domingo, 28 de junho de 2015

Sofrência: quadrilhas sem futebol



Sofrência: quadrilhas sem futebol


Professor Nazareno*

          
           O Brasil sempre foi um país fracassado em quase tudo. Em termos de lazer e cultura, por exemplo, todas as vezes se apresentou como um grande fiasco. Mas agora a situação nestes setores, como se fosse possível, está muito pior. No futebol, deixamos de ser uma potência já há um bom tempo. Desde a humilhante e mais do que justa derrota por 7 X 1 para a Alemanha pela última Copa do Mundo não tínhamos outra notícia tão boa como agora:  graças a Deus, fomos eliminados da Copa América pelo Paraguai e possivelmente não vamos nem participar da próxima Copa na Rússia em 2018. O futebol, que ajudava a alienar as massas ignaras, perdeu totalmente o seu prestígio, a sua função e o seu valor com as roubalheiras colossais na FIFA e a prisão de vários dirigentes da entidade. Para enganar os trouxas, deve-se inventar outra coisa.
            As festas juninas espalhadas pelo Brasil afora neste meio de ano bem que poderiam substituir o futebol no imaginário do povão. Existe coisa mais bisonha e absurda do que estas comemorações de São João? Aliás, ninguém sabe direito o que estas festas homenageiam. Geralmente são pessoas comuns fantasiadas de matutos dançando algo “sem pé nem cabeça”. Para que se fantasiar de jecas se já o somos? Em termos de vestimentas não há muita diferença entre os brincantes e as tolas pessoas que a eles assistem. Em Porto Velho, por exemplo, são as escolas que fazem seus arraiais todos os anos. “Arraiá do cumpade fulano, arraiá do cumpade beltrano”. Fala-se assim mesmo como se matutos fossem e escreve-se tudo errado como se precisassem de festejos idiotas e toscos para assassinar a gramática normativa da nossa língua.
            O mais interessante nestas festas, no entanto, são as quadrilhas. Outra tolice sem tamanho fazer festa caipira para dizer que se tem uma: o brasileiro está tão acostumado com esta palavra, pois rouba e é roubado diariamente, que também não precisava se expor de forma ridícula só para dizer que pertence a uma quadrilha. Talvez seja mesmo um dado cultural que faz parte da nossa triste realidade. Tem quadrilha da Assembleia Legislativa do Estado, tem quadrilha da Câmara de Vereadores, tem quadrilha do Detran, tem quadrilha em tudo que é repartição pública. Por que não ter quadrilha nas escolas também?  Difícil saber qual a mais atuante. Já as comidas típicas servidas nestes ajuntamentos de gente, geralmente à base de milho, são gororobas intragáveis e “crocantes” devido ao excesso de poeira onde são servidas. Para que higiene na roça?
            E como tem muita gente, e eleitores, o Poder Público se faz presente e até patrocina muitas destas brincadeiras. Este ano o Flor do Maracujá, “o maior arraial sem santo” do Norte do país será realizado em julho em vez de junho e será no Parque dos Tanques, talvez para homenagear os desabrigados da última enchente histórica do rio Madeira. Nenhuma novidade se os festejos de São João em Porto Velho fossem realizados dentro do teatro estadual, assim ele teria alguma serventia. Afinal de contas o famoso arraial cedeu-lhe desnecessariamente o terreno. Com o aumento da gasolina, da energia elétrica, dos alimentos e da roubalheira do PT e dos governantes em geral, o brasileiro precisa de circo para esquecer suas mazelas e agora sem o futebol as preocupações oficiais aumentam: pode haver uma revolução de verdade. Ballet, quadrilhas, Boi, futebol, pamonhas e canjicas. É a cultura “entorpecendo” os incautos.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ballet numa casa de Pagode



