terça-feira, 31 de julho de 2018

Povo escolhido, povo infeliz

Povo escolhido, povo infeliz


Professor Nazareno*

            
       Terminada a Copa do Mundo de 2018 com mais um melancólico e abençoado fracasso do Brasil, eis que começa outra encenação em terras tupiniquins: as eleições. Em ambas, o combustível em comum que as alimenta é o povo. Sempre ele, o povo, carente de pão e circo, que contribui para que estes lamentáveis fatos aconteçam. E é em nome dele que se comentem as mais absurdas mentiras e enganações. A sociedade brasileira continua a mesma de séculos atrás. Estamos muito pior do que na época da escravidão e até, em alguns aspectos, vivemos antes da Idade Média. E sem nenhuma previsão de avançarmos em direção a uma sociedade mais justa e moderna. Pelo menos se depender da classe política e de pelo menos uns 80% dos eleitores que participarão do próximo pleito para escolher os novos deputados, senadores e o presidente do país.
Praticamente sem rumo e sem nenhuma perspectiva de melhoras, a multidão caminha bovinamente para o seu matadouro particular: serão mais quatro anos de desolações e angústias. Pior: ele mesmo será o seu carrasco, pois vai escolher como sempre faz em todas as eleições os piores candidatos para lhe governar. São quase 150 milhões de eleitores, dos quais se acredita que pelo menos uns 120 milhões não sabem votar nem escolher corretamente seus governantes. Isso é quase o dobro da população da França inteira e uma vez e meia a população de toda a Alemanha. São analfabetos políticos, sem leitura de mundo, despolitizados e semianalfabetos. Pessoas pobres e iletradas na sua maioria, mas que vão decidir o futuro de um país inteiro como o Brasil. E os políticos, como uma raça de víboras e aranhas caranguejeiras, se aproveitam disso.
Em Rondônia não é diferente do resto do país. Candidatos ambiciosos que na maioria só representam seus grupos políticos entram na corrida para ganhar as eleições e aumentar ainda mais a desigualdade social e a exploração dos pobres e miseráveis. Se a Justiça proíbe suas candidaturas, colocam filhos, esposas e parentes para continuar o feudo. E geralmente depois de eleitos, nada fazem por aqueles que, pela ignorância, os elegeram. Eles brigam entre si para poder disputar cada eleição. Basta ver a última convenção do MDB por aqui. Como pode um Estado tão rico como Rondônia ter um hospital como o João Paulo Segundo, por exemplo? Como pode ter uma capital tão mal administrada, suja e inabitável como Porto Velho? Como pode ainda ter gente pobre se é um dos maiores produtores agropecuários do país e com uma ínfima população?
Engana-se, no entanto, quem acha que existem brigas ideológicas entre os políticos. Brigar por ideologia e por política deve ser coisa só da “gentalha”. O PT, que sempre acusou o MDB de golpista, está coligado com o partido do impopular Michel Temer e de sua turma em pelo menos quatro Estados. Mais de 30 por cento do atual Congresso Nacional pertence à bancada BBB, boi, bala e bíblia. Eles defendem com unhas e dentes somente os seus interesses e na maioria dos casos “não estão nem aí” para os idiotas que brigaram e mataram por eles e os elegeram. O eleitor comum, aquele que decide de fato a eleição por ser a maioria, não sabe de nada disto. Não lê, não se informa, não se interessa por política, nem sabe por que votou neste ou naquele candidato. Com as eleições, o Brasil não vai mudar em absolutamente nada. Somos jumentos que continuaremos zurrando dentro dos currais que criaram para nos dominar.






*É Professor em Porto Velho.

