quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vivendo sem democracia



Vivendo sem democracia

Professor Nazareno*

            A frágil democracia brasileira mal completou 30 anos e já estão lhe agourando. Desde 1985 que vivemos sob um regime democrático, recorde absoluto neste país. Entre 64 e 85 quem mandou de fato foram as baionetas, que apoiadas pela retrógrada elite nacional, deram sustento à censura, à intolerância, às perseguições, à tortura e a tantos outros cerceamentos de liberdades individuais. Vivi os dois períodos e confesso que não me dei muito bem na época dos generais-presidentes. Ainda criança e também na fase da adolescência não entendia o porquê de tanto anacronismo. Hoje, meio século depois, eis que um tanto assustado e incrédulo, vejo alguns brasileiros pedirem abertamente a volta daqueles tempos bicudos. Talvez por interesse, burrice, maldade ou então por não entenderem o perigo que há em se querer “chocar ovo de serpente”.
            Claro que a atual situação política não está nada satisfatória. Por isso sempre há o temor de radicalizações. Há uma fictícia, mas não remota possibilidade de termos outro golpe de Estado no Brasil, numa irresponsável aventura militar, ou mesmo civil. E como seriam ou como ficariam as coisas? O mundo civilizado, claro, não aceitaria outra virada de mesa em terras tupiniquins e poderíamos ter que enfrentar alguns contratempos externos. No país, quase não haveria problemas. Enfurecidos com o PT ou com os setores da direita conservadora e adulados pela mídia alienante e ultrapassada, os novos mandatários nacionais teriam total apoio dos tolos governados e seriam, de novo, considerados verdadeiros deuses que vieram para salvar a pátria do “grande mal” que a assolava. O mantra de qualquer dos lados seria: “às favas com a democracia”.
            Em Rondônia, seria um verdadeiro inferno viver sem este regime, tenho certeza. Se com o “governo do povo” viver aqui é como morar na casa do Satanás, imagine-se o contrário disto. Numa ditadura, seríamos o fim do mundo. O povo ficaria alijado de todas as decisões oficiais e quem mandaria de fato no Estado seriam os políticos fantoches e nos municípios, todo e qualquer prefeito ficaria nas mãos sórdidas da elite golpista. Além disso, nenhuma obra seria terminada, bem diferente de uma democracia. Dinheiro até que viria de Brasília, mas as autoridades locais roubariam tudo e nada fariam em benefício do povão. Não! Não queiramos uma ditadura de jeito nenhum. Já pensou ter vários viadutos inacabados na entrada da cidade? Um Espaço Alternativo que só serviria para eleger deputados federais? E uma ponte escura? Só coisas da ditadura.
            Vamos sair às ruas neste dia 16 de agosto, mas, por favor, não peçamos um regime de exceção. Numa ditadura, senhores, teríamos na capital apenas dois por cento de saneamento básico e menos ainda de água tratada. A cidade seria suja, imunda, fedorenta e quase inabitável. Invasão de terrenos na periferia seria rotina e a corrupção voltaria com toda força. Um horror: se tivermos uma tirania, fiquem certos de que haverá muita poeira e fumaça no verão e no inverno será só lama. A mídia seria controlada por interesses escusos e atenderia somente aos políticos. E pior: com ditadores no poder, o Judiciário não funcionaria de jeito nenhum. Aí não teria como terminar nenhuma das obras inacabadas. E nós, filhos legítimos de Rondônia ou mesmo rondonienses de coração, não queremos isto para a nossa amada terra. Os “destemidos pioneiros” gritam com força: Rondônia e democracia, uma aliança quase indestrutível.




*É Professor em Porto Velho.

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