domingo, 27 de março de 2016

O Brasil após Sérgio Moro



O Brasil após Sérgio Moro

Professor Nazareno*

Perguntado recentemente como via a atuação do juiz Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa não teve dúvidas: “ele está fazendo o que todo juiz no Brasil deveria fazer e, lamentavelmente, não faz”. O magistrado paranaense, para muitos, tem sido impecável no seu trabalho de combater a corrupção e os desmandos com o dinheiro público. Amado por muitos e endeusado pela mídia é candidato a herói nacional e, dizem, vai passar o Brasil a limpo. “Nunca, na história deste país” foi observado um trabalho como o dele e de sua equipe ao enfrentar os vícios históricos reinantes na nossa política. Foi apontando há poucos dias pela revista norte-americana Fortune como o 13º homem mais importante e influente do planeta que pode mudar a história da humanidade. Ficou à frente até de Bono Vox.
Para outros, claro, o juiz não passa de um embuste, de uma grande farsa. É tendencioso e provavelmente está a serviço das forças conservadoras para derrotar o PT e o único governo de esquerda que este país já teve em seus 516 anos de História. Sérgio Moro não merece, portanto, a alcunha de “palmatória do mundo”. Errou ao decidir pela condução coercitiva do ex-presidente Lula quando o líder petista não havia se recusado a depor. Errou também quando permitiu a divulgação na mídia de conversas envolvendo a Presidente do país, que tem foro privilegiado. Foi acusado de querer politizar o Judiciário e de, infantilmente, agradecer de público as moções de apoio de manifestantes contrários ao atual governo. Entre erros e acertos, a Lava Jato continua e a tendência é que ainda vai dar muita dor de cabeça a vários políticos brasileiros.
Mas por que só o juiz Sérgio Moro é que se destaca no Brasil? Quantos juízes o país tem e já teve em toda a sua longa História? Por que até agora nenhum nunca se destacou quando o assunto é punir os “tubarões” que infestam a nossa política? Talvez só o mesmo Joaquim Barbosa tenha se destacado tanto. Há uma piada muito conhecida afirmando que “no Brasil, de cada dez juízes sete acreditam que são Deus e os outros três têm certeza”. Então o magistrado paranaense estaria acima de todos eles? Moro está prestando um grande serviço ao país e talvez até mudando o jeito tradicional de se fazer política por aqui, não resta a menor dúvida. Mas até quando? Será que as futuras gerações de políticos entenderão que roubar dinheiro público não compensa e que se não agir de acordo com a lei, “qualquer um” pode ser preso como um ladrão comum?
Se todos os juízes tivessem agido ao longo da nossa História como o juiz paranaense age, talvez hoje não tivéssemos tantos desmandos e roubalheiras. Talvez nem precisássemos dele agora para “colocar as coisas no seu devido lugar”. Em curto prazo, a eficiência do eminente magistrado será sentida em todos os recantos do país. Nas próximas eleições, por exemplo, os malditos ratos pensarão duas ou três vezes antes de se envolverem em maracutaias. Mas e depois? Moro vai sair de cena, já que não é eterno. Terá a Justiça e os juízes que o substituirão a mesma garra, lisura e competência para coibir futuros abusos? O trabalho de Sérgio Moro é só curativo quando devia ser mais preventivo? O Brasil não precisa dele para ser Presidente ou Ministro como muitos clamam irresponsavelmente.  A nação precisa dele só como um juiz, que não pensa que é e nem tem a certeza de ser Deus. Mas um ser humano honesto, competente e justo.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Vereadores ganham muito pouco