sábado, 28 de julho de 2018

O político que eu quero

O político que eu quero


Professor Nazareno*

            Avolumam-se as convenções partidárias que indicarão os candidatos às próximas eleições. Aumenta também entre os simplórios a falsa crença de que “a partir de agora tudo vai mudar no Brasil”. Nada vai mudar, pois os eleitores são os mesmos, as condições são as mesmas, a promessas são as mesmas e até os candidatos na maioria dos casos serão os mesmos. Haverá, claro, alguma mudança no varejo. Mas tudo ficará do mesmo jeito: quem tem recursos continuará mandando e quem não tem, continuará obedecendo. Mais de oitenta por cento dos eleitores brasileiros não têm leitura de mundo nem informações suficientes para escolher corretamente o seu candidato. Muitos votam a troco de migalhas sem se importar com as consequências de seu ato. A compra de votos, o dinheiro e as maracutaias como sempre darão o tom de quem vai ser eleito.
            Mas há bons candidatos. O difícil, no entanto, é identificá-los. O problema é que todos eles, sem exceção, são vinculados um determinado partido. E qual dos partidos políticos hoje no Brasil tem demonstrado honestidade? E como na bisonha campanha da Globo, “o Brasil que eu quero”, é preciso também saber escolher “o candidato que eu quero”. O eleitorado brasileiro de um modo geral pertence a um curral. No bom sentido da palavra mesmo, uma vez que quase todo eleitor é um jumento. Para se ter uma ideia, lideram a corrida presidencial hoje no Brasil, pela ordem, um presidiário, um psicopata, um fanfarrão mentiroso e um ditador de opereta. Não há nada de novo na arena política. E pior: muitos eleitores brigam pelos seus escolhidos. O país está dividido na política, onde todos se acusam. Ganhará, como sempre, o menos ruim. E assim, todos perdem.
            O bom candidato será sempre aquele que se identifica com o politicamente correto. Defende direitos humanos, defende a democracia e procura inovar nas suas ações. Vê o Estado laico como uma premissa e sempre que pode se distancia dos grupos formados somente para ganhar as eleições. Em Rondônia, por exemplo, quase não há novidades no front. Candidatos inescrupulosos, canalhas, ladrões, corruptos, mentirosos e incompetentes em sua grande maioria são as únicas opções de que dispomos para votar. Porto Velho, sua suja e imunda capital, continua com o seu triste destino de ser uma cidade porca e fedorenta onde não há saneamento básico nem água tratada. Saúde e Educação de qualidade são aspirações que nunca saem do papel. Só mesmo em épocas de eleições como agora. E quem vai implantar ensino integral nas escolas do Estado?
            Qual dos atuais políticos candidatos vai resolver o vergonhoso problema do “açougue” João Paulo Segundo? O desprezo pelo nosso “campo de extermínio de pobres” ceifa vidas inocentes todo dia. Quando será duplicada a BR-364? Quando será iluminada a ponte do rio Madeira? Quando teremos uma capital decente? O Brasil é a periferia do mundo. Rondônia é a periferia do Brasil. Porto Velho é a periferia de Rondônia. De periferia em periferia, a vida segue o seu triste compasso do engodo e da enganação. O curral continuará sendo dominado pelos mais ricos e endinheirados. O atraso, a estupidez e o subdesenvolvimento serão política de Estado para que as elites continuem mandando no rebanho atrasado e ignorante. Com pequenas alterações, a nossa suja política seguirá seu curso normalmente e a décima potência econômica continuará sendo uma periferia fétida, atrasada e imunda como uma África Subsaariana.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quem ama Porto Velho?

Quem ama Porto Velho?


Professor Nazareno*


      Porto Velho, a suja, mal cuidada e fedorenta capital de Roraima ganhará em breve uma ridícula placa com os dizeres “Eu amo Porto Velho”. A prefeitura, junto com um supermercado da cidade, vai colocar um mentiroso letreiro ali pelo Trevo do Roque para enganar muitos dos simplórios moradores deste inferno na terra. Mentiroso porque pouquíssimas pessoas ainda têm coragem de dizer que gostam da pior dentre as capitais do país para se morar. E quem diz isso é uma autoridade no assunto, o respeitadíssimo Instituto Trata Brasil. Porto Velho tem apenas uns três por cento de saneamento básico e números ínfimos, uns 30% só, de água encanada. Há mais de cem anos, esta capital é uma carniça só. Entra prefeito e sai prefeito e o lengalenga é o mesmo: no inverno é a lama podre das alagações. No verão é a poeira e a fumaça das queimadas. Um martírio.
Isto aqui jamais deveria ser uma capital de Estado. A podridão e o lixo esparramado pelas ruelas dão o triste tom de um lugar inóspito para se viver. Agora, em pleno verão, a grama dos poucos canteiros em algumas ruas está toda esturricada. A cidade não tem praças nem recantos de lazer. Flores não há nem nos cemitérios. Após qualquer manifestação, percebe-se de imediato o que é viver aqui. Toneladas de lixo e carniça podem ser encontradas nas ruas fétidas. Da parada gospel ao Carnaval da Banda do Vai Quem Quer passando pela marcha dos gays, a sujeira é a mesma. Ainda bem que proibiram a tal de Expovel. Seria mais seboseira e lixo para denegrir ainda mais a já suja imagem local. Isto é amor? Quem ama cuida e não suja. Ou pelo menos distribui sacos para que se junte a sujeira produzida. No Primeiro Mundo é assim. Aqui, não!
Eu amo Porto Velho”. Além de brega é uma das maiores piadas que se pode dizer. Principalmente por quem mora aqui. Como se ama um lugar e se coloca a foto de outro nos perfis das redes sociais, por exemplo? Que amor é esse, se nas férias de final de ano, muitos “montam no porco” e se danam para as praias do Nordeste, para o centro sul do país ou para qualquer outro destino? São poucos os que passam as férias por aqui mesmo. Se os porto-velhenses amassem de fato a sua cidade como dizem, não jogariam tanta porcaria e lixo no meio das ruas. Este ano tem eleições. A partir de agora o que se veem são os políticos mentirosos fazendo declarações de amor a Porto Velho e aos seus moradores. Será que algum deles vai dizer de novo que quer abraçar, amar, cuidar, acariciar e beijar a cidade? Até diz, mas férias mesmo, só passa na Disney e na Europa.
A cidade de Porto Velho não precisa de placas mentirosas que enganam trouxas. Precisa de mobilidade urbana decente, de praças, de recantos de lazer, de igarapés limpos, de saneamento básico, de água tratada, de paz social e de mais arborização. Tomara que não se gaste dinheiro público para propagar essas lorotas como fizeram no superfaturado Espaço Alternativo. Lá construíram uma esquisita montanha russa do atraso, uma espécie de “obra de arte sem pé nem cabeça e totalmente sem sentido” que só serviu até agora para os tolos tirar “fotinhas” a fim de publicar nas redes sociais. Uma vergonha para uma capital que tem um campo de concentração como o “açougue” João Paulo Segundo ainda em funcionamento, um desprezado cemitério de locomotivas enferrujadas e uma rodoviária fétida para receber seus poucos e raros visitantes. Devia-se mudar tal placa para algo mais realista: “Eu odeio Porto Velho”. Mentir é hipocrisia.







