domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma lá e Confúcio aqui. Dará certo?


Dilma Rousseff: uma ex-guerrilheira chega ao poder


Professor Nazareno*


Dilma Vana Rousseff, ou Vanda, ou Estela, ou Luiza ou Patrícia ou qualquer outro codinome que tinha quando participava da VAR-Palmares, COLINA ou outra agremiação de esquerda que lutou contra a infame Ditadura Militar, será a primeira mulher a assumir, sem golpes, a Presidência do Brasil, uma das maiores economias do mundo com o quinto maior mercado consumidor e seguramente a nação mais importante do Hemisfério Sul. Todos esperam que o antigo projeto do PT, Partido dos Trabalhadores, de combater a miséria, atacar a desigualdade social e dar mais dignidade aos pobres tenha continuidade. A elite governou este país com poderes absolutos por longos quinhentos e dois anos, oito meses e nove dias enquanto a esquerda só governou oito anos que agora terão continuidade, e sempre com eleições livres.

E não há o que reclamar. Todas as regras do jogo foram obedecidas e pelo que tudo indica não haverá desta vez a famosa virada de mesa. A vitória não é só da Dilma, do Presidente Lula e dos militantes do PT, a vitória é da democracia e de todo o povo brasileiro, até dos que votaram no candidato da oposição, José Serra. Apesar da euforia, não foi fácil. O país sai das urnas dividido. A mídia, capitaneada pela revista Veja, pelos grandes jornais como O Estado de São Paulo e pela Rede Globo jogaram sujo e tentaram mudar o rumo das eleições. Internautas baixaram o nível da campanha e lançaram calúnias, infâmias e difamações contra a candidata petista. De nada adiantou. Até Deus foi usado. "Nem Deus impede a minha vitória", atribuíram esta mentirosa frase a ela. Ou Ele falhou ou era mentira. Claro que só existiu a segunda hipótese.

Mas para os mais desavisados é bom que se diga que a eleição da Dilma não pode representar a panacéia milagreira que vai fazer jorrar mel e leite das ruas. Num mundo neoliberal e globalizado, a presença de um estado paternalista em vez de patrão está cada vez mais ultrapassada. As inúmeras "bolsas-misérias" dadas pelo Estado apenas para angariar votos e produzir as altas popularidades não podem continuar. Não se pode mais dar o peixe ao brasileiro pobre. Chegou a vez de ensiná-lo a pescar. Mesmo por que não se sabe até quando esse Estado vai matar a fome de uma multidão de miseráveis e famintos transformados em preguiçosos. E isso só acontecerá quando houver de fato investimentos maciços e sérios numa educação de qualidade e inclusiva, quando o saber for incentivado e a competência for valorizada.

Já em Rondônia, poucos candidatos perderam nestas eleições. Eduardo Valverde do PT e Expedito Júnior do PSDB foram derrotados fragorosamente no primeiro turno e não passaram no teste das urnas. Embora rejeitados pela vontade popular, menos de um mês depois, emergem como vitoriosos no segundo turno, abrigados que foram no guarda-chuva multicolorido e bizarro do vitorioso Confúcio Moura. E Cahulla não significou necessariamente a derrota de Cassol já que o ex-governador recebera anteriormente do povo um mandato de oito anos para ser senador pelo Estado. Quem perdeu mesmo foi o povo que comprou brigas e acreditou que haveria mudanças significativas. "Mudou tudo, mas para ficar do mesmo jeito". São coisas da política brasileira sem partidos e ideologia. Dilma lá e Confúcio aqui. E se der certo esta dobradinha?

