo: pobre é ditador, rico é democrata. Rico vota por ter consciência política, pobre vota por uma cesta básica.

Rico é ateu, judeu ou católico, já pobre é macumbeiro ou segue a religião dos outros. Música clássica é ouvida pelo rico enquanto pagode, pelo pobre. O SBT é uma emissora de televisão direcionada aos pobres enquanto a Discovey Channel, CNN e Globo News satisfazem o telespectador endinheirado. Pobre vai à feira de bairro, rico ao Shopping Center. Claro que se entende por que Orkut, MSN, Lap Top, Twitter e Blog são palavras comuns a quem tem posses enquanto o favelado nem tem palavras para designar estas coisas. Rico consome droga que geralmente é vendida pelo pobre. Doença de pobre é dengue, diarréia, curuba ou malária. Rico pega gripe suína (Influenza H1n1) quando está de férias em Buenos Aires ou na Europa e procura tratamento nos hospitais conveniados com os mais caros planos de saúde ou mesmo fora do Estado. Pobre vai ao Hospital de Base ou João Paulo Segundo e ainda fica feliz se consegue uma ficha para ser atendido dois meses depois num posto de saúde da Prefeitura ou do Governo do Estado.

O rico quando entra na política é para triplicar a sua fortuna. Pobre nem político consegue ser. Acredita-se que mais de 80 por cento dos eleitores brasileiros são pobres e por isso mesmo mantêm os outros 20 por cento como reféns de suas estúpidas escolhas. Enquanto o rico é sempre bem votado, o pobre nem votar sabe. Na atual conjuntura da nossa política, precisa dizer quem é ficha limpa e quem é ficha suja? Bairro ou prédio de rico tem nome em francês: "maison". Pobre mora em estância, invasão ou favela. Cidadão rico com muitos filhos é excêntrico, pobre é idiota mesmo. Tênis é o esporte favorito da elite. Pobre pratica esporte? Por isto o nosso país é o que é. Enquanto o Brasil for povoado por esta gentinha “chinfrim” e sem nenhum “pedegree”, seremos a escória do mundo, a terra onde tudo é possível, a nação do absurdo. Um país periférico e habitado por “jecas”. No entanto, eu já vi muitos pobres que agem como se ricos fossem e muitos ricos que têm a mania de agir como pobres. Já me disseram que eu sou da classe média, casta social aonde muitos pobres querem chegar e de onde muitos ricos não deveriam ter saído.


*Leciona em Porto Velho.

domingo, 14 de novembro de 2010

Rondônia, uma nação livre e independente?


E se Rondônia fosse um País Soberano?


Professor Nazareno*


Se o Estado de Rondônia fosse um país independente teria, de acordo com o seu PIB, uma classificação muito modesta em relação às outras nações do mundo. Dentre os 180 países pesquisados, nós ficaríamos na incômoda 152ª posição. Mais ou menos junto ao Haiti, Burkina Fasso (país miserável da África sub-saariana) e Papua Nova Guiné, (República de economia desprezível da Ásia/Oceania) países que dispensam maiores comentários. Isso mesmo. Com um Produto Interno Bruto um pouco inferior a cinco bilhões de dólares, representamos dentro da federação apenas meio por cento dos recursos nacionais. Uma posição pífia e pra lá de ridícula. Seríamos apenas os campeões em devastação ambiental, desrespeitos à natureza, e em produção de energia elétrica para outras nações (Estados). O palhaço Bozo seria herói nacional e certamente o FMI copiaria daqui inteligentes lições de como se administrar um banco estadual.

Se na economia os números de Rondônia são desastrosos, na política também não há notícias animadoras. O nosso “presidente” seria João Cahulla, já em fim de mandato. Ivo Cassol, um pseudo-estadista, mandatário-mor do "Império da Roça" seria a sua eminência parda, mas que enfrenta alguns problemas internos. Existem relatos de que a maior autoridade do fictício país tropeça até na própria língua oficial da nação e só foi eleito senador por ter anteriormente afagado alguns servidores públicos demitidos na gestão anterior. O nosso Congresso Nacional seria a respeitada Assembléia Legislativa do Estado (pasmem), cuja nova sede está sendo construída onde antes funcionava um circo. Essa casa de leis já prestou 'relevantes serviços' à nação e qualquer semelhança com o legislativo dos países acima citados seria uma mera coincidência. Já o hino nacional seria uma toada (música de Boi) e a comida típica, peixe com farinha.

