Vigilância Sanitária devia
interditar Porto Velho
Professor Nazareno*
Agentes da
Vigilância Sanitária Municipal de Porto Velho interditaram no início da semana
o supermercado atacadista Makro, na BR – 364, por tempo indeterminado, sob a
alegação de terem encontrado sujeiras, toneladas de produtos alimentícios com o
prazo de validade vencido e principalmente muitos ratos dentro daquele
estabelecimento comercial. Há denúncias de que, mesmo depois de os responsáveis
serem avisados, “havia uma verdadeira
praga de roedores” infestando as dependências do lugar, fato ainda
verificado após terem sido feitas várias desratizações. Até aí, tudo bem. Nada
de anormal em se tratando de funcionários públicos zelosos com a sua função e a
preocupação do Poder Público em cuidar da saúde preventiva da população. O
problema é que estamos em Porto Velho, comprovada a capital mais suja e imunda
do Brasil e que, diante de tanta porcaria, faz o episódio do Makro parecer
micro. Se esta discussão não foi motivada pela “guerra da concorrência”, há muito que esclarecer uma vez que
ninguém de bom senso coloca de propósito ratos dentro do próprio local de
trabalho.
A ação da
Vigilância Sanitária devia não causar mais nenhum espanto a nós moradores porto-velhenses,
já que sujeira e todo tipo de “seboseira”
sempre foram itens mais do que comuns em nossas vidas. Devíamos já estar
acostumados com este oceano de podridão que sempre caracterizou a nossa cidade.
Sem nenhuma arborização, embora situada em plena floresta Amazônica, com
ridículos três por cento de água tratada e com menos do que isso de saneamento
básico, a capital dos rondonienses é um paraíso de valas contaminadas
enfeitando a paisagem, esgotos a céu aberto e principalmente bichos mortos
deixados pelas fedorentas ruas exalando o seu odor característico. O site
Rondoniaovivo tem publicado quase diariamente fotos e reportagens denunciando a
total falta de zelo e limpeza de nós moradores da cidade. Dos bairros mais
periféricos até os mais elitizados e próximos à área central, o que se vê é
lixo esparramado pelo chão, restos de comida, carniça, e toda a sorte de
podridão e sujeira. Emporcalhamos as ruas e cobramos empenho das autoridades.
Devíamos era tomar vergonha na cara.
Já que é tão
zelosa e competente, a Vigilância Sanitária deveria inquirir as autoridades do
município para saber o porquê deste “lixaral”
e também interditar a cidade toda. No inverno vivemos com a lama imunda a nos
incomodar, no verão é a poeira misturada a fezes que inalamos diariamente.
Grande parte da cidade é abastecida por água captada em poços imundos
geralmente cavados ao lado de fossas sépticas. Hepatite por aqui é como gripe,
quase todo mundo tem ou já teve. Até fossa já estourou em plena sala de
cirurgia do Hospital João Paulo Segundo onde o mau cheiro de sangue pisado e de
carne crua e insossa é muito comum. O nosso único Pronto-Socorro dispensa
qualquer comentário em matéria de higiene e limpeza. O porto que dá nome à
cidade é um barranco feio, sujo e cheio de lixo. Até o outrora e imponente rio
Madeira tem boiando em suas águas todo tipo de cacarecos: de absorventes
femininos usados até garrafas pet e fraldas descartáveis ainda repletas com o
seu fétido conteúdo. Essa cidade é uma grande fossa a céu aberto e segundo o Instituto
Trata Brasil, em limpeza e esgoto, estamos em último lugar dentre as capitais. Somos
campeões em podridão. Vergonha!
Porto Velho além
de não ter aterro sanitário, também não tem coleta seletiva de lixo. Nunca
teve. A desculpa de que é uma cidade nova e que os incomodados devem se mudar
não cola, já que há cidades bem mais recentes e que são exemplos de limpeza e de
excelente planejamento urbano. Além do mais, várias pessoas já saíram daqui e
nada foi resolvido. Os arraiais que são feitos para divertir o povão broco
geralmente são montados em lugares ermos, sujos e sem ventilação nem higiene. A
comida é servida em meio à catinga e sem nenhuma instalação decente. O único
Shopping Center daqui tem uma madeireira no pátio e que quando vende a madeira
“louro-bosta” exala um fedor horrível.
Caminhar no Espaço Alternativo ou “Buchódromo”
é ter a certeza de encontrar milhares de preservativos masculinos usados. Uma
nojeira. Até a Unir fez greve por questões de limpeza e higiene no Campus. Por
que essa tal de Vigilância Sanitária não vê tudo isso? Interditar um
supermercado por causa de simples e inofensivos ratinhos é um exagero sem
tamanho. Será que ela já foi até a Assembléia Legislativa do Estado ou mesmo
até a Câmara Municipal? Sujeira é o que não falta nestes ambientes. Deve ser
por isso que uma das comidas típicas desta região é o Mandi, uma espécie de
pequeno bagre que se alimenta de fezes humanas e é uma iguaria muito apreciada.
Aqui só falta chover dejetos humanos, mas antes disso acontecer, as autoridades
deveriam colocar uma placa na entrada da cidade avisando do problema ou então
erguer uma enorme estátua do Cascão ou do Sugismundo para combinar melhor com essa
caótica situação de sujeira em que estamos todos atolados.
É
Professor em Porto Velho