terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Livros gays, livros santos


Livros gays, livros santos

Professor Nazareno*

            O caso medieval dos “livros de Ariquemes” ainda dará muito que falar. Vergonha nacional e até internacional, a mutilação dos livros didáticos a pedido do prefeito Thiago Flores e de um grupo de vereadores evangélicos daquela simpática cidade rondoniense entrará para os anais da história como uma das maiores violências contra o bom senso e as liberdades individuais reinantes no país neste início de século XXI. Desde a queima de livros pelos nazistas em 1933 na Alemanha que não se via tamanha estupidez e imoralidade em nome da moral e dos bons costumes. O PMDB, partido de Flores e herdeiro único do MDB de Ulysses Guimarães, lutou heroicamente durante a Ditadura Militar contra a censura e a falta de liberdade de expressão. Não poderia ter entrado nesta fria e nem permitido esta vergonha absurda e anacrônica.
            A volta da censura por motivos religiosos lembra os duros tempos dos Tribunais da Santa Inquisição e também da Ditadura Militar. E não adianta invocar a vontade do povo soberano de Ariquemes para tomar medida tão esdrúxula. Um município não pode criar leis que contrariem a Constituição do país. O artigo 220 em seu segundo parágrafo é claro: “censura é todo procedimento oficial visando a impedir a livre circulação de ideias contrárias aos interesses dos detentores do Poder Público”. Se os vereadores evangélicos e o prefeito Thiago Flores não gostaram do que leram (se é que leram) nos livros, por princípios constitucionais estão impedidos de censurar, vetar ou mutilar qualquer parte dessas obras. Aliás, eles pediram a autorização dos autores ou da editora para fazer isso? E os professores que fizeram a escolha, por que não foram ouvidos?
            Além do mais, Ariquemes tem uns 90 mil habitantes. Pouco mais de 27 mil apenas votou no atual prefeito. Será que destes, todos concordam com a decisão absurda e cerceadora da expressão alheia? Até parece que na cidade não há bons advogados para ter orientado melhor o prefeito censor. Pior: não vi até agora nenhum professor da cidade reclamar do fato. Nem os que escolheram os livros. Falar que existem famílias diferentes das tradicionais não pode. Falar que existem homossexuais e minorias também não. Mas assistir ao BBB e navegar em sites pornográficos da internet parece que pode. Não é incrível? Pior mesmo é um cara metido a jornalista defender a atitude insana do prefeito. Um comunicador defender publicamente a censura é o fim dos tempos. Será que se sua coluna fosse adulterada ou censurada ele ficaria feliz e alegre?
            Mas se a moda de Ariquemes pegasse, seria interessante ver obras inteiras sendo maculadas, cortadas, tesouradas, censuradas. Dom Casmurro de Machado de Assis teria outro nome ou simplesmente as páginas “inconvenientes” do livro de “Bentinho e Capitu” seriam suprimidas. Obras inteiras consagradas pelas literaturas nacional e mundial seriam picotadas, mudadas e adulteradas sem a permissão de autores e editoras e ainda teria a conivência burra de jornalistas desinformados. Clarice, Drummond, o próprio Machado, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Eça de Queirós, Fernando Pessoa e tantos outros sendo modificados por causa da religião e do obscurantismo seria uma curiosa volta aos tempos medievais. Não existem livros gays nem santos. O que existem são mentes doentes, bitoladas, má fé, o desejo de obscurantismo, burrice e hipocrisia. Muita hipocrisia. Será que já marcaram o dia do índex lá em Ariquemes? Vou lá ver.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 29 de janeiro de 2017

O que há comigo?


O que há comigo?

