quarta-feira, 31 de março de 2010

Adeus, Cassol! Não volte mais não! Por favor!


Já vai tarde, Ivo Cassol!


Professor Diogo Tobias Filho*


Finalmente, Ivo Cassol toma uma atitude que agradará todos os funcionários públicos que trabalham com sofreguidão e sofrem no bolso o maior arrocho salarial da história de Rondônia depois do famigerado governo de Oswaldo Pianna: o flagelo da educação deixa o comando do executivo para se candidatar ao Senado. Capitaneados pelos trabalhadores da educação, o momento da saída não poderia ser mais conturbado com professores e os funcionários de apoio em greve, saliente-se, deveras justa, em virtude da situação de miséria que perpassa a classe, tendo que recorrer aos empréstimos descontados em folha na ilusão de sanar as agruras pela sobrevivência, agravadas desmesuradamente nos dois mandatos do Sr. Ivo Cassol.

Para os educadores, excetuando-se os nababos dos cargos de confiança que estão longe da sala de aula, Ivo Cassol já vai tarde. Que sua partida não seja sinônimo apenas de um “até breve” e se consolide num irreversível “adeus” no comando do executivo. Apesar do título de “doutor honoris causa”, o flagelo da educação não é lá esta maravilha, mormente se achar expert em administração pública. Uma análise acurada do seu governo mostra claramente que, diferente dos seus antecessores, herdou de José Bianco uma máquina mais equilibrada dentro do contexto de crescimento econômico e controle fiscal do país nos anos de FHC. Bianco “pagou o pato” e Cassol levou a boa-fama de uma herança que não lhe pertencia. Ainda teve a sorte de Rondônia receber a maior injeção de dinheiro do Governo Lula em obras do PAC.

No âmbito de uma carga de impostos sufocante, entendo sua administração como fraca, pífia. Nenhum projeto de vulto na segurança, saúde em coma, apenas se dedicou a distribuir feijão, construir prédios do Idaron, jogar futebol com seu staff de pernas-de-pau e assentar camadas de piche em alguns parcos estradões de barro onde existem concentrações de votos. Criou com o dinheiro público uma teia de cargos para lhe servir de base, acomodando seus arrogantes cabos eleitorais, independente do quesito competência. A educação foi praticamente aniquilada durante sete anos sem alvissareiros avanços, nenhum projeto nobre, nada além do que esbanjamento de dinheiro público num hotel de luxo da capital em cursos inócuos. É lastimável para uma legião de homens e mulheres portadores de diplomas, ostentando os títulos de professor e técnico, perder sucessivas batalhas numa guerra de feijão e piche contra o império cassolista.

Entretanto, como não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe, grande parte do funcionalismo público renova a partir de abril, suas exíguas esperanças, perdidas em razão do arrocho salarial, das humilhações e sucedâneos porque o que recebem não lhes dá um sustento digno como tipifica a cidadania social. Oxalá, a cena final desta administração marcada pelo conflito dos desiguais, entre a nobreza da roça e camadas proletárias urbanas, resuma-se no cortejo do Sr. Ivo Cassol e seus áulicos, numa chegada suntuosa à dócil e subserviente Assembléia Legislativa, destacada pela fila indiana de carros importados, na frente dos quais rugirão raivosamente centenas de professores e funcionários de apoio, gritando emocionados como palavras de ordem: “adeus, flagelo da educação!”.



*O autor é professor de filosofia em Ji-Paraná – (Email: digtobfilho@hotmail.com / BLOG: digtobfilho.blogspot.com)


terça-feira, 30 de março de 2010

Será que o PT vai também queimar gente?


Petistas queimam livros. Queimarão pessoas?


Professor Nazareno*


Foi na greve dos professores do Estado de São Paulo. Os grevistas, controlados pelo PT, Partido dos Trabalhadores ou também “Partido do Mensalão”, fizeram a mesma coisa que os Nazistas em 1933. A propósito disto, o poeta alemão de origem judaica, Heinrich Heine, afirmara em 1821: “Aqueles que queimam livros, acabarão cedo ou tarde por queimar homens”. Em Rondônia já houve o caso de um estudante que queimou “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Foi na Faculdade de Jornalismo da Uniron há dois anos. Esse Index local infelizmente vez ou outra “se levanta contra os meus textos bobos”. Muita gente metida a intelectual, jornalistas inclusive, gostaria de ver meus artigos arderem no fogo. Gostaria até de me incendiar vivo, se pudesse. Faltariam tochas e capuzes para este “motim medieval”.

Queimar livros por causa de uma greve que reivindica aumentos salariais é absurdo. Em Rondônia, a maioria dos professores e dos trabalhadores em educação também está em greve sob as ordens do Sintero, o sindicato da categoria. Braço político do PT, esse sindicato sempre esteve a serviço da eleição de vários integrantes e ex-dirigentes. Roberto Sobrinho foi um dos primeiros. Depois Manoel do Sintero, o vereador José Wildes, o ex-deputado Nereu Klosinski e agora Claudir Mata, a atual presidente do órgão, será provavelmente candidata a algum cargo político, talvez Deputada Estadual, pelo PT é claro. Quem sabe se não é por isso que os grevistas “já dormem” até na Assembléia Legislativa? Claudir quer se familiarizar com o ambiente e por isso já conta com os votos dos seus fiéis seguidores.

