domingo, 30 de agosto de 2015

A “ameaça” da amiga Bolívia




A “ameaça” da amiga Bolívia

Professor Nazareno*

           O indígena Evo Morales, presidente constitucional da Bolívia, disse recentemente em uma base militar de seu país que se derem um golpe e expulsarem a Dilma Rousseff da presidência Brasil, assim como o PT, o quase falido Partido dos Trabalhadores, os bolivianos poderiam invadir o nosso país para, dentre outras coisas, salvaguardar a democracia no continente. Muitos brasileiros ficaram furiosos com as declarações mal-educadas e utópicas do mandatário cocaleiro. Dentre as muitas tolices que os nossos compatriotas falaram foi que a Bolívia é fraca, quase não tem Forças Armadas, a sua população mal chega a 10 milhões de pessoas e que numa guerra de verdade nós, os “valentes e destemidos guerreiros verde-amarelos”, faríamos picadinho deles em poucas horas. Ouvi até uns pseudopatriotas e idiotas gritarem “SELVA”.
            Claro que jamais entraríamos em guerra contra os nossos irmãos bolivianos, assim como fizemos contra os paraguaios no século dezenove. Motivos suficientes não há, pois a democracia brasileira não corre nenhum risco iminente. E depois, o Brasil só entra em guerra para agradar a outro país e nunca a si mesmo: contra o fraco Paraguai, covardemente nos juntamos à Argentina e ao Uruguai para defender os interesses da Inglaterra. Isso sem falar que os brasileiros de um modo geral amam de coração o povo que habita além do rio Guaporé. Se não é verdade, por que vamos todo mês comprar produtos “made in China” dos nossos “hermanos”? Por que muitos de nossos alunos, Rondônia e Acre inclusive, invadem as várias universidades de lá para cursar Medicina? Por que fazemos vistas grossas quando os bolivianos aos montes vêm trabalhar aqui?
            A população boliviana é pequena, mas desconheço um povo que tenha tanto nacionalismo quanto eles. No campo de batalha creio que até venceríamos, só que teríamos alguma dificuldade. Com que patriotismo e amor enfrentaríamos uma guerra para defender o nosso país? Bravura mesmo dos brasileiros só para roubo e corrupção. O caso da Petrobras é emblemático. Destruímos sem mais nem menos uma das maiores empresas petrolíferas do mundo. Mas e se os bolivianos nos vencessem? Seria muito bom para o Brasil, pois devolveríamos o Acre o pediríamos de volta o cavalo que demos em troca daquele charmoso Estado. Sairíamos no lucro. E por causa da EFMM, já destruída e abandonada, eles poderiam querer Rondônia também.  Seria uma dádiva.
            Sem Rondônia e sem o Acre o nosso país ficaria bem melhor, claro. Se a terra Karipuna fosse entregue, sem nada em troca, o abacaxi ficaria só com os bolivianos e o lucro seria total para o Brasil. Sem fumaça, sem viadutos inacabados, sem ponte escura, sem Rua da Beira, sem Hospital João Paulo Segundo e sem Espaço Alternativo seria o máximo para qualquer país. Quem sabe se os bolivianos não gostariam também de ficar com Mauro Nazif e com o resto dos nossos políticos? Podem levar a ALE inteira e também a Câmara de Vereadores de Porto Velho que poucos brasileiros sentirão falta. Se isso acontecesse, juro que até torceria pelos inimigos. Mas não haverá guerra. Nem contra o povo amigo da Bolívia nem contra nenhum outro povo ou país. Problemas internos de nações soberanas devem ser resolvidos pela própria nação e pela sua gente sem precisar de declarações desastradas de aventureiros irresponsáveis. Que fase, hein?