Professor Nazareno*

            Há certamente algo esquisito acontecendo comigo. Não sei o quê é, mas muitos amigos meus já me advertiram com relação as minhas atitudes diárias. Não mudei em absolutamente nada a minha opinião em relação aos fatos cotidianos. Sou brasileiro nato, não nasci em Rondônia, mas sou “rondoniense de coração” e sempre estive em consonância com as coisas daqui, do Brasil e do mundo. Sou cristão convicto, pai de família exemplar, casado há mais de 35 anos com a mesma pessoa, acredito cegamente em Deus todo poderoso, vou semanalmente à igreja, refuto o Satanás e leio diariamente a Bíblia. Sempre defendi os bons costumes e a convivência harmoniosa entre todas as pessoas. Acho que a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos foi uma boa opção para o mundo. Com este grande estadista no poder, viveremos uma revolução do bem.
            Nas últimas eleições, por exemplo, votei no Dr. Hildon Chaves para prefeito de Porto Velho e também num candidato a vereador que é evangélico, homem de Deus mesmo. Sou fã de carteirinha deste ex-promotor de justiça e percebo que ele é o único que vai resolver os poucos problemas que nossa cidade enfrenta. Vibrei com a posse de Michel Temer e sempre apoiei a saída do PT e da Dilma Rousseff do poder. Eles queriam transformar o Brasil em uma nação comunista. Um absurdo isso. Não entendo por que às vezes recebo críticas de certas pessoas. Será inveja? Com relação aos motins dentro das penitenciárias acho normal que os presos se matem, pois ficarão bem menos e a violência acabaria logo. Defendo que quanto mais mortes nas cadeias melhor para o Brasil. Que mal há em se pensar assim? Muitos também pensam assim como eu.
            Sou fã e seguidor de Jair Bolsonaro e vou votar nele para presidente em 2018. Acho que “bandido bom é bandido morto” e acredito que os “Direitos Humanos” foram criados para proteger bandidos e malfeitores e deviam ser extintos de nossa sociedade. Nas redes sociais às vezes curto publicações ditas machistas, preconceituosas, racistas, homofóbicas e misóginas. Amo o funk e também o sertanejo universitário e não perco um só programa da televisão nos domingos à tarde. Leio muito, principalmente os colunistas de Porto Velho. Opinião de Primeira do excelente jornalista Sérgio Pires é minha coluna preferida. Coerente, sério, instrutivo e atual nunca entendi por que o eminente escriba jamais foi indicado aos prêmios Esso e Pulitzer de jornalismo. Seus ricos textos pregam a paz e a boa convivência entre os mais variados setores sociais.
            Como cidadão, apoio a mutilação de livros “imorais” como determinou recentemente o prefeito de Ariquemes. Os professores que escolheram estes livros estão totalmente errados e não devem ser levados em consideração. Simples, assim! Se o estadista Thiago Flores quiser, serei um picotador oficial dessas obras didáticas. Já comprei várias tesouras. Se existem coisas erradas na cidade como o homossexualismo e famílias que não sejam as tradicionais, ninguém deve mesmo ficar sabendo. Aliás, se não forem pai, mãe e filhos biológicos é família? Essa interferência do Estado na criação dos nossos filhos só pode ser coisa do PT, o único partido envolvido em corrupção e desmandos em nosso país. Além do mais, os petistas querem corromper as futuras gerações deste país e é preciso agir em nome da moral e dos bons costumes. Não entendo por que me chamam de coxinha, reacionário e conservador. Estou espantado!



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Escravos seriam aceitos hoje?



Dizem que hoje não há escravos. Mas se houvesse, quantos de nós não apoiaríamos a ESCRAVIDÃO naturalmente? Sim! Seguimos religiões, seguimos Bolsonaro, desejamos a morte de seres humanos, queremos a volta da ditadura militar, apoiamos torturas, somos homofóbicos, somos intolerantes, somos preconceituosos, abominamos a política de direitos humanos, praticamos a corrupção, desdenhamos da democracia, criticamos a diversidade, apoiamos a mutilação de livros, não buscamos leitura de mundo, defendemos justiça com as próprias mãos, bradamos pela pena de morte, incentivamos a censura, reagimos contra as minorias, somos misóginos... Os NEGROS de ontem são os HOMOSSEXUAIS e OUTRAS MINORIAS de hoje.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eu defequei na EFMM


Eu defequei na EFMM


Professor Nazareno*

            Eu nem sabia que a cidade de Porto Velho estava comemorando seus 102 anos. Pensava que a data comemorativa da cidade fosse dois de outubro como consta no brasão do município.  E como sempre soube que se tratava de uma “cidade cem anos”, não dei muita importância para o fato. Mesmo assim, fui à festa que a prefeitura organizou para o evento lá na Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Fiquei encantado várias vezes com o que vi naquelas bandas. Primeiro, a prefeitura da cidade, que em outras administrações gastara mais de 11 milhões de reais para embelezar a dita praça, saiu do marasmo tradicional e não mediu esforços para fazer a limpeza do local onde seria realizado o grande espetáculo para alegrar a população municipal, hoje carente de grandes homenagens oficiais. Antes, a faxina foi geral e feita com afinco.
            Caminhões-pipa limpando todos os terrenos baldios da velha estação. O lodo, já impregnado ao ambiente, sendo escorraçado a jatos de água. Sabão, detergentes, vassouras, rodos e homens limpando cada centímetro quadrado daqueles trilhos enlameados e infectos. Cada bolinha de papel era apanhada e retirada dali. Sacolas de plástico e garrafas pet eram recolhidas em sacos de lixo. A grama milimetricamente aparada e varrida dava a impressão de que se tratava de um campo de futebol do Primeiro Mundo daqueles que só se veem na Alemanha ou na Suíça. Vi montanhas de  fezes humanas sendo removidas e limpas a vassouradas e esfregões potentes. Os trilhos antes retorcidos brilhavam como se fossem novos. Não sejamos injustos: os dias que antecederam a festa foram encarados pela prefeitura com uma verdadeira faxina.
            Mas como tudo tem que ser criticado, ouvi algumas pessoas más intencionadas falarem que no outro dia a sujeira tomava conta daquele lugar. Mentira! Conversas de fofoqueiros e maliciosos. A Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho estava na manhã do dia 25 de janeiro de 2017 muito mais limpa ainda do que nos dias que antecederam a grande festa. Disseram os faladores que havia toneladas de lixo esparramado pelo chão. Papel, garrafas pet, sacos plásticos, preservativos usados,  fraldas descartáveis, absorventes femininos manchados de vermelho, restos daqueles cigarros suspeitos, cacos de vidros e até fezes humanas. Fico possesso de raiva quando alguém fala estas coisas do povo de Porto Velho. Não nasci aqui, mas sou “rondoniense de coração” e não admito que falem uma só vírgula contra qualquer morador daqui.
            É claro que ninguém nascido aqui teria coragem de sujar aquela linda escadinha que foi pacientemente pintada nas cores azul e branca. Os trens impecavelmente limpos e asseados, as velhas peças de ferro ainda lustrando e o chão quase sem resquícios da lama que sobrou da enchente histórica nos convidavam a voltar no tempo para relembrar os áureos anos da EFMM. O povo de Porto Velho é limpo e asseado. Jamais permitiria qualquer tipo de sujeira num ambiente histórico daquele. Por isso, dizer que havia sujeira depois da festa é pura invencionice. Em outras oportunidades e festas naquele aprazível lugar o povo poderá provar o contrário de tudo o que se falou dele. Até vendedores de refrigerantes e pipocas alertavam seguidamente sobra a sujeira. A única coisa desagradável que aconteceu foi comigo mesmo. Deu-me uma terrível dor de barriga e tive que defecar ali na grama. Desculpe-me, Porto Velho! Foi sem querer!




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Desventuras em Ali Tremes


Desventuras em Ali Tremes

Professor Nazareno*

                A pequenina e medieval cidade de Ali Tremes fica no interior do Afeganistão. Não tem nenhuma importância para aquele país asiático muito menos para o mundo. É um daqueles lugares que poderia ser chamado de “Cu do Mundo”, mas isso seria um total desrespeito a esta parte do corpo humano. Só que o jovem município está sendo palco de muita polêmica ultimamente. Não pela violência desenfreada e quase sem controle, típica do lugarzinho inóspito, mas por questões, digamos assim, de ideologia. Não ideologia política ou partidária, mas de gênero. O prefeito da cidade, Sir Girolamo Savonarola, em conluio com vários membros do Conselho Municipal, decidiu interferir na educação das crianças e jovens do município. Criou um decreto municipal que manda rasgar todas as páginas dos livros escolares que falam sobre ideologia de gênero.
            Quase todas as pessoas que moram em Ali Tremes são cidadãos bons e preocupados com o desenvolvimento do lugar. São indivíduos idôneos, trabalhadores, zelosos, fraternos. Quais deles farão o serviço sujo de rasgar livros didáticos? O problema é que apenas uma meia dúzia deles está muito inconformada com os avanços sociais e com os rumos que a sociedade “alitremense” estaria tomando e por isso insistem em voltar no tempo. Querem a todo custo entrar na Idade Média. Poucos dos que apoiam esta “intifada moralista” percebem que rasgar livros é quase a mesma coisa que queimar livros. E pior: a História diz que “quem queima livros, queima homens”. Os nazistas, por exemplo, começaram sua trajetória fazendo fogueira em livros. Na Alemanha, em maio de 1933, vários autores tiveram suas obras queimadas pelo fogo.
            Sir Girolamo Savonarola é um homem inteligente. Jovem e estreante na política, ele tem claras preocupações com as futuras gerações do seu lugar e não pode ser confundido com um simples justiceiro messiânico. “Como pode um livro ensinar ‘coisas do mal’ a indefesos seres humanos?”. Deve ter pensando o ilustre alcaide. “As pessoas que escolheram estes livros deveriam ir para a fogueira junto com estes escritos diabólicos”, devem ter pensado outros moralistas convictos. Se em Ali Tremes existem homossexuais, ninguém deve saber disto, muito menos as crianças. Este é o pensamento de muitos naquela cidade afegã. União estável, direitos humanos, justiça para todos, ausência de violência, principalmente no campo, democracia, pluralidade de opiniões e honestidade são temas proibidos que não devem ser debatidos por ninguém.
            Porém não é só a cidade de Ali Tremes que vive dias difíceis. O país inteiro ainda não se encontrou depois do golpe constitucional que foi dado recentemente. Ser “fiscal de furico alheio” é o mínimo no Afeganistão de hoje. Recentemente as redes sociais foram inundadas de comentários festivos e alegres depois que a ex-primeira dama do país sofreu um AVC. Desejar a morte dos outros virou coisa banal num país eminentemente cristão. O sistema carcerário está um caos e para a alegria de muitos afegãos tem matanças quase diariamente nos presídios lotados. Estranhamente, o sangue alheio provoca risos e euforia em muitos “cidadãos do bem”. A carnificina no meio rural, fato em que Ali Tremes é um péssimo exemplo, é uma constante e Sir Girolamo Savonarola e seus seguidores sabem muito bem disto. Tomara que a fogueira de vaidades não queime os defensores do retrocesso e da censura. Só suas velhas ideias.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Quero um emprego!

Quero um emprego!