Não há nenhuma ilegalidade em se usar a estrutura de um sindicato legalmente constituído para se fazer carreira política. Pode até ser legal, mas é imoral. A política sindical não deveria ser misturada com a política partidária. Elas são díspares, defendem coisas distintas e têm objetivos diferentes. Sindicato que se aproxima perigosamente da estrutura governista corre o risco de se tornar “pelego”. E nesta greve, onde um grupo político tenta se sobrepor a outro, quem leva desvantagem é o aluno. E não adianta dizer que as aulas serão repostas. Quem vai fazer o Enem ou o vestibular da Unir, no caso dos alunos que estão terminando o Ensino Médio, precisa ter aulas sem interrupção. É a pura verdade, mas se insiste em afirmar o contrário. É prejuízo na certa. Vestibular nunca esperou por grevistas.

A Prefeitura de Porto Velho, também controlada pelo PT, não paga um salário decente aos seus professores. Por isso esta greve ao ser comandada por “políticos profissionais que querem ser eleitos brevemente e que são ligados ao Partido dos Mensaleiros” soa meio esquisita, hipócrita até. Não é muito bom que as reivindicações sejam apenas por melhores salários já que a qualidade de ensino nas escolas públicas não é debatida nem levada em consideração, tanto por grevistas como pelas autoridades da Seduc e do Governo como um todo. De que me adiantam, como professor, uns trocados a mais no bolso se o principal não se discute? Toda greve na educação deveria abordar primeiro estes fatos. Da estrutura física das escolas até a valorização da educação e do educador.

A classe política local sinaliza que não quer discutir o problema. Deve estar “ocupada” com suas “leis e projetos”. A comunidade não se pronuncia. Parece até que não será afetada. O Governo, intransigente, diz não haver disponibilidade de caixa para atender às justas reivindicações dos grevistas. E nessa absurda guerra de vaidades, todos perdem. A sociedade se embrutece e compromete ainda mais o seu futuro. Nós professores ganhamos uma miséria, sim. E no país inteiro. Todos sabem disto, mas ninguém nada faz. Nem o Partido dos Trabalhadores. Nem Cassol, nem Sobrinho, nem Lula, nem Dilma, nem Serra. Tenho medo de que essa queima de livros em São Paulo possa desencadear outras ações mais duras por parte dos petistas e dos grevistas de lá e daqui: vão agora querer queimar alunos e também quem é contra os seus insanos movimentos grevistas que prejudicam a todos?


*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento em Porto Velho.


sábado, 27 de março de 2010

A grande "jogada" da nossa Casa de Leis...


Assembléia Legislativa “reinventa” Montesquieu


Professor Nazareno*


Não resta a menor dúvida da importância de um Poder Legislativo para respaldar um regime democrático, mesmo no Estado de Rondônia, onde as coisas mais absurdas acontecem em quase todas as áreas, inclusive na política, essa premissa deve ser levada a sério. Montesquieu com a sua Teoria dos Três Poderes lançou as bases para o Estado moderno e hoje grande parte das nações segue este roteiro. E Rondônia não é muito diferente neste aspecto. O problema é que por aqui a função do Legislativo tem extrapolado os limites do bom senso e do aceitável: uma Lei proposta pelo deputado Jesualdo Pires do Partido Socialista Brasileiro acaba de ser aprovada pelo nosso Poder Legislativo. “Todo cidadão rondoniense já pode defecar nas rodoviárias do Estado e não pagará nada por isso”, anunciam solenemente os comerciais pagos na mídia.

Essa piada de mau gosto indica o fim do Poder Legislativo no Estado de Rondônia. A importância dessa lei para a população é de fazer inveja ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Algo digno da Conferência de Yalta na Criméia ou do Tratado de Versalhes. Como pode um Poder legalmente constituído legislar sobre uso de privadas em terminais rodoviários? Depois de "devolver" dinheiro ao Executivo por absoluta incompetência e falta de projetos, a Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia proporciona mais este "mico" para o anedotário popular. Depois do “Futebol com Pimenta” e da “Ponte sem Estradas”, só faltava esta. Rondônia e os rondonienses somos achincalhados no mundo inteiro por causa destas tolices, deste absurdo extemporâneo. Deve ser por isso que a futura casa de leis será construída onde funcionava um circo. Basta acessar o Google Earth para constatar a triste ironia.

Precisamos de um Legislativo mais forte e atuante e que fiscalize as ações do Poder Executivo. O Estado vive uma greve na Educação com prejuízos para todos. Estamos sobrevivendo a uma pandemia horrorosa de dengue com vários casos de mortes. A Gripe Suína está perigosamente se aproximando. O Estado ainda não está preparado para a ressaca “pós-usinas” e precisa de ações urgentes neste sentido. A energia gerada por aqui não ficará no Estado. A questão ambiental precisa ser debatida. E enquanto isso “os caras” se reúnem para legislar sobre “defecar em rodoviária”. Precisamos de outro Legislativo, pelo visto. Não daquele que foi filmado pelo Governador Ivo Cassol, mas de um que realmente trabalhe em cima de projetos sérios e de grandes relevâncias. Todo Poder Legislativo é importante para qualquer sociedade.