Vereadores ganham muito pouco

Professor Nazareno*

            Os vereadores de Porto Velho, numa ação mais do que justa e popular, aprovaram recentemente para si mesmos um aumento de quase sete por cento retroativo a um ano e meio. Dos pouco mais de doze mil reais por mês, os legisladores portovelhenses vão ganhar a partir de agora a irrisória quantia de 14 mil e setecentos reais mensais. Uma merreca, uma esmola, uma verdadeira miséria levando em consideração o grande trabalho que a Câmara de Vereadores faz em benefício de toda a população sofrida desta cidade. O Brasil pode até estar em crise econômica e com dificuldades de caixa, mas não é isso que se verifica na “capital das sentinelas avançadas”. Uma das únicas repartições públicas de Rondônia que realmente tem mostrado trabalho e eficiência, este aumento veio apenas coroar um reconhecido êxito.
            Um conhecido colunista local escreveu que “enquanto em outras cidades do Brasil vereadores reduzem seus salários por exigência da sociedade, os de Porto Velho promovem esse aumento absurdo, usando desculpas esfarrapadas que afrontam ainda mais a dignidade da cidadania portovelhense e até as instituições existentes para defender a população desses políticos que conspurcam o nobre exercício da representação popular. Essa decisão da mesa diretora da Câmara Municipal tem cheiro de crime contra a economia pública”. É possível que o jornalista esteja totalmente equivocado com esta nobre e justa decisão dos edis de Porto Velho, pois se o juiz Sérgio Moro tivesse coragem suficiente de trabalhar por aqui, a Câmara de Vereadores seria um dos únicos locais que não seria visitado pelo eminente magistrado.
            Os parlamentares municipais deveriam ser indicados para um Prêmio Nobel pelo muito que têm feito em nosso benefício. Na atual legislatura nunca foi registrado um único escândalo naquela casa de leis. Ali, não há um único integrante que não tenha inúmeros trabalhos prestados à população. Em 2014, durante a enchente histórica do rio Madeira, por exemplo, cada vereador se multipicou por dez ou doze para atender aos atingidos. A nossa cidade hoje está um brinco por causa do incansável trabalho destes honrados políticos. Todos eles, juntamente com o Prefeito Mauro Nazif, têm dado a própria alma para o progresso e o desenvolvimento da “cidade das hidrelétricas”. Por isso, é uma grande injustiça alguém em sã consciência afirmar que é exorbitante o irrisório salário que eles recebem. O povo devia era contribuir com mais verba para eles.
            Dizer que a brava e politizada população de Porto Velho devia reagir à manobra desses políticos aumentarem o próprio salário é uma sandice sem tamanho. O povo de Porto Velho reagir a uma injustiça da classe política local? Aqui, devido ao grande número de benfeitorias feitas fica até difícil convencer a inexistente opinião pública de alguma coisa. Inúmeras ruas asfaltadas, obras pipocando por todos os bairros e avenidas, saneamento básico, água tratada, inúmeras praças, projetos de arborização, logradouros públicos decentes, transportes coletivos de Primeiro Mundo, salários altíssimos para os servidores do município, saúde e educação ímpares, além de incontáveis áreas de lazer é tudo o que se tem visto na cidade. E em tudo tem a mão “divina” destes vereadores. Trinta ou quarenta mil reais por mês ainda seria pouco para cada um deles. Porto Velho sobreviveria sem uma Câmara de Vereadores como esta?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 19 de março de 2016

Saídas para a crise




Saídas para a crise

Professor Nazareno*

             O Brasil está vivendo uma crise política de proporções assustadoras. Mas por que quer. O Governo da Presidente Dilma Rousseff é acusado de beneficiar um cidadão comum que tripudia da Justiça. O ex-presidente Lula recebe um Ministério para ganhar foro privilegiado e assim se livrar marotamente da cadeia. O Supremo cassa a nomeação do petista como futuro chefe da Casa Civil. Muitos afirmam que a República está grampeada. Ministros, autoridades e até a mandatária do país têm suas conversas telefônicas divulgadas na mídia. Acuada, a Presidente fala em prisão do juiz que comanda a Operação Lava Jato e diz que vai tomar providências. Nas ruas, o sururu é iminente entre “petistas e coxinhas”. Vê-se uma guerra de números dos participantes de passeatas e nos tribunais têm as infindáveis batalhas jurídicas com guerra de liminares.
            O país pega fogo e já há quem fale abertamente em golpe e virada de mesa. Uma crise institucional com a economia quase parando e o caos social já à vista formam o cenário perfeito para a radicalização de ambos os lados. Mas tudo isto poderia ser evitado. A força deste país é tamanha que não se entende o porquê de tanto estresse. Futebol, Carnaval e religião são as três palavrinhas mágicas que podem colocar “água na fervura” e fazer com que o gigante latino-americano volte à paz. Convoquem as escolas de samba, os blocos carnavalescos e antecipem os desfiles de Momo. Haverá Carnaval em abril, maio e também nos meses seguintes. Cachaça e cerveja serão distribuídas de graça para todos os foliões. Em outras capitais o ritual seria o mesmo.
            Até em Porto Velho, a crise seria abafada com muito samba e alegria. Falem com os “donos da cultura” para que no próximo sábado a famosa banda possa desfilar. Se necessário for, em outros sábados também haverá Carnaval pelas nossas fedorentas ruas. O Galo da Meia Noite e o Pirarucu do Madeira também desfilariam. E que voltem rapidamente os retiros das igrejas evangélicas! E se as folias de Momo não surtirem os efeitos, convoquem-se uma Marcha para Jesus e uma Passeata do Orgulho Gay, claro que em datas separadas para não imitar a dura realidade. Só em São Paulo seriam mais de cinco milhões nas ruas, orando e gritando louvor ao Senhor. O mundo LGBT, tomando pinga e desfilando suas coloridas fantasias, acabaria com qualquer crise no país. Basta distribuir santinhos, Bíblias e preservativos para acalmar os ânimos de todos.
            Claro que isto resolveria o impasse político em que nos metemos. Mas se Momo e Jesus Cristo não resolverem a parada, haverá ainda o futebol. Contratem o Flamengo e o Corinthians para fazerem amistosos em todos os estados e estádios do Brasil. Até no Aluizão haveria jogos e clássicos, tudo de graça, óbvio. A poderosa Alemanha poderia, com algum jeitinho, também ajudar e fazer vários amistosos com a nossa seleção. Difícil seria convencer os germânicos de que precisaríamos ganhar todos os jogos. Qual a crise que resistiria se devolvêssemos aqueles 7 X 1? A alegria voltaria a reinar entre os estúpidos tupiniquins. Em todos os jogos, Lula, Dilma, Sérgio Moro, Aécio dentre outras autoridades se confraternizariam alegres no meio do povão. Todos participariam dos desfiles, leriam a Bíblia e tomariam pinga entre os alegres participantes. O que essas autoridades estão esperando? Futebol, pinga e Jesus neles! E do resto o Satanás cuida.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 12 de março de 2016

