sábado, 7 de julho de 2018

Brasil, agora eu te amo!


Brasil, agora eu te amo!



Professor Nazareno*

            
         Brasil, tu perdeste mais uma vez a Copa do Mundo de Futebol. Foste derrotado pelos civilizados belgas por 2 X 1. Lamento te informar, mas eu estava torcendo o tempo todo para que isso acontecesse. E de fato aconteceu, graças ao excelente futebol apresentado pela Bélgica, pois este esporte se ganha com resultados e não com circo. Eu sempre torci contra o teu fraco futebol. Lembro-me vagamente somente de duas Copas em que torci por ti: 1970 no tri e em 1982 na derrota para o Paolo Rossi. Ali eu via um futebol de primeira. Tu, Brasil, conheces a Bélgica? Sabes o que acontece por lá? Sabes como vive o povo daquele país? Sabes por que ele figura sempre entre as melhores qualidades de vida do mundo?  Os belgas, os croatas, os dinamarqueses, suecos, suíços, enfim todos eles torcem o tempo todo pelos seus países, tenha Copa do Mundo ou não.
            Tu, Brasil, talvez sejas tão triste e infeliz porque teus filhos só te reconhecem de quatro em quatro anos durante este campeonato. Não fosse isso, certamente tu nunca terias tido uma única demonstração de afeto, de amor. Bandeiras colorem as sacadas, ruas são enfeitadas com as tuas cores, carros particulares portam pequenas bandeirinhas verde-amarelas, capuzes são todos decorados, manifestações espontâneas de “eu te amo, Brasil!” é só o que se observa nestes tempos. Em 2018, por exemplo, estas hipócritas e atemporais demonstrações de afeto por ti começaram exatamente no dia 17 de junho conta a Suíça e terminaram 19 dias depois em 06 de julho contra a Bélgica. Amor dos teus filhos por ti, cara, só agora daqui a quatro anos na Copa do Qatar. Isso se tu conseguires se classificar em umas eliminatórias cada vez mais difíceis. Vás a Doha?
Sacanagem o que fazem contigo, meu caro. Demonstrar amor só a cada quatro anos é um absurdo. Devíamos fazer isto diariamente. Eu sei que há mais de 518 anos tu esperas isso de teus filhos. Como seria bom que este “patriotismo de ocasião” se estendesse pelo menos até três de outubro próximo quando vamos escolher um time que, antes de levantar uma taça apenas, te erguerá para o futuro. Mas eu te amo, Brasil! Talvez até mais do que a minha França, pois te conheci bem antes dela. E quero tudo de bom para ti. Quero que te livres da corrupção que te dilacera o organismo. Sou brasileiro e por isso também desejo que teus filhos sempre escolham os melhores administradores para te comandar. Quero que tenhas qualidade de vida, que tenhas reconhecimento mundial, justiça social, paz e que a tua desigualdade social seja extinta.
Quero também que o teu salário mínimo seja maior e compatível com o trabalho exercido. Quero que tenhas a educação da Bélgica ou da Suíça. Choro pelos teus 60 mil assassinados ao ano. Lamento que em Rondônia ainda exista um “açougue” como o João Paulo Segundo. Triste por que a pouca leitura de mundo aqui não escolherá bem os próximos governantes. Choro por todos os teus policiais mortos. Pelos viadutos tortos e pelas pontes escuras. Choro pelo tanto que te humilham e te roubam. Quero que os teus ladrões sejam punidos na forma da lei. Como seria bom, Brasil, dizer que “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre é só uma invenção. Todas as demonstrações de amor por ti deveriam começar a partir de agora. Gosto de ti por que és uma das dez maiores potências econômicas do mundo, produzes alimentos em grande escala, tens clima agradável e a melhor comida. Não é justo te amar só durante as Copas, mas sempre!




*É Professor em Porto Velho.

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