“Temos que ter orgulho de ser rondonienses. Temos de exigir respeito, já que somos desta terra”. Porém está cada vez mais difícil seguir aquilo que a própria Assembléia Legislativa manda fazer. Ela mesma não consegue dar o exemplo. Falta-lhe competência ou boa vontade. É possível, no entanto, ter a certeza de que esta atitude folclórica do deputado pode estar respaldada na “visão tacanha” da maioria do nosso eleitorado. Como povo somos uma desgraça, um fracasso mundial, uma gentinha mesmo. Os nossos legisladores estaduais são incompetentes porque incompetente é o povo em geral que os elegeu. E o pior é que vamos reeleger, com pequenas mudanças, estes mesmos senhores para a próxima legislatura. Falta-nos uma visão política maior. Talvez se crie outra lei depois dessa: dar o papel higiênico para os usuários.


*O Professor Nazareno leciona na Escola João Bento.


sexta-feira, 26 de março de 2010

Entenda a repercussão do caso Isabela Nardoni...


Caso Isabela versus ignorância alheia

Waldemar Neto*


Quase dois anos atrás, Isabela Nardoni, foi jogada da janela do apartamento de seu pai e de sua madrasta. A perícia inicial constatou que o crime efetivamente teria acontecido, pois havia vestígios grosseiros de que a grade de proteção da janela pela qual Isabela foi lançada tinha sido cortada. A partir daí iniciou-se uma pergunta: quem é (são) o(s) assassino(s) de Isabela Nardoni?

A acusação afirma categoricamente que tais assassinos são Alexandre Nardoni, pai de Isabela, e Ana Carolina Jatobá, madrasta da pequena garota. Essa acusação gerou indignação na população brasileira. Nas ruas ouviam-se pedidos acalorados de justiça e julgamentos prévios sem comprometimento legal algum. Grande maioria da população queria a cabeça de Alexandre e de Ana Carolina.

Esse caso atenta pra uma questão tipicamente humana: a crença de que todos podem julgar. Até que ponto o ser humano pode julgar alguém sem desempenhar oficialmente essa função? Isso é certo ou errado? Pode-se manifestar um julgamento em casos tão complexos como esse? Têm-se esse direito?

Sabe-se que o poder de júri é exclusivamente destinado aos jurados presentes num tribunal. Esse júri é o único responsável pela absolvição ou condenação do casal Nardoni. Populares até podem manifestar, afinal vive-se numa democracia, porém esse ato não é aconselhável. A população geral não conhece todo o processo pelo qual o casal é acusado; conhecem-se fragmentos dele. O que essa parcela da população sabe é devido à imprensa. Isso, direta ou indiretamente, deixa brechas para a injustiça.

Chamar o casal de assassinos é não dar a eles a chance de defesa, garantida por lei. Após o julgamento essa nomeação poderá ou não ser utilizada, antes disso deve-se considerá-los apenas réus. Julgar alguém sem ter esse poder é absurdo. Essa função é do júri, apenas ele decidirá o destino do casal Nardoni. Linchá-los, ou pelo menos tentar isso, como foi registrado logo quando o crime aconteceu, é uma atitude de extrema ignorância. O caso é revoltante, porém nada justifica a violência pra tentar resolvê-lo.

Nos dias que o julgamento ocorre nota-se uma semelhança expressiva com os observados na Idade das Trevas. Ignorância e ‘sede por sangue’ são bem visíveis nas portas do tribunal onde o caso de Isabela está sendo julgado. Os curiosos até parecem urubus a espera de carne podre para comer, ou melhor, leões esperando sua presa. Discussões e enfretamentos entre os defensores e acusadores, a maioria cidadãos comuns, de Nardoni e Jatobá já foram registrados nesse local; até parecem exímios detentores do poder de julgamento.

Dessa forma, o que se pode fazer é aguardar o julgamento da Justiça Brasileira. Só ela definirá o que acontecerá com os acusados. Dizer precipitadamente que alguém é culpado sem conhecer de fato o ocorrido, seja pelas provas da acusação ou da defesa, é incompreensível e contradiz a Constituição Brasileira. Se condenados o casal certamente cumprirá uma pena expressiva. Assim não há necessidade da participação de quem não está envolvido no caso. O povo já tem sua representação: sete cidadãos que compõem o corpo de jurados.


*Ex-aluno do Colégio João Bento da Costa


quarta-feira, 24 de março de 2010

O progresso está chegando... ou saindo?


Porto Velho: Futebol com Pimenta, Ponte sem Estrada!


Professor Nazareno*


Claro que não é brincadeira de mau gosto. Nem piada sobre as bizarrices locais, mas coisas incríveis andam acontecendo ainda nestas terras karipunas. O futebol da capital de Rondônia entra definitivamente para o rol de fatos inusitados e engraçados. Com times de nomes bisonhos e ridículos como Genus (sem acento mesmo) e Shaloon, o nosso precário “esporte das multidões” protagonizou recentemente algo digno de fazer rir o mais sisudo dos seres humanos: o jogo entre Moto Clube e o próprio Genus terminou à base de spray de pimenta lançado pelos policiais “convocados” para resolver um sururu durante uma partida que tinha uns cinco ou dez torcedores sentados nas sujas arquibancadas do Estádio Aluízio Ferreira, a “arena guaporeana”. Recorde de público no clássico porto-velhense. O mundo inteiro “se deliciou” com mais esta palhaçada rondoniense.

