sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Candidatos deviam se unir por Porto Velho



Candidatos deviam se unir por Porto Velho



Professor Nazareno*


Durante o primeiro turno das eleições municipais de Porto Velho, o candidato derrotado Mário Português afirmou em um debate o óbvio sobre a nossa cidade: “Isto aqui se parece com uma favela”, constatou diante das câmeras. Vários outros candidatos se enfureceram e quase partiam para as vias de fato. A verdade, em qualquer circunstância, dói e muito. Porém, só um cego ou idiota não perceberia que o português estava falando a mais pura verdade. E a culpa é de todos nós que moramos nesta capital. Culpa dos moradores e também das autoridades que sempre elegemos ou fomos obrigados a aceitar na nossa administração. Desde 1914 que a cidade só recebe “tranqueiras” para lhe administrar. Parece até uma maldição. O Prefeito que entra sempre é pior do que o que sai. Porto Velho tem talvez o pior IDH dentre as capitais do país. A qualidade de vida aqui é muito inferior a Porto Príncipe, capital do Haiti, pós-terremoto ou então pode ser comparada a muitas cidades miseráveis da África subsaariana.
Porto Velho é uma cidade tão deplorável, imunda, sem infraestrutura e bagunçada que um Prefeito só não vai conseguir administrá-la corretamente nos próximos 04 anos. Por isto, quem deveria ganhar era “LINDOMAR NAZIF” ou então “MAURO GARÇON”. Já que eles dizem que amam Porto Velho, deviam se unir para melhor administrar a cidade e colocar como secretários todos os outros candidatos a Prefeito que não foram para o segundo turno, uma vez que todos eles receberam muitos votos e tinham excelentes propostas para tirar a capital dos rondonienses do eterno buraco em que ela sempre viveu. Até a Fátima Cleide dos viadutos inacabados devia ser convidada. Só não podia ser chamado o Roberto Sobrinho nem o PT e muito menos os outros Prefeitos anteriores que transformaram tudo isto aqui em um caos, em uma das piores capitais do país, sem saneamento básico, sem arborização, sem água tratada.
Assim, não teriam que pagar dívidas de campanha nem precisariam rifar a administração municipal com quem lhes deu apoio, já que não estariam de “rabo preso” com ninguém. Como muitos dos vereadores eleitos já disseram que vão legislar para as suas bases apenas e virar as costas para a cidade, fica a pergunta: se Garçon e Nazif vivem jurando amor a Porto Velho, por que não aceitam este desafio? Os interesses dessa cidade deveriam estar acima das intrigas partidárias e das picuinhas interesseiras de grupelhos que veem a política apenas como um simples jogo de interesses. Infelizmente este segundo turno só vai dividir ainda mais a sofrida população deste lugar e daqui a 04 anos “vai estar tudo do mesmo jeito”, só que com algumas poucas pessoas mais ricas e influentes do que deveriam. O que será que os filhos e eleitores daqui acham disto? Por que não se cria esta corrente em benefício da cidade?
Como muita gente sabe, talvez eu não tenha razões suficientes para gostar desta terra, já que “não sou daqui e nem vim para ficar”. Mas me impressiona muito o marasmo e o comodismo dos filhos de Porto Velho, dessas minhocas que ainda se comovem com promessas políticas e jamais exigiram dos candidatos o compromisso de se administrar bem a cidade onde nasceram e em contrapartida todo o Estado onde vivem, já que, com raríssima exceção, um filho da terra jamais administrou a capital e o Estado. Viver bem em Porto Velho e com qualidade de vida é algo que todos nós que aqui moramos, pagamos impostos e estamos criando os nossos filhos devíamos ganhar de presente das autoridades que elegemos a cada dois anos. Ao contrário disto, o que vemos cotidianamente é a roubalheira se instalar nos órgãos públicos e o nosso suado dinheiro ir para o ralo da corrupção, da incompetência e da bandalheira. Até o nosso meio ambiente foi estuprado sem dó nem piedade. E o que ganhamos em troca? Os falsos viadutos?
Lindomar Garçon devia chamar o Dr. Mauro Nazif, ou o Dr. Mauro devia chamar o Garçon para acertar os detalhes dessa fusão política para o bem da cidade onde moram e querem administrar pelos próximos quatro anos. O poder de escolha do povo continuaria sendo respeitado: o mais votado representava a Prefeitura ou metade dela e o menos, cuidava da administração da cidade e da outra metade, numa espécie de Parlamentarismo tupiniquim. Porto Velho teria dois Prefeitos ao mesmo tempo. Com quase 30 mil votos, a petista Fátima Cleide assumiria qualquer secretaria do município, assim como o Pastor Aluízio Vidal com mais de 12 mil sufrágios, a tucana Mariana Carvalho com 41 mil, o Mário Português com os seus quase 38 mil, o Dr. José Augusto com mais de seis mil votos e até o Mário Sérgio e o Waltério Rocha com os seus poucos votos seriam os futuros secretários da capital de Rondônia, já que todos só queriam o progresso, o desenvolvimento e a felicidade do povo desta cidade.
Isto por que as propostas do Dr. Mauro Nazif não são melhores do que as do Lindomar Garçon nem as do Garçon são melhores do que as do Dr. Mauro. Ambos têm propostas boas, fictícias e mirabolantes que certamente transformariam a provinciana, suja e fedida Porto Velho na Paris, Londres ou Milão dos trópicos. Porém, já se sabe que cidade vamos ter daqui a quatro anos. Suas promessas de campanhas políticas não passam de engodo, de enganação para se ganhar os votos dos simplórios e indolentes eleitores. E o pior é que todos eles sabem disso: que é impossível cumprir todas as apostas feitas. E certamente para a desgraça desta capital, ganhará aquele que souber enganar melhor a população, aquele que mentir de forma mais profissional e convincente. No entanto, sem o compromisso dos dois candidatos com a sofrida Porto Velho e com a sua gente, sem a união séria em seu nome, todos nós daqui vamos perder. De novo.