O momento agora em Rondônia e no Brasil é só de euforia. A democracia venceu e a eleição da Dilma e do Confúcio significou apenas isto mesmo: uma eleição. Como nas principais democracias do mundo, votar é apenas um ato rotineiro sem maiores delongas sobre o perfil de quem ganhou ou perdeu. Sua Excelência Dilma Vana Rousseff tem agora, na pior das hipóteses, quatro anos para dizer a que veio. Embora seja um tempo bem menor do que os mais de quinhentos anos de mando da elite, as regras do jogo, aceitas por todos numa democracia devem ser respeitadas. Em Rondônia e no restante do país. E se em 2014 a nação estiver frustrada de ter conduzido uma ex-guerrilheira ao poder maior do país, o caminho a ser seguido deve ser o de sempre: as urnas. Só através do voto livre de todos é que se impõem mudanças. E que Deus ilumine não só a Dilma e o Confúcio, mas todos os que foram eleitos para que coloquem este país e o nosso Estado nos seus verdadeiros trilhos. Estamos precisando mesmo.


*É professor em Porto Velho.

sábado, 23 de outubro de 2010

Brasil e França: dois mundos diferentes?


"Paris, a cidade que também não estava lá"


Professor Nazareno*


A capital da França é talvez a cidade mais visitada do mundo. Recebe aproximadamente 30 milhões de turistas por ano. É uma cidade limpa, organizada, acolhedora e acima de tudo feita sob medida para receber turistas do mundo inteiro. É muito antiga, bem anterior à Idade Média e tem uma diversificada vida noturna. Seus monumentos são conhecidos nos quatro cantos: a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, Palácio de Versalhes, Arco do Triunfo, enquanto nós temos as Três Caixas D'água, o Mercado Cultural, o prédio da Unir e a EFMM. Seu aspecto urbano conta com muitas avenidas largas e arborizadas e é cortada pelo romântico rio Sena que lhe dá um charme encantador. No outono, a baixa temperatura lhe permite um ambiente idílico.

Mas a cidade-luz está um caos. A greve que os franceses deflagraram por causa dos ajustes na Previdência transformou a cidade num inferno onde quase nada funciona. Charmosa e encantadora, a Paris de hoje, outubro de 2010, é uma cidade de Terceiro Mundo. Um grotão qualquer. O lixo já está fazendo parte da paisagem parisiense. Não há uma esquina em que não se vejam sacolas abandonadas exalando mau cheiro. Relatos de bichos mortos apodrecendo nas ruas já viraram rotina. Há constante falta de energia e os TGV, que dão um requinte de modernidade ao transporte coletivo, funcionam precariamente e quando aparecem são disputados por multidões enfurecidas. Qualquer porto-velhense se sentiria em casa se conseguisse visitar a capital dos franceses.

Muitas obras públicas que são tocadas pela Prefeitura e pelo Governo Central estão paradas. A greve afetou também o vital setor petrolífero e várias refinarias foram tomadas por trabalhadores que entraram em confronto com a polícia. Ainda assim, a Assembléia Nacional aprovou a reforma previdenciária aumentando em dois anos o limite de aposentadoria dos franceses. O Prefeito Bertrand Delanoë, uma espécie de Roberto Sobrinho de lá, pediu calma aos parisienses. "Não se trata de uma simples briga entre políticos, mas de defender nossos próprios interesses", informou o mandatário parisiense dando a entender que a política devia se fazer com educação e polidez. Do jeito da nossa política que está ensinando educação e bons modos ao mundo.

Enquanto os turistas estão perplexos, os franceses estão indignados. "Vamos denunciar os inimigos do povo", gritavam alguns. "Esses imorais fazem alianças até com o diabo para conseguir seus interesses", gritavam outros. A política na França está virando uma coisa suja mesmo, pois até a mídia local já se vendeu de forma vergonhosa para muitos políticos canalhas. O prestigiado jornal Le Monde, por exemplo, recebeu o equivalente a 25 mil reais por mês para falar bem do Presidente Nicolas Sarkozy. A revista L'Express, uma das mais lidas da França, faz oposição ao Governo Central por que não recebeu dinheiro do poder. Até pequenos jornais e sites das cidades sem importância estão assumindo posições ridículas nesta crise simplesmente em troca de dinheiro. Coisas que não existem na nossa política e na nossa maneira de tratar o bem público.