Professor Nazareno*


            Não! Eu ainda não estou desempregado. Estou é muito perto de me aposentar e como ainda me considero jovem apesar dos quase sessenta anos, tenho certeza de que posso desempenhar minhas atividades profissionais sem muito esforço e ainda ser útil à sociedade onde passei a maior parte de minha vida trabalhando e pagando impostos altíssimos. Estou já à procura de um novo emprego para, somando ao que receberei de salários de professor aposentado, ajudar no custeio de minhas despesas mensais. E gostaria muito de trabalhar na prefeitura de Porto Velho sob a gestão de Hildon Chaves. Logo eu, considerado por muitos como um “revolucionário de Facebook” e chegado a um esquerdismo míope e estéril. Trabalharia para a prefeitura desta capital, mas sem concurso público nem exigências tolas e exerceria qualquer função que me ordenassem.
Só que quero ser um comissionado. É o meu maior sonho: ter um emprego e não fazer muita coisa. Nem ter que me esforçar para receber mensalmente dos idiotas, quer dizer, dos nobres contribuintes do município, um gordo salário. Concurso público não é o meu forte. Poderia ser lotado na Câmara Municipal, onde para cada funcionário concursado existem pelo menos três comissionados, ou mesmo em qualquer uma destas secretarias. Juro que iria ao local de trabalho pelo menos uma vez ao mês para assinar o ponto. E, claro, na campanha política para prefeito em 2020 não só me filiaria ao PSDB como também pediria votos e apoio para qualquer candidato do partido e das respectivas coligações. Ser de direita, reacionário, coxinha, neoliberal, conservador e assessor de coisa alguma não é para os fracos. Essa é a Porto Velho que dá certo, mano!
Com um pouco de sorte poderia até ganhar da prefeitura desta capital um terreno grande na periferia. Bastava dizer que fui financiador da última campanha e que num futuro qualquer colocaria um comércio ali e geraria empregos para os pobres e miseráveis. O juiz Sérgio Moro nunca virá aqui mesmo. Lava Jato em Porto Velho só aqueles de carro sujo. Além do mais, deixar a limpa e civilizada Curitiba para se intrometer em “coisas tucanas” neste fim de mundo sem eira nem beira não é atribuição para aquele eminente magistrado. Mas não sejamos injustos: comissionado trabalha, às vezes, e muito. O esforço para convencer os poucos incrédulos na eficácia da nova administração desta cidade não é coisa para amadores. A limpeza urbana está com tudo. Ainda assim, o nosso prefeito nem salário tem. Doará mesmo a quem seus proventos?
A antes suja e mal cuidada “cidade das hidrelétricas” agora é coisa do passado. O corte de gastos se aprofunda gerando mais dinheiro para os combalidos cofres municipais. Até o Carnaval daqui serão “” quatro dias e quatro noites de muita alegria e confraternização. Juro que apesar das chuvas torrenciais ainda não percebi nenhuma alagação. Os ônibus estão mais rápidos e pontuais. E o IPTU quase de graça. Nem vi também nenhum animal morto apodrecendo pelas ruas. Porto Velho já se parece com o Primeiro Mundo, mano! E se há bonança, por que não contratar mais comissionados? Eles serão o futuro daqui e do país. Hoje na prefeitura já são mais do que o dobro dos de Mauro “lento” Nazif. E se o salário de cada um for maior do que quem passou em um reles e insignificante concurso? Ah! Quero um emprego, uma boquinha também! Dê-me uma chance, por favor! Posso ser pelo menos um “ombudsman” da sua administração?