*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ser Professor: mais do que um sacerdócio (2)



Ser Professor: mais do que um Sacerdócio (2)



Professor Nazareno*

        
           
Eu sou professor e disso quase todo mundo sabe. O que muita gente ainda não sabe é que estou ministrando aulas há mais de 36 anos ininterruptos e que, por incrível que possa parecer, sou muito feliz com a profissão que escolhi. As razões são as mais variadas possíveis. A começar pelo alto salário que recebo pela minha faina diária. Confesso que às vezes, no final do mês, nem sei o que fazer com tanto dinheiro em minha conta corrente. Já pensei em fazer aplicações na Bolsa de Valores, investir pesado na compra de imóveis, adquirir fazendas, iates de luxo, carros importados, ações e outros mimos oferecidos pelo capitalismo. A valorização do professor hoje é uma realidade no Brasil. Profissão amplamente reconhecida pelos mais variados setores da nossa sociedade, estar dentro de uma sala de aula é algo extremamente recompensador para quem não escolheu ainda uma boa profissão para seguir. Deve ser por isso que nos concursos há uma concorrência muito grande para os empregos da área do Magistério.
            Ser professor não é só ensinar aos outros e todo mundo sabe disto. Como dizia o mestre Paulo Freire: “aprendemos muitas coisas diariamente com os nossos alunos”. Zelosos, higiênicos, compreensivos, dedicados, inteligentes e sempre muito bem educados, os meninos, cujos nomes de muitos parecem ter sido retirados de latas de goiabada, sempre estão prontos para cooperar conosco. O respeito é fundamental e por isso a obediência é um destaque. É uma profissão que não apresenta ossos do ofício, por incrível que pareça. Outro fator muito importante na nossa labuta é a cooperação dos pais. “Com pais tão dedicados e participativos assim e também altamente interessados pela educação dos filhos, trabalhar nas escolas do Brasil se tornou uma agradável rotina” comentou outro dia um professor que não conseguia esconder o largo sorriso de tanta felicidade. Porém, só presidiário mesmo é que gosta de professor. Político também, mas só no dia 15 de outubro para tecer loas hipócritas “aos mestres”. Hoje, por exemplo, Dr. Mauro Nazif e Garçon devem falar em nossa homenagem. Que bom!
            Dar aulas no Brasil é uma dádiva dos céus e em Rondônia é melhor ainda. Aqui o professor sempre foi valorizado pelo Poder Público. Não há uma única escola neste Estado em que esteja faltando professor. Nem no Baixo Madeira faltam estes profissionais. A Prefeitura de Porto Velho e o Estado de Rondônia pagam os mais altos salários do Brasil aos seus mestres. A Educação nunca esteve tão em alta em nosso país. Deve ser por isso que somos candidatos à quinta potência econômica do mundo. No entanto, já ouvi colegas pessimistas falarem que a Educação está indo para o fundo do poço e coisa e tal. Ledo engano, quando se fala em Educação e conhecimento, o fundo do poço está muito acima das nossas cabeças, mas mesmo assim somos todos muito felizes. Temos a novela para assistir e saber quem matou o Max, temos o Big Brother a partir de janeiro para abrilhantar as nossas férias e temos a Igreja, o Facebook e a internet para dar mais emoção às nossas vidas. Fontes de saber e de leitura de mundo não nos faltam. Estamos sempre bem informados e por isso ensinamos com prazer e alegria. Temos plano de saúde, sindicato, salário e ótimo e limpo ambiente de trabalho.
            O bom professor, agora transformado em profissional da educação, ou seja, mais um proletário, sabe muito bem o que fazer para manter suas qualidades: não fala mal da profissão na frente dos alunos, incentiva todos eles a seguir a nobre carreira, evita ir à sala de professores para não se contaminar com pessimismos, não come a merenda servida pelo Estado, elogia sempre o Governo de plantão, cumpre suas tarefas, jamais leva trabalhos para corrigir em casa, obedece ao Diretor, mantém sempre os diários atualizados e tem um bom humor que ninguém sabe de onde vem. Professor também sabe como comemorar a sua data: sempre que pode, antecipa em um dia ou dois as homenagens só para não ter que trabalhar. Estudar para outros concursos durante as aulas, jamais. Nenhum professor faz isso. Assim como também não junta as salas para liberar os alunos mais cedo, não adianta aulas, chega sempre dez minutos antes dos alunos e só os libera depois de tocar o sinal e tem total controle sobre as suas turmas. Somos uns “zeróis”. Ser professor é tão bom e prazeroso que qualquer técnico de futebol hoje em dia faz questão de ser chamado também de professor. Como no Japão, em breve receberemos reverência das nossas autoridades. Roberto Sorinho, Dilma e Confúcio vão se curvar diante de nós. Quem não tem prazer de receber homenagens destas autoridades? O Governo faz zelosamente a sua parte “incentivando a profissão e valorizando a Educação”. As autoridades, espertas e sabendo da importância desta área, sempre valorizaram esta ação no Brasil. Por isso, pelo menos hoje, parabéns para nós.






*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Porto Velho, 98 anos: comemorar o quê?



Porto Velho, 98 anos: comemorar o quê?