Se o futebol de Porto Velho não consegue dar alegria aos seus escassos torcedores, nas outras situações da vida cotidiana os resultados também não são nada animadores. Coube à Polícia Militar do Estado, por exemplo, protagonizar mais um mico para uma população que, em tese, deveria ter a proteção irrestrita da corporação. Óbvio que quem encenou Corumbiara para o mundo não pode servir de bom exemplo para ninguém mesmo. Já pensou se as autoridades sul-africanas se interessam pelo “know how” desenvolvido pela nossa PM para encerrar as partidas de futebol? A próxima Copa do Mundo teria cenas hilárias com pimenta em aerossol importunando as principais estrelas do futebol da atualidade. Ainda bem que Messi, Kaká, Rooney e Cristiano Ronaldo estão livres destes provincianismos tupiniquins.

Mas futebol é cultura, dirão alguns. Pode até ser, mas administrado desta maneira mais do que amadora desmente as mais conhecidas enciclopédias. Cultura é com absoluta certeza algo diferente. E muitas coisas por aqui são mesmo diferentes. O arraial Flor do Maracujá, para citar um pequeno exemplo. Existe coisa mais esquisita do que esta festa? As autoridades da cultura local já mudaram pela quarta ou quinta vez o endereço onde será realizado “o maior arraial sem santo do Norte do país”. Começou no centro da cidade, perto do Ginásio Cláudio Coutinho, migrou para a Esplanada das Secretarias, andou pelo Parque de Exposições e agora será no bairro Embratel. Mas é um bom sinal: está caminhando para fora do perímetro urbano, para a zona rural. Festa da roça tem que ser mesmo no meio de matutos e capiaus e bem no meio do mato, longe do que acreditamos ser a civilização. Espera-se que este ano ela não seja tão catinguenta como de costume.

Sem futebol, sem cultura própria definida já que está longe demais e não consegue sequer imitar Campina Grande, Parintins ou o Rio de Janeiro, resta aos porto-velhenses construir obras faraônicas sem nenhum sentido como uma ponte de 210 milhões de reais sobre o navegável rio Madeira. Isso sem ter nem a promessa de uma estrada para ligar a nossa capital até Manaus. Pior: Porto Velho será uma das poucas capitais do país que não verá a próxima Copa do Mundo pela televisão digital. Parece que o jeito é se arriscar mesmo “a levar spray de pimenta na cara” ou então ir aos incontáveis bares espalhados pela cidade e torcer pela seleção brasileira nos gramados da África do Sul. Enquanto isso, vemos os políticos “devolverem” o dinheiro do povo e dizerem que já podemos usar a “privada” da rodoviária sem precisar pagar por isso. Nada mal. Apesar de tudo, “estamos desenvolvendo”.


*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento em Porto Velho.


sábado, 20 de março de 2010

Brasil, um país sem leitores?


Falta de Leitura: De quem é a culpa?


Professor Nazareno*


Há alguns anos, um servente de pedreiro passou no Vestibular de Direito numa faculdade do Rio de Janeiro. Até aí tudo bem não fosse o incrível detalhe de que o indivíduo era analfabeto. O Ministro da Educação de então, professor Paulo Renato, ficou escandalizado com o fato. A comunidade acadêmica ficou em polvorosa. Foi um escândalo. Notícias foram publicadas a respeito, promoveram-se vários debates sobre o assunto. O MEC a partir de então, instituiu a obrigatoriedade de uma prova de Redação para todos os concursos vestibulares (tanto das universidades públicas quanto das particulares), pois acreditavam os sábios do Ministério estar criando assim uma barreira de competência quase intransponível para quem quisesse fazer um curso superior. Ops! Vestibular em faculdade particular?

Os alunos do Ensino Médio do país inteiro, salvo raríssimas exceções, produzem hoje um texto tão bom quanto o que produziria o nosso servente acima citado. Pouco ou nada foi feito para se equipar as nossas escolas de condições para ensinar como se produzir um bom texto. O mercado não tem bons profissionais na área. Muitos professores de Português e até mesmo de Redação não conseguem produzir uma simples lauda com coerência e clareza. A maioria das nossas escolas não tem sequer a disciplina Redação no Ensino Médio. Os mestres não lêem quase nada, pois livros custam caro. O povo não lê. A imprensa escrita, de um modo geral, apenas informa em vez de ajudar a formar. Livros são gêneros tão supérfluos e raros no Brasil quanto caviar de esturjão do mar Negro.