*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Kolinda Kitarovic em Rondônia


Kolinda Kitarovic em Rondônia


Professor Nazareno*

            Kolinda Grabar-Kitarovic é a presidente da Croácia. Sim, o mesmo país que foi vice-campeão da última Copa do Mundo de futebol realizada na Rússia. A chefe de Estado croata é uma linda e encantadora mulher, apesar dos seus quase cinquenta anos. Durante a Copa do Mundo roubou todas as atenções do planeta inteiro quando, nas arquibancadas dos estádios russos estava torcendo pelo seu país. Se quisesse, Kolinda poderia visitar Roraima e sua gente. Mas é muito pouco provável que ela deixe a sua organizada, limpa e civilizada Zagreb para visitar a feia, podre e fedorenta cidade de Porto Velho. Mas nunca se sabe, pois o “fim do mundo” sempre foi alvo de turistas de ocasião em busca de aventuras exóticas. Aqui, a beleza da presidente ofuscaria os “canhões ambulantes” e “tribufus” de 40 anos que circulam pelos nossos meios sociais.
            A loira mais charmosa da última Copa do Mundo poderia, em terras karipunas, assistir a uma partida de futebol, já que ama tanto este esporte. Genus X Rondoniense na “Arena Aluizão” poderia entreter a dama croata e a sua comitiva. O “clássico do nada” talvez até aborrecesse os croatas, exímios praticantes do bom futebol. Os 200 torcedores, lotação máxima do estádio, gritando euforicamente o nome de seu time de coração certamente deixariam perplexos os visitantes. Mas é na área da política que os eslavos e a sua bonita presidente ensinariam muitas coisas aos rondonienses. Na Rússia, Kolinda assistia aos jogos de seu país com ingresso comprado com o seu próprio dinheiro. Passagens e hotéis foram também adquiridos com a sua renda. Durante a estada, ela pediu que o seu salário fosse descontado para cada dia em que estivesse fora.
            Nas redes sociais dizem que ela teria vendido o avião presidencial, diminuído o seu salário e o dos ministros, aumentado o salário mínimo do país e proibido a aposentadoria de congressistas. A Croácia não é um país rico e fazer isto é uma ação social. A presidente fala pelo menos sete idiomas, inclusive o Português, e nunca se julgou superior a ninguém por isso. Ela é muito popular na Croácia. Já pensou os políticos rondonienses diante de exemplos como os dela? Alguns inclusive poderiam aprender com ela a se expressar melhor na língua de Fernando Pessoa. Mas o principal mesmo seria não roubar o Erário nem usá-lo em benefício próprio. Nada de diárias, hospedagens, nem viagens desnecessárias. Todos aprenderiam a respeitar melhor os pagadores de impostos, que sustentam nababescamente a inútil classe política daqui.
            Alguns opositores, no entanto, acusam Kolinda de ser xenófoba e fascista por demonstrar amor incondicional ao seu país, a Croácia. Se os rondonienses e a classe política local amassem de fato este Estado com a mesma intensidade com que ela ama a sua nação, certamente este horrendo lugar seria bem diferente. “Rondônia é onde nasci e por isso o meu amor a tudo daqui”, seria o pensamento aprendido com os exóticos visitantes. Nada de se aposentar e “picar a mula” para ir morar nas praias nordestinas, por exemplo. Amor ao país é uma coisa para sempre e não apenas em época de Copa do Mundo, este seria outro bom ensinamento. Bandeiras do Brasil em carros, casas e apartamentos e o uso de camisas com as cores nacionais devem ser sempre incentivados independente da ocasião. Mas Kolinda Kitarovic jamais nos visitaria: a inconfundível camisa xadrez em branco e vermelho não seria vista em meio a tanta poeira e fumaça.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O dia da liberdade