Professor Nazareno*


Geralmente quando alguém ou algum lugar está completando anos é motivo de festas e alegrias. A cidade de Porto Velho, capital de Rondônia e que muitos brasileiros ainda confundem como sendo a capital de Roraima ou sequer sabem de sua tosca existência, completou sem nenhuma alegria nem comemorações, no último dia dois de outubro, a incrível idade de 98 anos. Concebida inicialmente como uma cidade sem a menor importância, perdida nos cafundós do país e pertencente ao Estado do Amazonas, o ermo lugar, que ainda não sabe direito a origem do seu esquisito nome, nasceu com a triste sina de apenas beneficiar quem é de fora, no caso os bolivianos, com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Seu primeiro mandatário, o Major Fernando Guapindaia, veio de Manaus em 1914 e de lá para cá se alternou no poder máximo do município uma penca de prefeitos e prepostos sem nenhuma expressão e que só contribuíram para a derrocada total do lugar. Nenhuma de suas autoridades, nestes 98 anos, nasceu aqui.
A cidade é feia como é muito feia também quase toda a sua gente. É suja e não tem nem nunca teve planejamento urbano nenhum. Vista do alto, se parece com um cemitério ou uma currutela, daquelas dos garimpos. Segundo o Instituto Trata Brasil, tem o menor percentual de água tratada e de saneamento básico dentre as 27 capitais do país. Não tem arborização nenhuma e suas ruas são quase todas tortas e sinuosas. Seus habitantes sofrem o ano todo: no verão é poeira sufocante em todos os bairros e no inverno ninguém consegue andar com tanta lama. Seu trânsito, segundo a revista Quatro Rodas, é o pior do Brasil. Isto numa cidade que tem na área urbana menos de 400 mil habitantes. Um bairro, e dos pequenos, da cidade de São Paulo. Obras inacabadas existem por todos os cantos da área urbana. É talvez a única das cidades do Brasil onde viadutos têm semáforos embaixo. Percebe-se que municípios mais novos como Maringá e Londrina no Paraná ou a Caxias do Sul dos gaúchos são melhores em quase tudo.
Porto Velho nunca teve uma administração de vergonha. Este ano, como é ano de eleições, os habitantes terão ao mesmo tempo uma alegria e uma profunda tristeza: as comemorações serão por conta da saída do atual Prefeito que para a alegria de muitos finalmente deixará o cargo, mas em contrapartida todos sabem que entrará outro pior do que ele. E candidatos não faltam. Todos eles prometendo transformar a fedorenta e bagunçada cidade na Londres, Paris ou Milão dos trópicos. E o pior é que quase todo mundo ainda acredita na lorota absurda, já que há quase uma dezena de novos postulantes à Prefeitura Municipal. Ao contrário destas lindas, maravilhosas e paradisíacas cidades europeias, a capital dos rondonienses não tem nada digno para ser visitado. Aqui, ainda se usa como símbolo um trambolho velho, feio e sem sentido que nada mais é do que um amontoado de ferrugem de cor preta construído por exploradores nos idos tempos e que os nativos chamam orgulhosamente de “As Três Marias”.
A cidade é mal traçada, não tem arborização nas ruas e avenidas, não tem praças, não tem espaços públicos para lazer, as vielas são cheias de lixo e sujeira onde é comum se observarem diariamente cachorros e outros bichos mortos apodrecendo cheios de tapurus e exalando mau cheiro. Vários igarapés cortam a cidade em vários sentidos. Todos já mortos e contaminados recebem esgotos e dejetos e os levam até o rio Madeira. Além do mais, é uma das cidades mais violentas do Brasil. As passagens aéreas para sair são bem mais caras do que para voltar. Aqui quase nada funciona. Água encanada é um luxo quase inatingível para a maioria da população e embora seja chamada de “a cidade das hidrelétricas”, falta energia quase todo dia. Televisão em alta definição existe, mas é de péssima qualidade, a internet, quando funciona, é mais lenta do que tartaruga. O calor é infernal e já marcou a incrível sensação de 45 graus centígrados. Na cidade-inferno, de tão quente e abafada, tem até uma ferrovia do diabo.
Mas há coisas boas por aqui: é quando chegam as férias. Quem pode pega seus “paninhos de bunda” e vai passear no litoral ou então gastar seus “quase nada” no Sul do Brasil ou mesmo no exterior. Futebol, uma marca registrada do brasileiro, não existe  por estas bandas. Não há estádios nem manifestações autóctones de cultura. Quase tudo é (mal) copiado. Não existe festa da padroeira, o carnaval tem o desfile uma semana depois que acabam as festividades de Momo, a Semana Santa é encenada em junho, muitos políticos roubam e ganham como castigo um mês de férias e as festas juninas são realizadas em setembro num local incerto e não sabido. Estão construindo uma ponte muito grande em Porto Velho que ninguém sabe para que servirá, já que não há estradas nem moradias do outro lado do rio Madeira. Apesar desta obra faraônica, onde já se gastaram 300 milhões de reais, as autoridades só falam na Hidrovia do Madeira que levará, via fluvial, o pouco aqui produzido para Manaus e o restante do país. Estão construindo duas grandes hidrelétricas para servir aos outros e provocar desastres ambientais na nossa já castigada natureza. São 98 anos mal vividos por uma população que apesar de tudo está alegre, feliz e satisfeita e que adora entoar mantras fascistas como: “não está gostando, saia daqui”, “os críticos da cidade são ingratos, aqui enriquecem e falam mal de nós” ou o mais bestial de todos, “o caminho do feio, é por onde veio”. Dizem isto como se a catinga, a desorganização, a roubalheira, a falta de esgotos, de água tratada, de saneamento básico e as agruras deste lugar fossem acabar.






*É Professor em Porto Velho.