E não adianta muito criar clubes de leitura ou coisas do gênero. Colocar livros como componentes da cesta básica como até já sugeriu um Ministro da Educação é tão ridículo que beira a insensatez. Num país de gente famélica como o nosso, a atividade de ler e produzir um texto passou a ser talvez a mais descartável das ações humanas. Brasileiro não lê, reclamamos. Mas brasileiro come? É preciso reformular tudo, mudar tudo. Fazer uma revolução. A atividade de ler deve sim, começar desde cedo, em casa e incentivada pelos pais. “Um país se faz com homens e livros” (que sejam lidos, é claro). As escolas deveriam cobrar diariamente dos seus alunos a produção de um texto escrito como se fosse uma espécie de ordem do dia.

Além disso, a mídia deveria contribuir com programas de incentivo à leitura e não com essa programação imoral, alienante e sem sentido. Big Brother, Faustão, Xuxa, a Fazenda, Gugu, os programas policias e outras porcarias do gênero deveriam ser extintos da grade de programação, pois nada ensinam e só deturpam e entorpecem a já deficiente e confusa mentalidade do brasileiro. Que contribuição um programa policial dá à cultura e ao país em termos de conhecimento? Geralmente apresentados por psicopatas ou alienados, esses programas são verdadeiros shows de desrespeito aos direitos humanos, de incentivo à cultura da “justiça com as próprias mãos”, além de propagar a desigualdade social entrevistando só os bandidos pequenos, aqueles “que só falam em juízo”.

Infelizmente não será essa greve de professores ou outra qualquer que vai resolver este delicado problema. Nem aqui nem em qualquer outro lugar do país. As eleições já se aproximam e de novo nenhum alento no horizonte. Vamos reconduzir aos cargos para nos governar os velhos de sempre: mensaleiros, sanguessugas, corruptos, mentirosos, ladrões, compradores de votos, estelionatários, bandidos e enganadores de fé alheia. Os raríssimos eleitos que têm compromissos com a educação, com a cultura do povo, se perderão no “oceano de mediocridade” em que se transformou a política nesta nação de semi-analfabetos. O Brasil só vai mudar quando a maioria do “e-leitor” se conscientizar da importância do ato de ler para promover as transformações sociais de que tanto necessitamos para o nosso progresso. Só que estamos a “anos-luz” desta realidade, desta utopia. Uma pena.


*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento em Porto Velho.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Greve na educação: só o aluno perde.


“A corda sempre arrebenta do lado mais fraco!”


Professor Nazareno*



Dizer que a atual greve dos profissionais em educação do Estado de Rondônia é justa e que já deveria ter sido deflagrada há muito tempo é apenas dizer o óbvio. Não pelo fato de eu ser professor, mas por que somos uma categoria desvalorizada em todos os sentidos e quase sem perspectivas de vislumbrar melhorias financeiras em curto prazo. Pode até faltar ao nosso sindicato, o Sintero, sensibilidade política, como muitos afirmam por “apenas” fazer movimentos reivindicatórios em anos de eleições, mas o sindicato não é somente uma diretoria, é o todo. E tenha eleição ou não, o professor nunca teve um salário digno para que não se justifique uma greve, uma paralisação.

E o problema não é o Governo Cassol, apenas. Não é e nunca foi. E também não é por causa das propagandas mentirosas sobre educação veiculadas por este governo. O problema são todos os governos do Brasil: direitistas, esquerdistas, de centro, comunistas, ditadores, democratas, liberais, petistas ou de qualquer outra espécie. Na História recente ou antiga desta nação, qual foi o governo que de fato investiu na educação ou nos educadores? Nenhum. E não por falhas no planejamento, mas principalmente por que nunca houve cobranças por parte da sociedade. Os brasileiros, de um modo geral, parecem que nunca perceberam a importância desse vital setor para o progresso deles próprios e também do país como um todo.

A participação dos pais na educação dos filhos é algo comum em países como a Coréia do Sul ou o Japão e que dispensam quaisquer comentários. No Brasil são raros os pais que estão preocupados com o que seus filhos estão aprendendo (e se estão mesmo aprendendo) na escola. Em Rondônia, a realidade deve ser ainda pior. Por isso, os investimentos são cada vez mais escassos e os governos afirmam nunca haver disponibilidade de caixa para atender as reivindicações dos grevistas como disse recentemente a nossa Secretária de Educação. Uma sociedade que não tem como pagar um salário digno a seus educadores não pode sonhar com nenhum desenvolvimento.

Infelizmente altos salários para os nossos professores não significam melhorias na educação, pois a maioria dos médicos em Porto Velho, por exemplo, ganham verdadeiras fortunas em salários pagos por este mesmo Estado e a saúde sempre foi um caos. Quem impediu esta pandemia de dengue? A maioria dos nossos alunos das escolas públicas, principalmente, são analfabetos funcionais como denunciou em recente e excelente artigo o deputado Leudo Buriti (Educação brasileira: entre a necessidade e a qualidade - leia artigo embaixo). Por isso, essa greve só vai piorar a situação destes pobres coitados. Vão ficar mais desinformados ainda. Pagarão de novo pelos erros cometidos historicamente por uma sociedade alheia aos benefícios da educação e muitos pais ainda se acomodam.

