quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Outro enterro da Província

Outro enterro da província

 

Professor Nazareno*

 

 

            Todo ano de eleições a ladainha se repete e as esperanças sempre se renovam na atrasada província de Cu-do-Mundo. Com menos de 0,8 por cento do total de eleitores do país inteiro, o insólito lugar sequer teve a presença dos dois principais candidatos a presidente do país durante a campanha. O ex-presidiário corrupto e o miliciano genocida não perderam seu precioso tempo para visitar paragens de gente tão atrasada e selvagem como muitas das que habitam o grotão subdesenvolvido. Mas na capital e principais cidades do atípico sertão, a campanha está de vento em popa. Dizem algumas pesquisas que a extrema-direita reacionária tem quase 60 por cento das intenções de voto enquanto os esquerdistas ladrões patinam com menos de metade disto. Ainda assim, nenhum resultado eleitoral saído do insalubre rincão terá qualquer consequência para o pleito final.

       Quase todos os candidatos fizeram suas costumeiras promessas para tirar Cu-do-Mundo do eterno atraso em que sempre se encontrou. A duplicação da principal estrada provincial, por exemplo, constou obviamente nas falas da maioria das futuras autoridades. Mas passado o pleito, todos se esquecem e a criminosa estrada continua com a sua triste sina de matar gente diariamente. Todas essas autoridades, no entanto, falaram entusiasmadas do agronegócio e das riquezas naturais que abundam naquelas bandas. Mas ninguém deu um pio sequer sobre as criminosas queimadas que todos os anos enchem de fumaça e fuligem o outrora “céu azul” cantado em verso e prosa no horroroso hino local. Cu-do-Mundo faz parte do “arco do fogo” e juntamente com outras províncias vizinhas envergonham o país inteiro com tanto fogo na única e última floresta tropical do mundo.

      A capital de Cu-do-Mundo é uma nojeira só. A seboseira sempre foi a marca registrada do imundo lodaçal. Sem água tratada nem rede de esgotos, o lugar é muito pior do que as cidades da África Subsaariana ou de Porto Príncipe no Haiti. Nem mobilidade urbana existe na podre e fedorenta urbe. Porém, a felicidade parece ser uma constante entre os muitos pobres e despolitizados habitantes locais. Uma capital de província que não tem uma rodoviária decente seria algo surreal em qualquer lugar do mundo. Menos no grotão inóspito e inabitável. E claro, há promessas de que em pouco tempo vão ter um lugar “menos ruim” para receber os ônibus do país inteiro. Óbvio que também não existe um só hospital de pronto-socorro na currutela inteira. Há um imprestável e nojento “açougue”, que parece um campo de concentração, e que recebe os pacientes mais pobres.

      Também já há promessas, só as promessas mesmo, de se construir um outro “açougue” mais moderno para os tolos e idiotas eleitores da capital e de toda a província de Cu-do-Mundo. Não se sabe onde nem quando isso acontecerá. E os que fazem esses compromissos sempre saem na frente em todas as eleições e geralmente se reelegem sem maiores problemas devido à estupidez e ao conformismo de seus acomodados cidadãos. Dessa forma, a infeliz província é enterrada a cada dois anos. E em igual período de tempo, sempre renasce para ouvir e ainda acreditar nas promessas vazias que nunca serão cumpridas. Fala-se que a província é um lugar sem futuro, pois os candidatos de lá brigam entre si para apoiar qualquer um. Daqui a poucas horas muitos vão às urnas para sacramentar mais outro enterro. Não só desta região obsoleta e distante, mas do país inteiro. Haverá, claro, os candidatos vitoriosos, mas Cu-do-Mundo sempre será derrotada.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

  

domingo, 25 de setembro de 2022

Uma Esquerda de Direita

Uma Esquerda de Direita

 

Professor Nazareno*

 

            O dia das eleições se aproxima em Bananolândia. O frenesi é total entre os tolos e despolitizados moradores do país espalhados por todas as suas províncias. Muitos creem cegamente na piada de que vai ganhar aquele candidato que mais se dispôs a ajudar os pobres e miseráveis daquela nação sem eira nem beira. Cada grupo de eleitores está convicto de que se ganhar, o seu candidato vai fazer jorrar mel e leite das ruas e que o seu escolhido, seja da Esquerda ou da Direita, é a pessoa certa para trazer felicidade e alegria para os sofridos habitantes. Ninguém percebeu que todas as futuras autoridades estão a serviço de um mesmo senhor do mal e que os ultrapassados conceitos oriundos ainda da Revolução Francesa pouco ou nada influenciarão em suas controladas decisões políticas.