O dia da liberdade


Professor Nazareno*


Ouvi dizer que a TV Rondônia interromperá para sempre a sua transmissão analógica para as cidades de Porto Velho e Candeias do Jamari. A data anunciada para este milagre é dia 14 de agosto de 2018. Uma notícia extremamente boa e alvissareira levando em consideração que esta emissora de televisão é um dos tentáculos do câncer nacional chamado Rede Globo. “Vem ser digital com a gente”, diz o mote da esdrúxula campanha televisiva. Presente da Ditadura Militar à família Marinho, a Globo é a vanguarda da alienação nacional desde 1965. Sua programação insossa e direcionada à estupidez coletiva mostra programas de qualidade duvidosa, mas que têm um forte poder ideológico para alienar os mais incautos e tolos. É líder absoluta no Brasil dos semianalfabetos e dos desprovidos de leitura de mundo e informações mais confiáveis.
O poder maligno da “Vênus Platinada” pode ser sentido diariamente em cada segundo de sua horrenda programação tendenciosa. Porém, é no futebol, e na política principalmente, que essa TV se esmera. Durante a Copa do Mundo, por exemplo, o time de alienadores é escalado sob medida para ludibriar os mais estúpidos e até as pessoas metidas a esclarecidas. Fazer gostar da desacreditada seleção brasileira é tarefa fácil para os profissionais da emissora. Bastam dois ou três jogos para os idiotas urrarem de amor pela “seleção canarinho”. Toda a programação da emissora durante o torneio é voltada somente para enaltecer os novos heróis nacionais: gênios, seres humanos incomuns, fenômenos, super-heróis, gurus e iluminadores de todos os brasileiros. Até a primeira derrota na Copa, nenhum dos jogadores tem defeito. São os heróis do povo.
Na política tem-se percebido todo ano o poder da emissora entre os brasileiros. Elege presidente, destitui presidente, nomeia ministro, demite ministro e influencia até em algumas decisões do Poder Judiciário. A Globo elegeu Fernando Color em 1989, quando num debate da emissora, editou um Jornal Nacional para destruir Lula e o PT. Pouco tempo depois, criticada pelo próprio presidente “collorido”, tramou nos bastidores para derrocá-lo do poder. Pior: vendeu para os trouxas dos brasileiros a ideia de que foram os caras-pintadas e não ela própria, os maiores responsáveis pelo impeachment naquela época. Em 2013, pediu desculpas ao Brasil por ter apoiado o golpe militar de 1964. Há documentos e provas dando contra de que Roberto Marinho teria sido um dos maiores responsáveis pela aventura militar que durou mais de 20 anos.
Porém aos poucos, a Globo está perdendo um pouco do seu encanto. Emissoras ligadas aos evangélicos têm de certa maneira copiado um pouco desse sucesso global e com isso ameaçam sua maligna hegemonia. Em Rondônia, durante o horário de verão, a emissora transmite sua programação com mais de uma hora de atraso. Isso em plena época de internet e das redes sociais. A partir de outubro, como acontecia há 40 anos assiste-se ao Jornal Nacional quando já se sabe o teor de todas as notícias. A Globo tem os melhores profissionais do mercado e certamente não precisa de artimanhas para conquistar cada vez mais audiência. Mas está no Brasil e aqui quem tem um olho será sempre rei. A Globo não tem ideologia, uma vez que dança conforme a música do governo de plantão. A notícia de que desligará toda a sua programação alegrou muita gente por aqui. O problema é que a TV digital continuará dominando corações e mentes.





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 15 de julho de 2018

E se tivéssemos sido hexa?



E se tivéssemos sido hexa?

Professor Nazareno*

            A França é bicampeã do mundo. Parabéns! Fosse o Brasil, teria sido a pior coisa que podia nos ter acontecido. Nosso país, que já está naufragado na política, na vida social, na educação, na saúde, na economia e na Justiça, iria piorar ainda mais em tudo. Outras vitórias da seleção brasileira demonstraram claramente esta tese. Levando em consideração que apenas o futebol nos representa no mundo civilizado e desenvolvido, a situação podia ter saído totalmente do controle como das outras vezes. “A mediocridade triunfa”. Esta seria a absurda ideia e a primeira que muitos acreditariam ser verdadeira. O Brasil nunca na sua História teve uma seleção tão ruim e tão fraca como esta para ser inexplicavelmente hexacampeã mundial. Onze marmanjos tatuados, milionários, semianalfabetos e quase sem leitura de mundo serem heróis do povo que busca heróis?
            Em 1958 quando foi campeão na Suécia, o Brasil vivia os anos dourados de JK. A oposição se aproveitou da comoção nacional para criar uma crise que se estenderia perigosamente até 1962 quando “os canarinhos” foram bicampeões no Chile. Juscelino Kubitschek foi derrotado nas urnas e sai de cena. Com o povo ainda anestesiado com a tolice de ganhar um mundial de futebol, os militares se aproveitaram da situação para tramar o golpe de 1964. Tudo embalado pelos resultados dos gramados. Em 1970, em plena Ditadura Militar, a seleção conquista o tricampeonato no México e nos DOI-CODI a repressão aumenta sem controle. Emílio Médici, o general-ditador de plantão, endurece o regime e a tortura vira política de Estado. O povo nada viu e nada soube.  Estava festejando os gols de Pelé, Jairzinho, Tostão e Gérson nos gramados mexicanos.
            Em 1994, ainda vivíamos a hiperinflação, herança dos governos militares e da irresponsabilidade de Collor, outro arauto da elite nacional. Foi quando um sujeito, de nome FHC, aproveita a burrice popular para lançar o Neoliberalismo e entregar de vez o Estado ao setor privado. O seu partido, o PSDB, desmancha o setor público e o entrega a amigos e correligionários. Empresas como a Vale do Rio Doce, bancos estaduais e as telecomunicações são privatizadas. O povo, de novo, estava inebriado com a conquista em estádios norte-americanos. Reclamar do governo por quê? O Brasil foi tetra, mano! Felizes e alegres, embarcamos num sono que nos levou a ficar mais pobres ainda. Em 2002, na conquista do pentacampeonato, veio a eleição do “Lulinha paz e amor”, que mergulhou o país no que já sabemos. O Mensalão e o Petrolão emergem dessa época.
            Toda vez que se conquista uma Copa do Mundo de futebol, o povão, que já é muito idiota e despolitizado, fica mais estúpido ainda. Todos vestidos com suas camisas amarelas saem gritando para o mundo que somos uma potência rica, desenvolvida e civilizada. Investir em educação, saneamento básico, mobilidade urbana, habitação e outros benefícios para quê? Discutir divisão de renda entre os miseráveis não faria sentido nenhum: eles estariam felizes e gritando como loucos: “Hexa! Hexa!”. Países com um futebol muito melhor do que o nosso, e muito mais civilizados, ficaram à frente do Brasil nesta Copa. É mais justo com suas sociedades. Deus sabe o que nos viria depois desse momento de crise nacional que estamos vivendo. Além do mais, um dos piores times do campeonato levantar a taça de campeão soaria como uma coisa nossa: tudo fora armação. Aliás, a FIFA é tão corrupta e desonesta que podia nos ter feito isto.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O Brasil é Hexacampeão



O Brasil é Hexacampeão


Professor Nazareno*

            
           O Brasil perdeu mais uma vez a Copa do Mundo de futebol. Este fato totalmente previsível entristeceu muito os torcedores do país. Não entendi o porquê, embora admita que não haja cena mais hilária, risível, gostosa e “comovente” a de ver torcedores chorando e se lamentando por uma coisa tão tola e banal. Perder uma competição internacional de um esporte apenas é fichinha diante das derrotas diárias a que esta nação é submetida. Ri muito dos simplórios chorões, mas não consigo ter a mesma alegria e felicidade quando vejo a realidade do nosso país nos aspectos políticos, sociais e econômicos. Coisas, aliás, que deveriam fazer chorar de verdade todos os torcedores. Se não chorar, pelo menos deviam corar de vergonha. O Brasil é há mais de 40 anos uma das dez maiores potências econômicas do mundo e tem a quinta maior população.
            Mesmo com estes números invejosos, não conseguimos fazer um único gol quando o assunto é corrupção. Somos um dos Estados mais desonestos do mundo. Acredita-se que em torno de 200 bilhões de reais sejam desviados todos os anos nas esferas governamentais. A corrupção é endêmica e envolve governantes, políticos, autoridades, profissionais liberais e até cidadãos comuns. Aqui se arrecada uma das mais altas taxas de impostos do mundo. Aproximadamente 40 por cento de tudo o que se produz, vai para os cofres públicos em forma de tributos e praticamente nada é devolvido em benefícios. Temos talvez os piores serviços públicos entre as nações emergentes. A educação é certamente uma das piores. Aqui o turno das escolas não é integral e muitos alunos que saem do Ensino Médio não sabem fazer um texto simples.
E essa tragédia acontece depois de frequentar por doze anos um estabelecimento de ensino. Nunca ganhamos um Prêmio Nobel. Nunca nos destacamos em nada. Nossas bolas nem na trave batem quando o assunto é educação de qualidade. Se levamos cartão vermelho em corrupção e em educação, somos expulsos também quando o assunto é desigualdade social. O Brasil tem hoje mais de 15 milhões de miseráveis. Como pode haver fome no segundo maior produtor de alimentos do mundo? Como pode o país que tem as maiores porções de terras agricultáveis apresentar problemas nesta área? Uma vergonha. As periferias de todas as cidades atestam esta irracionalidade. Tudo por aqui é feito sob medida para pobres e para ricos. Em desigualdade social ainda nem entramos em campo e por isso não poderíamos participar de uma única Copa do Mundo sequer.
A quarta das pragas que se abate sobre nós é a violência urbana. Entre vítimas de trânsito e assassinatos comuns, contabilizamos cerca de 110 mil mortos ao ano. Nenhuma nação em guerra registra tamanha barbaridade. Como sair às ruas gritando de alegria a cada vitória da seleção, se temos estes números preocupantes? Uma sociedade extremamente violenta como a nossa não deveria participar de nenhuma competição internacional. Também não temos mobilidade urbana decente e nem meios civilizados de locomoção dentro das nossas cidades. A produção do campo apodrece, portos e  aeroportos estão entre os piores do mundo. E como se tudo isso não bastasse, nossa sociedade é de um modo geral atrasada e incivilizada. Vivemos em muitos aspectos uma realidade antes da Idade Média. Direitos humanos por aqui é chacota e o desrespeito constante às minorias completa nossa insensatez. Somos hexa só em caos e desgraças.





*É Professor em Porto Velho.

sábado, 7 de julho de 2018

Brasil, agora eu te amo!


Brasil, agora eu te amo!



Professor Nazareno*

            
         Brasil, tu perdeste mais uma vez a Copa do Mundo de Futebol. Foste derrotado pelos civilizados belgas por 2 X 1. Lamento te informar, mas eu estava torcendo o tempo todo para que isso acontecesse. E de fato aconteceu, graças ao excelente futebol apresentado pela Bélgica, pois este esporte se ganha com resultados e não com circo. Eu sempre torci contra o teu fraco futebol. Lembro-me vagamente somente de duas Copas em que torci por ti: 1970 no tri e em 1982 na derrota para o Paolo Rossi. Ali eu via um futebol de primeira. Tu, Brasil, conheces a Bélgica? Sabes o que acontece por lá? Sabes como vive o povo daquele país? Sabes por que ele figura sempre entre as melhores qualidades de vida do mundo?  Os belgas, os croatas, os dinamarqueses, suecos, suíços, enfim todos eles torcem o tempo todo pelos seus países, tenha Copa do Mundo ou não.
            Tu, Brasil, talvez sejas tão triste e infeliz porque teus filhos só te reconhecem de quatro em quatro anos durante este campeonato. Não fosse isso, certamente tu nunca terias tido uma única demonstração de afeto, de amor. Bandeiras colorem as sacadas, ruas são enfeitadas com as tuas cores, carros particulares portam pequenas bandeirinhas verde-amarelas, capuzes são todos decorados, manifestações espontâneas de “eu te amo, Brasil!” é só o que se observa nestes tempos. Em 2018, por exemplo, estas hipócritas e atemporais demonstrações de afeto por ti começaram exatamente no dia 17 de junho conta a Suíça e terminaram 19 dias depois em 06 de julho contra a Bélgica. Amor dos teus filhos por ti, cara, só agora daqui a quatro anos na Copa do Qatar. Isso se tu conseguires se classificar em umas eliminatórias cada vez mais difíceis. Vás a Doha?
Sacanagem o que fazem contigo, meu caro. Demonstrar amor só a cada quatro anos é um absurdo. Devíamos fazer isto diariamente. Eu sei que há mais de 518 anos tu esperas isso de teus filhos. Como seria bom que este “patriotismo de ocasião” se estendesse pelo menos até três de outubro próximo quando vamos escolher um time que, antes de levantar uma taça apenas, te erguerá para o futuro. Mas eu te amo, Brasil! Talvez até mais do que a minha França, pois te conheci bem antes dela. E quero tudo de bom para ti. Quero que te livres da corrupção que te dilacera o organismo. Sou brasileiro e por isso também desejo que teus filhos sempre escolham os melhores administradores para te comandar. Quero que tenhas qualidade de vida, que tenhas reconhecimento mundial, justiça social, paz e que a tua desigualdade social seja extinta.
Quero também que o teu salário mínimo seja maior e compatível com o trabalho exercido. Quero que tenhas a educação da Bélgica ou da Suíça. Choro pelos teus 60 mil assassinados ao ano. Lamento que em Rondônia ainda exista um “açougue” como o João Paulo Segundo. Triste por que a pouca leitura de mundo aqui não escolherá bem os próximos governantes. Choro por todos os teus policiais mortos. Pelos viadutos tortos e pelas pontes escuras. Choro pelo tanto que te humilham e te roubam. Quero que os teus ladrões sejam punidos na forma da lei. Como seria bom, Brasil, dizer que “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre é só uma invenção. Todas as demonstrações de amor por ti deveriam começar a partir de agora. Gosto de ti por que és uma das dez maiores potências econômicas do mundo, produzes alimentos em grande escala, tens clima agradável e a melhor comida. Não é justo te amar só durante as Copas, mas sempre!