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Doze dias de nada


Doze dias de nada

Professor Nazareno*

A ex-presidente Dilma Rousseff e o PT, seu corrupto partido, não governaram bem. Mas o seu sucessor, o golpista Michel Temer do PMDB, entrou e também nada fez após quase um ano de governo. Se algo mudou, foi para pior. Muito pior mesmo. Sem golpe, em Porto Velho também trocaram o prefeito. Saiu o lento Mauro Nazif e entrou Hildon Chaves do PSDB, uma espécie de esperança para a cidade mais imunda e porca do país. Quase meio mês já se passou da nova administração e até agora nada mudou também. A “rompança” da campanha eleitoral já está esmorecendo. E não é pouco tempo, não. No Japão, em apenas 2 dias muitas coisas são feitas e a “cidade das hidrelétricas” precisa de mudanças para ontem. Andando pelas ruas do lugar percebe-se que até agora as agruras continuam e que tudo não passou de embromação eleitoreira.
            Acho que é por causa do tempo chuvoso que as obras para mudar a cara da cidade ainda não começaram. E como chove durante uns seis meses por aqui, as esperanças não são nada animadoras. Estamos no inverno amazônico. Alagação há por toda parte. Água podre e infecta continua sua rotina macabra de invadir lares e residências naturalmente. Lixo esparramado pelos quatro cantos da cidade é o que mais se vê. Eu mesmo já contei nessa nova administração uns quatro ou cinco animais mortos apodrecendo no asfalto cheios de tapurus. E pior: não senti ainda o tão prometido cheiro de perfume vindo das fedorentas ruas. Estive na rodoviária e juro que não me encantei  com aqueles banheiros. A ponte do rio Madeira ainda está escura, o Espaço Alternativo está uma desgraça, totalmente inacabado e sem previsão para terminar. Nada mudou.
            A rua em que mora a professora Soniamar continua um mar de lama. Não veio a mobilidade urbana e o Interbairros 030 demora ainda muito tempo. Já andou nele, prefeito? Não vi nada na cidade até agora para me esquecer do Mauro Nazif. Pior: fala-se que ficaram 20 milhões de reais em caixa. Será? Toda a movimentação tucana só tem sido em cima dos pobres coitados dos barnabés municipais. Remaneja daqui para lá e de lá para cá. Traz de volta os funcionários cedidos. Diminui gratificações. Demite comissionados. Exonera secretário. Convoca para reunir, reúne para convocar. Enquanto isso, continua nossa triste rotina de sujeira e catinga. O PSDB nunca gostou de servidores públicos é fato, mas a cidade precisa de cuidados. E temos de torcer muito para que o rio Madeira não venha com outra enchente histórica igual àquela de 2014.
            E nada de doar salário para ninguém. Isso é demagogia pura, jogo de cena para impressionar os incautos. Coisas do falecido Jânio Quadros e de João Doria. O correto seria abraçar a bandeira para diminuir em pelo menos 50 por cento os salários do prefeito, dos vereadores e de todos os assessores. Isso sim, traria economia para o município. Cuidado também com as licitações, com os fornecedores e com a Câmara de Vereadores. Todas as sangrias do dinheiro público têm que ser estancadas e se sobrar algum dinheiro deve ser investido para o bem dos munícipes. Foi o senhor que disse que “ia curar todas as feridas de Porto Velho, limpar todos os cantos e enterrar os desencantos”. Já começou a fazê-los? Queremos uma cidade melhor e estamos torcendo para que se faça uma boa administração com transparência e justiça. Mas são tristes os exemplos de doação de terreno a empresário e deixar que outros mandem na prefeitura.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Minhas depressões


Minhas depressões

Professor Nazareno*

            Eu não tenho depressão. Na verdade nunca tive. Sofro apenas de momentos depressivos, como muitas pessoas que conheço. E são muitos esses instantes que já vivi na minha vida. Brasileiro, nordestino e paraibano sou mais um sobrevivente da seca que sempre assolou aquela distante região. Só isso já seria motivo suficiente para viver eternamente deprimido. Mas a situação consegue ser bem pior: moro há quase quarenta anos em Rondônia. Na verdade em Porto Velho, a capital da sujeira e da fedentina. Haja antidepressivos e ansiolíticos nas receitas médicas. Ser brasileiro num Brasil que nunca foi sério tira a saúde de qualquer um. Como país, o Brasil sempre foi uma espelunca que nunca deu exemplo a ninguém muito menos serviu para nada. E hoje ser governado por um golpista assessorado por gente corrupta, torna a situação ainda mais catastrófica.
            Não há nada mais depressivo e tosco do que observar o rio Madeira, o maior rio morto do mundo. Com sua nascente agora a partir da hidrelétrica do Santo Antônio, o “rio das Madeiras” não tem mais madeira boiando em suas turvas e selvagens águas. O seu feio e horroroso pôr do sol perdeu o encanto e o brilho diante da agressão que lhe permitiram em troca de nada. E olhar para a cidade que acabou de ser administrada por um Mauro Nazif? E a agonia de esperar por uma eficiência que nunca chega do Hildon Chaves? Há momentos que pensamos em desistir de tudo e por isso queremos a todo o momento voltar para Curitiba ou para Gramado na Serra Gaúcha. Não existe nada mais depressivo do que passar 20 dias na Europa visitando Geneve, Munique ou Paris e de repente estar ali na Jatuarana ao lado de pessoas grossas e sentindo o cheiro de merda.
            Andar de coletivo em Porto Velho não é só antidepressivo, como também uma espécie de estágio para experiências bem piores. Mas há muitas outras coisas bem mais estarrecedoras para se visitar nesta cidade sem eira nem beira. Outro dia, por exemplo, fui ao Hospital João Paulo Segundo visitar um parente meu internado lá. Foi o equivalente a ter ido umas três ou quatro vezes ao inferno numa única tarde. Só não vi o Satanás, mas tenho certeza de que aquilo não é um lugar que cuida de seres humanos. Se for, pelo que presenciei, na morada do Belzebu é muito melhor. Aquilo ali é um verdadeiro campo de extermínio de pobres. Recentemente o governador de Rondônia disse em seu blog, claro, que “o SUS é maravilhoso em sua essência”. Quem não acreditaria nestas “sábias palavras” vindas de quem conhece a fundo aquela realidade?
            Diante disso, só não fica deprimido que não tem sentimentos. Eu me deprimo ao ver que a situação no Brasil só piorou com o novo governo e que as panelas se calaram covardemente. E quando passa o momento depressivo, eis que vejo pessoas incautas dizendo que o Estado tem que agir conforme agem os bandidos rebelados. Segundo esses ignorantes, o Estado tem que também matar, estuprar, extorquir, violentar, mentir, sequestrar, corromper e semear o medo e o terror. Fico deprimido também quando percebo que a Operação Lava Jato não pega tucanos mesmo sabendo da culpa deles. E saber que o Lula só será preso para que não vença as eleições em 2018? É mole? E como não se deprimir ao saber que o ex-prefeito Mauro Nazif não fez o Natal em Porto Velho, mas disse que deixou pelo menos 20 milhões de reais em caixa? Ah! Vou ligar a televisão e assistir ao Jornal Nacional. Esqueci: aqui é tudo gravado na TV. Meu Deus!