A verdade é que a França, após essa greve, não será mais a mesma. Paris está irreconhecível e a outrora tenacidade dos franceses está sob desconfiança. Todo político tem virtudes e defeitos, mas a cegueira movida pela ambição impede de se ver isto. As próprias autoridades se aliam a qualquer bandido para atingir seus objetivos imorais. Depois loteiam o Estado deixando o povo à mercê da própria sorte. A capital dos franceses precisa se organizar para dar tranqüilidade aos seus visitantes. As autoridades devem entender que são os verdadeiros empregados do povo e para esse sofrido povo deve governar. Se o povo francês conseguir impor seus princípios, quem ganha é o mundo. Desde as guerras napoleônicas, da origem do Estado moderno e dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade sempre aprendemos muito com esses irmãos latinos. Ou serão eles que devem aprender com os rondonienses?


* Leciona em Porto Velho.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E o professor existe...


A “in-FELICIDADE” de ser Professor!


Professor Nazareno*


O dia 15 de outubro não deveria ser dedicado a nós professores. “É muito pouco para quem tanto fez e ainda faz pelo progresso e pelo desenvolvimento do Brasil”, devem pensar alguns incautos e desinformados. Com todo este progresso e todo este desenvolvimento que estamos vendo por aí é de se pensar o que nós, os mestres, estamos fazendo realmente por este país, periferia de capitalismo. Talvez, por isso, no ano passado o MEC divulgou na mídia uma propaganda mostrando o progresso e o desenvolvimento que existem de fato em vários países do mundo: o responsável? Ora, o professor, pronunciado em vários idiomas. Não deu certo: retiraram o comercial do ar. Um só dia para tecer loas hipócritas e o restante do ano para humilhar esses profissionais.

No Brasil, a realidade é outra e completamente diferente. E o entrave maior não é o salário. Nunca foi. Também não é a indisciplina de alguns alunos ou a sujeira existente dentro das salas de aula. Nem a relutância de alguns pais em proteger seus filhos. Muito menos as constantes brigas do nosso sindicato com os governantes de plantão nem as perseguições ridículas de alguns diretores de escolas. O nosso maior problema é que temos uma sociedade que não valoriza a educação. Da porta da sala de aula para fora, talvez menos de dez por cento dos brasileiros vêem na escola alguma função que se possa associar à vida cotidiana. Daí, o fato cresce e é copiado espertamente pelos políticos. Por isso o sonho de muitos professores é fazer concurso para trabalhar em outras áreas.

Salário de professor no Brasil é menos do que muitas prostitutas ganham para lavar pratos. No entanto, baixo salário não é problema. Os médicos de Rondônia, por exemplo, ganham na maioria das vezes salários astronômicos e a saúde estadual está um caos. É preciso observar quem de fato exerce dignamente a sua função. Quem realmente tem compromisso com a educação e o futuro deste país. Um bom professor não pode ganhar a mesma coisa que um mau professor. Por isso, é comum ouvirem-se afirmações de que há professores que ganham mal pelo muito que fazem, enquanto outros ganham muito bem pelo pouco que desempenham em sala de aula. Nas escolas há algumas aulas muito boas, mas também há outras que são tão produtivas quanto o solo lunar.

Nos países cujas sociedades valorizam o estudo, a educação e o saber o que se vê é uma multiplicação de oportunidades e um franco progresso e desenvolvimento a exemplo da Coréia do Sul, Japão, Holanda, Finlândia, Estados Unidos, etc. O imperador japonês, por exemplo, presta reverência a qualquer professor que vá visitá-lo. Imagine-se uma autoridade qualquer, Lula ou Roberto Sobrinho, que é psicólogo, fazerem isto a um professor. O nosso Presidente e muitos dos nossos políticos têm, juntos, menos anos de estudos do que um camelô ou um gari. Ainda assim, o nosso país é um dos que mais investem em educação. O problema é que esta verba é sempre mal gerenciada.