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Brasil: futebol colossal



Brasil: futebol colossal

Professor Nazareno*

            O Brasil tem o melhor futebol do mundo. Essa é a mais pura verdade. Cinco vezes campeão do mundo, não tem mais o que crescer nesse esporte. Seus atletas estão espalhados pelos quatro cantos ensinando a arte de se jogar o “esporte das multidões”. Da China, da Austrália até aos países da América do Sul passando pela Europa e Estados Unidos os nossos heróis estão dando alegria por onde passam. O país participa apenas por participar de qualquer competição internacional. Tem os melhores jogadores do planeta e se quisesse já teria sido umas dez vezes campeão da Copa do Mundo.  No futebol, quase todos os participantes são inferiores aos nossos “eternos campeões”. O Brasil já teve times inesquecíveis como o que foi tricampeão em 1970 no México e que tinha Pelé e também o time de 1982 na Copa da Espanha que tinha Zico como estrela.
            Torcer pelo Brasil é como uma doença já impregnada na cabeça dos 213 milhões de habitantes. Quase todo mundo neste país o faz de forma natural e apaixonada. Amar incondicionalmente seus jogadores é a coisa mais sensata que fazemos de quatro em quatro anos. As autoridades daqui deveriam dar a esses deuses tudo o que eles pedissem, pois eles merecem. A Igreja poderia muito bem canonizar todos eles. São Neymar, São Philippe Coutinho, São Alisson, São Miranda. Já pensou na alegria de ver a imagem santa de cada um deles enfeitando as igrejas e templos espalhados pelo Brasil inteiro? Os caras jogam demais. Seria muito bom que o prefeito de Porto Velho e o governador Daniel Pereira trouxessem os heróis para se apresentar na “Arena Aluizão”. Eles têm que vir a Roraima. Imagino um filme com eles: “23 homens e um destino”.
            Não entendo porque o Governo Federal não diminui o salário mínimo e com a economia recompensaria melhor esses gloriosos atletas. Cada professor, cada médico, cada advogado, cada profissional liberal deveria ter seu salário achatado para esse fim. O que eles fizeram nesta Copa da Rússia não há dinheiro que pague. Encheram o país de alegria e comoção. Resgataram a nossa autoestima e a vontade de sermos brasileiros. No último jogo, por exemplo, o time jogou com garra e com alma. Foi bravo o tempo todo ao nos representar. Todos esses heróis do povo brasileiro deviam se candidatar para nos governar. O Brasil é uma potência emergente com o colossal futebol que joga. Ganha e convence a todos. O futebol nos dá uma melhor qualidade de vida, boa mobilidade urbana, bons hospitais, saneamento básico e reconhecimento internacional.
            O “esporte dos deuses” deveria ser ensinado e também obrigatório das escolas primárias às universidades. Em toda entrevista para emprego, pelo menos cinco perguntas deveriam ser sobre esse esporte. Nas missas e nos cultos pelo menos 10 minutos deveriam ser dedicados a esses valentes e guerreiros cidadãos. A camisa amarela do nosso “esquadrão de ouro” devia ser obrigatória no trabalho, nas escolas e também no dia-a-dia para todo habitante brasileiro. Camisa, não. Uma segunda pele. Uma espécie de manto sagrado. Falar mal da seleção devia ser criminalizado. Neste último jogo, por exemplo, o Brasil arrebentou: dominou o adversário do começo ao fim da partida. Só deu Brasil. Jogo de um time só: o nosso. Humilhado pelo hábil e brilhante futebol mostrado por nós, a Bélgica nada fez. Não atacou nem se defendeu. Pesarosos e leais, deixamos os coitados ganharem este jogo. Confiantes: “Brasil, rumo ao esgoto”.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A implosão dos viadutos