No Japão, é o Imperador que presta reverência a qualquer professor e não o contrário. Óbvio que ninguém daqui gostaria de ser reverenciado pelo Cassol ou mesmo por Lula. Queríamos apenas que eles, mesmo sendo semi-analfabetos, entendessem a importância do educador e da educação para o progresso e o desenvolvimento de qualquer país e que a melhoria da sociedade passa necessariamente pela sala de aula. Ainda que seja uma sala suja, quente, muito cheia, insegura, mal iluminada e sem nenhuma motivação. Deve ser por tudo isso que faltam tantos professores nas salas de aula de Rondônia e do resto do Brasil. E que não há concurso que consiga preencher as muitas vagas ociosas nessa profissão cada vez mais esquecida e, para muitos brasileiros, quase sem nenhum valor. Só que somos todos que pagaremos por mais este erro.


*É professor em Porto Velho.


O "resumo" da greve na Educação: quem perde?


Educação brasileira: entre a necessidade e a qualidade


Leudo Buriti*


Segundo dados publicados pela UNESCO, uma grande parcela dos alunos de diferentes níveis educacionais apresenta deficiências críticas no Brasil. É evidente o avanço no âmbito da educação ao longo dos tempos em nosso país. Entretanto, ainda conforme dados do referido órgão e publicados no relatório “Educação para Todos”, o Brasil está entre os 53 países que ainda não atingiram e nem estão perto de atingir os objetivos de “Educação para Todos até 2015”. Nosso país amarga a 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional, atrás dos países mais pobres da América Latina, como o Paraguai, o Equador e a Bolívia. Tais dados soam absurdos numa época em que se fala tanto dos avanços e “credibilidade” do país.

Mesmo sem pretender fazer uma análise profunda sobre o tema (complexo e, ao mesmo tempo, contraditório), alguns pontos merecem ser destacados. Sem ir muito longe, a imprensa do nosso Estado têm noticiado a greve de professores da rede estadual de ensino. De um lado, professores indignados com a proposta de reajuste salarial feita pelo governo, do outro lado, agentes públicos fechados ao diálogo, e no meio disso tudo está quem mais sofre – os alunos das escolas em greve. Constantemente é negado o direito à educação. Mal começa o ano letivo e as aulas são paralisadas. Porém, não queremos uma educação de qualquer modo. Educação é assunto para ser levado a sério. Precisamos dos nossos jovens e crianças em salas de aulas dignas. O mínimo de conforto é necessário para que se crie um ambiente propício à aprendizagem. Salas confortáveis, recursos técnicos e didáticos disponíveis, acervo bibliográfico atualizado para professores e alunos, acesso a internet, merenda escolar (sim, nem todos saem de casa devidamente alimentados), tudo isso faz parte ou, pelo menos, deveria fazer parte da nossa educação ou da preocupação daqueles que a conduzem.

Não se trata de utopia. Trata-se de necessidade urgente. Levar em consideração tais questões deveria fazer parte de todo e qualquer governo que se preocupa com a educação de seu povo. A “educação para todos” anseia, antes de qualquer coisa, por qualidade. É muito bom saber que pesquisas revelam que o acesso ao ensino fundamental está quase universalizado no Brasil, com 94,4% da população de 7 a 14 anos incluídos nesse nível de ensino. Pergunta-se: qual a real porcentagem dos alunos brasileiros que saem do ensino médio competentes em língua portuguesa e matemática (para ficar apenas nessas duas disciplinas?). Não é raro vermos professores espantados com o não domínio de regras gramaticais básicas por parte de seus alunos. As lacunas deixadas por uma educação de má qualidade no ensino fundamental refletirão durante toda a vida estudantil. Os problemas de interpretação textual, do ensino básico à universidade, são gritantes. Aprende-se ler apenas o que está explícito, aquilo que é óbvio. O que está apenas sugerido nas entrelinhas torna-se um imenso vácuo entre leitor e produtor do texto. Nem sempre quantidade é o suficiente.

E como falar de qualidade na educação sem falar em professores mal remunerados e desestimulados profissionalmente? Paga-se muito pouco àqueles que formam os nossos futuros médicos, advogados e dentistas. É vergonhosa a realidade salarial dos profissionais em educação no Brasil. Entre todas as profissões, esta deveria ser uma das mais bem remuneradas. Negar seus direitos e garantias é contribuir para uma educação fragilizada. Infelizmente não temos outro caminho se não a greve. A luta por uma educação de qualidade e com salário digno não é somente dos profissionais em educação, ela envolve toda a sociedade. O reflexo de uma má ou boa educação incide diretamente sobre todos nós. Não dá para fechar os olhos, assim como não dá para viver apenas de números. E como diz na canção, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte...”.



*Leudo Buriti – é advogado pós-graduado em direito público e constitucional. (www.leudoburiti.blogspot.com)


sábado, 13 de março de 2010

As "maravilhas" do Nordeste brasileiro


“Orgulho de Ser Nordestino”


Professor Nazareno*


A criação de slogans falsos e mentirosos para enganar a população é uma prática comum no Brasil. A Ditadura Militar criou vários mantras que se popularizaram. “Brasil, ame-o ou deixe-o”, ou “Este é um país que vai prá frente!” Em Rondônia também existem muitos ditados que, de certa forma, tentam imitar o absurdo: “sou daqui e exijo respeito”, diz, por exemplo, a frase da Assembléia Legislativa. Será que ser respeitado é “devolver” o dinheiro do povo? Porém um dos ditados mais incomuns e patéticos apareceu no Nordeste do Brasil. Sem observar a dura realidade da região, alguns imbecis insistem em ressaltar o orgulho de se ter nascido naquele lugar.