*É Professor em Porto Velho.

sábado, 7 de janeiro de 2017

“Bandido bom é bandido...”


“Bandido bom é bandido...”

Professor Nazareno*

Os massacres ocorridos em menos de uma semana neste início de ano nos complexos penitenciários de Manaus no Amazonas e em Boa Vista/Roraima e que vitimaram quase uma centena de presos numa suposta luta entre facções rivais, mostraram ao mundo a fragilidade de nossas cadeias e do sistema carcerário do Brasil. O pior é que quase a totalidade dos cidadãos brasileiros ficou alegre e satisfeita com as mortes e defende a absurda e ultrapassada ideia de que “bandido bom é bandido morto”. As redes sociais foram inundadas com frases apoiando a matança e comemorando a carnificina como se fosse a coisa mais normal do mundo. No Brasil, país de última categoria em relação aos direitos humanos, pode ser até normal. O Estado é responsável por todos os seus presos e a vida de cada um deles está sob a tutela do Poder Público. 
Até uma autoridade do governo golpista de Michel Temer ficou feliz com a desgraça alheia. Filiado ao PMDB, Bruno Júlio, o secretário nacional de juventude afirmou que “tinha era que matar mais” e que “tinha que fazer uma chacina por semana nas penitenciárias” depois reafirmou tudo o que dissera. Bruno teria pedido demissão logo após as desastradas declarações. Se o Estado prende o criminoso e se responsabiliza por sua integridade, esse mesmo Estado tem que ser punido se algo acontecer ao infeliz. É a lei. Não é o bandido que prende o Estado. É o contrário. Bandido age como quiser, por isso é bandido. O Estado tem que ser íntegro. Quando acontecem mortes em nossos presídios, pagamos pesadíssimas indenizações ao Conselho Interamericano de Direitos Humanos da OEA e também a outros organismos.
Muitas das pessoas que defendem o horror geralmente não têm nenhum parente entre os mortos. Dizem-se cristãs, pouco ou nada entendem de leis e desconhecem, por exemplo, a passagem da mulher adúltera. Essa reação criminosa não resolve em nada o complexo problema da violência e mancha com sangue ainda mais a pouca imagem que o Brasil tem perante os países mais civilizados do mundo. A Holanda está fechando prisões por falta de criminosos. Rui Barbosa disse há mais de cem anos que “uma nação que não constrói escolas, deveria construir presídios”. Não construímos nem uma coisa nem outra. Vemos com muita tristeza até jornalistas defenderem a barbárie e fazer chacotas sobre a política de direitos humanos. Ignorantes e de má índole, parece que desconhecem os horrores do Nazismo e do Fascismo. E defendem ainda a Lei de Talião.
Violência só gera mais violência e não leva a nada. As chacinas de Canudos, Carandiru, Urso Branco e tantas outras não evitaram agora as matanças de Manaus e Boa Vista. O Estado está falido e precisa se fortalecer com uma boa e justa política carcerária. O atual governador do Amazonas, José Melo, que dentre outras coisas foi incapaz de evitar o caos, disse que entre os mortos não havia nenhum santo. E entre os políticos há algum? O Estado não prende santos, só bandidos. E não adianta mandar  levá-los para a nossa casa. É um argumento chulo e desprovido de qualquer inteligência. O mesmo se diz quando, às vezes, mostro as verdades de Porto Velho: “não gosta da cidade, vá embora”. Mas o que esperar de uma sociedade onde muitos de seus cidadãos são burros e alienados? Bandido bom não é bandido morto. É bandido preso, julgado, condenado e cumprindo legalmente a sua pena. E sem nenhum privilégio dado a ele.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Rondônia, província alemã