*Es Maestro en Puerto Viejo.

domingo, 23 de agosto de 2015

As sete pragas de Porto Velho



As sete pragas de Porto Velho

Professor Nazareno*

           Porto Velho não é um lugar bíblico, mas assim como no Egito antigo tem também as suas pragas. Se um desavisado turista tiver coragem suficiente e quiser visitar a capital dos “destemidos pioneiros” terá que se adaptar a uma série de intempéries que praticamente só se verifica por aqui mesmo. O inédito turismo de aventura certamente desencantará qualquer infeliz que ouse nos visitar. A primeira das grandes pragas são os viadutos do PT na entrada da cidade. Obra megalomaníaca e desnecessária tem sido um eterno desafio para os homens públicos de Rondônia. DNIT, governadores, prefeitos e várias outras autoridades, por mais que tentem, ainda não conseguiram se desvencilhar dos elefantes brancos. As promessas de conclusão da obra servem apenas para eleger políticos ruins e incompetentes. Já se fala até em implodi-los.
      Seguindo o seu roteiro demoníaco pela capital dos rondonienses, o insólito turista encontrará a segunda praga: a ponte escura do Madeira. Sem nenhuma serventia aparente, já que “liga o nada a coisa alguma”, o horroroso e maldito trambolho de cimento e concreto tem servido apenas para aumentar o número de suicídios na cidade. Se fosse implodida prestaria um grande serviço à comunidade. Outra desgraça, ou praga, que atormenta anualmente os portovelhenses são as fumaças das queimadas. Com uma temperatura que beira os 40 graus, os casos de rinite alérgica, sinusite, asma e bronquite aumentam consideravelmente nesta época do ano. Ninguém até hoje conseguiu resolver o caos. Todo verão, Porto Velho desaparece sob uma fumaça densa atestando a pouca ou nenhuma competência de órgãos como Sema, IBAMA e SEDAM.
            Mas se engana quem pensa que a rotina de agonia do nosso turista acabou. Tem o Espaço Alternativo, outro descaso público situado bem no caminho do aeroporto. É a quarta praga com que “presentearam” Porto Velho. Obra também eleitoreira, o “cartão de visitas” da cidade está lá como que desafiando a lógica dos homens. Escuro, quente, sujo e totalmente descampado, arrancaram criminosamente suas muitas árvores, funciona como uma espécie de bordel a céu aberto. Rachas, prostituição, além de outros delitos são praticados ali de forma absolutamente normal. Prosseguindo, pode-se visitar o cemitério de locomotivas abandonadas, a quinta praga. A velha EFMM, a “mãe de Rondônia” para os mais otimistas e sonhadores está lá jogada no meio do mato entre ferrugem, insetos e descaso. Patrimônio cultural apenas para os desprovidos de cérebro.
            A sexta praga é a lama, nossa companheira inseparável no inverno. As alagações dão o tempero especial com água podre, fedorenta e infecta invadindo as residências. Promessa de campanha, o problema ajudou a eleger o atual prefeito. Só que nada foi feito para resolver o impasse que deve voltar com força total durante as chuvas. A crônica falta de esgotos e água tratada em uma capital de Estado é a sétima praga. Felizes e acostumados com a imundície e a carniça, os acomodados habitantes da cidade nem ligam para esses problemas. Porém, há certamente muitas outras desgraças em Porto Velho. Existe, por exemplo, praga maior do que a Câmara de Vereadores? E a cidade ser sede de uma Assembleia Legislativa? Além da poeira e dos enxames de carapanãs e piuns há também muitos ratos, tapurus, moscas, mutucas e outras pragas. Mas esperamos ansiosamente pela praga maior: uma inusitada chuva de bosta na cidade.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Hecatombe Amazônica, a Hiroxima do descaso