Professor é azarado mesmo. São poucos os que sabem escrever um bom texto ou raciocinar de forma consciente. E quando tentam fazê-lo, quando ousam mostrar o pouco, o quase nada que sabem, seus raros leitores já o vêem como um sujeito depressivo, infeliz, ranzinza ou pedante e põem logo em xeque a sua capacidade profissional ou tentam calá-lo ameaçando o seu diminuto salário. Muitas pessoas acreditam que professor é sempre um sujeito de boa educação, polido, paciente e que deveria escrever somente aquilo que os hipócritas gostariam de ler. Eu, por exemplo, tenho um Blog (http://blogdotionaza.blogspot.com) com meia dúzia de leitores: eu mesmo, minha esposa quando tem tempo, meus filhos quando eu os obrigo, e mais duas ou três pessoas.

Apesar de tudo, ser professor é ser feliz, é saber que na sociedade se exerce a função de cabeça, a função de conduzir os outros. “Quem faz aquilo de que gosta não precisa trabalhar”. Mas a educação e o professor ainda vão custar muito a alcançar valor neste país de “jecas”, nesta nação de pouca visão educacional, neste submundo dominado pelo maniqueísmo e pela astúcia de poucos, neste "brasilzinho" de muita gente analfabeta e ignorante onde os políticos se aproveitam para prometer investimentos fictícios na educação. Mas haverá um dia em que greve de professores será por melhorias no sistema de educação e não pela insana vontade de ganhar tanto quanto ganham as empregadas domésticas, os garis, os cobradores de ônibus e outras categorias tão importantes para a sociedade, mas que não precisaram estudar e nem defender nenhuma tese de mestrado ou doutorado para exercer sua função.


*É professor em Porto Velho

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Brasil, o país das maravilhas!


Dilma ou Serra no Brasil é só Felicidade


Professor Nazareno*


O eleitor brasileiro apesar do bom discernimento está com muitas dificuldades para decidir o voto neste segundo turno para Presidente da República. Pode votar na Dilma, pois ela é mulher e compreendendo a importância e a capacidade política e de articulação da mulher brasileira é uma oportunidade rara de resolver os problemas do Brasil. Mesmo porque o PT, Partido dos Trabalhadores, já demonstrou como se governa com ética e transparência. É uma agremiação política jovem, democrática, dinâmica, com ideologia moderna, tem amplo apoio popular e acima de tudo já demonstrou que realmente entende das mazelas nacionais. É o partido dos pobres e para os pobres.

José Serra do PSDB também é uma excelente opção. Junto com os caciques do DEM e de outros segmentos mais conservadores da nossa sociedade, o ex-governador de São Paulo pode dar continuidade à política neoliberal de entregar o Estado à iniciativa privada e de fazer doações à elite de tudo o que sobrar. E ainda restam a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e diversas outras fundações e autarquias que poderiam ser presenteadas aos ricos e poderosos. Por causa de FHC, o funcionalismo público não vê a hora de mais um social democrata se instalar no Planalto e dar prosseguimento à política de valorização dos servidores como o PDV.

Esta é uma das eleições mais difíceis para decidir tendo em vista a boa vontade e a competência dos dois concorrentes diretos ao cargo e de seus respectivos partidos. O PT é um partido arrojado e já deu inúmeras contribuições ao país inovando na política nacional com o Mensalão, dinheiro na cueca, nas meias e em outros lugares menos apropriados. Protagonizou no Plenário do Congresso a dança da impunidade. E ainda assim, propõe acabar com a pobreza investindo no ser humano e na sua capacidade produtiva. Já os tucanos vão mais além. Acreditam que a iniciativa privada é a salvação da Pátria. Investem em educação de qualidade e também priorizam os mais pobres.

A vitória de qualquer um dos dois seria um excelente negócio para o Estado de Rondônia. O Brasil inteiro veria como os rondonienses se esmeram em cuidar do que é público. Dilma poderia aprender com os políticos petistas locais várias lições de como se administrar uma cidade e implantar no país inteiro as inovações. Entenderia como receber muitos milhões de reais em investimentos e nada fazer. Serra aprenderia como demitir servidores públicos em massa ou como colocar um banco estadual a serviço do povo. Como se vê, os eleitores estão entre a cruz e a espada. E para qualquer lado que for encontrarão a felicidade certa e serão felizes pelos próximos quatro anos. Que bom.

Serra ou Dilma no Brasil, Cahulla ou Confúcio em Rondônia. Grandes nomes para grandes políticos. Estadistas comprovados a serviço dos mais humildes. Desta vez, com a vitória de qualquer um deles, "o mel e o leite jorrarão das ruas", com certeza. Viveremos a partir de agora sem cargos comissionados, sem censura, sem corrupção, sem politicalha. De Incitatus, o cavalo do Senado romano, até hoje, nunca se viu tanta vontade de se colocar a coisa pública a serviço dos pobres, dos mais sofridos. E o povo com a sua sábia decisão escolherá o melhor rumo. Talvez por isso, o STF entendeu e nos outorgou sabiamente esta prerrogativa. Ser brasileiro e ainda por cima rondoniense é um orgulho para qualquer ser humano. Todos nos invejam, pois somos bons até na política. Com estes nomes maravilhosos até Deus perderia uma eleição no Brasil.


*O Professor Nazareno leciona em Porto Velho.

sábado, 9 de outubro de 2010

Política não é a casa da mãe Joana!


Candidatos limpos, eleitores sujos


Professor Nazareno*


O segundo turno das eleições começou em ritmo quente, e baixo, em todo o Brasil. Os futuros governadores dos Estados onde haverá novas eleições e o futuro mandatário da Nação iniciam uma nova rodada de propostas, debates e discursos rumo à vitória nas urnas. É a democracia brasileira que tão bem faz a todos, fortalece as instituições e mostra ao mundo a nossa maturidade na arte de fazer política. O Brasil cresceu, mudou, caminha inexoravelmente para atingir padrões de civilidade. Mas o otimismo esbarra aí, nos candidatos. O perfil de grande parte do nosso eleitorado faz medo e contraria toda esta luta conquistada a muito custo e há pouco tempo. Baixaria nas campanhas parece fazer parte da nossa cultura e está em todas as classes sociais.

Acredita-se que temos um percentual de pouco menos de vinte por cento de eleitores conscientes enquanto os outros 80 são sabidamente alienados e comenta-se que não sabem escolher corretamente seus candidatos. Tivemos quase nove milhões de votos em candidatos ficha-suja. Praticamente em todo Estado do país foram eleitas pessoas que devem alguma coisa à Justiça. Os absurdos, no entanto, parece que estão acontecendo também no lado do eleitorado com mais escolaridade: circulam pela rede mundial várias correntes atacando este ou aquele candidato. Eleitores bem alfabetizados, que lêem jornal e revistas, têm internet e se prestando a fazer esse serviço sujo, nojento. Coisa de gente subdesenvolvida. E às vezes a mídia também colabora.

Todos temos muitas razões para votar na Dilma e no PT. Assim como se percebe coerência em quem declara seu voto ao Serra. Há razões de sobra a qualquer eleitor deste país para votar ou não votar em qualquer dos dois candidatos. Ambos foram credenciados pelas urnas. Têm virtudes e defeitos. Admiro a Dilma e o Serra pelo passado de luta deles contra a Ditadura Militar quando eram militantes de esquerda. Às vezes vejo o PSDB com ressalvas. Quando os tucanos e FHC estavam no poder vi o que fizeram com o funcionalismo público empurrando-o para o PDV. E as absurdas privatizações com o desmanche do Estado? Já os petistas tiveram o Mensalão, e ainda têm o Palocci e o Zé Dirceu. Política não é submundo é desenvolvimento e progresso.

Não tenho nada contra nenhum dos dois candidatos. Só acho que ficar tentando "detonar" a imagem deste ou daquele político é jogo baixo, é jogo sujo e o Brasil não devia aceitar nem comportar mais esse jeito estúpido de se fazer política. É coisa de gentinha. De eleitor brasileiro mesmo: pobre e alienado. A não ser que se ganhe algo com isto. Ainda assim é imoral e indecente. Eleições se fazem com debate de propostas como nos países de Primeiro Mundo. Os próprios candidatos já deixaram clara esta idéia. É brega e de muito mau gosto fazer estas correntes contra Dilma, pró Serra ou vice-versa que circulam na internet. Aceitar ou rejeitar propostas com bons argumentos é o que os brasileiros deveriam fazer. Entendendo isto, o país mudará, e para melhor.

Deixar essas tolices de lado é salutar. É bom elevar o nível da campanha, pois o país precisa de seriedade. Não vamos transformar a oitava economia do planeta num grotão qualquer, num Cuité do Noca. Chega de baixarias. Nós somos formadores de opinião e como tais devíamos tomar vergonha na cara, pois há maneiras bem mais inteligentes de se fazer uma campanha política sem caluniar ninguém. Agindo assim estamos nos aproximando do que devíamos nos afastar: a patifaria política. Enquanto os europeus criaram a figura do "ombudsman" nós criamos o jogo rasteiro e infame para atingir os nossos objetivos. Como um Maquiavel tropical, coloca-se no mesmo balaio temas díspares como o aborto, a religião, o homossexualismo, a eutanásia, a ética e esquecemos do principal: uma política séria para poder ter um Brasil melhor para todos.


É professor em Porto Velho.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Política deveria ser coisa séria!


Planalto não "se aperreia" com Rondônia


Professor Nazareno*


Com um eleitorado pouco maior do que meio por cento do nacional, uma população inferior a um por cento da brasileira e um PIB com números também inexpressivos e quase nulos se comparados à realidade do país, o Estado de Rondônia, por causa do resultado das últimas eleições, bem que poderia ter deflagrado uma reunião nas bases petistas em Brasília. Com investimentos do PAC superiores a um bilhão e trezentos milhões de reais, construção das duas hidrelétricas, várias pontes, viadutos e obras de infra-estrutura na capital e algumas cidades do interior do Estado, o PT e sua candidata Dilma são surrados de forma avassaladora nas terras de Rondon.

Dono de um desempenho pífio nas urnas, o Partido dos Trabalhadores local tem muito pouco a oferecer às hostes nacionais. E pior é que a maioria dos eleitores rondonienses está "se achando" diante desta situação política ainda indefinida. "Não se pode xingar a mãe do crocodilo antes de atravessar o rio", ensina um velho provérbio africano. E é exatamente isto que muitos incautos daqui estão fazendo. Já há indícios de que uma das pontes sobre o Madeira já teve a sua construção devidamente cancelada. Os viadutos estão sendo construídos "a passos de tartaruga" e já correram boatos de que teriam servido de jazigo para o PT rondoniense. Cadê os 100 por cento de saneamento?

Um estalar de dedos das autoridades palacianas em Brasília e a transposição dos servidores públicos do Estado vai para o espaço. Neste momento delicado com indefinição política a nível nacional é preciso agir com muita cautela para não "dar com os burros n'água". Rondônia é um Estado pobre que ainda depende de muitas decisões tomadas no Distrito Federal. Dos 35 homens públicos daqui que ajudaremos a eleger nestas eleições poucos são filhos desta terra. Teriam interesse em realmente trabalhar pelo bem dos que aqui nasceram e dos que aqui pagam seus impostos? Não somos o Acre de Marina Silva. Nosso cacife ainda está na bizarrice e nos maus exemplos.

O interesse do Brasil pelo Estado de Rondônia é pouco ou nenhum. Apenas a energia que produziremos aqui com o desgaste do nosso meio ambiente é o que de fato está interessando para o restante do país. Fora isso, somos apenas uma gota de água no oceano nacional. De repente, alguma autoridade em Brasília pode questionar o porquê de tanto investimento num Estado que não deu qualquer retorno eleitoral. Ganhe Dilma ou Serra, o paranaense João Cahulla ou o tocantinense Confúcio Moura, Rondônia precisa resolver seus muitos e quase insolúveis problemas. O desafio é grande, todos sabemos disto. Não é hora, portanto, para disputas estéreis que apenas satisfazem egos.

Muitos setores da sociedade já tomaram partido. Muitos eleitores já decidiram quem apoiar e por isso, brasileiramente, todos apostam suas escassas fichas como se tudo fosse apenas um jogo onde há um ganhador e um perdedor. Governador e Presidente comandarão os nossos destinos pelos próximos quatro anos, é fato. Por isso precisamos cobrar deles as melhores propostas e não se vê até agora nada que possa mudar a cruel realidade em que vivemos. Nenhum dos candidatos disse como mudaria a sociedade investindo em educação pública de qualidade, por exemplo. O futuro governador deste Estado não sabe nem diz o que fazer para tornar Rondônia um nome importante para o Brasil. O futuro presidente do Brasil não sabe ou não quer dizer o que fazer para dar a Rondônia o destaque que ela merece. Estamos numa encruzilhada?



*Leciona em Porto Velho.

sábado, 2 de outubro de 2010

Quase um século e tudo funciona por aqui...


Porto Velho 96 anos: Feliz Desaniversário!


Professor Nazareno*


O jornalista norte-americano H.L.Mencken afirmava que quando se ouve um homem falar de seu amor por seu país, podem saber que ele espera ser pago por isto. O mesmo acontece quando se refere a uma cidade. Ainda que aqui não houvesse coisas para os habitantes poderem se orgulhar, falar bem de Porto Velho seria uma saudável e corriqueira mania. A cidade foi emancipada em 1914, e qualquer pessoa daqui sabe a origem do nome. Uns dizem que foi em homenagem a um ancião chamado Pimentel daí o porto do velho Pimentel. Romantismo puro. Outros acham que é por causa das imundices que havia no porto da cidade: era um porto velho mesmo, ou seja, um barranco sujo, fedorento, cheio de lixo, esgoto a céu aberto e ratazanas e que atualmente os políticos conseguiram organizar. Hoje, a cidade caminha rumo a um futuro certo. Porto Velho é um canteiro de obras. Nenhuma inacabada. Maringá no Paraná com 57 anos, Londrina com 81 e Brasília com 50 ainda aprenderão muito conosco em matéria de limpeza.

A estrutura desta capital é linda e aconchegante, a cidade se parece com um jardim florido se vista do alto. Com um bom planejamento urbano, a nossa capital não lembra uma currutela. Parece uma cidade da Serra Gaúcha ou dos Alpes suíços. As ruas têm retorno e como é uma cidade rica, é naturalmente horizontal. Edifícios altos quase não há por aqui. Apenas 03 podem ser vistos no skyline: um é torto e está condenado, o outro, próximo à Rua Jorge Teixeira, tinha estrutura para dez andares e só foram erguidos seis, portanto é baixo demais e o terceiro, na Rua Lauro Sodré, tinha estrutura e licença para 11 andares, mas foi construído com 12, diminuindo assim a altura dos apartamentos. O lugar tem um único hospital de pronto-socorro, o João Paulo Segundo, que é referência nacional em tratamento de qualquer patologia. Funcionários atenciosos, médicos competentes e com doutorado e estrutura de fazer inveja. Sair vivo de lá é algo banal. Os pacientes ficam com saudades e pedem até para adiar suas internações. Isto é uma proeza que nenhum cristão consegue ainda explicar. A Suíça só pode ser aqui mesmo.

A capital de Rondônia pode não ser uma zona, mas está dividida em várias: a Zona Sul, por exemplo, que tem na Rua Jatuarana o seu principal centro de comércio, só tem uma entrada e uma saída e por isso tem um trânsito excelente. Já a Zona Leste é considerada a mais romântica da capital. Há algo moderno na cidade que é o serviço de mototáxi. Não se sabe por que, mas os habitantes locais adoram andar neste tipo de transporte. Seria a possibilidade de pegar piolhos? Alugar uma casa ou apartamento por aqui é a coisa mais fácil do mundo. As ofertas são muitas e tudo a preço de banana. O luxo das residências para locação é de espantar. Coisa de Primeiro Mundo mesmo. Com qualquer duzentos ou trezentos reais se mora num duplex com vista para o rio ou para a floresta, o nosso Central Park tupiniquim. A fumaça das queimadas é um espetáculo à parte. Todos os anos, durante uns dois meses, aqui se respira um ar que tem cor: cinza-chumbo. E muitos adoram isto: "podemos ser comparados a São Paulo", afirmam. Quase ninguém reclama. Os órgãos públicos nem tentam, já que todos acreditam vencer o caos.

A Fundação Getúlio Vargas divulgou um relatório há pouco mais de três anos informando que dentre as capitais brasileiras, Porto Velho ostenta o penúltimo lugar em IDH ficando à frente apenas de Belém, a linda e arborizada capital paraense. Talvez esta informação esteja equivocada, já que localizada em plena Amazônia, a capital de Rondônia é uma das cidades mais arborizadas do país sendo por isso uma das campeãs em área verde. Igual a Belém com suas frondosas e lindas mangueiras. Água tratada e esgotos são habituais por aqui. O calor é idílico talvez por ser esta uma povoação beiradeira. O trânsito é organizado e todos cooperam. Os motoristas são super educados. A cidade, mesmo sendo de médio porte, não tem violência nenhuma. Em nossas invasões (favelas) basicamente só produzimos coisas boas. Enfim, é uma cidade que tem símbolo apropriado e muito bonito e que é adorado pelos habitantes mais velhos. Como Parintins, tem cultura definida. Aliás, neste item, aqui nada se copia. Tudo é originalíssimo.

Porém uma coisa bizarra de Porto Velho são os seus habitantes. Aqui, quando um monumento natural está na iminência de desaparecer sob o impacto de uma mega-construção para beneficiar outros estados, o povo faz festa de despedida em vez de protestar. Bordéis existem e ficam ao ar livre mesmo. São vários. E não falta público. A cidade tem até uma tal de “calçada da fama”. Os porto-velhenses insistem em construir viadutos e passarelas para resolver o problema do trânsito. Ninguém jamais resolveu. Contudo, fala-se sobre a possível construção de uma ponte sobre o Madeira ligando a cidade à progressista e urbanizada margem esquerda do rio. De universidades estaduais, escolas públicas de qualidade e centros de pesquisa todo mundo fala. É uma febre municipal. Ninguém daqui é trouxa e por isso todos crêem que ponte é progresso, é futuro: "Fazer viadutos, passarelas e produzir energia para os outros nos dará riqueza". O povo de Porto Velho gosta tanto da cidade que só elege políticos que nasceram aqui para administrar este município progressista. Algo incrível jamais visto em lugar algum.

Quando a Revista Época esteve aqui e disse que Porto Velho é um “buraco quente” e não uma cidade organizada, os muitos que acreditam amar esta cidade, com razão, esbravejaram. O lugar continua com muitas praças, cheio de espaços públicos, com árvores e com as ruas sem poeira ou lama e sem lixo esparramado pelo chão. Toda semana o site rondoniaovivo publica lindos "cartões postais" da cidade e que encantam a todos os turistas e visitantes. Uma verdadeira aula de civilidade para quem se orgulha de ser uma capital. Deve ser por esse motivo que nunca mandaram um militar de alta patente para nos administrar. Seria um desperdício de pessoal. O primeiro prefeito foi um Major, vindo do Amazonas, depois mandaram uma penca de coronéis do centro-sul do país para governar o resto do território que mais tarde viraria estado. Nunca um general apitou nada por estas bandas. Há algo para não se comemorar? Feliz ou infeliz aniversário?



*É professor em Porto Velho.