Lula, anticristo ou herói nacional?



Lula, anticristo ou herói nacional?

Professor Nazareno*

             O Brasil vive hoje uma de suas piores crises políticas. A ultrapassada dicotomia Direita X Esquerda nunca esteve tão ativa entre nós. O ex-metalúrgico da região do ABC paulista, ex-preso político e um dos fundadores do PT, Partido dos Trabalhadores, foi durante mais de três décadas o maior ícone das esquerdas em nosso país. Menino pobre do interior do Nordeste, ele foi apresentado ao Brasil rico, “mas em pouco tempo ficou rico deixando um Brasil pobre”. Presidente da nação por dois mandatos consecutivos, o metalúrgico barbudo insiste em fazer História. O país hoje está dividido mais do que nunca: a Direita lhe caça como a um animal, a Esquerda lhe venera como a um Deus. Acusado de enriquecimento ilícito, prevaricação, corrupção e toda a sorte de desmandos, ele ainda se notabiliza pelas suas frases de efeito que encantam e dão nojo.
Nunca na História desse país” alguém polarizou a opinião pública nacional de forma tão profunda como ele o faz agora. Muitas de suas pérolas ficarão marcadas como verdades absolutas e inquestionáveis: “No Brasil, pobre quando rouba vai para a cadeia, rico quando rouba vira ministro”, profetizou como se estivesse diante do espelho. Fazendo-se de vítima e se dizendo perseguido politicamente, o “sapo barbudo” enfrentou a Justiça do país da forma mais sorrateira e cínica possível. Tanto é que se ele for preso, vira herói, se o matarem, vira mártir e se o deixarem livre, vira Presidente da República pela terceira vez. Arrogante, prepotente e fazendo pouco caso das leis foi filmado mandando a Justiça e os procuradores enfiarem no “fiofó” o processo contra ele. Sabe que pode tripudiar das autoridades sem que nada de mais possa lhe acontecer.
Amado e endeusado por muitos, recebeu presentes caríssimos: um apartamento luxuoso de mais de um milhão de dólares no Guarujá, litoral de São Paulo, e um sítio em Atibaia estão entre os mimos com que foi presenteado, mas nega tudo e diz que nada disso lhe pertence. Por todo o Brasil, Lula, claro, tem muitos seguidores e desafetos. Em Rondônia, por exemplo, Sérgio Pires, articulista altamente conceituado, parece lhe odiar, assim como Valdemir Caldas, uma espécie de Bob Woodward de Rondônia. Eles não escrevem uma única linha sem alfinetar o ex-mandatário brasileiro. Porém, no outro flanco, tem-se seus admiradores incondicionais. Itamar Ferreira, o Lech Walesa rondoniense, não publica uma só letra sem que não faça comentários elogiosos ao “líder barbudo” e aos “companheiros” e também ao melhor partido político do mundo, o PT.
O ex-presidente se diz tão carismático que até a oposição tucana gosta dele. “Ao requerer a prisão de Lula, os promotores estão banalizando uma providência judicial muito grave” disse o líder do PSDB no Senado, senador Cássio Cunha Lima da Paraíba. O Lula parece ser tão importante para o país que fez até o sisudo Ministério Público de São Paulo confundir Hegel com Engels. Pior, (ou melhor), com o pedido de sua prisão fez pelo menos dezesseis líderes mundiais, dentre eles José Mujica ex-presidente do Uruguai, Felipe Gonzalez, ex-primeiro ministro da Espanha e Massimo D’Alema da Itália, e também muitos outros, assinarem um manifesto em seu favor. Ele disse certa vez: “O Congresso Nacional do Brasil tem pelo menos uns 300 picaretas”. Errou só no número, já que hoje são mais de quinhentos com este título. Será que o “Estado de direito” no Brasil está dando lugar ao “Estado de Direita”? E Lula é anticristo ou herói?




*É Professor em Porto Velho.