A implosão dos viadutos


Professor Nazareno*


Porto Velho é uma das piores cidades do Brasil para se viver. Isto é fato. Desde muito tempo o Instituto Trata Brasil mostra esta capital como sendo a pior do país em saneamento básico e água tratada. O lixo esparramado no meio das ruas, a falta de praças, de recantos de lazer e de jardins floridos completam o cenário dantesco da capital de Rondônia. E como se não bastasse esse “inferno na terra”, aqui falta também mobilidade urbana. Isso mesmo: uma cidade de pouco mais de 500 mil habitantes não consegue dar a seus moradores tranquilidade para se locomover. A capital há muito tempo já não tem linhas regulares e eficientes de coletivos para transportar seus cidadãos. Alguns ônibus velhos, sujos, atrasados e enferrujados circulam aleatoriamente pelas ruas e bairros. Culpa dos próprios habitantes e também da infame classe política.
Para piorar ainda mais esse contexto de terra arrasada que é Porto Velho, a classe política local, incentivada por pessoas simplórias e ignorantes, resolveu construir vários viadutos. Só que iniciaram e pararam por mais de dez anos. Muito tempo depois, deram continuidade às obras e agora, em plena época de eleições, começaram a ser inauguradas. Os trambolhos malditos infernizaram a nossa vida e tudo ficou por isso mesmo. Pior: o elevado da BR 364 com a Avenida Campos Sales, que teve sua inauguração questionada pela PRE, Procuradoria Regional Eleitoral, bateu todos os recordes de estupidez, falta de bom senso e também de mobilidade urbana. Além de estar projetada ao contrário, a polêmica obra piorou a locomoção dos moradores de pelo menos dois dos bairros da zona sul desta capital: o Tucumanzal e o São João Batista.
É bem capaz que os projetistas do “elefante branco” tenham raciocinado que nestes bairros só residem pessoas pobres. Quem mora na zona sul da cidade e tem parentes nos bairros citados ou vice-versa só perde com este arremedo de viaduto. Não há como visitar seus familiares sem gastar mais tempo e gasolina. O jeito agora é ir a pé mesmo. O itinerário aumentou em mais de 100 por cento para os infelizes. O “viaduto” infernizará suas vidas para sempre. A volta que se dará para chegar ao Tucumanzal é absurda. E para quem mora no bairro em frente, o São João Batista, o caos ficou ainda pior. Se quiser ir ao “açougue” João Paulo Segundo, deve fazer o contorno pelo antigo Trevo do Roque. Já pensou numa emergência? Têm que IMPLODIR aquilo ali. Traria mais tranquilidade, economia, conforto e mobilidade para os moradores das adjacências.
E pensar que tudo isto poderia ter sido evitado. A zona sul de Porto Velho tem mais de 100 mil habitantes e apenas uma entrada e uma saída. Por isso que existe tanto congestionamento. Era só ter criado uma ou duas novas ruas ligando o centro da cidade direto à Avenida Jatuarana sem passar pela Campos Sales ou pela BR 364, ali perto da Escola João Bento da Costa. Parece que não há bons arquitetos por aqui. Ou então a classe política não iria aceitar, pois construir viadutos deve ter verbas maiores. O governador Daniel Pereira deveria comprar toneladas de dinamites para implodir não só esses viadutos imprestáveis, mas também a ponte escura e inútil do rio Madeira e várias outras obras desnecessárias que só pioraram a já caótica vida dos nossos moradores. Eu implodiria as Três Caixas d’Água. Rondônia tem que começar de novo. Com novos políticos e administradores. E um novo povo. Será que vão mudar tudo nestas eleições?




*É Professor em Porto Velho.