Ballet numa casa de Pagode

Professor Nazareno*

            Mesmo sendo uma cidade considerada como o fim do mundo, Porto Velho, a esquecida e imunda capital das “sentinelas avançadas” por incrível que pareça recebeu uma companhia de balé internacional para uma inédita apresentação de apenas uma noite. O Russian State Ballet, uma seleção dos melhores bailarinos profissionais da Rússia, fez uma magnífica apresentação na capital dos rondonienses. Até aí tudo absolutamente dentro da normalidade uma vez que a embaixada russa em Brasília, assim como o Ministério do Exterior daquele país, tem como objetivo incentivar e popularizar esta dança em todo o Brasil e por isso este evento deverá percorrer todas as outras capitais brasileiras. O ineditismo do fato, no entanto, foi a escolha do local de apresentação do espetáculo: a Talismã 21, uma renomada casa de shows na periferia.
            Considerada como uma das melhores casas de espetáculos de toda a região Norte do país, a Talismã 21 já deu mostras de sua notória competência e organização, não só para shows artísticos, mas principalmente para festas de formaturas e outras solenidades de grande porte. O problema é que a cidade de Porto Velho tem teatro. Logo dois: o Banzeiros, da Prefeitura Municipal e o outro “o maior teatro sem alvará do país” localizado na Esplanada das Secretarias bem no centro da capital. A companhia russa de dança deve ter estranhado o fato de ter que se apresentar em uma casa “pouco convencional” para esse tipo de espetáculo. Aliás, em quase todas as outras capitais, os russos se apresentam em amplos teatros e Centros de Convenções, coisas raras aqui. E mesmo sem entender balé, todos ali preferiam Tchaikovsky a barulhentas centrais de ar.
            Mas valeu a pena, mesmo com uma hora de atraso e sentados em cadeiras de plástico. Numa cidade onde pagode, toada de boi-bumbá e músicas caipiras, o famoso “sertanojo” universitário, dão o tom musical das quentes e tristes noites, qualquer atração diferente já nos traz curiosidades. Apesar do alto preço, havia muita gente. Incrível, mas portovelhenses curtindo ballet deve ser coisa do outro mundo mesmo. Por isso, na entrada da casa de shows, viam-se vendedores ambulantes e também pessoas comuns, todos curiosos, perguntando o nome do pagodeiro que estava cantando. “Não é cantor de pagode, não, maninha!”, dizia a espantada piriguete com sua roupa curta. “É um monte de gente dançando como se fossem aquelas apresentações de Boi”, disse. Aí, outra matuta completou: “é Boi, sim. Até ouvi uma toada. Deve ser o Corre Campo”.
            Numa “currutela” que nunca valorizou cultura nenhuma, uma vez que o Arraial Flor do Maracujá jamais teve lugar e data certa para acontecer, as festas juninas são geralmente realizadas em setembro ou outubro e o carnaval é no meio do ano, realizar um glamouroso espetáculo de ballet fora de um teatro de verdade é algo perfeitamente aceitável. Fatos bisonhos dessa natureza combinam com Rondônia, com seu povo e com suas autoridades: Porto Velho tem uma ponte, mas sem iluminação. Tem um Espaço Alternativo para caminhadas, mas está inacabado e também às escuras. Tem vários viadutos, mas como não foram terminados, estão apenas enfeando ainda mais o que já era feio e cujas carcaças estão para cair em cima dos transeuntes. Dançar “O Lago dos Cisnes” por aqui é como jogar pérolas aos porcos. Espero que os nobres bailarinos russos não tenham sido obrigados a tomar tacacá ou a comer angu com banana frita.
           


*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sonhei morando no Inferno



Sonhei morando no Inferno


Professor Nazareno*

               Esta noite eu tive um sonho de sonhador”. Maluco também que eu sou, não sonhei que a terra tinha parado como na música de Raul Seixas. Sonhei que estava morando no Inferno. Isso mesmo: na residência do Tinhoso. E fiquei espantando com tudo o que vi na casa do Capeta. Não esperava ter encontrado nada do que encontrei. A começar pela temperatura daquele lugar. “Mil graus à sombra” era o que se dizia. Um calor infernal, no bom sentido da palavra. Tudo mentira. A temperatura no Inferno, pelo que pude observar, mal chega aos quarenta graus. Claro que a umidade relativa do ar incomoda um pouco, pois é muito alta. Frio não existe. Pelo menos aquele frio de nevar ou gear é impossível. De vez em quando, no entanto, sopra não se sabe de onde, uma brisa gostosa. Os habitantes ficam todos eufóricos, já que isto não é nada comum ali.
            Por ser um lugar muito (mal) falado, pensei que encontraria lá coisas estranhas e demoníacas. Engano meu. O Inferno, por incrível que pareça, é um lugar bom. O Satanás-mor, dirigente maior de todas as dependências dali, é quem dá as cartas, claro. Mas é muito difícil vê-lo entre os seus. E também entre os meus, os nossos e os vossos. Parece ser uma criatura muito ocupada. E não é para menos: todo dia tem festa no “braseiro”. Tem personalidades de todos os tipos como cantores, médicos, coreógrafos, poetas, dramaturgos e alunos. Muitos alunos mesmo, principalmente os que não leem. Vi também algumas “piriguetes” e “emos” nas festas, mas nada que se possa generalizar, é verdade. Tudo muito bem organizado. E mesmo sendo o Inferno não se pode comparar com certos lugares que mais se parecem com “cabarés sem a madame”.
            Não vou lhes enganar, mas pensei que encontraria lá muitos pastores, padres, freiras, bispos, papas e outros religiosos chatos. Engano de novo: não encontrei um só. Acho que todos estão no Céu. Ninguém vê ali os papa-hóstias e também aqueles pregadores bíblicos. Parece que nunca deram as caras no “mármore quente”. Pudera: naquelas trevas não existe a Parada do Orgulho Gay nem a Marcha para Jesus. Então deve ser por isso que o Capiroto não quer a presença desse pessoal por lá. Mas lembro-me bem de que estavam organizando uma tal de “Marcha para os Ateus” e também uma “Parada do Orgulho Hetero”. Dizem à meia boca que as ruas do Purgatório se encherão de gente nestes eventos. Preocupado, procurei desesperado por um grande amigo meu que tinha a certeza de que estava lá. Era o poeta Carlos Moreira. Decepção: não estava.
            Os leitores estão pensando que muitos dos políticos brasileiros vão para as profundezas. Outro engano: não se vê nenhum deles ali. Deve ser por que ajudam muito o sofrido povo e por isso o Diabo se compadece com a “boa atitude”. Fiquei surpreso, já que não vi nenhum político de Rondônia como porteiro do Cão. Vi muitos escritórios vazios de personalidades como Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, Da Vinci, Michelangelo, Nietzsche, Mahatma Gandhi e até de Shakespeare e Sartre. Machado de Assis, Fernando Pessoa e Euclides da Cunha, já estiveram naquele lugar sinistro. Percebe-se isto pela grafia de algumas palavras escritas em Português, a língua dos infernos. Toda semana o “chefe-mor” dali recebe um emissário do Céu. Eles conversam muito sobre todos os assuntos. Inferno, um lugar até bem frequentado com sua ponte escura e também com alguns de seus viadutos inacabados. Será coincidência?