Rondônia, província alemã

Professor Nazareno*

            O Estado de Rondônia tem pouco mais de 237 mil quilômetros quadrados de área territorial e uma população inferior a dois milhões de habitantes. A Alemanha tem uma área um pouco maior: 357 mil quilômetros, mas uma população superior a 83 milhões de pessoas, ou seja, quase 50 vezes a população desse Estado brasileiro. O país europeu é uma das maiores potências do mundo e lá tudo é organizado, civilizado e dentro do maior padrão de humanidade que se conhece enquanto em Rondônia tudo é uma desgraça só. Por isso, o governo do Brasil deveria entregar esta unidade da federação para os germânicos administrarem. Depois eles devolveriam. Será? Quem sabe assim nos livraríamos das tristes sequelas a que já nos acostumamos? O nome do nosso novo governador seria Helmut, Gerhardt ou Wolfgang. Não seria mais chique?
                A capital continuaria sendo a suja e emporcalhada Porto Velho mesmo. Mas teria outra roupagem, claro. Confúcio Moura continuaria respondendo politicamente pelo Estado assim como Hildon Chaves e todos os outros 51 prefeitos eleitos democraticamente. Porém todos eles só observavam como os alemães fazem para administrar e governar um povo. Haveria ainda Câmaras de Vereadores e Assembleia Legislativa bem como o Poder Judiciário e o Ministério Público. Mas tudo só de enfeite mesmo. Os alemães é que “dariam as cartas” em tudo. Os zelosos europeus organizariam toda a falida sociedade rondoniense. A começar pela fracassada Educação. Escolas de tempo integral, limpas, com mini-hospitais, laboratórios, transportes grátis para todos, prática de esportes e professores bem remunerados seriam rotina por aqui.
            Na área da saúde, os novos administradores implodiriam o Hospital João Paulo Segundo. É que a experiência deles com “Campos de Extermínios” não foi muito boa. Médicos renomados ganhando a mesma coisa que outros profissionais seriam rotina. A medicina no Estado seria preventiva e não levaria mais em conta a renda e a classe social do paciente. O aeroporto seria de fato internacional e faria voos para Frankfurt, Berlim e Munique. O esporte seria incentivado e as equipes teriam nomes locais. Nada de Genus ou outro nome ridículo. O funcionalismo público seria todo concursado. Comissionados não existiriam de jeito nenhum. Na mídia, os jornalistas respeitariam os direitos humanos e a democracia. Nenhuma emissora de TV local exibiria programação gravada. Já pensou assistir aos jornais e vê as notícias na hora em que o fato acontece?
            Não haveria rebeliões em presídios e a paz reinava em todas as cidades. Até alguns presídios seriam fechados por falta de criminosos. Violência próxima de zero com uma polícia educada e inteligente seria algo comum. Os rondonienses, muitos deles mal educados e grossos, agora tratariam bem todas as pessoas. Lixo nas ruas? De jeito nenhum. Todos com esgoto e água tratada. Lama e poeira seriam lembranças do passado. Os ares de Porto Velho agora sim, ficariam cheirosos e perfumados. A rodoviária seria limpa e asseada e os igarapés da cidade todos ficariam cheios de peixes e cisnes negros. Mobilidade urbana haveria em todas as cidades. Ninguém venderia votos nas eleições e os eleitos trabalhariam em prol dos mais necessitados. Nada de corrupção. O maior problema seria a depressão que se abateria sobre os rondonienses. Acostumados a toda sorte de desgraças e mazelas, como se adaptar a uma nova vida?




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Lisura: com ou sem salário

Lisura: com ou sem salário

Professor Nazareno*

O novo prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, abriu mão de seu salário na prefeitura. Bobagem, tolice pura. Demagogia barata, populismo de quinta. Tanto é que ninguém de sua equipe vai seguir o seu exemplo. Ou vai? Muito menos na Câmara de Vereadores, antro de muitos vereadores mal vistos e que não respeitam o dinheiro público. O importante não é quanto ele vai ganhar ou deixar de ganhar e nem para quem vai doar o seu salário. O importante é ele ser probo com as contas públicas e fazer um trabalho decente na pior capital do Brasil em saneamento básico e qualidade de vida. De gente com boas intenções, o inferno está cheio. O problema de Porto Velho não é e nem nunca foi o salário do prefeito. O problema de Porto Velho sempre foi a falta de gestão do dinheiro de nós portovelhenses e a falta de amor a esta cidade e ao seu sofrido povo.
Muito melhor do que fazer pirotecnia politiqueira com o seu salário, ele devia propor e lutar pela redução desses mesmos salários. Tanto dos vereadores como o dele próprio. Economizaria muito mais. Não precisamos de propostas demagógicas que só buscam os holofotes, precisamos de ações mais sérias e queremos administradores competentes que se preocupem com o bem estar de seu povo. Sua "boa" ação só rendeu frutos para ele mesmo: quanto a prefeitura economizou com esta "jogada" publicitária? NADA! Em São Paulo, João Doria, seu parceiro de partido, iniciou a gestão como gari e toda semana quer varrer as ruas. É mole? E eu pensei que os poemas e versos de Hildon para Porto Velho seriam a pior coisa na política. A ação de doar dinheiro para entidades carentes não tem nada de didático: pode encobrir, por exemplo, a incompetência.
Como professor eu não posso doar a “fortuna” que ganho a ninguém. Meus alunos certamente não ficariam alegres com isso. O que os alegrará muito mais serão as aulas que lhes ministro, se elas forem boas e proveitosas. Ouvi dizer que um dos tripés de sua administração seria muito trabalho. Como muito trabalho se no dia seguinte à posse ele e toda a sua equipe já descansaram? Ponto facultativo onde? Dia dois de janeiro não é feriado aqui nem em nenhum outro lugar conhecido. Começa, portanto, a sua administração com um dia de atraso. Falou-se também que a sua gestão seria muito dura com os funcionários públicos municipais. Coitados! Por que medir forças com quem não as tem? Eles não são problemas. O caos em Porto Velho sempre foram os seus gestores. Desde o major Guapindaia que ninguém quer compromisso com a cidade.
Pare com firulas e rompança, homem! Arregace as mangas para trabalhar, mesmo com um dia já de atraso. Confio no senhor e na sua equipe e serei um fiscal atento de todas as ações desenvolvidas pela prefeitura em prol dos portovelhenses. Odeio este lugar, mas é aqui que pago em impostos quase 40% do que ganho com o meu trabalho honesto. Suja, fedida, mal cuidada, explorada, sem planejamento urbano nenhum, sem mobilidade, sem arborização, repleta de obras inacabadas, violenta, com alagações e lama no inverno, poeira e fumaça no verão, odiada também pela maioria de seus moradores, a capital dos rondonienses precisa de um verdadeiro choque de gestão e não de conversa fiada e eleitoreira para enganar otários. Tenho certeza de que o senhor chegou aonde chegou também trabalhando duro e de forma honesta. Ou foi fazendo versinhos tolos para enganar os simplórios e doando todo o seu salário aos outros?