            Na atrasada província de Cu-do-Mundo, por exemplo, quase cem por cento dos candidatos são da Direita, mas estranhamente muitos deles se apresentaram nestas eleições como se fossem da Esquerda. Ricos, abastados e representantes do capital e do agronegócio em sua maioria, usam bordões progressistas para iludir os eleitores mais indecisos. Porém, terminadas as eleições, os “vencedores daqui” logo aderem aos “vencedores de lá” e dessa forma todos continuam alegremente a governar o espoliado povo para tirar-lhe o máximo possível dos poucos recursos que ainda lhe restam. Pior: todos os gargalos continuam a existir normalmente em toda a sociedade. Sabe-se que na capital de Cu-do-Mundo não existe uma boa rodoviária, redes de esgotos ou um hospital de pronto-socorro decente, mas todos fazem vistas grossas e urram de satisfação ao votar.

            Já se falou até que tanto em Bananolândia quanto em Cu-do-Mundo não existem políticos de Esquerda nem de Direita. O que existe na verdade tanto aqui quanto lá “é um bando de salafrários, ladrões e canalhas que se juntam em épocas de eleições para dilapidar o Erário”. A verdade é que sem eleições, os preços disparam nos supermercados e principalmente nos postos de gasolina. Chegada a época de se pedir votos, nem se ouve mais falar em inflação, falta de atendimentos em hospitais públicos ou outros problemas tão comuns. O desemprego diminui com a contratação de “formiguinhas para balançar paus” nas esquinas. E dinheiro tirado do próprio povo é distribuído sem critérios a esse mesmo povo como esmolas ou migalhas e que geralmente serve para turbinar algumas candidaturas. A cegueira política condena Bananolândia a ser uma eterna filial do inferno.

            Discute-se muito nestas eleições se a população quer continuar adorando o fascismo e o deboche verificados nos últimos 4 anos ou se vai optar em permanecer a ser roubada como sempre foi. Sem investimentos em infraestruturas, sem uma educação de qualidade e com uma desigualdade social monstruosa, os muitos candidatos ladrões e desonestos fazem a festa e o sofrimento certamente vai continuar até novas promessas em eleições futuras. Não há saídas possíveis por enquanto. O Establishment está lançado já há muito tempo e pouca coisa vai poder mudá-lo. O povo é massa de manobra e os poderosos continuam ampliando os seus podres poderes. Diante da fome, da miséria e de tantas necessidades, Direita e Esquerda sempre se revezam no poder para manter o “status quo”. Bananolândia, Cu-do-Mundo e as outras províncias terão sempre que “pagar o pato”. Esquerda de Direita ou Direita de Esquerda. E nada mudará no próximo domingo.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Com Lula ou Bozo, Satanás nos guiará!

Com Lula ou Bozo, Satanás nos guiará!

 

Professor Nazareno*

 

            As eleições de 2022 no Brasil se aproximam da reta final. Muito polarizadas neste ano, as preferências eleitorais ainda estão meio indecisas, mas a vitória deve mesmo ficar com o ex-presidente Lula do PT, representante da esquerda, que disputa a contenda com o atual presidente Jair Bolsonaro, o “Bozo”, que representa a extrema-direita. Obviamente um dos dois ganhará, mas o grande derrotado mesmo já está decidido: será o eleitorado e o povo como um todo. Bolsonaro e Lula, dois presidentes que pouco ou nada fizeram em benefício dos mais pobres, são representantes do Centrão, que por sua vez representa os donos do dinheiro. Grupo de políticos escroques e escrotos, esse tal Centrão manda nos destinos da nação desde os tempos do Império e continua até hoje ditando todas as regras.

            Apesar de o Brasil figurar há muito tempo entre as maiores economias do mundo, a miséria e a pobreza sempre fizeram parte da rotina de milhões de cidadãos brasileiros. Isso aqui sempre foi como um inferno comandado pelo Diabo e por seus assessores chifrudos. Com Lula e o PT, a fome até que diminuiu um pouquinho, mas os miseráveis continuaram a sua saga de revirar lixo e de passar necessidades. Já com o Bolsonaro, “o que era ruim piorou ainda muito mais” e multidões dessa vez foram parar em humilhantes “filas do osso” como aconteceu lá em Cuiabá no Mato Grosso e também em cenas deprimentes de miseráveis revirando caminhões de lixo como se verificou no bairro do Cocó em Fortaleza, Ceará. A miséria não pode ser divina e por isso, vê-se em todas as situações a possível presença do Satanás, o verdadeiro guia da pobre e humilhada família.

            Não é Lula nem o Bolsonaro que disputam o poder nestas eleições. É o Cramunhão e a mãe dele. Assim, soa como normal para qualquer político ser fotografado comendo pastel numa feira enquanto por trás, seres humanos reviram lixo à procura do que comer. E não é o Brasil africano criado somente para adornar campanhas políticas, é o Brasil real, aquele do dia a dia. Deve ser por isso que depois de toda eleição neste país, os pobres continuam sempre mais pobres e os ricos, eleitos ou não, voltam para os seus condomínios de luxo, para os seus bons empregos e para a sua vida de farturas. A cada dois ou quatro anos a ladainha sempre se repete e depois a triste realidade volta a bater na cara de todos nós. Dessa maneira, direto do Mármore Quente, o Tinhoso tem a certeza de que sempre guiou corretamente toda essa despolitizada gente. E que ainda vai continuar nos guiando.