Para se ter um país soberano, deveria haver também a questão relacionada à segurança externa. Temos uma Base Aérea e meia dúzia de aviões (na verdade “teco-tecos” enferrujados, sobras da Segunda Guerra) para nos defender. Faríamos fronteira com a Bolívia e o Brasil, a oitava economia do planeta. Deste, por razões óbvias, jamais sofreríamos qualquer ataque. O perigo estaria nos ‘hermanos’ do outro lado do rio Guaporé. A nossa infantaria teria condições de repelir um ataque dos bolivianos? Talvez sim, pois já demonstrou “muita bravura” ao invadir há tempos um terreno destinado à construção de um teatro em pleno centro da capital do país. À marinha, caberia a difícil missão de medir diariamente o nível do rio Madeira e de explicar por que os barcos de passageiros saem quase vazios do porto e chegam cheios de gente aos seus destinos... O novo país teria várias datas nacionais: 4 de janeiro, 13 de setembro, 22 de dezembro...

País soberano, imprensa livre. É o que reza qualquer manual. Mas grande parte da imprensa da nação é composta de jornalistas sem formação acadêmica e a serviço de algum político de plantão. Existem jornalistas que adoram hinos, os que acham que escrevem sobre a cultura do país e até comentaristas políticos que não entendem nada de política. Aqui seria um dos únicos países do mundo cuja imprensa teria cor: seria marrom. Os jornais só funcionariam de segunda a sexta e os programas policiais seriam os de maior audiência. Mas em compensação temos institutos de pesquisas altamente confiáveis: como exemplo um tal de Instituto Phoenix que desbanca qualquer similar de outros países. A nossa Federação de Futebol é a mais organizada e bem estruturada que se conhece, dizem, embora não exista futebol de verdade. Aqui se torce só por times de fora e os "estádios" são os bares das esquinas que sempre ficam cheios aos domingos.

Entretanto, como país soberano Rondônia não teria a bomba atômica, exemplo às avessas da Coréia do Norte e do seu ditador King Jong Il. Rondônia, dentro da realidade atual, seria a bomba atômica. Mesmo assim, temos uma universidade livre, a Unir, onde um voto é representado por seis ou sete pessoas. Talvez o símbolo maior do país fossem as incontáveis obras inacabadas de sua capital. Com um Legislativo inoperante e folclórico, forças armadas adormecidas, problemas ambientais em todas as frentes, muita fumaça no verão, uma população sem nenhuma identidade cultural e apátrida, uma capital suja, sem esgotos e fedorenta, este fictício país estaria fadado ao desaparecimento. Não seríamos uma reles republiqueta de bananas ou um dos incontáveis países miseráveis dos continentes africano e asiático, mas uma nação sem nenhum prestígio dentro do contexto do mundo globalizado. Seríamos, na verdade, algo bem pior: uma segunda pessoa do “quase nada”. Qual líder daqui discursaria na ONU?


*É professor em Porto Velho

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Existe Oposição no Brasil?



Oposição no Brasil: o Retrato do Fracasso


Professor Nazareno*


As eleições no Brasil têm funcionado como os jogos do Brasil em Copa do Mundo: na derrota do primeiro jogo eliminatório, este ano foi contra a Holanda, o time sai de campo com a cabeça baixa, desolado, triste, irreconhecível, o técnico é demitido e começa a preparação para a próxima competição sempre insistindo que não se repetirão os erros. Passada a festa democrática das urnas, os perdedores também abandonam o "campo de jogo" e se recolhem para juntar os cacos da desilusão. Cai-lhes o mundo sobre as costas e as lamentações passam a fazer parte do cotidiano. Mas está tudo errado. Oposição tem uma função muito importante no jogo democrático. Quem ganha, lógico que governa, mas quem perde deveria fiscalizar de perto o governante como acontece nas principais democracias do mundo, onde líder oposicionista é carismático.