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Administrados “nas coxas”


Administrados “nas coxas

Professor Nazareno*

            Parece que está se iniciando uma nova era por aqui. Começa de novo para nós portovelhenses o direito de ter esperanças em dias melhores na administração deste sofrido município. Mas o novo prefeito já estreou mal: toma posse num dia e no outro descansa, mesmo sem ser feriado. Sintomas de maus presságios? Dois de janeiro é dia de quê mesmo? O ex-promotor de justiça Dr. Hildon Chaves, que jurou não ser um político, recebeu a incumbência de fazer por esta cidade o que ninguém ainda fez desde o longínquo 1914. Com 102 anos de história, Porto Velho nunca se pareceu com uma cidade muito menos com uma capital de Estado. É um lugar novo, mas de aspecto velho e modorrento que se parece com uma catacumba podre da Idade Média. Os apelidos de “antessala do inferno e currutela amaldiçoada” lhe parecem mimos diante da realidade.
            A capital dos rondonienses fede a carniça, a podridão, a monturo, a lixo. Não tem esgotos, água tratada nem saneamento básico. O Instituto Trata Brasil a coloca anualmente em posições ridículas quando o tema é qualidade de vida. No verão, a fumaça das queimadas associada à poeira fétida invade lares e enche os hospitais de velhos e crianças. No inverno são as alagações: água contaminada adentra humildes residências e transforma seus moradores em “porcos” fuçando na lama e sujeitando-os a todo tipo de doenças e nojeiras. A cidade, que se gaba de ser uma capital com mais de um século de existência, não tem sequer um hospital de pronto-socorro. Aqui sempre nos faltou mobilidade urbana, limpeza e decência. Até as comemorações de Natal não são levadas a sério. Dizer que nos parecemos com Aleppo na Síria não é exagero.
            Repito, Dr. Hildon: o senhor pegou um “abacaxi” dos maiores. Mas se administrar a cidade com seriedade e sempre pautado pela verdade talvez não tenha tantos aborrecimentos. Qualquer problema, vá à mídia, abra a boca, denuncie! Chame o eleitor para junto de si e tente se livrar dos tubarões ambiciosos. Governe com o povo e para o povo. Sabemos que parte da imprensa de Rondônia é fascista e marrom, já que se confraterniza com a classe política, mas pelo menos para ajudar ela deve servir. Como pagadores de impostos, queremos ser administrados de forma séria e isto quase nenhum político daqui jamais o fez. Há seis anos, por exemplo, que este Estado é incrivelmente administrado por um blog. Não faça isto, pelo amor de Deus! Respeite cada centavo dos nossos impostos. Administre corretamente o meu dinheiro. O IPTU já vence este mês.
            Além de rico e bem sucedido, o senhor é um homem ficha limpa, íntegro e honesto, claro. Nem precisa dizer que a Operação Lava Jato está a todo vapor. O IPAM é dos segurados. “Faça das tripas coração” em prol do bem comum. Veja o rosário de obras inacabadas espalhadas pela cidade. Nunca comece nenhuma outra sem a previsão de término, por favor! Cobre trabalho, competência e honestidade dos seus secretários, do seu vice-prefeito e dos vereadores. Sim, o senhor pode influenciar para o bem todo o legislativo municipal. Demita sumariamente qualquer assessor que se envolva em corrupção ou desmandos. Quem lhe elegeu prefeito foi o desespero, o cansaço, a agonia, a vergonha, o sofrimento e a falta de esperança de nós portovelhenses em dias melhores. Não votei no senhor, mas sentir saudades do Mauro Nazif seria o fundo do poço, o inferno. Chega de sermos “administrados nas coxas”! Posso ser fiscal da sua gestão?




*É Professor em Porto Velho.