            E como quase todo político mente, inventou-se na última eleição a mentira de que “Deus estaria acima de todos”. Pura lorota! Pura enganação! Deus não pode ser protetor de um país que tem mais de 30 milhões de pessoas passando fome e necessidades. Não pode proteger um povo sórdido, ignóbil e desprezível que quer levar vantagem em tudo. Um povo que explora seus próprios irmãos para poder ficar mais rico e poderoso. Enfim, um povo cuja elite usa a política para enganar os mais idiotas e trouxas. Este país só pode ser mesmo guiado pelo Belzebu, pelo Demônio, pelo Lúcifer. E se não mudarmos enquanto povo, enquanto sociedade, enquanto nação, o Anjo das Trevas é quem sempre dará as cartas por aqui. Por isso em todas as eleições, o Jurupari coloca seus mensageiros mais astutos para angariar votos e apoio dos mais pobres e humildes. E a alegria toma conta de todos, mesmo sabendo que votaremos no Malvado ou em sua mãe. Pobre Gente!

 

 

 

                       *Foi Professor em Porto Velho.



 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Nossa bandeira será vermelha!

Nossa bandeira será vermelha!

 

Professor Nazareno*

 

            Com a possível e esperada vitória de Lula, do PT e das esquerdas em geral nestas próximas eleições, muitas coisas deveriam mudar no Brasil. Se eu pudesse ser eleito presidente do país, nos próximos quatro anos trocaria uma série de símbolos, protocolos, convenções e outras tolices imprestáveis que adornam não só a presidência da República, mas também o tolo ideário de muita gente que ainda acredita nestas bizarrices. Começaria mudando a cor da nossa bandeira. Além de ser muito feia, disforme e desengonçada, nossa flâmula mudaria de aspecto. Verde e amarelo, convenhamos, não tem mais sentido. A destruição da Amazônia e de todas as nossas florestas e matas para dar lugar ao agronegócio fez extinguir o verde enquanto o garimpo ilegal, desde os tempos da colônia, não pode mais ser representado por aquele amarelo insosso. E esse ouro nunca foi nosso.

            O azul e o branco também não fazem mais sentido. É uma mentira dizer que representam o céu e a paz respectivamente. Com a poluição e os incêndios florestais, o céu do Brasil hoje por quase todo o país é cinza-chumbo e empesteado de fumaça e poluição. No verão, o Cerrado, a Amazônia, a Mata Atlântica e também todos os outros biomas, são incendiados criminosamente para dar lugar às plantações do agronegócio. E é risível dizer que há desejo de paz num país onde quase 60 mil pessoas são assassinadas todos os anos vítimas da violência social, que parece nunca ter fim. A frase “ordem e progresso” é uma estupidez sem limites. Nunca houve ordem neste país. É tudo uma bagunça sem fim. O Brasil não pode cultuar nenhuma espécie de ordem. Nossa sociedade, com suas instituições falidas, é um “cu de mãe Joana” sem eira nem beira. E sempre foi.

            Além das cores preta e vermelha, para simbolizar o luto e o eterno desejo de melhorias, deveria também ser trocada a frase central para “aos trancos e barrancos”. Seria muito mais coerente e representaria de forma correta a luta desse povo sofredor para conseguir colocar todo dia e de qualquer jeito comida na mesa. Com mais de 30 milhões de pessoas passando fome num país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, essas cores na bandeira nacional representariam também a vergonha perante o mundo civilizado. Verde de esperança e amarelo de riqueza nada têm a ver com a nossa tosca realidade, um país de miseráveis, pobres e famintos. A vitória de Lula pode até trazer alguma esperança de mudanças, mas romper com a síndrome da Casa Grande & Senzala é muito difícil quando todos já se venderam ao Centrão, que representa o capital.

                Vencendo o pleito, o “Sapo Barbudo” e a sua trupe poderiam empreender outras mudanças significativas para todo o país. Acabaria, por exemplo, com esse negócio de orçamento secreto e também com o estranho sigilo de 100 anos. Extinguiria, com apoio do Legislativo, a reeleição para qualquer cargo do Executivo. Assim, ninguém usaria datas cívicas nem funerais de chefes de Estado estrangeiros para fazer política ou palanque eleitoral. Isso sem falar no poder que a caneta tem na mão de um governante de plantão. Em ano eleitoral é aquela farra de baixar o preço de tudo como acontece hoje com a gasolina. Resta saber de onde sairá o dinheiro do ICMS dos Estados depois das eleições. Será que a elite do país está dando os anéis agora para não perder os dedos depois? Com Lula a nossa bandeira será vermelha como é a bandeira dos principais países do mundo. Seremos uma nação socialista, mas com eleições democráticas. Custa sonhar?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.