Ser Professor:
mais do que um Sacerdócio (2)
Professor
Nazareno*
Eu sou professor e disso quase todo mundo sabe. O que muita gente ainda
não sabe é que estou ministrando aulas há mais de 36 anos ininterruptos e que,
por incrível que possa parecer, sou muito feliz com a profissão que escolhi. As
razões são as mais variadas possíveis. A começar pelo alto salário que recebo
pela minha faina diária. Confesso que às vezes, no final do mês, nem sei o que
fazer com tanto dinheiro em minha conta corrente. Já pensei em fazer aplicações
na Bolsa de Valores, investir pesado na compra de imóveis, adquirir fazendas,
iates de luxo, carros importados, ações e outros mimos oferecidos pelo capitalismo.
A valorização do professor hoje é uma realidade no Brasil. Profissão amplamente
reconhecida pelos mais variados setores da nossa sociedade, estar dentro de uma
sala de aula é algo extremamente recompensador para quem não escolheu ainda uma
boa profissão para seguir. Deve ser por isso que nos concursos há uma concorrência
muito grande para os empregos da área do Magistério.
Ser professor não é só ensinar aos outros e todo mundo sabe disto. Como dizia o
mestre Paulo Freire: “aprendemos muitas coisas diariamente com os nossos
alunos”. Zelosos, higiênicos, compreensivos, dedicados, inteligentes e
sempre muito bem educados, os meninos, cujos nomes de muitos parecem ter sido retirados
de latas de goiabada, sempre estão prontos para cooperar conosco. O respeito é
fundamental e por isso a obediência é um destaque. É uma profissão que não
apresenta ossos do ofício, por incrível que pareça. Outro fator muito
importante na nossa labuta é a cooperação dos pais. “Com pais tão dedicados
e participativos assim e também altamente interessados pela educação dos filhos,
trabalhar nas escolas do Brasil se tornou uma agradável rotina” comentou
outro dia um professor que não conseguia esconder o largo sorriso de tanta
felicidade. Porém, só presidiário mesmo é que gosta de professor. Político
também, mas só no dia 15 de outubro para tecer loas hipócritas “aos mestres”.
Hoje, por exemplo, Dr. Mauro Nazif e Garçon devem falar em nossa homenagem. Que
bom!
Dar aulas no Brasil é uma dádiva dos céus e em Rondônia é melhor ainda. Aqui o
professor sempre foi valorizado pelo Poder Público. Não há uma única escola
neste Estado em que esteja faltando professor. Nem no Baixo Madeira faltam
estes profissionais. A Prefeitura de Porto Velho e o Estado de Rondônia pagam
os mais altos salários do Brasil aos seus mestres. A Educação nunca esteve tão
em alta em nosso país. Deve ser por isso que somos candidatos à quinta potência
econômica do mundo. No entanto, já ouvi colegas pessimistas falarem que a
Educação está indo para o fundo do poço e coisa e tal. Ledo engano, quando se
fala em Educação e conhecimento, o fundo do poço está muito acima das nossas
cabeças, mas mesmo assim somos todos muito felizes. Temos a novela para
assistir e saber quem matou o Max, temos o Big Brother a partir de janeiro para
abrilhantar as nossas férias e temos a Igreja, o Facebook e a internet para dar
mais emoção às nossas vidas. Fontes de saber e de leitura de mundo não nos
faltam. Estamos sempre bem informados e por isso ensinamos com prazer e
alegria. Temos plano de saúde, sindicato, salário e ótimo e limpo ambiente de
trabalho.
O bom professor, agora transformado em profissional da educação, ou seja, mais
um proletário, sabe muito bem o que fazer para manter suas qualidades: não fala
mal da profissão na frente dos alunos, incentiva todos eles a seguir a nobre
carreira, evita ir à sala de professores para não se contaminar com
pessimismos, não come a merenda servida pelo Estado, elogia sempre o Governo de
plantão, cumpre suas tarefas, jamais leva trabalhos para corrigir em casa,
obedece ao Diretor, mantém sempre os diários atualizados e tem um bom humor que
ninguém sabe de onde vem. Professor também sabe como comemorar a sua data:
sempre que pode, antecipa em um dia ou dois as homenagens só para não ter que
trabalhar. Estudar para outros concursos durante as aulas, jamais. Nenhum
professor faz isso. Assim como também não junta as salas para liberar os alunos
mais cedo, não adianta aulas, chega sempre dez minutos antes dos alunos e só os
libera depois de tocar o sinal e tem total controle sobre as suas turmas. Somos
uns “zeróis”. Ser professor é tão bom e prazeroso que qualquer técnico
de futebol hoje em dia faz questão de ser chamado também de professor. Como no
Japão, em breve receberemos reverência das nossas autoridades. Roberto Sorinho,
Dilma e Confúcio vão se curvar diante de nós. Quem não tem prazer de receber
homenagens destas autoridades? O Governo faz zelosamente a sua parte “incentivando
a profissão e valorizando a Educação”. As autoridades, espertas e sabendo
da importância desta área, sempre valorizaram esta ação no Brasil. Por isso,
pelo menos hoje, parabéns para nós.
*É Professor em
Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário