sábado, 28 de agosto de 2010

Votem em mim, por favor!


Votem em mim, por favor! Eu prometo tudo!


Professor Nazareno*


Peço a sua licença para humildemente adentrar o seu lar e apresentar para o senhor e a sua família as minhas propostas caso seja eleito. Sou uma pessoa humilde, tenho três lindos filhos e sou casado com Maria das Dores, acredito na família, amo de coração esta terra, defenderei os valores morais, familiares e religiosos e não medirei esforços para lutar pelo progresso e o desenvolvimento. Sou filho de pioneiros e sei como ninguém os problemas que esta gente passa. Por isso, serei um político diferente, vou trazer dinheiro para enfrentar as adversidades, e em nome do meu povo vou enfrentar o poder para honrar o seu voto. A seguir a minha proposta de trabalho:

Prometo criar o dia estadual de queimadas. O Estado precisa se desenvolver e "quando há queimadas é sinal de que alguém está cuidado da terra, está trabalhando, é sinal de progresso". Se por acaso houver qualquer incômodo com relação à fumaça, mandarei distribuir máscaras totalmente de graça para os que se sentirem incomodados. Na área da saúde, prometo mandar contratar todas as curandeiras e rezadeiras desta região para cuidar do meu povo sofrido. Lutarei para preservar o Hospital João Paulo Segundo que por causa de sua eficiência no atendimento aos pacientes e no tratamento de todo tipo de doenças será considerado como hospital de referência nacional.

Na área de transporte público prometo inovar: triplicarei o número de mototaxistas da cidade. Todos os porto-velhenses andarão neste tipo de transporte. Além de mais rápido é muito mais seguro e eficiente. Transformarei os viadutos inacabados da administração petista no novo símbolo da cidade de Porto Velho. Imitarei o exemplo de Pimenta Bueno. As carcaças dessas construções que serviram como jazigo para o PT de Rondônia servirão também para abrigar os desempregados do pós-usinas. Todos admirarão a beleza daquelas obras. Criarei a Secretaria das Obras Inacabadas e pedirei à atual administração municipal que indique o titular dessa nova Pasta.

Durante o meu mandato prometo que nenhum candidato ficha-suja será julgado em Primeira Instância. Todos os julgamentos começarão a partir de instâncias superiores, onde os acusados certamente serão absolvidos de qualquer denúncia. Na educação criarei escolas com apenas 50 dias letivos por ano, pois com os 200 que tem atualmente a Educação não atende satisfatoriamente seus objetivos. Criarei mais feriados e arranjarei um local definitivo para o Arraial Flor do Maracujá. Na cultura prometo que toda semana haverá carnaval fora de época com inúmeras atrações vindas do Sul do país. Luan Santana, por exemplo, será declarado cidadão de Porto Velho.

Prometo, enfim, que lutarei pela construção de mais umas dez usinas hidrelétricas em nossos rios para abastecer o restante do Brasil com energia boa e barata. Em troca, basta nos mandar os bandidos mais perigosos de seus estados para a nossa Penitenciária de Segurança Máxima. No lazer prometo criar praias artificiais entre Porto Velho e o distrito de São Carlos quando o rio Madeira secar. Rondônia precisa de homens que lutem bravamente pelo seu progresso e por isso me coloco à disposição dos senhores para trabalhar com afinco. Caro eleitor, serei o seu fiel representante e por isso indico o meu nome para a sua apreciação. Não se deixe enganar por falsas promessas. Em outubro, vote certo. Vote em mim. Serei a mudança necessária para Rondônia.


*É professor em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)


sábado, 21 de agosto de 2010

E o caos continua no Estado de Rondônia...


"Hecatombe Amazônica, a Hiroxima do Descaso"


Professor Nazareno*


Ao contrário de uma forte explosão atômica quando a noite clareia de uma hora para outra, os dias em Rondônia têm-se transformado em noite. A densa nuvem de poeira e fumaça sobre o Estado escurece o forte sol amazônico dando-lhe uma estranha coloração avermelhada e superlotando o precário sistema de saúde de pacientes com intermináveis crises de asma, alergias, bronquites e muitas outras doenças associadas à poluição do ar. Velhos e crianças são os mais vulneráveis. Não fomos bombardeados com uma bomba nuclear nem fomos expostos a nenhum tipo de radiação, mas o nosso sofrimento devido às intermináveis queimadas na Amazônia dá a sensação de estar no inferno. É como se fumássemos diariamente uns trinta cigarros ou estivéssemos respirando com uma descarga de carro ligada à nossa boca. Tudo está cinzento aqui.

Arquejando com a boca seca, os olhos vermelhos e ardendo, a pele escamando e o gosto de fuligem na boca, muitos rondonienses se parecem com nordestinos em tempos de seca: imploram chuva a todo o momento na vã esperança de ver os dias de tormento e agonia se acabarem. A previsão do tempo indica para proximamente uma temperatura ambiente de pelo menos 45 graus Celsius, com uma sensação térmica bem superior e umidade relativa do ar de apenas 15 por cento. A baixa qualidade de vida dos porto-velhenses piora a cada dia que passa. Agosto de 2010 entrará para a história como o mês de um dos maiores desastres ambientais que já presenciamos por aqui. Clima pior do que alguns desertos. E o máximo que as autoridades locais fizeram foi decretar estado de emergência. Apenas isso e nenhuma providência concreta até o momento.

Rondônia tem um Governador, um Vice-Governador, três Senadores, oito Deputados Federais, 24 Deputados Estaduais, 52 Prefeitos, uma penca de Vereadores, além de vários tribunais, vários quartéis das Forças Armadas, polícias de todo tipo e jeito e mais outras tantas autoridades, uma sociedade civil que se diz organizada e inacreditavelmente ninguém fez ou propôs nada para enfrentar este problema. Infelizmente a maioria destes políticos e outros tantos estão agora à cata de votos para se reelegerem e certamente continuarem fazendo a mesma coisa de antes: nada. Não vi ninguém falar sobre a degradação do meio ambiente. Se há alguma proposta em algum partido sobre este assunto, não foi discutida até agora. Nem num tal de Partido Verde. Todos se fazem de cegos ou acreditam que isto é coisa apenas para ecologistas radicais.

O avanço das hidrelétricas e da pecuária na Amazônia tem transformado a nossa vida num calvário. A floresta diminui sob o fogo inclemente para dar lugar aos pastos enquanto os estrangeiros saboreiam a nossa deliciosa carne que é produzida à custa do nosso sofrimento. A União Européia, a Rússia, a China e tantos outros países ao comprarem o produto incentivam o fogo na Amazônia. Mas nós somos tão culpados quantos eles. Estamos acomodados. Não procuramos as embaixadas destes países para denunciar nossa tristeza e propor um boicote geral à carne dos Estados incendiários e aceitamos, como galinhas covardes, a insensatez e o pouco caso dos nossos maus políticos e autoridades em geral. Não nos mobilizamos nem procuramos soluções. Ficamos em paz com nossas consciências quando vemos as declarações de amor a este lugar. Estamos num estado de desastre ambiental não reconhecido pelas autoridades.

Senhor Governador Cahulla, demita o seu secretário de meio ambiente por justa causa. Senhor Prefeito de Porto Velho, faça o mesmo. Que ações eles propuseram para amenizar ou evitar o problema? Deixem um pouco a campanha eleitoral de lado e arregacem as mangas. Meio ambiente é vida. É a minha vida, a vida da minha família, a vida de todas as famílias deste Estado e a dos seus familiares também. Os senhores foram eleitos para trabalhar pelo bem-estar da população e não estão cumprindo com o prometido. Admitam seus fracassos. Ou então renunciem a seus mandatos. Senhores autoridades de Rondônia, envergonhem-se desta situação. Denunciem esta desgraça ao mundo. Vão à mídia. Mobilizem a sociedade. Façam alguma coisa. Não se coloquem contra a História. Muita gente implora ação dos senhores. Presidente Lula, candidata Dilma, candidato Serra, Marina Silva, ex-governador Ivo Cassol, Senadora Fátima Cleide, Eduardo Valverde, candidato Expedito Júnior, Senador Valdir Raupp, Senador Acir Gurgacz, senhores Deputados Federais e Estaduais mexam-se, mostrem serviço. Pelo menos prometam que vão acabar com o nosso sofrimento. Não esperem apenas por São Pedro, pois em meio ao caos ainda somos obrigados a votar nos senhores.


*O Professor Nazareno ainda com asma, rinite alérgica e sinusite leciona (às duras penas) na Escola João Bento da Costa em Porto Velho.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Escrevi por que não aguento mais tanta fumaça!



Rondônia e a Dialética das Queimadas


Professor Nazareno*


No início deste ano, quando eu ainda escrevia artigos periodicamente para a mídia, um jornal italiano publicou uma reportagem em que afirmava que o Estado de Rondônia, no noroeste do Brasil, era um lugar pouco recomendado para se visitar. As queimadas nas florestas locais tornavam este lugar "um verdadeiro inferno na terra". A publicação ainda informava que não era uma lista oficial, mas sim, uma lista de situações de emergência global e onde vivem populações em condições precárias e com baixíssima qualidade de vida. A chiadeira foi geral. Comentários preconceituosos e xenófobos inundaram os sites locais. Pessoas se dizendo filhos da terra, com arroubos cívicos, nacionalistas e patrióticos, puseram logo em xeque a veracidade da matéria. Infelizmente, se os italianos vierem agora a Porto Velho apenas constatarão o óbvio.

Porém não bastou muito tempo para que as previsões e denúncias contidas naquela matéria, verídicas ou não, fizessem parte da mais absoluta verdade. De nada adianta mandar os incomodados saírem deste Estado. De nada adiantará expulsar os que falam mal daqui. A realidade está aí para qualquer um ver. A fumaceira de dimensões apocalípticas pode inviabilizar o funcionamento deste Estado e de regiões vizinhas. O aeroporto local é fechado todo dia, as aulas estão sendo suspensas. Atividades rotineiras são adiadas. Pouco adianta também dizer que o problema não é apenas local. Dizer que o Primeiro Mundo devastou suas florestas em nada vai contribuir para amenizar o nosso problema, o nosso sofrimento. Então, por que só copiamos os maus exemplos deles? A delirante tese de internacionalização da Amazônia pode ganhar força diante disto.

"Quando nosso céu se faz moldura. Para engalanar a natureza. Azul, nosso céu é sempre azul. Que Deus o mantenha sem rival. Cristalino sempre puro. E o conserve sempre assim", diz mentirosamente o Hino Céus de Rondônia. Deus, não conserve este céu sempre assim, podemos não suportar por mais muito tempo. Ou então devemos trocar a letra deste hino para a versão que a Banda Odisséia propôs recentemente numa paródia: "Azul, poderia ser azul. Em vez, tudo cinza, tudo igual. Nosso rio só tem mercúrio. Amazônia é capim". Nossos rios, nossas matas, tudo em fim mesmo. Por isso, senhores autoridades responsáveis pelo meio ambiente, peçam demissão de seus cargos, pelo amor de Deus. Os senhores falharam, admitam. Caiam fora. Não há desculpas. Da Ministra do Meio Ambiente aos secretários municipais todos negligenciaram ou não foram competentes para prever o óbvio. Qualquer idiota sabia da existência da estiagem.

A baixa umidade relativa do ar nesta época, fato previsto todos os anos, associada à inoperância e à incompetência do Estado brasileiro que com seus órgãos de defesa da natureza pouco ou nada fazem, a não ser aumentar o empreguismo estatal, e contando com a irresponsabilidade dos grandes pecuaristas e pequenos incendiários urbanos, todos produzem a receita ideal para transformar esta região no verdadeiro inferno na terra. Senhores candidatos, parem de usar o programa eleitoral gratuito como coluna social. Precisamos de propostas concretas e mais sérias para enfrentar este problema que é de todos nós. Um povo que produz bois-bumbás, arraial Flor do Maracujá, carnaval fora de época, passeatas gays, pontes, hidrelétricas e viadutos precisa também se unir para melhorar a sua própria qualidade de vida. Cobremos então soluções de nossas autoridades. Será que perdemos a capacidade de nos indignar?

Nestas horas de agonia, fumaça, poeira e pouco ar puro para se respirar, a população que paga os altos impostos e está sofrendo as conseqüências de mais esta grande catástrofe ambiental na Amazônia devia se mobilizar e perguntar: cadê o Estado brasileiro? Qual o porquê de tanta ineficiência? Cadê a Justiça em suas várias instâncias? Onde estão as Forças Armadas? Por que o Ministério Público parece estar fazendo vistas grossas a toda esta calamidade? Os organismos de defesa do meio ambiente, onde estão? As prefeituras municipais, os governos estaduais, essas ONGS, que dizem tanto defender a natureza? A Polícia Federal estaria apenas preocupada com o roubo de diamantes na reserva Roosevelt e não pode interferir? Qual a função do Corpo de Bombeiros? Por que ninguém faz nada? Por que só parte da mídia e alguns incomodados como eu gritam? Por quê? Será que nos abandonaram?


* O professor Nazareno, com asma, sinusite e rinite alérgica, leciona na escola João Bento da Costa em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Você responderia a esta difícil questão?


Rondonha, Rondonia ou Rondônia?


Hidelbrando José de Oliveira*


A UNIR, Universidade Federal de Rondônia - Campus de Rolim de Moura - no interior do Estado, ao propor o tema para a redação para o Concurso Vestibular do meio do ano, curso de Medicina Veterinária, ASSASSINOU a Gramática Normativa da Língua Portuguesa ao escrever duas palavras na proposta de texto com erros gramaticais grosseiros. O tema "o desenvolvimento da amazonia e o avanço da pecuaria" traz as palavras Amazônia e pecuária grafadas nas provas de Redação dos alunos sem o acento circunflexo na primeira e o agudo na segunda. Um absurdo, pois ambas as palavras são paroxítonas terminadas em ditongo crescente, daí a obrigatoriedade do acento diacrítico nas duas. Além do mais, Amazônia é um substantivo próprio e deveria ter sido grafado com letra maiúscula. O artigo "O" de "o desenvolvimento" por ser início de frase deveria ter sido também grafado em maiúsculo. O referido tema apresenta um sentido dúbio, impreciso e com duplo sentido, uma vez que fala de pecuária sem remeter o termo à própria região amazônica. Poderia ter sido a pecuária de qualquer outra região do país ou do mundo. O mais correto seria: "O desenvolvimento da Amazônia e o avanço da pecuária na região". A palavra região acrescida ao tema evitaria qualquer confusão.

Diferentemente de outras provas de redação da UNIR ou mesmo de tantas questões discursivas, todas elaboradas ultimamente pela UFMT, Universidade Federal do Mato Grosso, esta prova nos faz refletir se realmente há nos quadros da UNIR profissionais com competência suficiente para elaborar um simples concurso vestibular. Quem por exemplo vai elaborar as questões para a Segunda Fase do vestibular deste ano desta Instituição de Ensino Superior? Outras reflexões: quem vai corrigir estas redações para o curso de Medicina Veterinária? Será que vão punir as redações dos alunos que não acentuarem as palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente? Com tantos "professores-doutores" nos quadros da UNIR, como pôde ter acontecido um erro primário deste num concurso vestibular? Por que será que esta prova de Redação não trouxe textos de apoio tão comuns em redações de outros vestibulares da instituição e também na redação do ENEM, por exemplo? Por tudo isto seria bom que a UNIR colocasse a seguinte questão de múltipla escolha nos seus próximos concursos vestibulares:


01 - Em sua opinião, a UNIR errou ou permitiu que se cometesse este erro primário na prova de Redação para o curso de Medicina Veterinária por que:

A. ( ) O sotaque na cidade de Rolim de Moura é assim mesmo;

B. ( ) Foi um ex-governador do Estado de Rondônia quem elaborou esta prova;

C. ( ) É incompetência mesmo de quem devia zelar pela melhoria da qualidade da educação pública em nosso Estado;

D. ( ) O programa WORD dos computadores da UNIR está com defeito ou estragou;

E. ( ) Foi a intensa fumaça que cobre o Estado de Rondônia e toda a região Norte do Brasil que impediu que se vissem os referidos acentos gráficos.


*O aluno Hidelbrando José de Oliveira concorre a uma vaga para o curso de Medicina Veterinária na UNIR, Campus de Rolim de Moura.


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Brasil e a desigualdade social monstruosa!


O Brasil é rico, mas não é justo.

Por Frei Betto*


Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagascar, Camarões, Tailândia e África do Sul.

Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54). O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.

Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos dez anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações. Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, este índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas 9 possuem diploma universitário. Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia. Sobram 50 mil vagas… E apenas 30 mil chegam a se formar. Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada?

Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do IPEA, este índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.
Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais. E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras, mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo – incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias – representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de π do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas. Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda. Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está “sustentando vagabundos”. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe. Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia.



"Em busca de uma maior socialização do conhecimento"


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Rondônia arde sob o fogo irresponsável...


Sol Vermelho e o Desenvolvimento que Mata


Luciano Tenylson Nogueira Costa*


Nesta época do ano os céus de vastas partes da região Amazônica estão infinitamente mais poluídos do que as grandes concentrações industriais do mundo. O ar está irrespirável e o acúmulo de poeira e fumaça se assemelha ao fog londrino ou a um grande incêndio de proporções apocalípticas. É a Amazônia, o outrora pulmão do mundo, ardendo sob o fogo das queimadas tão comuns nos meses de julho a setembro. Há dois anos estivemos quase livres desta praga, que volta com toda a força agora. Será que é por causa das campanhas eleitorais? A fiscalização arrefeceu? Aeroportos são fechados, estradas são bloqueadas, a visibilidade para a navegação nos rios não tem o alcance necessário e aumentam consideravelmente nos hospitais os casos de doenças respiratórias em crianças e velhos principalmente. O calor, apensar das friagens, associado à baixa umidade do ar cria a sensação de se morar no inferno. Porto Velho, que não tem nem nunca teve uma boa qualidade de vida, piora ainda mais este item nesta época do ano. Estamos sufocados e pedimos socorro urgente. Haja poeira! Haja fumaça! Haja calor na cidade! Haja carniça e bichos mortos! Haja descasos das nossas autoridades! Haja congestionamentos. Haja conformismo de nossa parte!

Ano após ano a história se repete sem que se tomem medidas ou qualquer tipo de providências. As autoridades fazem vistas grossas ao problema como se isso não tivesse absolutamente nada a ver com ninguém. E se assim fosse, por que o Estado gasta verdadeiras fortunas para manter "elefantes brancos" como o Sivam, o Ibama, Sema, Ministério do Meio Ambiente e tantas outras siglas espalhadas pela burocracia estatal, mas que na prática nada ou quase nada fazem pelo controle ambiental? É estarrecedor constatar como a inoperância de tantos funcionários públicos afeta grande parte dos brasileiros. Deveria ser vergonhoso alguém, nesta época do ano, afirmar que é funcionário de qualquer destes órgãos. Quem se envaidece de trabalhar numa repartição que se diz defensora do meio ambiente diante de tanta poeira, fumaça e descaso? Como se não bastasse a época da seca, onde a baixa umidade por si só já é um grande risco à população, os poderosos nos impõem este terrível castigo, que é conviver com a fumaça e sofrer com problemas respiratórios num lugar onde até o sistema de saúde privado está em crise, devido à falta de profissionais, imagine-se como está a saúde pública. Mas os discursos de campanha dizem exatamente o contrário. Estamos derrubando menos e queimando menos. Estatísticas que mentem. Estatísticas que enganam. Pode?

Mas as conseqüências não param por aí. Numa época em que o mundo está preocupado com o efeito estufa e os grandes e graves desastres ambientais, uma verdade quase inquestionável nos atormenta: a de que os brasileiros não sabemos cuidar das nossas florestas. Somos habitantes da Amazônia e vamos nos responsabilizar pela sua extinção. Afinal, poderemos ser acusados de estar destruindo um patrimônio que afeta toda a humanidade. A tese de internacionalização de toda esta região ganha força nas ações estúpidas de se atear fogo ao mato para se fazer uma simples limpeza de área ou mesmo derrubar a floresta para abrir pastagens. Mas quem faz isto talvez o faça por pura ignorância. O que se questiona é por que o Estado e as autoridades nada fazem para deter ou mesmo amenizar o problema. Estamos vivendo o ciclo das hidrelétricas e o dinheiro está jorrando neste pedaço de Brasil. Mas vale a pena desenvolver destruindo o meio ambiente como os rondonienses estamos fazendo? Inovamos na previsão do tempo: FUMAÇA. Por isso os outros riem de nós, da nossa estupidez. De sermos rondonienses e amazônidas estúpidos que não sabemos conviver com a natureza.

E o triste é que não se pode muito confiar nas autoridades responsáveis pela defesa do ecossistema amazônico. Vários candidatos nestas eleições são grandes pecuaristas que já se assumiram contra qualquer tentativa de defender o meio ambiente. As previsões mais otimistas indicam que este ano de 2010 vai superar todas as expectativas em termos de devastação ambiental. Daqui a pouco cessarão as queimadas, pois não haverá mais floresta para ser transformada em cinzas a exemplo do que aconteceu com a Mata Atlântica, o Cerrado e tantas outras reservas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo afora. A cor do nosso sol parece, inutilmente, indicar o perigo iminente que estamos correndo caso nada seja feito. Impressionante a inércia do poder público, que mesmo em época de campanha, faz vistas grossas ao problema, e nem sequer ouvimos notícias ou iniciativas efetivas no combate às queimadas já que o discurso é sempre o mesmo: "Nunca o Estado cresceu tanto quanto agora, são usinas hidrelétricas, pontes, indústrias, etc.". Nessa hora temos que pensar, que desenvolvimento é esse? Quem são os latifundiários capazes de queimar suas terras em detrimento da saúde do povo? E o poder público está cego? É claro que todas as respostas são tão óbvias quanto a origem das verbas de campanha. Não podemos ficar calados...


* tenylson@gmail.com


sábado, 7 de agosto de 2010

O Brasil e os brasileiros...


"PRECISA-SE DE MATÉRIA PRIMA PARA CONSTRUIR UM PAÍS" *


A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão e corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a "ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos... E para eles mesmos.

Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde fazemos "gatos" para roubarmos luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior é nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns. Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar.

Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de que ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.

Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... Igualmente sacaneados!

É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro... Somos nós os que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido... Sim, decidi procurar ao responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. Aí está. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?...MEDITE!


*Texto que circula na Internet como sendo de "JOÃO UBALDO RIBEIRO".