O Nordeste brasileiro é uma região com área territorial menor do que o estado do Amazonas e tem uma população de quase 60 milhões de pessoas. Se esses dados geográficos fossem no mundo rico e desenvolvido, tudo bem. No Brasil é sinônimo de muitos problemas. Vejamos: os quatro estados mais pobres do país e com menor Índice de Desenvolvimento Humano são do Nordeste: Alagoas, Paraíba, Maranhão e Piauí. Os índices econômicos da região são pífios, sempre foram. O analfabetismo é alto, e a concentração de renda, o câncer do país, é a maior dentre todas as regiões. O seu maior produto de exportação sempre foi a mão de obra barata e de qualidade duvidosa.

As capitais da região se auto-intitulam como oásis do turismo mundial, mas são apenas seqüelas associadas à exploração de seres humanos. Recife pode até ser a “Veneza brasileira”, mas é a capital mais violenta do país. Natal e Fortaleza disputam ferrenhamente o título de capital do turismo sexual. Uma voltinha nos calçadões da Aldeota ou mesmo nas brancas areias da Ponta Negra é um convite que pode quase sempre terminar dentro de um motel. João Pessoa, na Paraíba, não é onde o sol nasce primeiro. Nunca foi. Dependendo da posição da terra, é o norte do Espírito Santo que recebe os primeiros raios solares. Uma mentira secular em que todos os paraibanos sempre acreditaram.

Os estados nordestinos sempre tiveram só duas cidades: a capital e o resto. Por isso a política do lugar é conhecida no mundo inteiro como a “Meca do clientelismo”. O coronelismo sempre foi uma marca registrada de lá. A “indústria da seca” é uma realidade tipicamente nordestina. Sarney, Collor, ACM dentre tantos outros são e foram exemplos de líderes regionais sabidamente copiados pelo resto do Brasil. Nem na Literatura há grandes destaques. Como indicar alguém como Jorge Amado ou mesmo José Lins do Rego para algum Nobel? Um se dizia comunista, mas apoiava ACM na Bahia, o outro jamais escreveu algo além da realidade dos engenhos de cana.

Na religião o Nordeste é um caso à parte. De Antônio Conselheiro, nos confins da Bahia, até Roldão Mangueira e seus “Borboletas Azuis” passando pelo cearense Padre Cícero ou o pernambucano São Severino dos Ramos e até Frei Damião, os nordestinos sempre “botaram fé” nos seus escolhidos. E, alheios ao tempo e à realidade, nunca deixaram de associar os fenômenos climáticos aos desígnios de Deus. Por tudo isto, não seria correto associar o slogan do título à realidade sem nenhuma reflexão mais detalhada. É possível até sentir orgulho de ser de algum lugar. Mesmo que este lugar esteja apenas associado a simples vendedores de rede espalhados pelo mundo afora. Mas aí a História teria que ser mudada.


*É professor em Porto Velho.


domingo, 7 de março de 2010

Será que o brasileiro sabe votar?


Brasileiro: mentalidade chinfrim e atrasada!


Professor Nazareno*


O Brasil é hoje uma das maiores potências econômicas do mundo. Tem um PIB invejável e é o segundo maior produtor mundial de alimentos. No entanto, com mais de 190 milhões de habitantes corre o risco de entrar para a História como uma nação de imbecis cuja maioria de sua população é composta de abestados, de idiotas, de pessoas sem a menor consciência crítica, de analfabetos políticos e funcionais, de ladrões e de uma gente sem visão de mundo e completamente alheia a sua própria realidade. Exemplo disso é o nosso eleitorado, que com mais de 130 milhões de votantes, é o responsável maior pela perpetuação desta calamidade nacional.

A piada dizendo que Deus daria toda esta exuberância natural ao recém criado país, mas colocaria uma gentinha cretina por aqui parece ser verdadeira. O Brasil sempre foi explorado por outros países mais ricos e desenvolvidos e repete esta receita dentro da Federação. Os estados mais abastados exploram os mais pobres sem dó nem piedade. Destroem o meio ambiente local em busca de energia além de usar a mão de obra, sempre disponível e barata, do explorado. Exemplo maior disso são as construções das hidrelétricas do Madeira: a energia vai toda para o sul do país. Aqui não fica nada.

Quando esta mentalidade de “vira-latas” chega à política, o desastre é anunciado. Desvios de dinheiro, compra de votos, corrupção exagerada e o pior: falta de critérios para a escolha dos governantes. Eleição no Brasil é algo patético, esquisito mesmo. Parece até Plebiscito para emancipar distrito. Ninguém sabe por que vota nem para quê. Em pleno século vinte e um ainda se discute se o candidato “ficha-suja” deve participar do pleito ou não. Por isso não existe um único indivíduo preso no país por corrupção. José Roberto Arruda está “em cana” por que obstruiu o trabalho da Justiça. Só por isso.

