Greve na Unir: a Culpa não é só do
Reitor
Professor Nazareno*
A Unir, Universidade Federal de Rondônia, está em greve
mais uma vez. E muito diferente de outras paralisações anteriores, esta não é
por melhores salários para os professores ou funcionários da Instituição: é por
melhores condições de trabalho nas dependências dos vários campi espalhados
pelo Estado. A discussão que devia existir no ambiente universitário envolvendo
melhorias no Ensino, Pesquisa e Extensão cedeu vergonhosamente o lugar para
debates mais rasteiros e de importância menos nobre para um centro que se diz de
Ensino Superior. Falta de papel higiênico nas imundas privadas daquele
Estabelecimento de Ensino, cadeiras quebradas, sujeira abundante por todo o
campus, lixo espalhado pelos departamentos, prédios e salas de aula, falta de
água, de restaurante universitário dentre outras mazelas fazem a pauta de
reivindicação dos grevistas. O descaso, a falta de respeito e a pouca
valorização da Educação itens tão comuns na maioria das escolas públicas do
Brasil chegam, enfim, à universidade. O Campus José Ribeiro é a imagem de Porto
Velho: sujeira, imundície, fedor e lixo.
Não tenho procuração para defender ninguém nem jamais,
talvez, o fizesse, mas culpar apenas uma única entidade por todo este estado de
coisas é no mínimo uma injustiça que pode demonstrar a falta de uma visão “macro” daqueles militantes mais
exaltados. O Magnífico é, logicamente, parte do problema que afeta esta
Instituição de Ensino Superior. Mas há muitos outros culpados por mais esta
vergonha. A culpa pode ser também nossa enquanto sociedade, enquanto povo. Nunca
fomos ensinados a cobrar nada de ninguém. Os verdadeiros responsáveis somos todos
nós brasileiros, alunos ou não, professores ou não, autoridades ou não, que
nunca demos o verdadeiro valor que a Educação deste país merece. Os médicos
formados nesta universidade vão cuidar da saúde dos meus netos, vão prescrever
remédios para o povo, os professores vão ensinar às futuras gerações de
rondonienses, os engenheiros vão assinar plantas de edifícios onde meus
netinhos vão morar, enquanto muitos outros acadêmicos entrarão na política ou
outras atividades afins para futuramente governar os destinos deste Estado.
E qual o nível de participação do povo e da sociedade
neste movimento, já que deviam ser os maiores interessados? Qual o nível de
participação do Poder Público? Alguém já procurou saber como funcionam as
relações da Unir com a Fundação Rio-Mar? Infelizmente o que se observa também
nesta greve é que apenas alguns setores da própria universidade mais
interessados e diretamente envolvidos como professores, alunos e funcionários participam
da paralisação, ainda assim de forma muito restrita. Lamentavelmente a falência
também do Ensino Público Superior no país evidencia uma tendência nacional. A Educação,
de um modo geral, não interessa a quase ninguém. Os ensinos Fundamental e Médio
públicos já decretaram a sua falência faz tempo. Os vergonhosos resultados do
ENEM 2010 são a prova deste gravíssimo fato. Greve de professores nunca causou
maiores impactos em nossa sociedade. E os políticos sabem perfeitamente disto e
providenciam shows e espetáculos para distrair a massa ignara. É festa:
Reginaldo Rossi e a Banda “Calixo”
são as mais novas atrações de Porto Velho.
A desvalorização da Educação e do ensino de um modo geral
também é incentivada entre os próprios alunos: como entender por que cursos
como Medicina, por exemplo, têm muitas vezes uma concorrência trinta, quarenta
ou cinqüenta vezes maior do que Letras/Português, de longe o curso mais
importante em qualquer faculdade brasileira? A desorganização crônica observada
na única universidade pública de Rondônia também devia ser um problema do povo.
A organização de um simples concurso vestibular sempre foi um obstáculo
intransponível dentro da Unir. E este ano não foi diferente. Há mais de vinte
anos trabalho na preparação de alunos para ingressar no Ensino Superior deste
Estado e nunca vi nada que justificasse a árdua tarefa dos futuros acadêmicos
de Rondônia. Se não for o desejo de privatização do Ensino Superior público do
Brasil que está por trás destas mazelas ou mesmo a incompetência do atual reitor
em administrar “as polpudas verbas”
que afirmam virem do MEC, fica muito difícil perceber a real dimensão ou a
causa deste problema. “Será que esta
greve absurda e extemporânea não vai prejudicar a minha viagem de férias no
final do ano às praias nordestinas ou atrapalhar a minha ida ao Rock in Rio
ainda neste mês?”
*É
Professor em Porto Velho.
2 comentários:
Concordo com muitas das palavras expostas e assinalo que aquilo que se passa com a UNIR indica claramente que nosso país não tem projeto de nação, o que obrigatoriamente passaria por mais investimento e valorização do nosso sistema público de ensino.
Assim, a grande massa da população brasileira não tem noção do que representa esta greve.
Um país que não leva a sério o seu sistema público de ensino, ou torna acessível nichos de qualidade a poucos privilegiados e que prioriza o Rock in Rio, Copa do Mundo, Olimpíadas, demonstra claramente não saber pensar estrategicamente e a longo prazo.
Concordo com o Professor, mas vamos além, toda instituição tem um líder, um administrador, um gerente, etc, e n caso da Universidade Federal o Magnífico Reitor. se somos administrados e ougerenciados por incompetentes, o resultado é o caos, é o que estamos vendo neste momento, portanto que tal o Sr. Reitor vir a imprensa, aos manifestantes e a toda sociedade e trazer u dociê completo e as claras da situação da Unir. aí talvez pudéssemos entender e nos posiconar fazendo o papel de advogado do diabo, mas por enquanto ninguém tá a salvo, nem o Reitor nem tão pouco os políticos que estão por traz desse Reitor, àqueles que o apadrinham, àqueles que fazem da Universidade um poleiro eleitoral, àqueles que detém mandatos e que até agora nao levantaram uma palha pela situação. fui......
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