Hecatombe Amazônica, a Hiroxima do descaso

Professor Nazareno*

    Ao contrário de uma forte explosão atômica quando a noite clareia de uma hora para outra, os dias em Rondônia têm-se transformado em noite. A densa nuvem de poeira e fumaça sobre o Estado escurece o forte sol amazônico dando-lhe uma estranha coloração avermelhada e superlotando o precário sistema de saúde de pacientes com intermináveis crises de asma, alergias, bronquites e muitas outras doenças associadas à poluição do ar. Velhos e crianças são os mais vulneráveis. Não fomos bombardeados com uma bomba nuclear nem fomos expostos a nenhum tipo de radiação, mas o nosso sofrimento devido às intermináveis queimadas na Amazônia dá-nos a sensação de estar no inferno. É como se fumássemos diariamente uns trinta cigarros ou estivéssemos respirando com uma descarga de carro ligada a nossa boca. Tudo está cinzento aqui.
    Arquejando com a boca seca, os olhos vermelhos e ardendo, a pele escamando e o gosto de fuligem na boca, muitos rondonienses se parecem com nordestinos em tempos de seca: imploram chuva a todo o momento na vã esperança de ver os dias de tormento e agonia se acabarem. A previsão do tempo indica para proximamente uma temperatura ambiente de pelo menos 45 graus Celsius, com uma sensação térmica bem superior e umidade relativa do ar de apenas 15 por cento. A baixa qualidade de vida dos porto-velhenses piora a cada dia que passa. Agosto de 2015 também entrará para a história como o mês de um dos maiores desastres ambientais que já presenciamos por aqui. Clima pior do que alguns desertos. E as autoridades locais nem decretaram estado de emergência. Nem isso e nenhuma providência concreta até o momento.
    Rondônia tem um Governador, um Vice-Governador, três Senadores, oito Deputados Federais, 24 Deputados Estaduais, 52 Prefeitos, uma penca de Vereadores, além de vários tribunais, quartéis das Forças Armadas, helicópteros, polícias de todo tipo, CGU, MP Estadual, MP Federal, IBAMA, SEMA, outras autoridades, uma sociedade civil que se diz organizada e inacreditavelmente ninguém fez ou propôs nada para enfrentar este problema. Infelizmente a maioria destes políticos estarão em 2016 à cata de votos para continuarem fazendo a mesma coisa de antes: nada. Não vi ninguém falar sobre a degradação do meio ambiente. Se há alguma proposta em algum partido político sobre este assunto, nunca foi discutida. Nem num tal de Partido Verde. Todos se fazem de cegos ou então acreditam que isto é coisa apenas para ecologistas radicais.
    O avanço das hidrelétricas e da pecuária na Amazônia tem transformado a nossa vida num calvário. A floresta diminui sob o fogo inclemente para dar lugar aos pastos enquanto os estrangeiros saboreiam a nossa deliciosa carne, que é produzida à custa do nosso sofrimento. A União Europeia, a Rússia, a China e tantos outros países ao comprarem o produto incentivam o fogo na Amazônia. Mas nós somos tão culpados quantos eles. Estamos acomodados. Não procuramos as embaixadas destes países para denunciar nossa tristeza e propor um boicote geral à carne dos Estados incendiários e aceitamos, como galinhas covardes, a insensatez e o pouco caso dos nossos maus políticos e autoridades em geral. Não nos mobilizamos nem procuramos soluções. Ficamos em paz com nossas consciências quando vemos as declarações de amor a este lugar. Estamos num estado de desastre ambiental não reconhecido pelas autoridades.
                Senhor Governador Confúcio, demita o seu secretário de meio ambiente por justa causa. Senhor Prefeito de Porto Velho, faça o mesmo. Que ações eles propuseram para amenizar ou evitar o problema? Deixem um pouco a pasmaceira de lado e arregacem as mangas. Meio ambiente é vida. É a minha vida, a vida da minha família, a vida de todas as famílias deste Estado e a dos seus familiares também. Os senhores foram eleitos para trabalhar pelo bem-estar da população e não estão cumprindo com o prometido. Admitam seus fracassos. Ou então renunciem a seus mandatos. Senhores autoridades de Rondônia, envergonhem-se desta situação. Denunciem esta desgraça ao mundo. Vão à mídia. Mobilizem a sociedade. Façam alguma coisa. Não se coloquem contra a História. Muita gente implora ação dos senhores. Presidente Dilma, candidato da oposição Aécio Neves, Marina Silva, ex-governador Ivo Cassol, ex-candidato da oposição ao governo do Estado, Expedito Júnior, Senador Valdir Raupp, Senador Acir Gurgacz, senhores Deputados Federais e Estaduais mexam-se, mostrem serviço. Pelo menos prometam que vão acabar com o nosso sofrimento. Não esperem apenas por São Pedro, pois em meio ao caos ainda somos obrigados a votar nos senhores.





*O Professor Nazareno com asma, rinite alérgica e sinusite leciona (às duras penas) em Porto Velho. Texto escrito e publicado há pelo menos 5 anos.