Este ano terá eleições e já circula pela Internet uma campanha fascista afirmando que os brasileiros “de bom senso” não podem votar na candidata do PT, Dilma Roussef, porque ela foi terrorista e o seu grupo teria participado da morte de vários militares durante a Ditadura Militar. Embora não seja eleitor do “Partido do Mensalão”, acho um exagero. Vários países do mundo já viveram e vivem a experiência de ser governados por ex-guerrilheiros. O Uruguai atual é um deles. Além disso, a candidata petista estava numa guerra lutando para expulsar do Poder os usurpadores da ordem institucional e democrática. Guerra é guerra. Devia ter matado mais militares para o bem da nação.

A mentalidade chinfrim é irmã gêmea da mentalidade golpista que ainda deve existir nos quartéis. Por isso ambas concordam com a falta de liberdade de expressão, com torturas, exílios, DOI-CODI, perseguições políticas, atos institucionais e toda a sorte de obscurantismos e cerceamento de liberdades. Seria bom que os eleitores otários do Brasil, aqueles mais de 80%, entendessem que a eleição da Dilma não trará este lixo autoritário de volta, apenas modernizará a prática do Mensalão, da corrupção e da distribuição de esmolas do Estado. A maior compra oficial de votos do mundo não pode se acabar. Coisas naturais numa sociedade ridícula, burra e alienada como a brasileira.


* O professor Nazareno Leciona em Porto Velho.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Não vai sobrar uma única árvore em Porto Velho




Porto Velho e Rondônia: será o inferno aqui mesmo?


Professor Nazareno*


Há aproximadamente duas semanas um jornal italiano havia publicado uma reportagem, numa espécie de site, em que informava os quinze lugares do planeta onde é altamente recomendado nunca visitar. Claro que Rondônia estava na lista, pois só um maluco, aventureiro ou desavisado turista pretenderia fazer turismo nestas terras. O motivo era simples e já manjado: devastação do meio ambiente, altos níveis de desmatamento nas suas florestas e acúmulo de lixo. “Milhares de hectares da Amazônia foram cortados e queimados, para abrir caminho para a criação de gado”, informava a publicação. Este “Mapa de Infernos na Terra” chocou as minhocas telúricas.

Quando o Rondoniaovivo publicou a matéria, foi uma chiadeira geral da maioria dos internautas. “Inferno é lá que tem sempre guerra e máfia e ainda tem pedófilos vindo pra cá nas férias”, esbravejou um autêntico rondoniense. “Quem fez esta pesquisa não sabe o que está dizendo. Rondônia, apesar de todos os problemas ambientais ainda possui aproximadamente 50% de sua cobertura vegetal”, vociferou outro. E completou: “O italianos deviam olhar para o seu nariz. E mais, vir visitar Rondônia e conhecer uma floresta de verdade”. Afirmaram até que os italianos não são nada para criticarem o nosso querido estado, dentre outras bobagens e sandices sem nenhum sentido.

Este jornal italiano falou apenas do interior de Rondônia e se esqueceu da capital, Porto Velho, por que se tivesse conhecido a cidade de Roberto Sobrinho, Jair Ramires, da Sabenauto e do carnaval da Dengue, o escândalo teria sido ainda maior. Mais de uma centena de árvores foram cortadas pela Prefeitura Municipal para que acontecesse o ridículo e fracassado desfile de momo e desta vez para que esta revendedora de automóveis tivesse a sua fachada descoberta. Um crime brutal praticado por quem devia zelar pelos interesses dos munícipes. Falar de lixo nesta cidade é uma redundância absurda, ainda vamos sucumbir em meio a tanta podridão e carniça.

Se Rondônia e a sua “arborizada e bela capital” não fossem um inferno, a Sabenauto sofreria um tremendo boicote dos seus clientes e pagaria pelo crime ambiental que cometeu. Já com Sobrinho e o seu desastrado secretário talvez não aconteça nada, pois dizem que antigamente a Avenida Sete de Setembro era muito arborizada com muitas mangueiras e um conhecido ex-prefeito mandou arrancar cada uma delas. Os rondonienses estão acostumados a verem seu patrimônio natural ser devastado sem dar um pio. Veja-se o exemplo das hidrelétricas no Madeira. Em vez de protestar quando desaparece uma linda cachoeira, o povo daqui faz é festa de despedida.

Muitos rondonienses não gostam de floresta. A própria Brigada de Infantaria e Selva fica localizada bem no centro da cidade em meio a uma selva, mas de concreto. Seria bom arrancar agora a castanheira lá do estádio já que quase ninguém nota mesmo a sua presença. Porém se eu fosse o Secretário da Sema, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Aguinaldo Ferreira, pediria demissão por conta deste descaso. A não ser que ele concorde com mais este crime ambiental praticado pelo prefeito e sua gente. Mas isto não vai dar em nada, como sempre. Nem a pomposa Promotoria Ambiental do Ministério Público Estadual vai resolver coisa alguma. O próprio Jair Ramires já resumiu tudo durante uma entrevista: “Por que a Prefeitura vai notificar a Prefeitura”?


*O professor Nazareno leciona em Porto Velho.