Quem será o líder da oposição ao Governo de Dilma? José Serra, dizem, morreu politicamente. Aécio Neves já disse que não quer. No âmbito da própria política, via Legislativo, deveria haver uma maior resistência às investidas equivocadas do Poder, mas o próximo Congresso Nacional tem maioria governista. Nos Estados a situação é pior ainda. Em Rondônia, por exemplo, a oposição é uma mulher e se chama abstenção: 35,8% não foram votar, votaram em branco ou anularam o voto e o "Império da Roça" de Cassol e Cahulla caiu por terra. Chapéu agora só no Senado. Além do mais, a oposição foi simplória e não soube pedir voto. Acusou a candidata Dilma de tantas tolices e se esqueceu do principal. "Dilma permitirá casamentos entre homossexuais", disseram. Outra tolice: "ela é favorável ao aborto". Mais: "vai implantar uma ditadura", "não acredita em Deus" ou "ela foi uma guerrilheira e nunca entrará nos EUA".

Claro que havia temas mais importantes para serem discutidos em vez de se falar abobrinhas. Mas a elite brasileira é mesmo burra e tosca. Parece até a ACLER, a Academia de Letras de Rondônia: dá a impressão de que é um "ninho de intelectuais" e que presta relevantes serviços à cultura e ao povo. Tudo lorota. A oposição brasileira e a de Rondônia também dizem usar o lema "Non Vi, sede virtute", (não pela força, mas pela qualidade). Isso é outra mentira: assim como os "imorríveis" rondonienses, elas não têm força nenhuma muito menos qualidade. A questão das privatizações de FHC poderia ter sido discutida. Aqui, a eterna dívida do Beron deveria ter vindo à baila. Quanto pagamos? Por que pagamos? Por que o Governo Federal dispensou a dívida do Haiti, Moçambique, Nicarágua, Bolívia, Cabo Verde, Gabão e a do Beron, não?

Neste contexto, para o Governo brasileiro os rondonienses são piores do que os haitianos ou os bolivianos. Já pensou o que não teria acontecido a Rondônia se não aceitasse a construção das hidrelétricas para abastecer de energia boa e barata os Estados do sul? Além de não ter banco, ainda temos que pagar uma fortuna pelo que nos tiraram. Devíamos criar agora o "Roban", Rondônia Banco, onde poderíamos ter uma conta corrente e guardar as nossas poupanças diárias. As Assembléias Legislativas estaduais até que poderiam fazer oposição de verdade e sem precisar ser filmada. A daqui é uma piada e não consegue criar leis mais importantes do que "defecar em privadas de rodoviárias". Pela pouca ou nenhuma importância, deveria ter o número de seus membros reduzido. Ora, o STF tem onze ministros, que são dez, e lá só dá empate.

Como se vê, é muito difícil ser ou fazer oposição neste país. Os políticos geralmente só fazem política se estiverem na situação. São como lombrigas: fora da sujeira não sobrevivem por muito tempo. Muitos deles contrataram os trabalhos eficientes e confiáveis do Instituto Phoenix de Rondônia e a ele encomendaram suas pesquisas. Fazer oposição não é enganar o já enganado povo. É fiscalizar as ações dos Governos. É discutir idéias e propostas com o objetivo maior de governar para o bem-estar geral. Discutindo tolices e deixando os grandes temas nacionais e estaduais de fora só podia acontecer o inevitável: a derrota do país nas urnas. "Venceu o menos ruim" , é um absurdo que praticamente só acontece em países onde a política e os políticos valem tanto quanto uma academia de letras, uma seleção de futebol desacreditada ou um banco falido pela incompetência de "não se sabe quem".



*É Professor em Porto Velho