*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Brasil: série C do futebol mundial



Brasil: série C do futebol mundial

Professor Nazareno*

            No futebol a seleção brasileira já foi muito boa. Foi. Com cinco títulos mundiais conquistados, o “time canarinho” metia medo em qualquer adversário e era atração certa por onde jogasse. Hoje, o desacreditado e praticamente falido futebol brasileiro não é nem a sombra do que já fora um dia. Depois das humilhantes derrotas por 7 X 1 para a Alemanha pela Copa do Mundo de 2014 e por 3 X 0 para a Holanda, a nossa seleção está se especializando em dar vexame toda vez que entra em campo. Viramos um fiasco. Desta vez foi uma humilhante derrota por 1 X 0 para a outrora fraca seleção da Colômbia na Copa América realizada no Chile. A antes temida e respeitada seleção de futebol nacional foi vencida e dominada em campo atuando como se fosse o bisonho time do Genus de Porto Velho quando joga no Aluízio Ferreira, a “Arena de Rondônia”.
            Perder pelo placar de apenas um gol para uma equipe mediana como a Colômbia não seria tão desastroso se a nossa capenga e fraca equipe não tivesse jogado tão mal. Os colombianos nos deram um show de futebol. Cuadrado, James Rodrigues, Falcao García, Zúñiga, Valencia e companhia mostraram para os medrosos e ruins jogadores brasileiros com se faz para vencer uma partida de futebol. A desculpa foi a de que Neymar está enfrentando problemas fiscais na Espanha e por isso jogou mal. Se fosse assim, o futebol mundial estaria à beira da falência, pois a FIFA está envolvida até o pescoço em roubalheiras e maracutaias e nem por isso os praticantes deste esporte abdicaram de suas funções dentro de campo. Agora, para se classificar à próxima fase da competição, o Brasil precisa fazer, pasmem, um bom resultado diante da Venezuela.
            A situação do nosso futebol está tão precária e em franca decadência que hoje o Neymar é o único jogador conhecido do Brasil. Sem ele, a nossa seleção não joga absolutamente nada. Se ele joga mal, o Brasil perde, como agora contra os colombianos. E a prova maior disso foi durante a última Copa do Mundo. E nas atuais circunstâncias, é quase impossível para um brasileiro comum dizer o nome de outro jogador da seleção. Totalmente desconhecidos pela população do país, os fraquíssimos atletas até que se esforçam dentro de campo, mas o resultado quase sempre é o mesmo: derrotas vergonhosas e humilhantes para times de segunda linha. Com este futebol medíocre e apagado, não será nenhuma surpresa se o Brasil não se classificar para a próxima Copa do Mundo. Além da Colômbia, ainda temos Argentina e Uruguai pelo caminho.
            Além do mais, seleções como Chile, Paraguai, Peru e até a Bolívia jogando no alto de La Paz, são obstáculos quase intransponíveis para a nosso fraco futebol. Imagine-se jogando assim contra seleções de primeiro nível como Alemanha, Itália ou Holanda. Seremos destroçados pelos europeus. Apesar da baixa qualidade de vida no nosso país, da corrupção sem fim e dos inúmeros problemas sociais, era o bom futebol que salvava a imagem do Brasil no exterior. Agora, nem isso. Não somos mais a pátria do futebol. A Europa com seus ricos campeonatos, seus inúmeros clubes de extrema grandeza, sua impecável organização e o interminável desfile de craques de primeira linha é agora a terra do futebol arte de verdade. Para os incautos torcedores daqui só resta a “alegria” de ver bizarrices como Genus X VEC, Guajará X Ariquemes ou então vibrar com as jogadas de desconhecidos como Firmino, Miranda, Filipe Luís ou Elias.




*É Professor em Porto Velho.